sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A foto do dia é um recado para racistas e preconceituosos: um baiano, um rondoniense, um gaúcho e um carioca ganham ouro em mundial de natação na China


Fotos: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

por Niko Bolontrin

Os dementes, como as redes sociais veiculam nesses tempos sombrios, gostariam que o Brasil fosse dividido em castas. Eles pregam a exclusão ou segregação de brasileiros de acordo com a naturalidade gravada no RG.

Felizmente, o esporte se encarrega de jogar tais opiniões em uma estação de tratamento para dejetos.

É o que mostram as fotos acima que registram a conquista da medalha de ouro no revezamento 4X200 no Mundial de Natação em piscina curta, que acontece em Hangzhou, na China.

A jovem equipe que ainda bateu o recorde mundial na prova, onde desbancou russos, chineses e americanos, é formada por Luiz Altamir (roraimense), Fernando Scheffer (gaúcho), Leonardo Santos (carioca) e Breno Correa (baiano). O nadador reserva do time, Leonardo de Deus, é sul-mato-grossense.

Waltel Branco, meu irmão • Por Roberto Muggiati

Waltel Branco, novembro de 2013. Foto: Fundação Cultural/Prefeitura de Curitiba.

Outro que se foi. Outro anjo torto tocador de trombeta da noite curitibana. Por tocador de trombeta entenda-se músico no mais amplo sentido da palavra. Waltel Branco o era, ricamente. Exímio violonista, compositor e arranjador, ele só não queria uma coisa: passar para a posteridade como o arranjador da Pantera Cor de Rosa. Coitado, foi justamente o que aconteceu.

Todos os obituários o acoplaram ao felino safado de Henry Mancini que, de vinheta de filme, virou personagem principal dos desenhos animados que fizeram a alegria de infantes de todas as idades a partir de 1964.

Waltel foi o arranjador também de, entre outros, Azul da cor do Mar (Tim Maia), Bastidores (Cauby Peixoto) e Faz parte do meu show (Cazuza)

Nascido em Paranaguá, de uma família musical séria – o pai ainda considerava o violão coisa de boêmio – Waltel, para convencer o velho, resolveu estudar música clássica. Ainda jovem, no Rio de Janeiro, aquele violonista que sabia ler partituras impressionou o maestro Radamés Gnatalli, que o contratou para sua orquestra. Embora o Rio na época fosse o paraíso da música, Waltel não esquentou a cadeira. Abduzido pela cantora cubana Lia Ray, partiu em turnê pela América Latina, passou dois anos em Cuba, outros tantos nos Estados Unidos, imergindo-se em mambo e jazz.

De volta ao Brasil, caiu nos braços da bossa nova e lançou os primeiros da centena de álbuns que gravaria ao longo da vida. Em 1963, integrou a equipe de arranjadores de Henry Mancini durante a gravação da trilha de A pantera cor de rosa (ele homenagearia o compositor no álbum de 1966 Mancini também é samba, com bambas da música instrumental brasileira como K-ximbinho, Dom Salvador e Edson Maciel.)

Não quero embarcar num extenso verbete – Waltel fez de tudo, foi até um dos pioneiros das trilha de novelas da Globo e, até hoje, um dos melhores. Acho que um depoimento de Roberto Menescal no documentário Descobrindo Waltel resume tudo: “O Waltel foi o primeiro músico mesmo que eu pensei, músico na concepção total! Músico que estudava, que lia, que tocava bem seu instrumento…”
Waltel Branco morreu no dia 28 de novembro, uma semana depois de completar 89 anos, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Nossos caminhos se cruzaram muitas vezes, na noite curitibana. Eu o vi ainda em 2008, no Teatro Paiol, onde fez questão de me presentear com um novo livro de partituras, devidamente autografado; e, em 2012, num de seus últimos shows, uma espécie de homenagem, num auditório grande, completamente lotado.

Mas a trombeta do anjo torto da noite curitibana não calou, sua música continua iluminando nossa vida.

Uma sugestão: por que não vão correndo ouvir a sua homenagem a Mancini?

É só clicar em https://www.youtube.com/watch?v=G56f4dc3H7o

Ruy Castro recorda os craques do fotojornalismo do Correio da Manhã



Há poucos dias, Ruy Castro escreveu na Folha de São Paulo sobre uma exposição de fotografias na Caixa Cultural, no Rio, que reúne parte do arquivo do extinto Correio da Manhã. 

O acervo do jornal carioca, hoje guardado no Arquivo Nacional, já foi digitalizado pela Biblioteca Nacional. 

Entre os fotojornalistas do Correio, na década de 1960, estavam Antônio Andrade, Sebastião Marinho, Fernando Pimentel, Rubens Seixas, Rodolpho Machado, Gilmar Santos, entre outros. 

Ruy, que foi repórter do Correio da Manhã em 1967, recorda a época. 

A mostra "Correio da Manhã: Uma revolução de imagens nos anos 1960" registra protestos de estudantes, passeatas e manifestações de artistas, o fechamento do Congresso em 1966; a visita do presidente De Gaulle ao Brasil; o fim da Panair, além do cotidiano do Rio. 

"A exposição é uma grande homenagem aos fotojornalistas brasileiros e em especial aos que atuaram no Correio da Manhã", resume Maria do Carmo Rainho, curadora da mostra. 

Está em cartaz deste outubro e será encerrada no próximo dia 23 de dezembro. 

Ainda dá tempo de conhecer o trabalho de uma brilhante geração de fotojornalistas.

DETALHES SOBRE A EXPOSIÇÃO  NO SITE DA CAIXA CULTURAL, AQUI


Fotografia: Exposição "A Luta Yanomami", em São Paulo, reúne cinco décadas de imagens feitas por Claudia Andujar

A imagem da menina Susi Korihana em um igarapé da Rondônia faz parte de uma série realizada entre 1972 e 1974.
Foto de Claudia Andujar/Divulgação.

Claudia Andujar tem 87 anos e mais de 50 focalizando a trajetória dos povos indígenas brasileiros.

A exposição "A Luta Yanomami", que será aberta amanha no IMS (Instituto Moreira Salles), em São Paulo, reúne 300 itens entre fotos, livros e documentos e chega em um momento oportuno, quando o novo governo brasileiro anuncia um cerco aos índios em benefício do agronegócio e da mineração.

Nos anos 1970, Claudia Andujar foi expulsa da região pela ditadura militar que promovia uma ocupação predatória da Amazônia e se incomodava com imagens que documentavam os dramáticos efeitos daquele política sobre os povos indígenas. Mas não desistiu. Ela passou a  participar da luta para a criação do Parque Yanomami, que só veio a se concretizar em 1992.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO "A LUTA IANOMAMI" AQUI

Fotomemória: O retorno do guerreiro que a História tornou Herói da Pátria

Aeroporto do Galeão, Rio, 10 de setembro de 1979: a revogação do AI-5, em dezembro de 1978,
abriu caminho para a volta dos exilados. Entre eles, Miguel Arraes, que fez seu primeiro discurso
cercado pela imprensa e apoiadores. Foto de Guina Ramos. 

Miguel Arraes. Foto de Guina Ramos

por Guina Ramos (do blog Bonecos da História)

Esta semana, mais uma vez, misturaram-se, em comemorações, os conflitantes sentidos da História do Brasil.

