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sábado, 22 de agosto de 2020

Lairton Cabral: um amigo que se despede

 


Lairton Cabral 


por José Esmeraldo Gonçalves

Dez entre dez jornalistas que passaram pela Bloch viram, em algum momento, essa imagem, ao vivo. 

Lairton Cabral na sua sala do oitavo andar do prédio da Rua do Russel, ao telefone. 

Lalá, como era carinhosamente chamado nas internas da Manchete, tinha multifunções executivas junto à diretoria da empresa, mas para as redações era o eficiente "agente de turismo" que marcava as passagens aéreas das equipes de reportagem, reservava hotéis e transportes locais. Não era pouco trabalho para atender à rotina de cerca de 20 revistas. Uma publicação como a Desfile cobria as semanas da moda em Paris, Milão e Nova York e, além, disso, pelo menos uma vez por ano, levava à Europa repórteres, fotógrafos, modelos e produtoras para edições especiais de coleções de verão. A Manchete, que investia regularmente em viagens internacionais ou pelo Brasil, tinha as grandes coberturas fixas, do tipo Copas do Mundo, Olimpíadas, Copa América etc que mobilizavam comitivas numerosas, muitos deslocamentos e até roteiros imprevistos determinados pelos resultados esportivos. Problemas que  pousavam na mesa do Lairton e de lá decolavam perfeitamente resolvidos. 

Quando a Bloch instalou a Rede Manchete, Lairton assumiu, com a calma de sempre, as intensas demandas logísticas da TV. Ele chegou à empresa em julho de 1968, vindo da antiga Panair, para secretariar as redações. Com o tempo, ganhou novas funções próximas à "sala de crise", de Adolpho Bloch e Pedro Jack Kapeller, onde paravam as mais diversas situações em busca de soluções. 

Na coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), Lairton recordou um desses casos. 

"Adolpho era um homem de objetivos e movia mundos para alcançá-los. Certa vez, ele convocou à sua sala o diretor de teatro Flávio Rangel e lhe pediu que fosse a Santiago do Chile para assistir ao musical Pippin, em cartaz na capital chilena. 'Quero montar essa peça aqui no nosso teatro. Dizem que é uma maravilha. Quero sua opinião", falou Adolpho. Espantado, Flávio, que para o governo militar era um subversivo perigoso, respondeu que não o deixariam viajar, ainda mais para o Chile, que abrigava exilados brasileiros. Nem passaporte ele tinha naquele momento. Adolpho limitou-se a dizer que 'dava um jeito'. 'Vamos lá em casa que eu verei o que posso fazer'. E lá fomos nós, Carlos Heitor Cony, eu, Flávio e Isolda. Um parêntese: Isolda, compositora e autora de um dos maiores sucessos de Roberto Carlos, a canção Outra Vez, trabalhava na Bloch e teria um papel-chave na história. Quem imaginava que Adolpho acionaria algum contato para conseguir a liberação da viagem de Flávio estava enganado: a reunião era para encontrar um meio criativo de driblar a proibição. Na época, Isolda era amiga de um inspetor de polícia e tinha algum conhecimento na área. Ficou resolvido que eu - sobrou para mim - faria o papel do general Antônio Faustino, então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, e ligaria para a Polícia Federal pedindo que emitissem um documento de viagem para o diretor de teatro. O próprio Flávio, imitando voz feminina, e daquelas bem melosas, ligou para a PF, identificou-se como secretária do general Faustino e pediu que o delegado do setor aguardasse. 'O secretário de Segurança quer dar uma palavrinha', disse a "secretária". Flávio me passou o telefone. Tentei fazer uma voz amistosa mas autoritária e determinei ao delegado que naquele momento eu, o "general Faustino", estava autorizando a emissão de um documento para a viagem do diretor Flávio Rangel ao Chile, tratava-se de um assunto de importância para o governo. Em tempo de regime militar, embora a PF não fosse subordinada à secretaria de Segurança, palavra de general era, naturalmente, uma ordem. Antes de desligar o telefone, o "general" informou que Cony e Flávio, acompanhados da funcionária Isolda, estavam a caminho da sede da PF, na Praça Mauá, para apanhar com urgência o referido documento. 'Perfeitamente, general, está feito. Tenha uma boa tarde', respondeu o solícito delegado. O resto da história é conhecido. Flávio viu e aprovou Pippin. Adolpho comprou os direitos e montou o musical no seu teatro, no Edifício Manchete. A peça foi um sucesso e o general Faustino jamais soube do papel  fundamental e involuntário que teve na produção de um dos maiores musicais já exibidos no Brasil."

