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sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Marighella: o filme sem tela pode virar série na TV

por José Esmeraldo Gonçalves 

Para Carlos Marighella, a luta continua.

Executado há 50 anos, o líder revolucionário, fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), enfrenta, in memoriam, uma batalha para chegar às telas de cinema do Brasil.

"Marighella", de Wagner Moura, exibido no exterior e premiado em vários festivais, deveria estrear no dia 20 de novembro, a próxima quarta-feira, Dia da Consciência Negra. Em nota recente, a produtora O2 Filmes informou que o lançamento do filme, que tem no elenco, entre outros, Seu Jorge, Adriana Esteves e Humberto Carrão, foi cancelado porque a produção não conseguiu “cumprir os trâmites” exigidos pela Agência Nacional de Cinema.

E, aparentemente, não se fala mais nisso.

Assim como os golpes de Estado, a censura no Brasil agora atua travestida de inúmeros pretextos. Basta ler notas semelhantes das mais diversas instituições a propósito de apreensão de livros, de vetos a exposições, a palestras em universidades, de barreiras políticas, morais ou religiosas no acesso a financiamentos públicos e até agressões, intimidações e invasões de espaços culturais por milícias neofascistas.

A justificativa para o cancelamento da estréia de "Marighella" parece apenas uma versão construída para disfarçar o que já era esperado no atual ambiente político do Brasil. Aliás, "versão" é um recurso de dissimulação e fake news que tanto os órgãos de segurança da ditadura quanto o baronato da grande mídia, na época, usou para desconstruir os fatos na vida do guerrilheiro.

Em 2012, o fotógrafo da Manchete, Sérgio Jorge, denunciou na Istoé, a farsa montada pelo delegado Sérgio Fleury, que era uma espécie de capo executor oficial da ditadura, ao criar a versão oficial para a morte de Marighella, em São Paulo, no dia 4 de novembro de 1969.  "Eu vi os policiais colocando o corpo no banco de trás do carro", revelou o fotógrafo sobre a montagem da cena de confronto.  Segundo dois frades dominicanos que iriam encontrar o guerrilheiro, este foi executado no meio da rua, a queima-roupa. Não houver confronto. Marighella estava desarmado e foi fuzilado ao se encaminhar para o Fusca onde os policiais haviam colocado os dominicanos e onde seu corpo foi depositado em seguida. Os frades foram protagonistas involuntários da segunda farsa montada pela ditadura e divulgada pela mídia: a versão da "traição", segundo a qual os religiosos foram os responsáveis por dedurar Marighella.

A jornalista e escritora Leneide Duarte-Plon publicou semana passada na Carta Maior o artigo "50 anos da execução de Marighella e a farsa da "traição" dos dominicanos", que desmonta mais essa fake news da ditadura em parceria com os jornais. Conta a jornalista: "Logo depois da execução de Marighella, cujo corpo foi colocado dentro do carro depois de morto para compor a narrativa das fotos que a imprensa receberia, os órgãos de segurança da ditadura começaram uma sórdida campanha, bombardeando a mídia com fake news, atribuindo aos dominicanos uma suposta 'traição'. Eles teriam traído o antigo aliado, dando informações que permitiram a morte de Marighella. O que hoje chamamos de fake news sempre existiu. Os regimes totalitários desde sempre utilizaram a mentira para justificar invasões de territórios, prisões de dissidentes políticos ou mesmo para convencer a população que uma reforma traz benefícios quando, na verdade, representa perda de direitos. No Brasil de hoje, a mentira (fake news) é o combustível de toda ação governamental. Na época da ditadura não era diferente. No nosso livro "Um homem torturado, nos passos de frei Tito de Alencar", lançado em 2014, Clarisse Meireles e eu reconstituímos o episódio da prisão dos dominicanos e da mentira de Estado, que se impôs através dos órgãos de imprensa da época".

Testemunhos como o de Sérgio Jorge, livros como o de Leneide e Clarisse, além da obra de Mário Magalhães,  "Marighella, o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", em que se baseou o filme,  recolocam os fatos diante da história.  O brasileiro tornou-se uma referência revolucionária em todo o mundo. Seu livro "Manual da Guerrilha Urbana" virou um tutorial famoso para muitos focos de luta popular. Que o diga Sebastião Salgado, que também trabalhou para a Manchete. Em matéria publicada na revista MIT, quando entrevistou Salgado, o jornalista Roberto Muggiati conta  como Marighella indiretamente salvou a vida do fotógrafo. Leia o recorte abaixo.


Enquanto "Marighella" permanece sem data de lançamento nos cinemas, a Rede Globo anuncia sua transformação em uma série de quatro episódios a ser exibida no ano que vem.

Caso "entraves" burocráticos não atropelem o projeto. 

PARA LER A REPORTAGEM COM SÉRGIO JORGE NA ISTOÉ, CLIQUE AQUI

PARA LER O ARTIGO DE LENEIDE DUARTE-PLON NA CARTA MAIOR, 
CLIQUE AQUI

domingo, 23 de julho de 2017

O cantor Seu Jorge é vítima de racismo. Criminosos devem ser denunciados e processados...

O cantor e ator carioca Jorge Mário da Silva, o Seu Jorge, foi alvo de racismo no Instagram.

Um internauta brasileiro identificado como hduartescp, o chamou de “preto de merda”. E prosseguiu praticando o crime de racismo ao postar outra ofensa: "Foda-se o mundo tá infestado de pretos”, recebendo aparentemente o apoio da internauta renatinha_katrina.

Seu Jorge, que atualmente mora nos Estados Unidos, respondeu:
 “Esse cara aqui @hduartescp entrou na minha transmissão ao vivo pra destilar o seu veneno racismo contra minha pessoa me ofendendo de graça lse eu nunca tê-lo visto em toda minha vida! O que vcs acham que eu devo fazer a respeito desse assunto? Alguma sugestão? Só não cale o famoso deixar pra lá, pra não dizer depois que nós os negros somos paranoicos e cheios de mimimi!”, 

Está aí pra todo mundo ver, e olha que ele conseguiu fazer isso a mais de 10.000 km de distância...Imagina como deve ser na vizinhança dele, na escola, com os empregados dele no futuro”
A melhor sugestão, claro, é ir à polícia que facilmente vai identificar os criminosos, e processá-los. O racista covardão hdduartescp amarelou e já retirou sua página do ar. O que não impede de ser rastreada e localizados seu endereço e todos os dados pessoais.

E você pode colaborar: no site Instituto de Defesa Cibernética há vários links onde podem ser denunciados crimes virtuais. Ajude a não deixar esses criminosos impunes.

Atualização em 24/07/2017 - Depois de o episódio de racismo repercutir nas redes sociais, o autor das ofensas foi supostamente identificado como menor de idade. Portanto, pela lei brasileira, mesmo se condenado, não pode ser chamado de "criminoso", mas de "infrator". Fica o registro.
Antes de deletar sua conta no Instagram, Seu Jorge revelou: “Acabei de receber várias mensagens do menino que me ofendeu quando eu estava ao vivo aqui no Instagram. Uma delas foi pedindo desculpa — muitas delas –, dizendo que não é racista, que errou, que foi força da emoção. Justificou a atitude dele com problemas que teve no passado com uma pessoa negra, e aí perdeu o controle. Conversamos, ele se mostra arrependido e ficou de publicar um vídeo pedindo desculpas a mim e a toda comunidade negra”.