Hoje (ontem), em especial, é uma data de chumbo... É a “comemoração” dos 50 anos de decretação do AI-5, o mais pesado dos Atos Institucionais da ditadura civil-militar do Golpe de 1964. O governo, ao pretender calar por completo a oposição ao regime, através da ampla prisão de opositores e fechamento do Congresso Nacional, acirrou a luta pelo retorno da democracia, que atravessara o ano com manifestações de rua e atos de contestação, instigando a reação armada de grupos políticos na clandestinidade, firmemente combatidos por ações repressivas, incluindo torturas e mortes. Eis que, agora, com apoio de importantes setores da sociedade, a eleita "nova" classe política brasileira quer um retrocesso de 50 anos, o retorno àquela situação asfixiante que o país vivia...

Ontem, por outro lado, um dos grandes perseguidos daquela ditadura, preso nos primeiros momentos do golpe de 1964, o então governador do estado de Pernambuco, Miguel Arraes (que, aliás, faria 102 anos neste 15/12/2018), teve o seu nome gravado no livro de aço dos Heróis e Heroínas da Pátria, junto a mais 20 personalidades e políticos do país (inclusive, neste Bonecos da História, o ex-governador Leonel Brizola).

Fotografei o ex-governador de Pernambuco apenas uma única vez, para a revista Manchete, quando do seu retorno do exílio na Argélia, em seu desembarque no aeroporto do Galeão (hoje, Tom Jobim), em 10 de Setembro de 1979, no correr de uma sequência de retornos de políticos brasileiros ao país.

Miguel Arraes, cercado pela imprensa e por apoiadores, fez o seu primeiro discurso de retorno do exílio no próprio saguão do aeroporto do Galeão, envolvido por centenas de pessoas que se mantiveram sentadas no chão para ouvi-lo.

Restaram-me do momento apenas estas duas fotos, uma delas sofridamente escaneada...

LEIA NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, AQUI

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Do Knight Center: Em meio a ameaças à imprensa, Brasil prepara lançamento de rede de proteção a comunicadores

Valério Luiz Filho (Instituto Valério Luiz), Emmanuel Pellegrini (MPF), Raiana Falcão (MDH) e Andrew Downie (CPJ) durante encontro em São Paulo. (Foto: Marina Atoji / Abraji). Reproduzida do Knight Center. 

por Carolina de Assis (do Knight Center for journalism in the Americas)

Um encontro realizado em São Paulo no começo de dezembro reuniu comunicadores, organizações pela liberdade de imprensa e representantes do Estado para debater as ameaças enfrentadas pela imprensa, as medidas que o Estado vem tomando para combater a impunidade nos casos de violência contra trabalhadores da categoria e os próximos passos para o lançamento de uma rede de proteção a comunicadores no Brasil.

O Encontro Nacional de Proteção a Comunicadores aconteceu na capital paulista nos dias 4 e 5 de dezembro e foi organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, pela Artigo 19, Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pelo coletivo Intervozes.

O evento reuniu cerca de 50 pessoas de 11 Estados brasileiros para aprofundar o debate sobre a violência contra comunicadores e articular uma rede de proteção a estes profissionais que cubra os diversos contextos comunicacionais do país, disse Artur Romeu, da RSF, ao Centro Knight.

No primeiro dia do encontro, comunicadores de várias regiões do países participaram de mesas temáticas com membros das organizações e com representantes do Estado. Buba Aguiar e Gizele Martins, do Rio de Janeiro, Cláudio André, de Pernambuco, Cristian Góes, de Sergipe, e Valério Luiz, de Goiás, contaram casos vividos por eles de censura, criminalização, violência e impunidade em crimes que tiveram comunicadores como alvo.

“Trouxemos as principais violações que observamos com relatos em primeira pessoa de casos emblemáticos, para personalizar e gerar essa identificação, que funcionou bastante junto aos participantes”, contou Marina Atoji, gerente executiva da Abraji, ao Centro Knight. “Quando falamos em censura ou criminalização, parece uma coisa muito etérea. Mas quando contamos uma história e colocamos isso na figura de alguém, isso tem uma força maior.”

Os representantes do Estado, disse Atoji, trouxeram “a visão do Estado enquanto criador e executor de política pública”. Participaram Carlos Weis, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Emmanuel Pellegrini, do Ministério Público Federal (MPF), e Raiana Falcão, do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) e coordenadora-geral do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores Sociais e Ambientalistas.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA E ACESSE OS LINK COMPLEMENTARES AQUI

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

AI-5: como a mídia reagiu ao "salve" que a ditadura emitiu há 50 anos...


A primeira página do AI-5 e as...

...assinaturas das...

...figuras que entraram para a história pela porta dos fundos.
Reprodução de documento publico

Alfreeedo! Infelizmente, o papel acima não é Neve.

Entrou para a história como se fosse.

Não era macio, nem absorvente, mas no conteúdo apresentava afinidade com o produto exaltado pelo famoso comercial do mordomo.

Ambos prometiam "limpeza". No caso do AI-5, em nove páginas datilografadas em papel ofício, espaço dois, um Brasil politicamente "higienizado" na visão do sinistro "Arthuuur!" instalado em Brasília. 

Com as assinaturas acima, a ditadura inaugurada em 1964 recebeu um poder ainda maior, praticamente sem limites. Como consequência, autoridades e "otoridades" ganharam um "salve" (que na gíria das  atuais organizações criminosas é um espécie de "ordem" geral) para prender, sequestrar, torturar, assassinar, exilar, censurar, perseguir, intimidar, cassar mandatos, deter jornalistas, suspender os direitos políticos e individuais que ainda restavam, ocupar governos estaduais, prefeituras e fechar o Congresso.

Costa e Silva e ministros no Palácio Laranjeiras...

...onde Gama e Silva , da Justiça,
 e o locutor Alberto Cury
anunciaram o Brasil "sem escrúpulos'' Fotos Arquivo Nacional 

No dia 13 de dezembro de 1968, uma sexta-feira, Costa e Silva - o militar linha-dura em plantão no governo -, e seus ministros jamegaram o papelucho em mal traçadas linhas que avalizaram o sequestro da liberdade: Costa e Silva, Luís Antônio da Gama e Silva, Augusto Hamann Rademaker Grünewald, Aurélio de Lyra Tavares, José de Magalhães Pinto, Antônio Delfim Netto, Mário David Andreazza, Ivo Arzua Pereira, Tarso Dutra, Jarbas G. Passarinho, Márcio de Souza e Mello, Leonel Miranda, José Costa Cavalcanti, Edmundo de Macedo Soares, Hélio Beltrão,
Afonso A. Lima, Carlos F. de Simas.







No dia seguinte, os jornais já sob censura, embora alguns fossem claramente adeptos do regime, limitaram-se a noticiar o fato e transcrever o ato. Em reimpressão no mesmo dia, o Estado de São Paulo ainda registrou que teve a edição apreendida.
O Jornal do Brasil deixou seu protesto cifrado, no alto da página, em forma de "previsão do tempo".

A Veja, publicação recém-lançada, já estava no radar do regime.

