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sábado, 26 de novembro de 2022

Fotomemória: as novas "bancas" de revistas

Eva Christian, o comediante Canarinho e Francisco di Franco na novela Jerônimo,
Heroi do Sertão, na TV Tupi, nos anos 1970. Foto: Manchete/Reprodução

Muitas revistas impressas encerraram suas trajetórias nos últimos 15, 20 anos. Um grande número delas permancem ativas no Facebook, em blogs, no You Tube, no Instagram e em sites não-oficiais. Todos todos construídos por leitores. Revistas como Manchete, Manchete Esportiva, O Cruzeiro e outras têm suas coleções doigitalizadas pela Biblioteca Nacional. Os principais jornais também disponibilizam suas coleções na internet. Fotos do Correio da Manhã pode ser acessadas no Arquivo Nacional. O acervo do Última Hora é visto e lido no Arquivo Estado, do governo de São Paulo. 

Muitas publicações de várias áreas, contudo, ainda não estão catalogadas digitalmente na internet. É aí onde entram muitos leitores que valorizam a memória do jornalismo. A página Revistas Antigas, no Facebook, neste link, se dedica a postar fotos pesquisadas na própria web e a republicá-las na "banca" da esquina especializada em fotómemória do jornalismo. 
Política, esporte, meio-ambiente, crimes famosos, carreiras de grandes nomes da música, da literatura, política, as mudanças de comportamento da sociedade, todas estas rubricas estão retratadas em coleções de publicações que os leitores recuperam para as novas gerações interessadas nas páginas da história. Atualmente, portais de streaming como Globo Play, Prime e outros lançam documentários ou podcasts pesquisados, em parte, em imagens de revistas antigas, casos de Nara Leão, Leila Cravo, Daniella Perez, Tim Maia, entre ourtros.    

O face Revista Antigas (link) publicou recentemente a foto acima (o colaborador do paniscumovum, Nilton Muniz, colega na extinta Bloch, nos enviou o post de Marco Antonio Amaral) e fez um referência merecida ao jornalista, escritor e quadrinista Moysés Weltman. Em 1957, há 65 anos, Weltman lançava a publicação em quadrinho Jerônimo, Herói do Sertão, que nos anos 1970 virou novela no TV Tupi e, no anos 1980 foi exibida no SBT. Originalmente, a novela fez enorme sucesso quando foi ao nos anos dourados da poderosa Rádio Nacional, o primeiro veículo a alcançar todo o Brasil. 


Em revista,  Jerônimo era desenhado por Edmundo Rodrigues, que durante anos chefiou o departamento de histórias em quadrinhos da Bloch Editores. 

Também na Bloch, Moyses Weltman teve longa trajetória. Dirigiu a revista Amiga nos anos 1970, e fez uma passagem como editor da Fatos & Fotos. Com grande vivência em televisão, Weltman foi um dos profissionais que trabalhou ao lado de Adolpho Bloch para lançar a Rede Manchete.           

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Fotomemória: Alcione, a boneca Marrom. Por Guina Araújo Ramos

Filha de maestro, Alcione é cantora e instrumentista. Acima, performance no trompete, em 1978.
Foto de Guina Araújo Ramos. 

por Guina Araújo Ramos 

De repente, fico sabendo que hoje (ontem), 21/11, é dia do aniversário, 72 anos, de Alcione, a Marrom, cantora e compositora de muito sucesso, em todo o Brasil, há décadas.
Bom motivo para trazê-la aos Bonecos da História!
Tive apenas duas oportunidades de fotografar a Marrom.
A primeira, em 23/10/1979, em show bastante elaborado que suponho ter acontecido no Canecão, e o fiz para a Bloch Editores, quase certamente (porque em preto e branco) para a revista Amiga.
Por algum motivo estranho (porque não era comum) restaram nos meus arquivos vários negativos do show, praticamente a cobertura completa, com Alcione usando vários vestidos e em várias performances, incluindo o momento em que toca trompete, o que nunca vi alguma outra cantora brasileira fazer.
Alcione na Mangueira do Futuro - Rio, 1992 - Foto Guina Araújo Ramos

Volto a encontrá-la somente em 1992 e em condições muito distintas. À época, eu trabalhava para Notícias Shell, veículo corporativo da multinacional, que patrocinava um projeto esportivo na Vila Olímpica da Mangueira, justamente a escola de samba do coração de Alcione. Do evento, em que apoiava a causa e também era homenageada, me restaram dois slides sem muita expressão (e coloco aqui o melhor deles).

MAIS FOTOS NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, CLIQUE AQUI


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Memórias da redação - Canecão, 1979 - João Gilberto fotografado no exato momento em que reclama do som e cancela o show. Por Guina Araújo Ramos

João Gilberto no Canecão, em 1979, reclama do som e cancela o show.
Foto de Guina Araújo Ramos.


por Guina Araújo Ramos

Nunca mais, nunca mais…

Sempre fui um ouvinte casual de música (e não da estrangeira, necessitava entender o que era dito). Ouvia a música que tocasse no rádio, não questionava muito. Música, para mim, era mesmo um fundo musical, sempre fui meio analfabeto no assunto. Quando digo que o único instrumento que toco é campainha de porta estou sendo sincero.

