segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Há 61 anos, a revista Manchete cobria seu primeiro Réveillon. Veja como o Rio celebrou a chegada de 1953




Páginas reproduzidas da edição número 38 da revista Manchete
(da redação da JJcomunic)
A Manchete chegou às bancas, pela primeira vez, em abril de 1952. O foco da revista era, especialmente no começo da sua trajetória, o Rio. Então capital federal, a Cidade Maravilhosa era a referência nacional. A televisão ainda engatinhava, a Rádio Nacional era a "Globo" da época. A agilidade em mostrar imagens do cotidiano, os eventos, a moda, as tendências de comportamento, o futebol, os fatos políticos, as estrelas de cinema etc, ficava por conta principalmente de O Cruzeiro, da Revista da Semana e alguns cinejornais (que levavam alguns dias para chegar aos cinema). Os grandes diários e vespertinos da época usavam com parcimônia o recurso da foto, até pela qualidade precária de impressão.  Assim, as publicações em rotogravura investiam, com sucesso, no jornalismo ilustrado. Manchete nascia para buscar esse segmento e, pouco mais de uma década depois, superaria O Cruzeiro, então líder nas bancas. A cobertura do Réveillon de 1953 (curiosamente, a revista chamava de "Réveillon de 1952, preferia considerar que a festa era no dia 31, o último do ano) chegou às bancas no dia 3 de janeiro de 1953, na edição de número 38. As reportagens e fotos ficaram a cargo de Darwin Brandão, Yllen Kerr, Aymoré Marella e Antonio Rocha. A equipe se dividiu entre os salões da ABI, o principal baile da virada, a boate Beguin e a praia de Copacabana, onde milhares de pessoas levaram flores para Iemanjá, tradição que persiste. As "celebridades" da época se reuniram no Vermelhinho, em festa organizada por Rubem Braga, Danuza Leão, Santa Rosa, Heitor dos Prazeres e Jacinto de Thormes. Nos salões elegantes, nomes como Darcy Vargas e José Lins do Rêgo eram destacados na reportagem. Um trecho do texto traduzia o clima da virada: "O Réveillon de 1952 no Rio pode não ter sido o mais animado mas foi, sem dúvida nenhuma, o mais quente. O calor (37° à sombra) aumentou o consumo de gelo e o uísque foi mais disputado. Isso nas boites e nas casas particulares. Na rua, o povo saiu pulando, o suór ensopando as roupas. Depois, o refrigerante acabou em em alguns lugares nem mesmo água havia. Mas houve muitas outras coisas diferentes no Réveillon de 52: o aumento de crentes na macumba. O grã-finíssimo smoking quase que desapareceu totalmente. Em seu lugar, os homens grã-finos passaram a usar mesmo foi o sumer mais democrático e menos quente.O carioca encerrou bem o ano 1952 e entrou alegre em 53. Esperando melhor sorte, mais água, mais luz, melhores ordenados, vida mais barata. Seria o caso de concentração de recolhimento. Mas o carioca é alegre e pulou bem. Na avenida houve carnaval autêntico. As escolas de samba desceram dos morros, vieram dos subúrbios com suas pastoras e seus tamborins. Alguns invadiram os salões grã-finos e foram alegrar a festa dos ricos".
Para comparar os tempos, a edição da Manchete, a primeira de 1953, trazia uma capa sobre "Moda Brasileira", uma matéria sobre o promotor Cordeiro Guerra, anunciado como um "colecionador de grades", pela sua "arte de acusar", um reportagem sobre a Rua do Ouvidor ("Quatro Séculos de Tradição"), uma entrevista com Nássara, uma matéria que sob o título "Militares Famosos" perfilava Mascarenhas de Morais, Eurico Dutra, Nero Moura, Eduardo Gomes, Juarez Távora, Cordeiro de Farias, Pena Botto, entre outros. A revista custava 5 cruzeiros e trazia pouco anúncios; Aerovias Brasil, Lâminas Gilette Azul, e produtos de beleza Margareth Duncan.

3 comentários:

Jorge Estêvão disse...

Velhos tempos. Acho que a maioria ia para clubes. Meus pais levavam a familia para o Monte High Life.

J.A.Barros disse...

Bons anos. Felizes anos que nunca mais se repetirão.
Podia-se beber à vontade e cair bêbados nas ruas sem perigo de ser assaltados ou mortos por bandidos e ladrões. Velhos anos velhos que se repetiam saudáveis e alegres. E os anos novos traziam realmente esperanças em nossas vidas.
Mas, como não há bem que sempre dure...

alberto carvalho disse...

Nem só da queima de fogos e bailes do réveillon que a Manchete abria o seu primeiro número de cada ano. As oferendas a Iemanjá eram espetaculares. Tão lindas quanto ao espetáculo pirotécnico. Milhares de pessoas atiravam ao mar barcos, arranjos de flores, enfim uma homenagem a Rainha do Mar que eram autênticas obras de arte.