No dia 4 de dezembro, a edição número 13 chegou às bancas com uma capa que mostrava uma foto do Congresso visto através de um vidro estilhaçado e a chamada profética: "O Congresso  Pressionado. Chegaremos a isso?". De fato, o Congresso estava sob pressão desde setembro daquele ano quando o deputado Márcio Moreira Alves pediu em discurso que, em protesto contra "os carrascos que espancam e metralham nas ruas", as famílias evitassem que seus filhos participassem do desfile de 7 de Setembro. Um trecho exortava: "esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais". Diz-se que houve quem interpretasse aquele apelo como um incentivo a uma greve de sexo contra militares. Fato ou fake, a linha dura já vinha endurecendo ao longo do ano. O AI-5 foi o manifesto do "golpe dentro do golpe". O discurso de Moreira Alves e a votação do Congresso que negou abertura de processo contra o deputado, como queriam os militares, eram pretextos úteis para a radicalizar a repressão. 


Naquela sexta-feira, a Veja tinha como opções de capa Paulo VI, que naquela semana pregava que a Igreja vivia "um momento de autodestruição provocado pelo liberalismo do Concílio Vaticano II", e Castelo Branco, como referência simbólica ao primeiro ciclo do regime militar e às medidas de exceção que encerravam esse período. Fechou com o último. No sábado, trocou a capa. A redação foi buscar nos arquivos da Folha de São Paulo uma imagem ainda mais simbólica feita meses antes pelo fotógrafo Roberto Stuckert quando Costa e Silva visitava o Congresso Nacional. O militar posara para Stuckert em um plenário vazio, o mesmo que ele viria a fechar. A edição da Veja, recebida como uma "provocação" foi rapidamente apreendida. 

A edição da Manchete naquela semana registrou factualmente o AI-5. Durante o ano de 1968, as duas semanais da Bloch haviam feito uma intensa cobertura fotográfica das passeatas. Nas revistas ilustradas, inclusive em capas, os protestos ganhavam uma dramaticidade extra. Com o esforço das suas equipes de repórteres e fotógrafos, cumpriram um papel jornalístico. Apesar disso, e como boa parte da mídia, a Bloch ajudava a construir uma imagem positiva do regime. Internamente, sabe-se que, naquele dia 13 de dezembro, o AI-5 repercutiu na editora. À noite, o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi preso ao sair do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. JK era, como se sabe, grande amigo de Adolpho Bloch.  Ontem, em texto de Miguel Enriquez, o site Diário do Centro do Mundo (DCM) lembrou que JK logo foi abandonado "pela legião de áulicos que o cercavam nos tempos áureos". "Uma das raras exceções naqueles tempos de ostracismo, ao lado do então deputado federal Tancredo Neves e do banqueiro Walter Moreira Salles, atendia pelo nome de Adolpho Bloch. Sempre fiel, disposto a socorrê-lo em todos os momentos de dificuldades financeiras e pessoais, Bloch chegou a destinar uma sala especial para JK no último andar do prédio que sediava suas empresas, na Rua do Russell, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro", escreve o DCM. A solidariedade a JK rendeu ameaças a Adolpho Bloch. A revista Manchete, contudo,  jamais desafiou o regime, ao contrário, exaltou o "Brasil Grande" em sucessivas reportagens ao longo da década de 1970. Nunca sofreu censura prévia oficial. A única revista da Bloch obrigada a mandar textos e fotos para Brasília foi a EleEla. O que a Manchete teve durante aqueles anos foi um "coronel" ou assemelhado que circulava informalmente pela redações e cuja função era detectar reportagens incômodas aos governos militares. Muitas matérias sucumbiram na mesa de redatores e editores. Umas poucas foram publicadas e renderam convites aos editores para visitar a sede da PF ou do DOPS. Justino Martins e o repórter Geraldo Lopes, por exemplo, entraram nessa lista. O próprio Adolpho Bloch recebeu, certa vez, um grosseiro telefonema de Armando Falcão, então ministro da Justiça, que praguejou contra uma matéria publicada na Fatos & Fotos sobre um caso policial que envolvia um agente do governo.

É justo registrar que, assim como O Globo, a Bloch abrigou - especialmente depois do AI-5 - vários jornalistas perseguidos pela ditadura e que, por isso, não conseguiam empregos em vários veículos.

O AI-5 permanece como um alerta histórico de que a democracia é tão indispensável quanto frágil.

De tempos em tempos seus inimigos apontam no horizonte.

Fake news: o fim da impunidade?

A lei pune ofensas e difamações tanto na vida real quando na virtual. Muitas dessas agressões na internet circulam em forma de fake news. Mas do ponto de vista jurídico, há buracos negros ou zonas de sombra e indefinição quanto à divulgação de notícias falsas. Um exemplo é quando a divulgação de mentiras com propósito eleitoral não pode ser individualizada e fica impune.

O Legislativo deverá analisar em breve projetos de lei que propõem a criminalização da divulgação, criação e compartilhamento de notícias falsas, a partir de atualizações nas redações de artigos do Código Penal, do Código Eleitoral e o Marco Civil da Internet.

Há no Congresso cerca de 20 iniciativas com propósitos semelhantes. A maioria considera que as notícias falsas  - como exemplo os esquemas industriais postos em ação durante eleições em vários países - ameaçam a democracia.

Uma das grandes discussões deverá se dar em torno da caracterização da notícia falsa. Um desses projetos de lei propõe definir, criminalizar e penalizar as fake news. Outro debate deverá abordar a responsabilidade dos provedores, veículos, redes sociais, sites, blog e portais e a velocidade com que serão obrigados a retirar do ar as notícias falsas.

O desafio será encontrar a definição precisa da fake news e, principalmente enquadrar claramente o fator intencional e o objetivo de causar danos a instituições e reputações. Alguns desses projetos de lei assinalam que a liberdade de expressão e de opinião, as manifestações artísticas e literárias, o conteúdo humorístico não podem ser previamente classificados como notícia falsa.

Combater fake news, sim.

Utilizar a necessidade de criminalizar os esquemas de propagação de mentiras como justificativa para para impor censura prévia, não. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Revista Time escolhe como Pessoa do Ano 2018 jornalistas perseguidos em vários países


por Ed Sá 

A revista Time homenageia como Pessoa do Ano de 2018 os jornalistas que foram hostilizados, presos, expulsos de países e assassinados.

São "Os Guardiões na Guerra pela Verdade".

Jamal Khashoggi, do Washington Post, morto em outubro deste ano no consulado da Arábia Saudita em Istambul pela ditadura saudita apoiada por Donald Trump.

Maria Ressa, perseguida pelo radical da direita Rodrigo Duterte, nas Filipinas, por denunciar assassinatos em massa de dependentes de drogas e traficantes como parte da repressão indiscriminada empreendida pelo governo.

Wa Lone e Kyaw Soe Oo, repórteres da Reuters presos em Myanmar por revelar o genocídio da minoria muçulmana Rohingya;

O Capital Gazette, de Annapolis, jornal que foi atacado por um atirador que matou quatro repórteres e um vendedor de anúncios. O assassino havia sido denunciado pelo jornal em uma reportagem sobre violência sexual.

A Time justificou a escolha sob o argumento de que as  principais reportagens publicadas pela revista em 2018 focalizaram exatamente a ofensiva contra jornalistas em várias partes do mundo.

