O rabino Henry Sobel no culto ecumênico para Vladimir Herzog, ao lado do reverendo James Wright e de D. Paulo Evaristo Arns. Foto de Vic Parisi/Reprodução Manchete |
A cerimônia reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Foto; Vic Parisi |
por José Esmeraldo Gonçalves
O rabino Henry Sobel era um líder religioso que não negava sua voz às questões seculares.
Talvez por isso os jornalistas o procurassem tanto, desde os anos 1970, para opinar sobre temas que iam do divórcio à pena de morte - tópicos discutidos no Brasil daquela época -, e do ecumenismo aos direitos humanos, da violência urbana à educação e a busca pela paz mundial. Com extraordinária cordialidade, atendia a todos os veículos.
Mas os jornalistas também não esquecerão Sobel pela coragem com que se manifestou, em palavras e atitudes, quando a ditadura militar torturou e assassinou Vladimir Herzog, em outubro de 1975, em São Paulo. Ao lado de D. Paulo Evaristo Arns, ele desafiou não apenas o regime autoritário, mas setores da sua própria comunidade. Em versão tosca e construída, os militares alegavam que Herzog havia se suicidado na prisão. Diante disso, e de acordo com os preceitos judaicos, o jornalista deveria ser sepultado em ala separada, na parte externa do cemitério. Henry Sobel recusou-se a assim proceder e venceu as pressões. Herzog repousa na parte interna do Cemitério Israelita do Butantã. A recusa do rabino simbolizou o veemente protesto que denunciou o assassinato do jornalista. Dias depois, ao lado de Paulo Evaristo Arns e do reverendo James Wright, Sobel participou de uma histórica cerimônia ecumênica que reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Um ato religioso para Herzog, um ato político pela liberdade no Brasil.
A dura luta pela verdade prosseguiu nos anos seguintes. Em 1977, Manchete cobriu mais uma cerimônia ecumênica que lembrava os dois anos do crime e pedia justiça. Mais cedo ou tarde, as verdadeiras circunstâncias da morte de Herzog seriam reveladas, dizia-se no púlpito. O que acabou acontecendo.
A propósito de Henry Sobel, que morreu ontem, aos 75 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso postou no twitter uma declaração que retrata bem a participação do rabino na história que ajudou a escrever.
"Foi um bravo na hora difícil", definiu FHC.
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