Conseguia diferenciar, sim, a bossa nova dos outros ritmos, mas mal distinguia cantores de cantoras, todos cantavam baixinho… A exceção era Dorival Caymmi, mas pode ser uma certa identificação com aquela coisa baiana, aquele relax existencial… Lembro de um programa da TV Tupi, lá pelos meus oito anos, altas horas da noite, minha mãe me mandando dormir, o baiano deitado na rede com seu violão, entre redes de pescar e coqueiros de papelão. Alguma mágica devia haver na música, mas achava que gostava das historinhas, os pescadores que saíram pro mar na quarta-feira santa, os clarins da banda militar, a morena que se pintou… Já esse outro baiano, João Gilberto, com suas histórias impessoais, deixara apenas um vago registro, como se suas músicas, hoje clássicos, fizessem parte do inconsciente coletivo. Logo viriam outros baianos e depois novos baianos, mas, aí, já não era mais aquela infância…

Então, em 1979, bastante adulto, estava eu, com a máquina fotográfica em punho a serviço da revista Amiga, diante de João Gilberto em pessoa. O agora mito João Gilberto, em uma de suas raras aparições neste ensandecido Brasil que trocara por New York, ensaiando para um show no Canecão.

Estava bem ali no meio do palco, dentro de um círculo de luz, sentado no banquinho, o violão na mão, vestindo seu paletozinho, penteadinho… Uma concessão, sem dúvida. Um privilégio.
Nós fotografávamos do próprio palco, mas de fora do círculo, da escuridão que tomava conta de tudo.

Cristina Zappa, minha professora de inglês no curso da ABI, então fotógrafa estagiária de O Globo, mais neófita do que eu, se mostrava nervosa. Podia ser apenas síndrome de fã, ela nunca me confessou nem uma coisa nem outra… Eu também tinha vivido alguns momentos de nervosismo, de tremer mesmo, no meu início na Manchete. Tinha vencido tais barreiras justamente para estar ali, naquele momento, à frente de João Gilberto. Enquanto ele ajeitava as cordas do violão na ilha de luz do palco, eu colocava uma 135mm e media a luz. Lúcia Leme, repórter consagrada, minha parceria na empreitada (ou melhor, eu dela…) conversava, entre as mesas, com a produção e outros jornalistas. Era apenas um ensaio, mas dava para sentir uma emoção no ar. E talvez, também, alguma aflição…

João Gilberto parecia tranquilo. Dedilhou o violão, cantarolou dim-dim-dom-dom (ou qualquer outra de suas genialidades musicais) e falou qualquer coisa a alguém. Este alguém, num gesto, conseguiu silêncio total e João Gilberto começou a cantar. Cantava qualquer coisa, um barquinho, um cantinho, um violão (é impressionante o que não se ouve quando se está fotografando, e o pior é que geralmente são as melhores músicas…), tocava qualquer coisa, dim-dim-dom-dom, eu estava gostando, ele tocava… Até que simplesmente parou.

Parou. O silêncio continuava. Todos atentos, reverentes. Balançou a cabeça, olhou para a escuridão do fundo do salão, baixou a cabeça e voltou a tocar, dim-dim-dom-dom, cantou mais um barquinho, um cantinho… Até que parou outra vez e falou. O fato é que João Gilberto falava muito pouco. Quando falava, e era pouco, falava baixinho. Quando falava alto, aí, era um acontecimento!…

Pois João Gilberto parou de tocar e falou alto. Falou para a escuridão lá do fundo:

– Olha, não está bom não!

Uma voz nas trevas respondeu qualquer coisa e João Gilberto falou outra vez:

– Eu sei. Mas não está bom não.

Dava para perceber que a voz nas trevas se esforçava para explicar qualquer coisa. João Gilberto propôs:

– Faz o seguinte: baixa um pouco.

Ou “sobe” ou “aumenta” ou “diminui”, uma ordem cifrada dessas. Só sei que “esquece” ele não falou… João Gilberto tentou resolver o problema, sou testemunha, posso jurar. A voz ao fundo, um pouco sumida, disse OK e João Gilberto voltou a se concentrar no violão. Dim-dim-dom-dom, um banquinho, um violão, nosso amor, uma canção, dessa vez eu acho que ouvi..

"Nunca mais, nunca mais..."

Ou talvez não… Mas, que importa, estava eu lá interessado na música?… Não, não estava. Estava interessado nas reações de João Gilberto. Notei que começava a se contorcer. No princípio, só um pouco, o tronco, os ombros, mas, aos poucos, passou a mexer as pernas abaixo dos joelhos, girando o pé na ponta do sapato enquanto tocava e cantava. E o rosto… Percebi uma cara feia qualquer, ainda que fugaz.

Parou de novo. Baixou a cabeça sobre o violão, notei que suspirou. Voltou a falar, de novo em voz alta, lá para o fundo negro de onde vinha o jato de luz:

– Olha, não ficou bom, não. Ficou pior… Faz o seguinte: volta como estava.