O tema venceu finalistas cotados para Pessoa do Ano como Donald Trump, Vladimir Putin, as famílias separadas na fronteira dos EUA com o México, o procurador especial americano Robert Mueller (ele investiga Trump que ainda tenta demiti-lo), o diretor de cinema Ryan Coogler, a professora de psicologia Christine Blasey Ford (que foi vítima de assédio sexual por parte de um juiz indicado por Trump para a Suprema Corte)  os ativistas da marcha "Pela nossas vidas" (sobreviventes do tiroteio na escola de Parkland), o presidente da Coréia do Sul Moon Jae-in e Meghan Markle, a atriz e ativista americana que se casou com o príncipe Harry.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Kirk Douglas: 102 anos esta noite • Por Roberto Muggiati


Kirk Douglas em Spartacus.
Divulgação
por Roberto Muggiati 

Iussur Danielovitch (mais conhecido como Kirk Douglas) completou ontem, domingo, 9 de dezembro, 102 anos, inteiro e lúcido.

Não há tempo e espaço para contar aqui tudo o que fez o ator – considerado um dos maiores na história do cinema. Mas todos nós – particularmente aqueles nascidos em meados do século passado – fomos tocados por sua arte num momento ou outro de nossas vidas.

O escravo rebelde de Spartacus, o militar pacifista de Glória feita de sangue, o trompetista de jazz de Êxito fugaz, o jornalista corrupto de A montanha dos sete abutres, o produtor de cinema idem de Assim estava escrito, o mocinho de muitos faroestes e o vilão de muitos filmes noir, Kirk tocou nas emoções de muita gente em seus 62 anos de carreira.

E, como Van Gogh,
m Sede de Viver. Divulgação
Limito-me a citar um episódio que diz tudo da sua capacidade de extrapolar da tela para a vida real. É uma história que meu amigo cineasta Sylvio Back relata amiúde.

Em 1956, saindo de uma matinê numa das salas da Cinelândia curitibana – onde passava Sede de viver, a biografia romanceada do pintor Vincent van Gogh, interpretado por Kirk Douglas – Sylvio entreouviu duas senhorinhas condoendo-se da sorte do ator. “Coitadinho do Kirk Douglas, você viu o que fizeram com ele? Cortaram sua orelha.” Falavam com tanta convicção que parecia que o coitado do Iussur Danielovitch passaria o resto da vida com um vazio no lado da cabeça onde ficava o órgão auditivo amputado.

A fake news do Bernabéu...

por Niko Bolontrin

A Copa Libertadores da América, que homenageia os heróis sul-americanos que venceram os colonizadores espanhóis, acabou decidida na terra dos antigos conquistadores. Se levar o jogo de Buenos Aires para Madrid já foi uma estupidez da Conmebol associada à Fifa, a ironia histórica de negar à grande massa de torcedores dos dois times o direito de assistir à decisão torna-se tristemente simbólica.

O Santiago Bernabéu, a casa do Real Madrid, clube de raízes na ultra-direita - o nome do estádio homenageia um ex-jogador e ex-soldado fascista das tropas do ditador Francisco Franco - está se orgulhando hoje na  mídia espanhola de ser o único estádio do mundo que recebeu quatro importantes decisões internqacionis: da Liga dos Campeões, da Eurocopa, Copa do Mundo e da Libertadores.

O Maracanã acha isso muito pouco.

O mítico estádio carioca já foi palco de duas finais de Copa do Mundo, de uma Copa das Confederações, de uma final Olímpica, do Campeonato Sul-Americano, quando este reunia os maiores craques do mundo, da Libertadores, de finais de Jogos Pan-Americanos, Copa América e de duas finais de mundiais de clubes.

Huawei, River Plate, Boca Juniors e espionagem: a guerra fria bate um bolão...

por Jean-Paul Lagarride

Na semana em que, a pedido dos Estados Unidos, o Canadá prendeu Meng Wanzhou, executiva da megaempresa Huawei - sob acusação de suposta espionagem, mas expondo o medo do Tio Trump com o avanço da China no front tecnológico de computação quântica -, o futebol dá um drible na política internacional.



Ao entrar em campo, ontem, no Santiago Bernabéu, para o jogo final da Libertadores, River Plate e Boca Juniors exibiam nas camisas o patrocínio da Huawei.

A gigante chinesa, que fabrica smarphones, laptops, tablets e equipamentos para redes e telecomunicações, também patrocina PSG, Atlético de Madrid e Borussia de Dortmund, Arsenal, América do México, Galatasaray, Sport Lisboa e Benfica.

O mundo está tão interligado e as coisas mais malucas tão entrelaçadas que até a nova guerra fria vai parar no futebol.


domingo, 9 de dezembro de 2018

Final da Copa América 2019 será no Maracanã. Resta saber se a seleção brasileira estará lá...

Logotipo da Copa América. Div. Conmebol
por Niko Bolontrin

Inaugurado em 1950, o Maracanã logo de cara ganhou o seu maior trauma: a derrota da seleção brasileira para o Uruguai e a perda de uma Copa que parecia certa.

Mesmo nos domingos ensolarados das grandes vitórias, essa nuvem não deixava de lançar uma sombra eterna sobre a sua biografia.

O Maracanã teve que esperar 64 anos para ver outro estádio lhe arrebatar com todas as desonras o título de maior palco da urucubaca futebolística brasileira. O Mineirão, uai, que se tornou o azarento inesquecível ao receber a seleção brasileira para o jogo da vergonha, a derrota por 7 X 1 para a Alemanha, em 2014.

Tudo indica que o título vai ficar com o Mineirão por décadas: há seis anos, a CBF deixa o Maracanã fora do roteiro da seleção.

Talvez, no ano que vem, o Rio receba o time de Tite para um amistoso antes da Copa América 2019 que o Brasil sediará.

A Conmebol acaba de divulgar que a seleção brasileira jogará em vários estádios, incluindo o Mineirão, mas, tal qual na Copa de 2014, só virá ao Maracanã para disputar a final.

Se  chegar lá. 

Veja pelo lado bom. O Maracanã tem menos chances de ser associado a eventuais vexames.

Em tempo: a última vez que o Brasil pisou em grama carioca foi no dia 30 de junho de 2013, quando venceu a Espanha por 3 X 0, dois gols de Fred e um de Neymar, e conquistou a Copa das Confederações.

E no dia 20 de agosto de 2016, a seleção olímpica do Brasil, sem o logo da CBF na camisa, ganhou o ouro em jogo contra a Alemanha: 1X1 no tempo regular, gol de Neymar, e vitória nos pênaltis.

No Maracanã.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Martins, barman do Novo Mundo, comemora 80 anos, 60 de balcão. Entre 1968 e 2000, ele testemunhou casos e acasos da Manchete, que morava ao lado...

Martins, o lendário barman do Novo Mundo, comemora 80 anos de vida e 60 como anfitrião de um bar
que faz parte da história do Rio de Janeiro e foi referência boêmia para gerações de jornalistas.
Foto de Marcelo Horn em 06/12/2018.

O bar do Hotel Novo Mundo já foi frequentado pelos presidentes que residiram no vizinho Palácio do Catete, por políticos, artistas, craques do futebol e jornalistas.

O hotel foi construído nos anos 1940 para receber os visitantes da Copa do Mundo de 1950 e, a pedido do então presidente Dutra, para dar maior comodidade aos brasileiros de outros estados e estrangeiros que tinham audiências na Presidência da República.

O bar do Novo Mundo, que já foi uma boate, recebia famosos, mas sempre teve a sua própria celebridade: Antonio Martins, o popular Martins. Nada menos do que o "presidente" daquela "república" carioca.