Lairton trabalhou na Bloch até agosto de 2000, data da dramática falência da editora. Jamais deixou de manter contato com os antigos colegas e não faltava aos almoços de fim de ano. Não faz muito tempo, já com a pandemia em curso, ele telefonou para vários amigos ex-Bloch, que sabia em quarentena, para saber notícias. 

Lairton faleceu no dia 18 de agosto, após complicações decorrentes de um coágulo no cérebro. À família, o nosso abraço de pêsames. Além das saudades, ele nos deixa as boas lembranças da sua competência, do companheirismo e integridade, do respeito com que tratava a todos igualmente, sem ligar para funções descritas em crachás. Tenho certeza de que para todos os colegas da velha Bloch foi um privilégio tê-lo como amigo. 

Que o Lalá descanse em paz. 

 


quarta-feira, 25 de março de 2020

O Humor da Manchete: Arnaldo Niskier e Roberto Muggiati preparam livro sobre a comédia, as excentricidades e as pegadinhas que assolavam a Bloch Editores


O bunker da Rua do Russel, onde se instalava a Manchete, já rendeu vários livros. "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", coletânea de jornalistas que trabalharam na Bloch Editores, "Memória de um Sobrevivente", de Arnaldo Niskier, "Os Irmãos Karamabloch", de Arnaldo Bloch, "Seu Adolpho", de Felipe Pena e "Aconteceu, Virou História", de Elmo Francfort, entre os principais.

Pois vem aí mais um livro. Não apenas mais um. Dessa vez, Arnaldo Niskier e Roberto Muggiati vão explorar o humor que desanuviava as redações e aliviava a tensão dos fechamentos. Os dois autores, aliás, cobriram 45 dos 48 anos de vida da Manchete. E em postos de observação privilegiados. Arnaldo entrou na Manchete em 1955, Muggiati em 1965; o primeiro saiu nos anos 90; o segundo ficou até o fim, em 2000. De 1965 aos anos 1990 trabalharam juntos e compartilharam muito daquela “chose de Bloch” – parafraseando o bordão do Jô Soares, chose de loque.

O Humor da Manchete, em preparação, não é apenas texto, terá fotos incríveis também. Veja, abaixo, algumas imagens e um vídeo em que Arnaldo Niskier revela alguns episódios que estarão no livro.

Foto de Ronald de Almeida/Reprodução Fatos & Fotos 11-6-70

• Adolpho brincando numa Jump Ball, uma das muitas manias dos anos 70 (a foto é de 1970), Arnaldo, o “apanhador” aparece à esquerda, Que presidente de um império de comunicação se prestaria a tal acrobacia? Adolpho parece um daqueles judeus voadores das telas de Chagall.

Foto Acervo Pessoal, 1971

Foto Gil Pinheiro

• Teresópolis, outubro de 1971, Muggiati, chefe de redação de EleEla, dirigida pelo Cony, sobre a Serra para entrevistar o dr. Albert Sabin. Viúvo, Sabin é o alvo das facções casadoiras, Adolpho aposta todas suas fichas na Marlene Bregman, mestra do marketing da Bloch – Adolpho cuspia para esta função novidadeira do jornalismo – seu negócio eram fotos e tintas – Marlene aparece catando cravos nas pernas do médico ilustre. Muggiati teve de esperar até a soneca depois do almoço, quando Sabin o chamou ao seu quarto e o submeteu a um teste antes de conceder a entrevista: “You tell me, vat iz can-cerrr?!” A resposta – mais pelo inglês de Cambridge e da BBC do Muggiati do que por sua sapiência científica – satisfez o doutor, que finalmente concedeu a entrevista. Muggiati, triste sina, se tornaria o entrevistador by appointment de Sabin, o que incluiria uma entrevista especial para o lançamento da Rede Manchete em julho de 1983, todo um sábado e domingo de trabalho incluindo, além da entrevista propriamente – havia uma campanha de vacinação no Brasil naquele momento – até a edição do vídeo e a tradução das legendas, tarefa complicada para a inexperiente equipe da TV. Quanto à corrida para preencher o celibato de Sabin, Adolpho perdeu para a facção da Condessa Pereira Carneiro, que emplacou sua protegida Heloisa Dunshee de Abranches como nova esposa do Dr. Sabin. Na outra foto, a do fotógrafo Gil Pinheiro, Adolpho, o Abominável Homem da Serra, na ducha da fonte natural de Teresópolis.