Pronto, pensei, o problema estava resolvido. Não ia ser o ideal, o máximo do som, como João Gilberto queria, mas seria o bom, o aceitável, o público iria gostar… Para mim, por exemplo, podia ficar de qualquer jeito, alto ou baixo, mais ou menos, estava bom o tempo todo. Mas, se ele fazia questão, tudo bem, era só voltar ao que estava antes: ele tinha razão!…

A voz lá do fundo disse OK. Silêncio. Cumpre-se o ritual e João Gilberto recomeça a tocar, acho até que voltou a cantar um barquinho vai, a tardinha… Ah, parou!…

Parou e caiu em silêncio, ensimesmado. Ficou ali emborcado sobre o violão algum tempo. Não dá para saber quanto porque estava tudo parado… Respirou fundo e falou lá para o fundo:

– Não, não… Não era assim que estava. Agora, ficou mais alto.

Ou “baixo”, ou “maior” ou “menor”, um problema desses… João Gilberto não parecia contente. Ficou olhando fixamente o foco de luz (ou a escuridão?…) por um tempo, até que a voz cavernosa garantisse que, agora sim!, estava no ponto. Ou nem tanto, que apenas voltaria ao que estava antes.

João Gilberto pareceu aceitar, uma tristeza no olhar…

Tudo de novo, o ritual. Eu, com meu dedo colado no disparador. João Gilberto começou a tocar, dim-dim-dom-dom. Eu senti que havia uma aflição saindo daquelas cordas. Ameaçou cantar um barquinho, o mar, a onda… A tardinha caía, seu rosto se desfigurava, eu batia fotos, sentíamos todos uma dor…

João Gilberto parou de tocar. João Gilberto baixou a cabeça. Acho que tinha uma lágrima nos olhos. Ou eu, eu não conseguia ver bem… Ficou ali, no centro da luz. O silêncio dominava a escuridão. Até que começou a balançar a cabeça, de lado a lado, por sobre o violão. E se ouviu a ladainha:

– Nunca mais, nunca mais!…

Parecia que ia chorar… Balançava a cabeça de lado a lado, desalentado: nada… De repente, insistiu em tocar, apertou as cordas com mais raiva do que fé: nada… A cada acorde, um esgar, uma careta: nada… Tudo aparentemente certo, um banquinho, um violão, mas o som…

– Nunca mais, nunca mais!…

A voz lá no fundo prometeu qualquer coisa, disse que agora sim, qualquer coisa, mas João Gilberto, catatônico, continuava:

– Nunca mais, nunca mais!…

E eu ali me sentindo o pato… Não era muito mais do que isso o que sabia de João Gilberto: bossa-nova, o tal banquinho, o violão, um barquinho, o pato… Agora, estava ele ali, na minha frente, sob a minha mira fotográfica, e era um mito arrasado, um baiano triste, um banquinho manco, um violão rachado, um som quebrado…

Para mim, estava bastante bom, estavam bastante boas as fotos. Até a música estava boa. Mas, que o sentimento era forte, que o momento era cruel, até eu, analfabeto musical, podia sentir. Vi logo que ia dar uma página dupla na Amiga, uma foto ou outra na Manchete. Que essa história ia ser contada em prosa e verso, transformada em filme, lembrada para todo o sempre enquanto existisse um banquinho, um violão, um amor, uma canção…

Não houve mais o show. João Gilberto cancelou, mais abatido que indignado. Houve celeuma, fãs protestaram, jornais criticaram, uma parte parece que processou a outra, parece que vice-versa, sei lá, dizem mesmo que a ditadura teria acabado mais cedo por causa disso…

Virou até literatura: Sérgio Sant’Anna, desencantado mas sarcástico, contou a história no conto (e livro) “O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro”. Depois de um certo voo de imaginação, decretou: o não-show de João Gilberto no Canecão teria sido, afinal, o show de João Gilberto que o Rio de Janeiro merecia. Pode ser… Mas, hoje eu sei: eu mesmo não merecia.

Para se ver quão traumatizantes foram os fatos. Deu para sentir, eu estava lá…

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Fotomemória: Caetano, Gal, Bethânia: registros de Guina Ramos para a revista Amiga...

Caetano Veloso e Gal. Foto de Guina Ramos, 1978. 
No blog Bonecos da História, Guina Ramos documenta sua trajetória nos principais veículos de comunicação do Brasil. 
Na semana em que Caetano Veloso comemora 76 anos (dia 7/8) , o escritor e fotojornalista publica algumas imagens feitas em 1978 e estampadas na revista Amiga: Caetano e Maria Bethânia em show no Canecão (que resultou em antológico álbum gravado ao vivo); e Caetano e Gal durante ensaio para a turnê que a dupla faria na Europa. Naquele ano, Gal também preparava um disco histórico: Gal Tropical, que foi lançado em 1979.

