Mostrando postagens com marcador fhc. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador fhc. Mostrar todas as postagens

domingo, 1 de março de 2020

Conciliação ou rendição?

Foto: Reprodução/O Globo
No tempo da ditadura, enquanto o sangue corria nos porões, havia brasileiros "adesistas", os "dedo-duros", os "apaziguadores". Na Alemanha pré-guerra, os nazistas arregimentaram apoiadores brandindo a bandeira do anti-comunismo. Muita gente boa embarcou no argumento e, quando acordou, era tarde demais. Hitler era o carrasco morando ao lado.
No Brasil atual, vicejam agora os "conciliadores" e os apelos para "conciliar" com o absurdo. Parece uma missão impossível. O autoritarismo avança, o cerco ao Congresso e ao STF idem, as milicias digitais prosperam, fazem sérias ameaças a quem se opõe ao governo e braços policiais do bolsofujimorismo mostram suas armas.
Em artigo de hoje no Globo, o ex-presidente Fernando Henrique defende a conciliação. ´"É hora de convergir", diz o título.
No segundo parágrafo, FHC defende uma estranha tese. Não se deve falar em impeachment. E não porque o atual inquilino do Planalto tenha ou não cometido ato inconstitucional. FHC não discute se há ou não quebra de decoro ou assemelhado. Ele argumenta simplesmente que um impeachment seria "arriscado". Isso porque, na sua exótica tese, "o país viu dois presidentes diretamente eleitos serem atingidos por esse mecanismo constitucional" que "desgasta os poderes". O que isso quer dizer? Que o atual presidente pode fazer o que quiser apenas porque um eventual impeachment "deixa mágoas" e seria inconveniente, como FHC argumenta? Esse tipo de ressalva não está na Constituição.
 O mais curioso é que no restante do artigo, ao pontuar acontecimentos, FHC deixa bem claro como essa "conciliação" é difícil. Por fatos e atos, o governo mostra que não quer a conciliação, quer é a rendição incondicional de quem não concordar com suas políticas. E a maioria da sociedade - dos índios ao sem-teto, dos sem-terra aos desempregados e "informais", dos sem-saúde aos sem-escola, aposentados, professores, ambientalistas e produtores culturais - quer resistência.

sábado, 23 de novembro de 2019

Henry Sobel (1944-2019): o rabino que desafiou a ditadura

O rabino Henry Sobel no culto ecumênico para Vladimir Herzog, ao lado do reverendo
James Wright e de D. Paulo Evaristo Arns. Foto de Vic Parisi/Reprodução Manchete

A cerimônia reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Foto; Vic Parisi

por José Esmeraldo Gonçalves

O rabino Henry Sobel era um líder religioso que não negava sua voz às questões seculares.

Talvez por isso os jornalistas o procurassem tanto, desde os anos 1970, para opinar sobre temas que iam do divórcio à pena de morte - tópicos discutidos no Brasil daquela época -, e do ecumenismo aos direitos humanos, da violência urbana à educação e a busca pela paz mundial. Com extraordinária cordialidade, atendia a todos os veículos.

Mas os jornalistas também não esquecerão Sobel pela coragem com que se manifestou, em palavras e atitudes, quando a ditadura militar torturou e assassinou Vladimir Herzog, em outubro de 1975, em São Paulo. Ao lado de D. Paulo Evaristo Arns, ele desafiou não apenas o regime autoritário, mas setores da sua própria comunidade. Em versão tosca e construída, os militares alegavam que Herzog havia se suicidado na prisão. Diante disso, e de acordo com os preceitos judaicos, o jornalista deveria ser sepultado em ala separada, na parte externa do cemitério. Henry Sobel recusou-se a assim proceder e venceu as pressões. Herzog repousa na parte interna do Cemitério Israelita do Butantã. A recusa do rabino simbolizou o veemente protesto que denunciou o assassinato do jornalista. Dias depois, ao lado de Paulo Evaristo Arns e do reverendo James Wright, Sobel participou de uma histórica cerimônia ecumênica que reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Um ato religioso para Herzog, um ato político pela liberdade no Brasil.