Martins comemora seus 80 anos, 60 de Novo Mundo, onde entrou aos vinte anos, quase às vésperas da transferência da capital para Brasília.

Em fins de 1968, há 50 anos, a Bloch inaugurava a luxuosa sede da Manchete, a poucos metros do Novo Mundo e do seu histórico bar.

Na época, o bar, no andar térreo, mantinha um estilo inglês, balcão de madeira e mármore, detalhes em couro verde. Havia dois ambientes. Um deles tinha jeito de restaurante comum. No outro, com a luz rarefeita ainda remanescente da antiga boate, as mesas eram mais baixas, as poltronas estofadas como de sala de visitas, o clima bem mais intimista.

Foi como juntar a sede com a vontade de beber. Logo o bar tornou-se um point para os jornalistas da Manchete.

Martins é a própria memória desse tempo que ele antecedeu e ultrapassa. Entre 1968 e 2000, ano da falência da Editora Bloch, o barman mais antigo do Rio foi testemunha das comemorações, das crises, dos romances, dos casos, das fofocas, dos encontros e desencontros das várias gerações e até das inúmeras conspirações em torno dos pequenos poderes das redações.

Além dos frequentadores do bar, o hotel hospedava os jornalistas das sucursais que vinham ao Rio para fechamento das suas matérias. Nos anos 1980, com a inauguração da Rede Manchete, tornou-se o hotel de apoio para artistas e diretores. A frequência do bar, naturalmente, triplicou.

Mas não esperem que esse mero texto revele o mundo que o bar do Novo Mundo deixava na penumbra.

Sob o mandato do Martins, sempre perene e renovado, a discreta "constituição" do Novo Mundo segue a lei maior de Las Vegas.

O que acontece no Novo Mundo fica no Novo Mundo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Tite, no Globo de hoje, diz que a França foi campeã do mundo mesmo sem saber "pressionar no tiro de meta"...

Em entrevista aos repórteres Carlos Eduardo Mansur e Márvio dos Anjos, Tite é acometido de sinceridade:

"A França marcou da linha do meio-campo para trás, não pressionava no tiro de meta. Se eu estivesse com a França não seria campeão".

Tiro de meta? Tite quis dizer que a França não soube sair jogando e mesmo assim fez quatro gols?

Antes da Copa do Catar, a seleção terá a Copa América no meio do caminho e, se vencer, a Copa das Confederações (isso se a Fifa não acabar com esse torneio).

E toda chance do mundo para mostrar que sabe bater tiro de meta. Coisa que a França, embora tenha levado o caneco pra casa, não conseguiu fazer na final contra a Croácia...

Eu, hein?

Tio Trump vai dar bronca: Brasil exporta doença para os Estados Unidos


por Ed Sá 

Segundo o G1, a JBS anunciou hoje que está recolhendo aproximadamente 2,5 mil toneladas de carnes nos Estados Unidos que podem ter sido contaminadas por salmonela. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos confirma 246 casos da doença em 26 estados do país.

Em tempo de "Estado mínimo" e de órgãos de fiscalização na marca do pênalti, os consumidores brasileiros esperam que carne temperada com bactéria não venha pra mesa sem toalha do Réveillon tupiniquim.

Já o Tio Trump não vai gostar nem um pouco do presente de Natal ruralista que o agronegócio mandou pra lá.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Fotomemória da redação: em torno da mesa de luz... alguém sabe o que é isso?

1977, fechamento de uma edição da Fatos & Fotos: de olho na mesa de luz, o redator
Eduardo Lacombe, o editor Esmeraldo, o produtor Claudio Segtowich e, ao fundo,a repórter Heloísa Marra.

por José Esmeraldo Gonçalves 

E... no sétimo dia dava-se o fechamento. Se redação de revista fosse igreja e a conclusão de cada edição da semana fosse um culto, a mesa de luz seria o altar da pajelança final.

É preciso explicar à geração dos millennials digitais que raios era isso de mesa de luz.

Os fotógrafos de revistas como Manchete e Fatos & Fotos trabalhavam principalmente com filmes Ektachrome. As redações recebiam centenas de cartelas de plástico que acondicionavam slides de 35mm ou 6x6. Esse material era selecionado pelos editores em uma grande mesa em "L", cujo tampo, em um dos lados, era uma peça de acrílico montada sobre backlights fluorescentes. Aquilo esquentava e, depois de algum tempo, cansava vistas tal a brancura da luz projetada. Ali se decidia o fracasso ou o sucesso de uma edição.

A foto acima é de um desses fechamentos. Mais precisamente, a seleção de cromos para a capa da semana. Em seguida, o material era projetado em uma cabine, de onde saía a foto vencedora. Um curioso recurso artesanal dava maior precisão à escolha da capa: a foto era projetada sobre um caixote de madeira marcado com o logotipo da revista. Era uma espécie de "tela" branca que se destacava do fundo. Nunca se soube quem inventou aquele macete. O caixote criava um tosco mas eficiente "efeito 3D" que ajudava na avaliação do impacto da foto quando impressa ou exposta em bancas.

Impossível lembrar que capa era essa que a equipe examina. Mas a cena reflete o ritual de cada semana em torno da mítica mesa de luz de onde saíam tanto edições que quebravam as bancas quanto encalhes memoráveis.

No primeiro caso, tudo era festa; no segundo, sobrava para a mãe do editor que provavelmente era mais xingada na surdina do que genitora de juiz de futebol.

Na capa da Piauí: o "presépio" de 2019...


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Leitura Dinâmica - Chipgate, tornozeleira, gilets jaunes, Mr. Hyde...

* Leão com fome digital - Houve uma época em que a Receita Federal lia a revista Caras para detectar ostentação de novos ricos e conferir se lanchas e mansões apresentadas eram bens declarados ou sonegados. As revistas perderam relevância e o Leão agora busca carne fresca nas redes sociais. Em 2019, carrões, as joias da patroa, flats em Miami, obras de arte na parede, o aniversário milionário de 15 anos compartilhado na internet, tudo isso poderá ganhar likes e dislakes do felino.


*Memória do vexame - O Sportv lançará um programa no formato "paredão": oito entrevistadores "contra" um entrevistado. O nome da nova atração? 8 X 1. Lembra o antológico 7 X 1 que ridicularizou a seleção brasileira em 2014 com o acréscimo do oitavo gol que a Alemanha teve a compaixão de não fazer.


* Sujou! - Quando a baixa politicagem eleitoral invade camisas de times, a camisa sai perdendo. Aconteceu com o uniforme amarelo da seleção e, agora, com o Verdão.

*Chipgate - Reportagem da Folha de São Paulo expõe, na verdade, mais uma ponta da fraude de proporções industriais que catapultou candidaturas. O futuro - quando secret papers forem desclassificados - mostrará o tamanho dessa encrenca.

* Boca de sino - Taxista preocupado se haverá tornozeleira eletrônica na medida do pé do Pezão. Ficou mais tranquilo ao saber que o dispositivo é acoplado na perna e adaptável a canelas de todas as circunferências.


* É na rua - Os gilets jaunes estão falando na França a única linguagem que o neoliberalismo entende.

* Efeito gótico -  Alguns colunistas de política e economia, de assalariados, a PJs ou convidados diletantes, lembram o Dr. Jeckyl. Passaram anos criando um Mr. Hyde em laboratório e agora se surpreendem com o monstro vivo e solto nas ruas.