Veja mais fotos e a matéria completa AQUI 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Nicole Puzzi: musa do cinema revela a epopeia das pornochanchadas e homenageia gênero recordista de bilheterias do cinema brasileiro

Os bastidores do cinema em livro. 
Nicole Puzzi na capa da Status e...
... em destaque e...

...matéria na revista Amiga, da Bloch Editores.
A atriz e apresentadora do Canal Brasil, Nicole Puzzi, que foi estrela da era da pornochanchada, lança o livro "A Boca de São Paulo", onde revela os bastidores de um tempo em que o cinema brasileiro ousava e faturava com produções como "Damas do Prazer", "O prisioneiro do sexo", "Ariella", "O Convite ao Prazer", "Perdida em Sodoma", "Tessa, a gata" e dezenas de outros filmes. Atualmente, Nicolo apresenta o programa "Pornolândia" no Canal Brasil. No livro, ela ressalta o cinema da época e homenageia os profissionais que encararam o desafio de levar filmes brasileiros a milhões de espectadores.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Claudio Marzo, vida, talento e sucesso documentados pela revista Amiga...





Na década de 1970, quando o gênero novela dominava a televisão, com picos de audiência que ultrapassavam, muitas vezes, mais de 80% dos televisores ligados, Claudio Marzo tornou-se um dos mais importantes atores do Brasil. Certamente, a teledramaturgia da Globo deve muito a ele. Foram mais de 30 novelas e cerca de 30 filmes, em 50 anos de carreira. A revista Amiga, assim como a Sétimo Céu, documentaram muitos desses momentos, passo a passo, ao testemunharem, em sintonia com a expectativa de milhares de leitoras e fãs, a trajetória e o sucesso do galã Claudio Marzo. Foi um "galã com conteúdo", diz-se atualmente, para diferenciar os verdadeiros atores. os que permanecem, dos "famosos", a maioria apenas cíclicos, que representam a banalização do termo galã. Foi talvez um dos atores mais focalizados pela revista. Desde as novelas "Véu de Noiva" e "Carinhoso", passando pela épica "Irmãos Coragem", pelo realismo-fantástico de "Saramandaia", o humor de "Plumas & Paetês", o fascínio rural do Velho do Rio, seu personagem antológico em "Pantanal", a nostalgia de "Kananga do Japão" (essas duas últimas na Rede Manchete, quando era figura frequente, sempre atencioso, nos corredores do prédio do Russell, sede da TV e das redações das revistas da Bloch), e filmes como "Copacabana me Engana", "Pra Frente Brasil",  "O Homem Nu" e "A Dama do Lotação, entre tantos trabalhos marcantes. Cláudio Marzo morreu ontem, aos 74 anos, no Rio de Janeiro. Ultimamente, enfrentava sérios problemas de saúde. Foi internado no dia 4 de março, em crise provocada por enfisema pulmonar, agravada, depois, por uma pneumonia. O ator deixa a viúva, a diretora Neia Marzo, com quem estava casado há 27 anos, e três filhos: Bento, do casamento com a atriz Xuxa Lopes; Alexandra Marzo, de sua união com Betty Faria, e Diogo, da união com Denise Dumont, e uma bela história na TV, cinema e teatro.

terça-feira, 8 de abril de 2014

José Wilker: o adeus de um exemplo “felomenal” na arte de saber ser muitas pessoas em uma








por Eli Halfoun
Perdemos mais um grande ator. A morte de José Wilker fez em todos os corações (e não só no seu que de repente parou de bater) a dor ainda maior pelo inesperado da surpresa. Wilker não estava doente e ainda assim o coração que manda avisos, mas no caso dele mandou um que ele não teve tempo de perceber. Cansou de bater. A morte de qualquer pessoa é sempre dolorida porque nos mostra sempre o quanto somos e estamos frágeis diante da vida. Há quem diga, como um médico que conheci recentemente, que começamos a morrer no dia em que nascemos. Tem lógica: ainda assim vivemos muito tempo porque não passamos a existência pensando na morte.

José Wilker era um apaixonado pelas muitas vidas que a arte o ensinou a viver intensamente. A arte é uma forma de viver e fazer viver muitas vidas. A trajetória artística de Wilker se fez repleta de sucessos, mas sem dúvida para a maioria dos fãs o que ficará mais vivo na memória é o “felomenal” que repetiu com o personagem Gioavani Improta, da novela “Senhora do Destino". O bordão cabe perfeitamente na biografia de Wilker: ele foi “felomenal” na busca de fazer sua arte ainda maior. Fez e partiu deixando essa paixão por representar e aprender com o cinema um exemplo maior. Felomenal. (Eli Halfoun)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Paulo Goulart: um grande homem e um ser humano maior ainda






