por Eli Halfoun
A chegada da velhice é controversa:
ao mesmo tempo em que representa uma medalha por ter vivido até os 70, 80 ou
mais anos e de significar acúmulo de experiência e de trabalho (trabalho que
pode continuar sendo feito, mas que é desprezado como se o ficar velho tornasse
a pessoa inútil). O outro lado da cueca é ter que enfrentar problemas de saúde,
limitações físicas, incompreensão e acima de tudo uma dolorida saudade que
aflora mais forte cada vez que recebemos a notícia de que um velho amigo se foi,
o que nos machuca mesmo sabendo que a despedida será inevitável. O idoso
precisa recomeçar a vida aprendendo entre muitas outras coisas a lidar com na
perda das mortes. Todo dia é um que se vai fazendo diminuir a lista de velhos
amigos, aumentando a saudade e nos deixando cada vez mais perto da morte: o falecimento
de um velho companheiro parece ser o cruel aviso de que nossa vez está chegando.
Isso nos deixa mais doentes e com menos pressa como se fazer tudo na base do devagar,
devagarzinho seja uma forma de retardar o fim. Essa história do “devagar e
sempre” não funciona com a maioria dos idosos porque eles sabem que fisicamente
devagar já estão, mas o sempre não existe. O sempre do velho é o momento, é o
presente. O futuro existe também para o idoso, mas é para o velho uma espécie
de futuro com data de validade.
Por mais que o velho procure não
pensar na morte esse é um pensamento constante e inevitável e reforçado com a partida quase diária de um companheiro que fez parte de nossa juventude. Mesmo sabendo que está na lista de espera o
novo velho precisa aprender a lidar com a certeza e até com a tranqüilidade da
morte para sofrer menos, muito menos, com o “já era” quase diário de um velho companheiro.
É como se estivessem tirando de cada um de nós mais um pedaço de vida. A
recente morte do velho companheiro Sergio Ross não foi e nem será a única a nos
fazer riscar mais um nome da listas de antigos amigos. Cada e vez que riscamos
um nome o nosso fica mais perto do topo da listas. No começo da lista, mas
paradoxalmente mais perto do fim. Velhos e unidos companheiros da Bloch
Editores sofreram rapidamente as perdas de dois ótimos Sergios (o Renato Sergio
e o Sergio Ross) que além da saudade nos deixaram a intensa vida que construímos
juntos profissionalmente. A vida de cada
velho que se vai cansado e muitas vezes sofrido e magoado com o presente, não é
exatamente a morte. É alerta para perceber e reaprender que a vida continua
intensa nas recordações que os amigos nos deixam. Sejam boas ou ruins. Ruim
mesmo é não ter do que lembrar. (Eli Halfoun)
3 comentários:
Anime-se. Há vida em todas as etapas da vida. Independente de idade são muitos os idosos produtivos, realizados e que curtem cada momento. Problemas todos temos. Os amigos deixam sua eterna presença e é bom recordar os momentos vividos ao lado deles. Mas, como diz o filme italiano, a vida é bela. Envelhecer pode ser difícil? Muito pior é a outra alternativa.
Deus fique com todos
Maria,
nada (nada mesmo) me desanima. AQuem me conhece sabe que não corro da luta e nem do prazer de viver. O que escrevi não tem nada a ver comigo,mas sim com o que tenho percebido em muitods idosos. E estou inteiro para a vida. Lutei muito por ela e venci.
Bom ler isso. Sou uma idosa, vamos viver.
Seja feliz
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