por Eli Halfoun
Foi boa, apesar do
horário, a audiência do primeiro episódio de “Pé´na Cova”, mais uma criação de
Miguel Falabella, que é, sem dúvida, um dos mais versáteis de nossos artistas: ele
escreve, produz e dirige e faz tudo isso às vezes ao mesmo tempo e com uma correção
invejável – a correção que só os profissionais apaixonados conseguem ter e
mostrar. Boa parte do público pode estranhar alguns dos personagens criados por
Falabella, mas não há muito que estranhar: são todos personagens que fazem parte
do cotidiano que construímos e que ainda assim insistimos em não enxergar. A
ficção de Falabella em “Pé na Cova” É apenas a revelação de uma foto que preferimos
ver apenas no negativo. A vantagem maior de “Pé na Cova” é que Falabella não
permite que seus personagens tenham mordaças: dizem o que é para ser dito e não
parecem ter a menor preocupação com o tal do politicamente correto que, aliás,
tem manipulado nossas condutas: para não ser incorretos politicamente já não
dizemos o que realmente pensamos e assim estamos criando para nós mesmos uma
censura e mentiras diárias que já não no permitem ser como realmente somos ou
queremos ser. Não compactuo com a teoria de que os personagens de “Pé na Cova”
venham a provocar um desconforto no público, mas se isso acontecer será na
verdade o desconforto de nos aproximar mais do estranho mundo que estamos
fazendo girar – girar cada vez mais depressa e loucamente. “Pá na Copa” é um
bom seriado com personagens que fazem parte do cotidiano visto pela sempre bem
humorada visão do autor que vai buscar nas ruas, através de sua sensibilidade,
personagens reais e que de tão reais podem acabar parecendo apenas personagens
de ficção. (Eli Halfoun)
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