sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Cada dia uma saudade maior na velhice. Até virarmos saudade também saudade

por Eli Halfoun
A chegada da velhice é controversa: ao mesmo tempo em que representa uma medalha por ter vivido até os 70, 80 ou mais anos e de significar acúmulo de experiência e de trabalho (trabalho que pode continuar sendo feito, mas que é desprezado como se o ficar velho tornasse a pessoa inútil). O outro lado da cueca é ter que enfrentar problemas de saúde, limitações físicas, incompreensão e acima de tudo uma dolorida saudade que aflora mais forte cada vez que recebemos a notícia de que um velho amigo se foi, o que nos machuca mesmo sabendo que a despedida será inevitável. O idoso precisa recomeçar a vida aprendendo entre muitas outras coisas a lidar com na perda das mortes. Todo dia é um que se vai fazendo diminuir a lista de velhos amigos, aumentando a saudade e nos deixando cada vez mais perto da morte: o falecimento de um velho companheiro parece ser o cruel aviso de que nossa vez está chegando. Isso nos deixa mais doentes e com menos pressa como se fazer tudo na base do devagar, devagarzinho seja uma forma de retardar o fim. Essa história do “devagar e sempre” não funciona com a maioria dos idosos porque eles sabem que fisicamente devagar já estão, mas o sempre não existe. O sempre do velho é o momento, é o presente. O futuro existe também para o idoso, mas é para o velho uma espécie de futuro com data de validade.

Por mais que o velho procure não pensar na morte esse é um pensamento constante e inevitável e reforçado com a partida quase diária de um companheiro que fez parte de nossa juventude.  Mesmo sabendo que está na lista de espera o novo velho precisa aprender a lidar com a certeza e até com a tranqüilidade da morte para sofrer menos, muito menos, com o “já era” quase diário de um velho companheiro. É como se estivessem tirando de cada um de nós mais um pedaço de vida. A recente morte do velho companheiro Sergio Ross não foi e nem será a única a nos fazer riscar mais um nome da listas de antigos amigos. Cada e vez que riscamos um nome o nosso fica mais perto do topo da listas. No começo da lista, mas paradoxalmente mais perto do fim. Velhos e unidos companheiros da Bloch Editores sofreram rapidamente as perdas de dois ótimos Sergios (o Renato Sergio e o Sergio Ross) que além da saudade nos deixaram a intensa vida que construímos juntos profissionalmente.  A vida de cada velho que se vai cansado e muitas vezes sofrido e magoado com o presente, não é exatamente a morte. É alerta para perceber e reaprender que a vida continua intensa nas recordações que os amigos nos deixam. Sejam boas ou ruins. Ruim mesmo é não ter do que lembrar. (Eli Halfoun)

3 comentários:

Maria Luzanira disse...

Anime-se. Há vida em todas as etapas da vida. Independente de idade são muitos os idosos produtivos, realizados e que curtem cada momento. Problemas todos temos. Os amigos deixam sua eterna presença e é bom recordar os momentos vividos ao lado deles. Mas, como diz o filme italiano, a vida é bela. Envelhecer pode ser difícil? Muito pior é a outra alternativa.
Deus fique com todos

eli halfoun disse...


Maria,
nada (nada mesmo) me desanima. AQuem me conhece sabe que não corro da luta e nem do prazer de viver. O que escrevi não tem nada a ver comigo,mas sim com o que tenho percebido em muitods idosos. E estou inteiro para a vida. Lutei muito por ela e venci.

Maria Luzanira disse...

Bom ler isso. Sou uma idosa, vamos viver.
Seja feliz