* Patriotismo - A revista Sexy desafia a crise das revistas masculinas e pretende bater recorde de circulação com a edição da dezembro. Na capa, a Miss Bumbum 2018, Elen Santana. O detalhe é que ela aparecerá no ensaio usando camisetas com caricaturas de Donald Trump e Bolsonaro.




* Brasil doente - A atriz Leticia Colin posou para a capa da Marie Claire de dezembro. A foto é até comportada mas, acredite, provocou terremotos nas hordas moralistas das redes sociais. O "deitado eternamente" da letra do hino nacional finalmente ganhou um significado: o do país onde a milícia da moral precisa ir ao divã resolver seus graves problemas sexuais antes que queime de vez os circuitos cerebrais.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Mídia: Ruth de Aquino deixa O Globo

(do Brasil 247)

A jornalista Ruth de Aquino está deixando o cargo de sênior publisher da editora Globo, responsável pelos jornais O Globo e Extra e revista Época; oficialmente, seu desligamento ocorrerá em fins de dezembro, mas ela já informou aos amigos e colegas de redação o pedido de demissão em caráter irrevogável; saída de Ruth encerra uma desgastante queda de braço travada com o diretor geral da empresa, Frederic Kachar, que tenta de todas as formas ter o absoluto controle editorial das publicações. Extremamente vaidoso, Kachar não aceita dividir o poder. Historicamente, o comando da redação se reportava diretamente à família Marinho. Ao substituir Ascânio Saleme, Kachar imaginava que todos os seus problemas estavam resolvidos. E não foi bem assim. Competente e zelosa de sua responsabilidade profissional diante da linha editorial da empresa, Ruth não se dobrava a orientações politicamente estapafúrdias oriundas do diretor geral. Após um processo crescente de confrontos, ela preferiu pedir o boné a continuar a medir forças para garantir seu espaço.

Numa nova tentativa de obter o controle absoluto da redação, Kachar resolveu extinguir o cargo de diretor editorial das empresas. Assim, passa a orientar diretamente os editores responsáveis pelas publicações – Globo, Extra, Valor e Época – sem a mediação de um profissional, hierarquicamente forte, capaz de oferecer ponderações lógicas às suas ordens.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO BRASIL 247 AQUI

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(do Portal dos Jornalistas)
Ruth de Aquino, que desde o final de outubro de 2017 vinha ocupando a Diretoria Editorial da Infoglobo (O Globo, Extra, Expresso) e de Época, deixa a empresa na próxima semana. Segundo comunicado de Frederic Kachar, diretor-geral de Infoglobo, Época e Valor Econômico, a saída dela deve-se a “ter concluído a missão de consolidar a estrutura do novo time [N.da.R: formado na época da contratação], aplicando a sua experiência em grandes jornais e revistas do País para nos colocar na vanguarda do mercado editorial”.

Ainda de acordo com a nota de Kachar, os diretores de Redação Alan Gripp (O Globo), Daniela Pinheiro (Época) e Humberto Tziolas (Extra) passam a responder diretamente a ele. Embora o comunicado não informe, J&Cia apurou que também saem os editores executivos Chico Amaral, que fez a reforma gráfica este ano, e Alexandre Freeland, ligado a Ruth. Até onde se sabe, permanecem os outros editores executivos: Maria Fernanda Delmas, Fernanda Godoy, Flávia Barbosa, Letícia Sorg e Pedro Dias Leite.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PORTAL DOS JORNALISTAS AQUI

Como o diabo gosta: brasileiros levam dinheiro para "lavar" em Lisboa...


Segundo o jornal português O Diabo, o mercado imobiliários de Lisboa se transformou em uma imensa lavanderia de dinheiro. E os muitos brasileiros são os maiores usuários da política do "Golden Visa", que dá cidadania europeia a quem investe entre 350 mil, principalmente em pequenas e médias empresas, com determinadas condições, e a partir de 500 mil euros no mercado imobiliário. Há suspeitas de que o sistema estaria sendo utilizado por alguns empresários para enxaguar e secar fortunas de origem duvidosa.

Deu na Folha, hoje... roubaram até os CPFs dos vovôs para turbinar eleições


Francisco Dornelles: "Não esqueceram de mim"


Reprodução O Globo. Foto de Marcelo Régua.

Divulgação

por O.V.Pochê 

Com a prisão do governador Pezão, do Rio de Janeiro, o vice Francisco Dornelles foi convocado a assumir o cargo. Quase no fim do governo, o mineiro esperava virar o ano em silêncio, longe da fogueira que consome políticos do estado. Não deu. Foi obrigado a segurar o rabo-de-foguete. A foto de Marcelo Régua, no Globo, diz tudo. Dornelles replicou Macauley Culkin. Com uma diferença: preferia ser esquecido nessa hora.

Enganaram o torcedor

por Niko Bolontrin

O que dizer de um time que faz promoção no preço dos ingressos e atrai ao Maracanã mais de 50 mil torcedores? Quis dar um presentão de fim de ano para a torcida, certo? Errado. O Flamengo convidou seus torcedores para uma estranha "festa": bater palmas para uma das suas boas promessas que o clube acaba de vender para o futebol europeu.

Paquetá se vai, assim como Vinicius se foi. Resta ao torcedor, esse otário, aplaudir a entrada da grana em caixa. A torcida do Flamengo é uma massa que costuma ter o mês maior do que o salário, mas nos últimos anos tem passado longe de títulos importantes. Só tem a comemorar a alegada saúde financeira do clube. Não demora muito a galera vai ter que levar para o estádio faixas alusivas a isso: "Flamengo sem dívidas", "Mengão saiu do Serasa", "Torcida Flafinanças saúda o tesoureiro do Mengão". "Viva o caixa do nosso Mengo"...

Ah, sim, e na "festa" para Paquetá o torcedor também teve direito a assistira a uma virada do Atlético PR: 2x1. A massa rubro-negra, revoltada, entoou o já tradicional coro de "time sem-vergonha'.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Afanaram a Libertadores

O jornal espanhol Mundo Desportivo usou um termo de orgiem africana - quilombo - para definir a chegada de River Plate e Boca Juniors a Madri. No Brasil, a palavra quilombo tem hoje conotação positiva e lembra a resistência dos negros durante a escravidão. Na tradução racista da Espanha, quilombo significa desordem, prostíbulo, lugar de devassidão. 

por Niko Bolontrin

O futebol sul-americano já está em nítida decadência e tenta resistir mesmo sufocado pela força do euro que leva craques, futuros craques e promessas de craques.

A Conmebol resolveu ajudar esse processo de desintegração levando a final da Libertadores para o estádio do Real Madri. O interesse é, claro, apenas financeiro, o resto é desculpa. Para isso, a entidade atropela os direitos do River Plate, do Boca Juniors e dos torcedores, a maioria, que não pertencem a facções e gostariam de ver seus times jogarem a decisão.

Se tumulto em futebol implicasse em levar jogo de um continente para outro a França jamais voltaria a sediar uma Copa do Mundo. Lá, em 1998, houve graves tumultos que causaram até a morte de um policial.

Agora mesmo, na Liga das Nações de 2018, houve quebra-quebra nos jogos Inglaterra X Espanha e Inglaterra X Eslováquia. E a Inglaterra deve se candidatar a sediar a Copa de 2030.