por Eli Halfoun (*)
Não foram muitos os contatos profissionais que tive com Paulo Goulart, mas mesmo assim guardo dele um momento de carinho que me mostrou sua grandeza humana: ele quis me ajudar para livrar-me de um problema que na época me angustiava muito. Insistiu ara que eu fosse ao seu encontro em um endereço em Copacabana onde me apresentaria a pessoa que com força espiritual poderia me auxiliar. Desencontramos-nos, mas jamais esqueci a sincera preocupação de Paulo Goulart em querer me ajudar: seu gesto o fazia anda maior como homem e era um gesto que se ampliava para todos os lados sempre querendo ajudar as pessoas. O Paulo Goulart que eu conheci deve ter nos deixado sorrindo e feliz para ir ao encontro de um novo tempo no qual acreditava com entusiasmo e emoção. Não tenho dúvidas de que o grande (e não só no tamanho) Paulo Goulart morreu tão feliz como viveu e fez viver a todos que tiveram o prazer de conviver com ele. (Eli Halfoun)
* Observação da redação; O jornalista Eli Halfoun dirigiu a revista AMIGA, editada pela extinta Bloch Editores

sábado, 5 de janeiro de 2013

Memórias da redação: Aconteceu no...


Previsões: apenas uma maneira de fazer leitores ficarem otimistas
por Eli Halfoun
Acredita em previsões quem quer e geralmente crê porque é uma maneira de abastecer-se de otimismo e esperança em relação ao futuro e até ao presente. Nunca acreditei em previsões astrológicas, numerologia e outras crendices que ajudam a vender jornais e revistas e fazem muitos “adivinhões” rechearem as carteiras com “consultas” pagas a peso de ouro. Minha descrença não é apenas porque sou mais um dos muitos céticos que se espalham pelo mundo: não acredito porque sei como previsões de jornais e revistas são feitas. Durante muitos anos fui o “astrólogo” substituto do jornal Última Hora quando editava o segundo caderno e o astrólogo oficial não enviava as previsões.  Como o espaço precisava ser preenchido, lá ia eu preparar o horóscopo do dia seguinte sempre com a preocupação de copiar o estilo do astrólogo titular e de não carregar de pessimismo nas previsões dos signos dos amigos e colegas de redação. Nosso astrólogo oficial era o falecido professor Raji, um realmente estudioso (professor de verdade) da astrologia, mas que mesmo assim não tinha condições de prever o destino de milhares de leitores. Na revista Amiga, repeti a dose de adivinhações criando as previsões feitas por pais de santo (depois os jornais populares copiaram) sempre com a preocupação de não deixá-los falar demais prevendo situações desagradáveis. Fazíamos também previsões gerais tipo “vai morrer uma pessoa famosa” (sempre morre), “as chuvas castigarão alguns estados no verão (sempre castigam) e outras tantas previsões que na verdade são apenas repetições do cotidiano. Embora revistas especializadas em astrologia e previsões apareçam aos montes todo final de ano, quem se der ao trabalho de consultar o que disseram as revistas antigas perceberá que é sempre e tudo a mesma coisa. Talvez por isso mesmo a televisão esteja abrindo mão de fazer previsões em seus programas jornalísticos ou de variedades. Ninguém que não sejam os políticos que continuar enganando o povo. 
Sem crença mas com bom humor
Quem não acredita (não são poucos) precisa respeitar os que acreditam e levar tudo com bom humor. Foi o que fiz quando um amigo também jornalista insistiu em levar-me a um pai-de-santo que leria o meu destino nos búzios. Fui lá e quando entrei na sala em que as consultas eram realizadas, o pai-de-santo colocou a mão na testa (dele é claro) jogou os búzios e mandou essa:
“Não vejo você com nenhum problema”.
 Não resisti e mandei a minha:
“Não vê porque é cego. Eu entrei puxando a perna”
(sequela de um AVC que tive aos 26 anos e que carrego até hoje). (Eli Halfoun)

domingo, 31 de outubro de 2010

Silvio Santos faz 80 anos pensando em melhorar os negócios

Silvio Santos, 80 anos: longevidade (acima, na capa da Amiga, no começo dos anos 70). 
por Eli Halfoun
Mesmo os que o acham cafona e superado não podem negar que Silvio Santos ainda é o mais importante e carismático apresentador da nossa televisão e um exemplo de vitalidade: embora esteja pensando em diminuir sua participação em programas de televisão, afasta qualquer hipótese de aposentadoria, especialmente na área empresarial na qual também é um bem sucedido craque. Agora mesmo, por exemplo, quer convocar um grupo de profissionais e empresários para mudar completamente a programação do SBT. Não é só: está reformulando também suas empresas e decidiu investir em vendas de eletrodomésticos e móveis pela internet. Mais: procura um sócio (nos bastidores fala-se em Roberto Justus) para suas lojas. Quer também aumentar o número de produtos e de vendedoras da Jequiti, sua empresa de produtos de beleza. Só não mexerá no banco Pan-americano: por lá as coisas estão nos eixos desde a entrada no grupo da Caixa Econômica. A idade não impedirá que ele esteja à frente de todos os negócios, mesmo que venha a delegar poderes. Ou seja: delegar, mas nem tanto.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Memórias da redação: Aconteceu na... Amiga


por Eli Halfoun
(Três histórias sobre o lado bom de fazer revista entre amigos)
Parecia fácil, mas era complicado fazer da Amiga uma revista semanal vibrante, criativa e atualizada: dependíamos de conseguir os capítulos das novelas para preparar os resumos, da boa vontade dos artistas para entrevistas e fotos e de informantes com credibilidade para contar tudo o que acontecia nos bastidores. Nosso universo era sempre o mesmo e era preciso “fazer ginástica” para não ficar repetitivo e criar novidades interessantes que mobilizassem os leitores. Apesar de todas as dificuldades, também era muito divertido o trabalho na redação, onde era necessário criar todo dia novas brincadeiras que deixassem o ambiente de trabalho descontraído, alegre e feliz. Nunca faltou, justiça seja feita, criatividade no quesito sacanagem. Aqui estão três historinhas que ilustram bem o espírito brincalhão que nos permitia, por mais paradoxal que possa parecer, fazer um trabalho sério.