A dura luta pela verdade prosseguiu nos anos seguintes. Em 1977, Manchete cobriu mais uma cerimônia ecumênica que lembrava os dois anos do crime e pedia justiça. Mais cedo ou tarde, as verdadeiras circunstâncias da morte de Herzog seriam reveladas, dizia-se no púlpito. O que acabou acontecendo.

A propósito de Henry Sobel, que morreu ontem, aos 75 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso postou no twitter uma declaração que retrata bem a participação do rabino na história que ajudou a escrever.

"Foi um bravo na hora difícil", definiu FHC. 

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Quando os presidentes comunicam e se trumbicam - "É a sintaxe, estúpido!"

por Ed Sá 

A linguagem dos presidentes já foi bem mais formal. Talvez porque eles se expressassem mais por discursos. Entrevista coletiva nunca foi o forte dos presidentes e ditadores brasileiros. E as exclusivas geralmente eram e são concedidas a jornalistas escolhidos e veículos idem, evitando maiores riscos. Bolsonaro, por exemplo, radicaliza essa seleção e tem promovido um amistoso café da manhã com coleguinhas de "lista amiga" onde ele dá as cartas, além do pão com manteiga, recebe tapinhas nas costas, sorrisos e likes ao vivo.

Mas nada incomoda mais do que as metáforas que os habitantes do Palácio do Planalto incorporam. Parece que há um vírus linguístico entranhado na tapeçaria do gabinete presidencial.

Lula usava e abusava do futebol. "Virar o jogo", "em time que ganha não se mexe", "catimba", "chute na canela" foram expressões usadas por ele ara nomear crises ou os bastidores da política. Em 2010, ao fim do segundo mandato, definiu a situação assim: "Vamos trabalhar para ganhar as eleições. Não é uma eleição fácil. É como time de futebol. Quando o time está ganhando de um a zero, de dois a zero, quando o time está ganhando, recua, não quer mais fazer falta, pênalti, fica só rebatendo a bola. E quem está perdendo vem para cima com tudo, e é com gol de mão, de cabeça, de chute, de canela. Não tem jogo ganho ou fácil"...

Temer era uma espécie de "novo culto", o equivalente de "novo rico", era um ser pronominal, mas tudo nele soava falso. Parecia se homiziar em erudição fast food. Preferia as mesóclises e as citações literárias ou juristas. "Procurarei não errar, mas se o fizer consertá-lo-ei". O capricho na colocação dos pronomes não livrou os problemas: o coronel Lima desconcertou sua biografia cheia de verbas e verbos. No discurso de posse, Temer mandou um "sê-lo-ia" que ecoou no Congresso. Inspirava-se provavelmente em Jânio Quadros, o do famoso "fi-lo porque qui-lo", que, aliás, segundo o professor Sérgio Rodrigues, está errado na segunda ênclise, já que o "porque" deveria atrair o pronome.

Temer também encaixava frases em latim no cipoal de pronomes. Ficou famoso o "verba volant, scripta manent" que ele inseriu em uma carta enviada a Dilma. "As palavras voam, os escritos permanecem", diz a frase. Ironicamente, mensagens escritas e permanecidas no Whatsapp estão entre os elementos do seu indiciamento por corrupção.

Sarney produzia frases rebuscadas. Político escolado, ele elaborava cada declaração como se falasse  à posteridade em busca da absolvição da História. Com uma característica: sempre exaltava sua própria figura. Achava-se o máximo, apesar de ter sido um presidente medíocre. “Consultei um futurólogo e ele previu que o Brasil só terá outro presidente nordestino daqui a 1.900 anos. Então, acho que mereço ficar os seis anos (argumento para prorrogar o mandato);  “Sou apenas um menino do Maranhão que o destino disse: vai José, ser Presidente” (quando se sentiu ungido pelo destino como um César do Maranhão); "Não me perdoam por ter chegado ao poder passando por cima do cadáver de Tancredo Neves" (usando o falecido para lamentar críticas); "Durante o meu mandato a história se contorceu, mas a democracia não murchou na minha mão" (no dia em que o espírito de Lincoln arrepiou seu bigode épico).