Recentemente, o site Red Bull listou as cinco torcidas mais perigosas do mundo. A primeira é inglesa, do Milwall Bushwackers, temida em todo o Reino Unido. A segunda é a UltrAslan, do Galatasaray, da Turquia. O lema deles ao receber adversários em Istambul é "bem-vindo a inferno". A terceira torcida mais violenta do mundo é La Doce, do Boca Juniors. Mas entre os barra-bravas, como são conhecidas as torcidas organizadas na Argentina, há vários outros grupos perigosos. A quarta torcida de alto risco e a do Estrela Vermelha, da Sérvia. Para complicar, são nacionalistas radicais e racistas. A quinta torcida mais intolerante é a do Lazio, clube italiano que foi ligado ao fascismo. São agressivos, racistas e levam suásticas para os estádios. Na Espanha, no começo deste ano, um policial morreu durante briga de torcedores do Athletc de Bilbao e Spartak de Moscou.

Mesmo assim, a Fifa e a UEFA não pensam em levar decisões europeias para o Butão.

A Conmebol leva Boca x River Plate para a Espanha por um motivo simples: viu nos condenáveis acontecimentos de Buenos Aires uma oportunidade de faturar alguma grana ou ouviu a irresistível conversa de empresários sortudos. Ou caiu infantilmente na conversa de Gianni Infantino, o presidente da Fifa, que não bate prego sem estopa. Só isso.

ATUALIZAÇÃO EM 02/12/2018 - O River Plate e o Boca Juniors se recusam oficialmente a jogar a final da Libertadores em Madri. Demonstram mais bom senso e respeito às suas torcidas do que a Fifa e a Conmebol com a estranha e nada transparente decisão de levar um dos mais históricos clássicos da América do Sul para a Europa. Aguarda-se a reação dos cartolas. Se, mesmo assim, o jogo se realizar, espera-se que depois de um dos tumultos que envolvem com frequência torcidas de clubes europeus em brigas e demonstrações de racismo, a Fifa traga para a América do Sul um dos seus jogos ameaçados por hooligans. A lamentar que boa parte da mídia esportiva brasileira declarou-se em colunas e mesas redondos a favor da exótica decisão da Conmebol e da Fifa. Esses coleguinhas acabam de ganhar o troféu Vira-Lata, com direito a beijar as mãos dos cartolões Gianni Infantino e Alejandro Dominguez. 

Afogaram Donald Trump em praia brasileira...

Estátua de Trump em praia do sul do Brasil 

por Ed Sá 

Como vários dos seus seguidores, Donald Trump não acredita em poluição, em aumento de CO2 na atmosfera, em contaminação espalhada por combustíveis fósseis, em mudanças do clima e muito menos em aquecimento progressivo do planeta. 

Se não vai acontecer amanhã, não é problema dele. No máximo, deseja que seus bisnetos que se virem. 

Com base nessas crenças e no fanatismo neoliberal que prega a utilização máxima de recursos do planeta em nome do lucro para poucos, Trump retirou os Estados Unidos dos acordos climáticos. 

Em protesto, o movimento Downed Statue plantou em uma praia do sul do Brasil uma estátua de Trump... afogado. Uma das consequências do efeito estufa é o aumento do nível dos oceanos. Simbolicamente, o presidente dos Estados Unidos e demais líderes que seguem sua cartilha anti-ambientalista ganharam estátuas semelhantes ao redor do mundo. Cada lançamento de políticos  "afogados" será registrado no canal do You Tube do movimento. 

O Trump com água acima do pescoço é apenas o primeiro. A estátua será retirada quando e se ele voltar a validar os acordos climáticos Clique AQUI

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Olha isso! Luana Piovani superaquece a rede mundial de computadores

Reprodução Instagram

por O.V.Pochê
Os servidores da web precisaram acionar geradores extras de refrigeração. Luana Piovani quase detonou a internet ao postar ontem, no Instagram Stories, esse nude aí, de alto teor explosivo. Igrejas fecharam portas, carolas pediram folga, ministros nomeados se chicotearam em porões, grupos de transição ameaçaram beber cicuta, líderes iniciaram jejum radical, assessores caminharam sobre brasas. Era o próprio apocalipse chegando mais cedo. 

Vai um chester? Preconceito na ceia de Natal...


Ou o comercial de Natal da Perdigão é um lamentável equívoco ou "sem querer querendo" se ajusta ao novo horizonte dos tristes trópicos. A campanha promete que a cada Chester vendido, a Perdigão doará outro para “uma família que precisa”. O problema é que para passar essa mensagem, o roteiro da peça publicitária abusa dos estereótipos preconceituosos e do lugar-comum. A "família que precisa" é negra; a família que é solidária, boazinha e convida os "carentes" à mesa da "casa grande" é branca. A intenção pode ser sido boa, mas o comercial apenas reproduz a visão nutella de que o branco é o "generoso" e o negro é  o "inferior", que merece "pena" e deve ser amparado.
VEJA AQUI

Livro revela bastidores da Abril - Da era de ouro à implosão editorial


O jornalista Adriano Silva, que trabalhou na Exame e dirigiu as revistas Superinteressante e Mundo Estranho, lança o livro "A república dos editores" que conta a trajetória da Abril no que ele define como a década de ouro, os anos 2000. Curiosamente, a era em que a Abril viveu o auge também engloba, a partir de 2013, o período em que começou a perfilhar a decadência. Em 2001, a editora tinha quase 14 mil funcionários; pouco mais de dez anos depois esse número caiu para menos de quatro mil.
O livro de Adriano Silva é a soma das suas memórias pessoais com os êxitos, as mudanças, as indefinições e perplexidades diante da internet e dos meios digitais, as "reestruturações" e turbulências que podaram a editora da árvore verde e pulverizaram milhares de empregos.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Cadê o caviar do Veríssimo...

De Luís Fernando Veríssimo - que está lançando o livro de crônicas "Ironias do Tempo" - em entrevista ao Estadão: 

"Escrevo o que penso, sem me preocupar muito com a reação. Quem não gosta do que eu penso e escrevo tem a opção de não me ler, para não se incomodar. Tem os que mandam cartas agressivas. No tempo do Collor, ameaçavam minha família se eu não parasse de criticá-lo. Mas a reação não incomoda. As cartas me chamam de comunista, me mandam ir viver em Cuba ou na Venezuela. Uma me mandou ir para a Coreia do Norte! Mas não passa disso. Só quando me chamam de esquerda caviar eu reclamo. O caviar não tem chegado à minha mesa, acho que o Chico Buarque está ficando com a minha parte."

Em breve, Amazônia poderá virar set dos filmes Mad Max...


Matéria da Paris Match, com base em informações do Greenpeace, demonstra que o Brasil perdeu 7.900 quilômetros quadrados de floresta amazônica em 2018, um aumento de 13,72% em relação a 2017 e o maior índice desde 2008. A destruição equivale a uma área de um milhão de campos de futebol.

A julgar pelas perspectivas de aceleração dessa destruição, ninguém tira do Brasil o título de maior destruidor da maior floresta do mudo. Se há um projeto que o país está realizando com espantosa "eficiência" é o da destruição do meio ambiente. Houve um tempo em que nacionalistas temiam a internacionalização da Amazônia. O Brasil não corre esse risco por um motivo muito simples: a médio prazo a "obra" estará completa e não haverá mais Amazônia para "internacionalizar".