História I
O Moysés Welltman era um grande sujeito, mas cheio de manias, que não escondia. Vivia dizendo na redação que odiava sol e jaca e que até o cheiro da fruta o fazia passar mal e vomitar. Ficou anotado e perto de seu aniversário, quando pensávamos o que lhe dar de presente, surgiu a idéia brilhante: “Vamos dar uma jaca”. Mas como arranjar uma jaca? O Tostão, que adorava as brincadeiras e era o criador de várias deu a solução. Morava no subúrbio, viajava mais de uma hora de ônibus até a redação: “Eu pego a jaca no quintal do meu vizinho”. Ainda argumentamos que era muito longe e seria difícil trazer a jaca. E ele, já delirando com a brincadeira não titubeou: “Eu me viro e trago a jaca de qualquer maneira”. Na véspera do aniversário do Weltman, a jaca estava na redação e, no dia seguinte, a enviamos cedinho para a casa do Weltman. Não sabemos qual foi sua reação ao receber o embrulho de presente com a jaca, mas do jeito enjoado que ele entrou na redação deu para imaginar. Não passou recibo, mas a turma se entregou: “Parabéns, Weltman, vai ter bolo de jaca hoje”. Aí ele revelou a raiva: ”Só se for para esfregar na cara de vocês”. Ninguém comeu bolo de jaca, mas mesmo assim foi um aniversário muito divertido. Pelo menos para nós.

História II
Pouca gente sabe ou lembra, mas o hoje mundialmente badalado escritor Paulo Coelho foi repórter free-lance da Amiga. Nenhum redator gostava de pegar seus textos porque diziam que “era coisa de maluco”. Um dia, Paulo ligou da portaria, mandou me chamar e disse que tinha uma ótima reportagem para me entregar. Conversei com ele no hall dos elevadores no oitavo andar do prédio do Russell, dei uma lida no texto (era uma entrevista e uma análise com e sobre o Raul Seixas, de quem viria a ser parceiro). Enquanto eu lia, Paulo, fala mansa e boa gente, não parava de falar: “Lê direitinho para depois não dizer que é coisa de maluco e vê se aproveita porque tô precisando muito da grana desse frila”. O texto realmente não era dos melhores, mas como ele precisava da grana decide aproveitar. Paulo acrescentou: ”Se achar que tá ruim demais pode reescrever”. Foi o que fiz. Quando a revista saiu ele ligou para agradecer: “Ficou legal. Que bom que você não mexeu em nada”. Tinha mexido sim E muito.

História III
A época era das saias curtas e as bonitinhas repórteres da Amiga não as dispensavam. Sentadas em suas mesas de trabalho, quase provocavam diariamente um torcicolo no Tostão, que fazia contorcionismo para como ele mesmo dizia “ver o furo de reportagem”. Osmar Tavares, o baixinho Tostão, nem queria ver a calcinha de ninguém. Queria apenas deixar as meninas sem graça e cheias de cuidados na hora de cruzar as pernas. Todo dia era a mesma coisa: enquanto diagramava uma página ia narrando: “Fulana tá de calcinha branca, sicrana de azul claro”. Não via nada, mas inventava as cores (às vezes até acertava) para instigar a redação. Era casado com uma mulher três vezes maior do que ele e, portanto, tinha em casa uma fartura de calcinha, mas gostava de repetir: “Adoro ver calcinhas”. Um dia cheguei perto e dei a notícia: “Na hora do almoço vamos até o Largo do Machado que vou te levar em um lugar especial para você ver calcinhas”. Ficou, é claro, todo animado, contando os minutos. Combinei com parte da turma da redação que me seguisse na hora do almoço. Saí com o Tostão e fomos caminhando pela rua do Catete até o Largo do Machado. Ansioso, ele perguntava: “Falta muito, falta muito?". Enfim chegamos na Galeria do Condor no Largo do Machado. “E agora vamos subir, tem muita mulher lá?" Eu só pedia calma. Andamos até quase o final da galeria, parei em frente a uma loja de lingeries e simplesmente disse: "Divirta - se olha só quantas calcinhas ”. Foi a primeira vez que vi o bem humorado Tostão ficar nervoso. Só não me deu uns cascudos porque eu era o chefe. A turma da redação que nos seguiu morria de rir e até comprou uma calcinha de presente para o Tostão. Não se sabe ser um dia ele a usou.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Memórias da redação: aconteceu na revista Amiga...