Dilma confundia a nação com seus anacolutos. No trono da República, era rainha na prática de desestruturar frases, eliminar o pé,o tronco e a cabeça de sentenças inteiras. "Quero dizer para vocês que, de fato, Roraima é a capital mais distante de Brasília, mas eu garanto para vocês que essa distância, para nós do Governo Federal, só existe no mapa. E aí eu me considero hoje uma roraimada, roraimada, no que prova que eu estou bem perto de vocês"; "Eu acredito que nós teremos uns Jogos Olímpicos que vai ter uma qualidade totalmente diferente e que vai ser capaz de deixar um legado tanto… porque geralmente as pessoas pensam: 'Ah, o legado é só depois'. Não, vai deixar um legado antes, durante e depois"; "Foi muito, houve uma procura imensa, tinham seis empresas que apresentaram suas propostas, houve um deságio de quase… Foi um pouco mais de 38%, mas eu fico em 38% para ninguém dizer: 'Ah, ela disse que era 38′, mas não é não. É 39, 38 e qualquer coisa ou é 36. 38, eu acho que é 39, mas vou dizer 38". Isso foi Dilma sendo Dilma.

Fernando Henrique se sentou na cadeira de presidente mas nunca deixou a cátedra. Falava com se desse aula. “A barbárie não é somente a covardia do terrorismo mas também a intolerância ou a imposição de políticas unilaterais em escala planetária”;  “No candomblé, o mal e o bem coexistem. São irreconciliáveis, mas são eternos. Num momento em que há tantos maniqueístas no mundo, em que as pessoas querem simplificar as coisas – o bem está de um lado, o mal está de outro, uns são formidáveis, outros são horríveis -, o candomblé nos ensina que as coisas são um pouquinho mais complexas";  “Os países podem estar em um processo que, ao mesmo tempo, tenha concentração de renda e diminuição da pobreza"; "Os brasileiros são caipiras, desconhecem o outro lado, e, quando conhecem, encantam-se" ; "O mundo nunca é maravilhoso para todos, mas há uma similitude efetiva entre um grande período da expansão do capitalismo comercial, da eclosão do Renascimento e das Descobertas -- naquela altura, em que o homem era a medida de todas as coisas, embora não fosse, na verdade, mas como referência passou a ser e é o que está acontecendo hoje em dia".

Apesar da erudição, FHC também dizia coisas como essa: "Não vamos prometer o que não dá para fazer. Não é para transformar todo mundo em rico. Nem sei se vale a pena, porque a vida de rico, em geral, é muito chata".

Bolsonaro, talvez acometido por algum espírito de quilombola freudiano, relaciona a política a casamentos, namoro, relacionamento, traição etc. Para disseminar seu "bolsonarês, ele tem, como nenhum outro presidente, o alcance das rede social.

Sobre parceria com Paulo Guedes quando ainda candidato"Aîn, estamos namorando"; Sobre desentendimento com Rodrigo Maia, o presidente da Câmara: "Aîn, isso aí foi briguinha de namorado". Sobre o escritório de representação em Jerusalém e a futura transferência da embaixada do Brasil em Israel: "aîn, todo casamento começa com namoro e noivado".

Frequentemente, a linguagem do Bolsonaro é ofensiva. E esse é um diferencial marcante em relação a presidentes anteriores. "Abraço ´hetero" (em Gabeira), frases racistas e homofóbicas e ofensas às mulheres, aos negros, aos índios pontuaram o vocabulário do atual presidente. "Eu fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais"; "eu falei que não ia estuprar você porque você não merece" (para a deputada Mara do Rosário); “Ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu” (para Preta Gil).

Mas aí não é pra rir, é pra chorar.


domingo, 26 de junho de 2011

E agora?

Reprodução Folha.com
Testes de DNA revelam que FHC não é o pai de Thomas Dutra Schmidt, 18, filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo. O ex-presidente havia reconhecido Thomas como filho em 2009, em documento registrado em cartório da Espanha.  A informação é da reivista Veja. Na internet o caso já virou piada. Há quem diga que não há surpresa: FHC também já sabia que não é o pai do plano Real. No caso, o exame de DNA deu Itamar na cabeça.
Conectado pelo MOTOBLUR™