Resta um consolo: o cenário apocalíptico poderá ser usado para filmes Mad Max.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Bernardo Bertolucci, o adeus do inconformista e o que a manteiga da Normandia tem a ver com isso

Bernardo Bertolucci. Foto: Divulgação
Bernardo Bertolucci morreu nesta segunda-feira, aos 77 anos, em Roma, após longa enfermidade.

Se você buscar a notícia, hoje, no Google, verá centenas de tópicos que associam o diretor italiano a um filme de 1972: O Último Tango em Paris.

Bertolucci foi muito mais do que o regente da ousada contradança existencial e sexual lubrificada por manteiga e executada por Marlon Branco e Maria Schneider. Entre outros filmes, ele dirigiu O Conformista, 1900, La Luna, o Último Imperador, que lhe deu um Oscar, Beleza Roubada, O Pequeno Buda, Os Sonhadores e sua última produção, Io e Te, de 2013.

Sobre O Ultimo Tango, Bertolucci disse, há cinco anos, em entrevista ao jornalista Rodrigo Fonseca, do Globo:

"Aquele filme foi uma tsunami na minha vida. Quando comecei a rodá-lo, acreditava estar apenas contando a história de um americano velho que se envolvia com uma garota em Paris. Do nada, fui pego pela surpresa quando ele virou um sucesso sem tamanho e me permitiu fazer projetos que vieram depois, como “1900”. Sei que até hoje fico envergonhado quando esbarro com alguém dizendo “‘Último tango...’ mudou minha vida”. Isso acontece muito. A bestialidade dele moveu as pessoas. É bom ainda descobrir como ele mobiliza. Cinema não muda um país, mas toca um indivíduo".



Bertolucci tinha razão. Ninguém assistia ao Último Tango impunemente.

Carlos Heitor Cony, por exemplo, que em 2004 escreveu para a Folha de São Paulo a crônica que se segue.

Bertolucci, Marlon Brando e Maria Schneider
nos bastidores das filmagens de O Último Tango em Paris.Divulgação


CARLOS HEITOR CONY

O último tango em Paris e a ligação errada

"Revendo meu caderno de notas, encontrei seu endereço, resolvi telefonar, alô, alô, como vai você, não venha com a desculpa de que eu errei a ligação." Não parece, mas é o início de um sambinha dos anos 50, cujo autor e intérprete não lembro. Lembro o garagista onde guardava meu carro que sempre o cantava enquanto lavava os automóveis entregues à sua guarda.

Volta e meia essa letra mais ou menos infame me vem inteirinha, sobretudo quando, sem muita coisa a fazer, fico que nem o personagem desse samba, "revendo meu caderno de notas" e outros cadernos e papéis avulsos que fui guardando pelo tempo afora.

Acontece que, às vezes, ainda como o personagem do samba, erro de ligação e entro onde não devia nem queria. Foi assim que, numa tarde dessas, encontrei alguns recortes do tempo em que escrevia sobre cinema para uma revista que não existe mais e que me mandava a Paris ou Roma para ver filmes que demoravam a chegar ao Brasil ou que nunca chegavam, e quando chegavam tinham sua exibição proibida pela censura.

Num desses recortes, pomposamente datados de Paris, encontro a pequena resenha que fiz para um filme que provocava espasmos na ocasião, havia gente que atravessava o Atlântico para ver a preciosidade que, antecipadamente sabia-se, jamais seria exibida em telas castas como as nossas daquele tempo.

O filme era "O Último Tango em Paris", que outro dia passou numa das TVs a cabo, quase anonimamente e sem fazer os estragos morais que se temia. Transcrevo a resenha, tal como foi publicada ali pelos inícios dos anos 70:

"Filme inqualificável, esse de Bertolucci, mais escândalo do que sucesso em Paris e agora em Nova York. Uma temática infanto-juvenil (a exaustão do sexo como forma de diálogo) diluída num moralismo de congregado mariano e tratada por um cineasta que domina o seu ofício, mas ainda não tem nada a dizer. Seu mérito mais ostensivo é a coragem de mostrar, a ousadia de condenar aquilo que mostra - uma ousadia de cruzado medieval que nada fica a dever à simpática cara-de-pau dos membros do Exército da Salvação. 

Bertolucci abriu as porteiras - e agora o dilúvio. Como qualquer dilúvio, fará bem à humanidade, exceto aos cineastas do chamado Terceiro Mundo, que resistem a qualquer dilúvio saneador. Marlon Brando arfa durante o filme inteiro e mostra-se desinformado em matéria de certas brincadeiras. 

Utiliza-se da celebrada manteiga da Normandia para indevidos fins, demonstrando total ignorância dos macetes que qualquer menininho do Brasil conhece desde cedo.

Maria Schneider estoura na tela como ninfômana e atriz - as duas coisas em igual medida. A favor de Bertolucci, uma façanha: Jean-Pierre Léaud, aquele canastrão embrionário e obrigatório dos filmes de Godard, aqui aparece realizado, conseguindo um papel que lhe cai sob medida e para o qual não precisou fazer esforço: o do jovem idiotizado pelo cinema. Ele tem o físico, o entusiasmo e a vida pregressa para ser ele próprio o idiota, não o da família, mas o do cinema.

A música é quase excepcional. "O tango é uma maneira de caminhar pela vida" - disse Borges. E um reparo final: Marlon Brando só deixa de arfar na cena em que Maria Schneider, depois de cortar as próprias unhas, aplica-lhe uma massagem estimulante. No fundo, um filme mais inútil do que impróprio para maiores de 18 anos, que daqui a algum tempo será exibido nos colégios de freiras e nos quartéis das Forças Armadas".

É isso aí. Um escritor profissional, como o cronista, obriga-se a escrever tanto que, embora erre muito, é impossibilitado de errar sempre. É mais ou menos como nas antigas apostas da Loteria Esportiva, em que se cravava palpites em 13 jogos, nas hipóteses de vitória, derrota ou empate. Era mais fácil fazer os 13 pontos do que errar em todos, sempre se acertava em um ou dois jogos.

Anos depois, o mesmo Marlon Brando fez furor num filme ítalo-americano em que, no papel de um poderoso chefão da Máfia, aparecia com as bochechas cheias de algodão, arfando o tempo todo por outros motivos que não os provocados pela lasciva mocinha do último tango em Paris. 

Alguns atores nacionais achavam que arfar era moda e quase todos arfavam, uns mais, outros menos, até mesmo quando faziam discursos cívicos pela reforma agrária e contra o imperialismo.

Bem, voltemos ao sambinha com que inicio esta crônica. Lembro agora o nome dele, "Joãozinho Boa-Pinta", parece coisa do Haroldo Barbosa ou do Miguel Gustavo. E tem um segmento que considero um primor na poética popular: "Não sei se ainda posso lhe chamar de meu amor, não sei se ainda tenho aquela velha intimidade...".

Remexi meus papéis avulsos, tal como o Joãozinho Boa-Pinta revia seu caderno de notas. De repente, encontrei o nome e o telefone de uma intimidade que, sem ser velha, era antiga. 

Antes que caísse em tentação e discasse aquele número, pensei melhor e fiquei sem a desculpa de que errara na ligação.