por Eli Halfoun
As revistas (Manchete na cabeça) da Bloch Editores escreveram uma das mais importantes páginas da história do moderno jornalismo brasileiro e a Bloch escreveu, nos bastidores, sua própria história (como você já viu – se não viu, veja – no livro Aconteceu na Manchete- As histórias que ninguém contou - da Editora Desiderata). Adolpho Bloch com seu jeitão bonachão foi o protagonista de muitos casos. Eu dirigia a revista Amiga (o que fiz por mais de 10 anos) quando explodiu a notícia do assassinato de Daniella Perez, em 28 de dezembro de 1992, há quase17 anos. Imediatamente sugeri ao 'seu' Adolpho lançar uma edição especial da Amiga em homenagem à atriz, e ele, de saída, como sempre, reagiu de forma estranha: “Quer gastar o meu papel?” Argumentei, garanti que uma especial venderia muito e ele disse: “Se não vender você paga o papel”. O crime ainda era um mistério e como ainda não havia muitos detalhes, optei por reunir, fotos da carreira da jovem e talentosa atriz e relatar as primeiras versões sobre o crime, com Daniella, linda e jovem (tinha 22 anos quando foi brutalmente assassinada) na capa. No dia seguinte, depois de um trabalho que consumiu a tarde e a noite, a revista foi para as bancas junto com o meu medo e a minha torcida: se não desse certo certamente eu nunca mais poderia sugerir nenhuma edição especial.
A revista tinha começado a circular e 'seu' Adolpho não parava de me chamar para cobrar a venda. O clima tenso só relaxou no final da tarde quando chegou, afinal, a notícia: “a revista está vendendo feito água”. No dia seguinte, a edição se esgotou e recebi um bilhete (felizmente não o azul) da diretoria: “Parabéns, você pagou a folha da Bloch esse mês”.
O assassinato de Daniella Perez me rendeu muitas “convocações"  - parecia até que eu era o culpado- por parte do 'seu' Adolpho. Guilherme de Pádua já estava preso e não falava com ninguém, mas a excelente repórter Cláudia Lopes conseguiu uma entrevista exclusiva com o acusado. Não tive dúvidas: coloquei o Guilherme de Pádua na capa. Quando 'seu' Adolpho viu me chamou e foi logo dizendo: “ Ficou louco? Quem é esse desconhecido que você botou na capa?”. Expliquei o fato jornalístico e ele se convenceu de que podia dar certo. A entrevista exclusiva também esgotou a revista, mas criou problemas: Glória Perez, a mãe Daniela, ficou danada comigo porque a revista estaria dando guarida a um assassino e reclamou com 'seu' Adolpho, que também me encheu de broncas. No dia seguinte, o Raul Gazola, na época noivo da Daniela, foi até à Bloch e pediu que 'seu' Adolpho lhe desse a fita com a entrevista. Fui convocado à sala da diretoria e, lá, me pediram o tape. Pensei entregar uma fita virgem, mas refleti e levei o original ao 'seu' Adolpho que passou a gravação imediatamente para as mãos do Raul Gazola. Para mim, já não fazia diferença: a revista estava impressa, mais uma vez vendeu toda a tiragem (e mais um pouco que rodou depois). 'Seu' Adolpho, então, me convocou outra vez e disse: “Não fica aborrecido, não. Não podem fazer nada com a fita e nós já vendemos revista”. (Nas reproduções abaixo, a capa com entrevista de Guilherme de Pádua e a repercussão do caso em outras publicações após a Amiga chegar às bancas dois dias depois da tragédia)





sábado, 5 de dezembro de 2009

2009: o ano da Glória


por Gonça
São três filmes. Três momentos de uma grande atriz. Em Se Eu Fosse Você 2, ela atraiu 7 milhões de espectadores. É Proibido Fumar ganhou o Festival de Brasília e já está em cartaz. Em janeiro, chega às  telas o filme Lula, o  Filho do Brasil. Que é popular, polêmico, dramático e já está provocando as mais variadas reações. Ou seja, não vai passar em branco. Se será um grande sucesso, só o público dirá. Mas  uma unanimidade começa a se formar: o desempenho forte e convincente de Glória Pires.
E já que o nosso caro amigo Eli Halfoun contou aqui uma saborosa história da redação da revista Amiga, da qual ele foi um brilhante editor, vai aí uma homenagem dupla: Glória Pires na capa Amiga.
Observação endereçada aos mais jovens: a Amiga foi durante décadas a mais completa e bem informada revista especializada em televisão. Antecipou em muitos anos a onda de "revistas de celebridade" e era uma referência para o público, atores, atrizes, autores e diretores durante a chamada "era de ouro" de televisão brasileira, tempos de Dias Gomes, Janete Clair, Bráulio Pedroso, Irmãos Coragem, O Bem-Amado, Dancin' Days, O Rebu, Saramandaia, eram dias de Ibope em 90 pontos, de uma geração que mostrou que era possível produzir televisão com qualidade e abriu caminho para os premiados profissionais que fazem a TV atual, como a recente Caminho das Indias, da competente Glória Perez, vitoriosa no Emmy.
Na sequência de reproduçoes, Glória com Joana Fomm e com Sonia Braga em Dancin' Days, de Gilberto Braga; E ao lado de Carlos Alberto Ricelli em Vale Tudo, também de Gilberto, quando a Amiga antecipava para os seus leitores, com exclusividade, os finais da badalada novela.  




sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Aconteceu... na AMIGA: tarde do muito prazer com prazer mesmo


por Eli Halfoun
Todo dia a redação da revista Amiga recebia visitas de dezenas de divulgadores, relações-públicas, enfim de toda essa turma que vende seu peixe para conseguir espaço nos jornais e revistas e divulgar uma peça, um filme, um show e fazendo assim um trabalho chato, mas digno como qualquer outro. A redação até se divertia (parecia a hora do recreio) com essas visitas já que os divulgadores ficavam amigos da Amiga. Um desses profissionais era o gentil Mauricio Kus, relações-públicas de uma grande distribuidora de filmes, o que o levava sempre até à redação para divulgar estréias e lançamentos. Era simpático, além de velho amigo do Moysés Weltman, na época diretor da revista. Eu era o editor e também assinava uma coluna semanal na Amiga e uma diária no jornal Ultima Hora, que já tinha o Ary Carvalho como dono. O Mauricio mostrava grande curiosidade em me conhecer pessoalmente. Certa tarde, ele apareceu na redação e perguntou ao Weltman quem era eu. O Weltman me chamou e disse apontando para o Maurício:
- "Ele está louco para te conhecer”
O sorridente homem levantou, olhou para mim, estendeu a mão e disse:
- "Muito prazer, Mauricio Kus"
Apertei sua mão e sério mandei essa:
- "Muito prazer Eli Pirocas".
O Weltman me olhou com cara de espanto enquanto o Kus ria as gargalhas. Ele e toda a redação, inclusive eu.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Do baú do Paniscumovum -1


Roberto Carlos comemora 50 anos de carreira. Foi tema em praticamente de todos os jornais e revistas do país. As revistas da Bloch acompanharam passo a passo a vida do cantor e os arquivos da Manchete e da Amiga, que em breve serão leiloadas pela Massa Falida da extinta editora, guardam certamente raras imagens da trajetória do RC. Aqui vai uma delas, reproduzida da edição Nº 963 da revista, uma página dupla com foto do saudoso Gil Pinheiro. Em outubro de 1970, Carlos Lacerda - em período sabático-político após o fracasso da Frente Ampla e em plena ditadura que ele ajudou a implantar e que, depois, o congelou - virou colaborador da Manchete, a expressão não existia na época mas o ex-governador e político combativo tornou-se "repórter de celebridades". Uma das suas primeiras tarefas foi entrevistar Roberto Carlos . Lacerda deu ao perfil extremamente bem escrito que fez do cantor um título sugestivo: Roberto Carlos, rei da jovem guarda, príncipe da melacolia". Curioso é que Lacerda não ia à casa das "celebridades". Os entrevistados iam à sala do entrevistador. Com inegável talento, o repórter, de cara, aborda um tema-tabu até hoje na vida de Roberto Carlos: o acidente que sofreu, criança, em Cachoeiro do Itapemirim. Lacerda comenta que foi entrevistar Roberto e conheceu o Zunga, apelido de infância do cantor. E o Zunga vira a chave e o rumo de uma entrevista reveladora. Trechos:
"Zunga esteve lá em casa. Veio vestido de Roberto Carlos, de calça veludo frappé como as que Jean Bouquin vende naquela loja louca de St. Germain. Mas é de Zunga que se trata, o menino de sua mãe, que aos seis anos, numa festa escolar, levou um esbarro da locomitiva e perdeu uma perna e hoje a tem toda nova, de metal polido, deve ser prateado, o que o faz coxear um pouco". (...) "Pois Zunga é uma espécie de Édipo. O rei é Édipo-Rei. O filho amoroso de todas as mães, flor amorosa de três raças tristes" (...) "Zunga é um solitário e isto se vê nos seus olhos, no seu rosto contido, de tímido tenso".
É ou não é um retrato permanente do do RC, traçado há quase 40 anos?
E Lacerda faz ao entrevistado uma última pergunta e um comentário final:
- Se você fizesse um filme com a história da sua vida, como é que acabava?
- Eu, numa rua, andando na chuva"
- Ô solidão!"

domingo, 23 de agosto de 2009

Por falar em Tony Ramos...




Olha só o Opash aí na revista Amiga na década de 70. (a página acima, em preto e branco, foi reproduzida do blog Memória da TV). A propósito, no Brasil não há uma política cultural de preservação dos fatos e imagens da televisão. Muita coisa foi destruída pelas próprias emissoras ao longo de décadas. Blogs e sites de especialistas ou de telespectadores têm feito parte desse papel na Internet. Segue o link: http://memoriadatv.blogspot.com/