Foto: Acervo Pessoal

Foto Acervo Pessoal

• O editor Roberto Muggiati  fazendo palhaçada na redação. Isso só poderia ter acontecido naquela hora morta da manhã de terça-feira – entre  a ressaca do fechamento da revista na segunda e sua saída nas bancas à quarta, antes da execrável reunião de pauta. Fotos do arquivo pessoal são provavelmente do início dos anos 90.

Arnaldo Niskier fala sobre O Humor da Manchete. Clique AQUI

sábado, 1 de junho de 2019

Propaganda: quem lembra desse slogan levante a bengala...


Para comemorar seus 110 anos, as Casas Pernambucanas encomendaram da J. Walter Thompson Brasil um filme especial.

A geração baby boomer vai lembrar.

Segundo o site Meio & Mensagem, "o novo filme foi criado por Guilherme Alvernaz, filho de Ruy Perotti — um dos donos da Lynxfilm, produtora que fez o filme original da comunicação –, sob a autorização dos herdeiros de Heitor Carillo — criador do Friozinho e detentor dos direitos autorais da obra até seu falecimento, em 2003".

PARA VER O NOVO COMERCIAL, CLIQUE AQUI



PARA VER O FILME ORIGINAL, CLIQUE AQUI

terça-feira, 2 de abril de 2019

Futebol celebra a Democracia. Diretoria do Flamengo faz gol contra

No jogo da Democracia, alguns clubes de futebol do Brasil e da Argentina bateram um bolão na última semana 



Aqui, foram poucos mas representativos. Apenas Corinthians, Bahia e Vasco da Gama postaram em suas redes no dia 31 de março - data que marcou os 55 anos do golpe de 1964 e da ditadura que se seguiu perseguindo, sequestrando, torturando e assassinando brasileiros - mensagens contra o autoritarismo e pelas liberdades democráticas.


A Argentina celebrou o Dia Nacional Pela Memórias, Liberdade e Justiça. No país que também sofreu ditadura sangrenta, muitos clubes fizeram manifestações alusivas à Democracia. "Nunca mais", assinalaram os torcedores, condenando a opressão.

Nota oficial do Flamengo

No Rio, o Flamengo foi a dissidência anti-democrática. A diretoria, não uma parte da sua torcida. No último domingo, rubro-negros fizeram na sede de remo uma homenagem a Stuart Angel, ex-remador do clube. Filho da estilista Zuzu Angel, Stuart foi preso, torturado e assassinado no Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica, em 1971. O jovem, então com 25 anos, foi amarrado a um veículo, com a boca colada ao cano de escapamento e arrastado até à morte no pátio do quartel. Anos depois, outros presos, além de ex-soldados que testemunharam a sessão de tortura, denunciaram a crueldade. Incomodada com a homenagem a Stuart Angel, a diretoria do Flamengo divulgou nota condenando o gesto dos torcedores. Nas redes, os internautas, incluindo rubro-negros reagiram contra o posicionamento dos cartolas. O mais curioso é que a nota oficial publicada no site do Flamengo tem na página os logotipos de patrocinadores. As marcas também assinam a nota? Estão incluídos entre os apoiadores a estatal Eletrobras, o Governo do Rio de Janeiro, Lei do Incentivo ao Esporte, Ministério da Cidadania, e o "Patria amada Brasil" do governo Bolsonaro. Ah, bom.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

AI-5: como a mídia reagiu ao "salve" que a ditadura emitiu há 50 anos...


A primeira página do AI-5 e as...

...assinaturas das...

...figuras que entraram para a história pela porta dos fundos.
Reprodução de documento publico

Alfreeedo! Infelizmente, o papel acima não é Neve.

Entrou para a história como se fosse.

Não era macio, nem absorvente, mas no conteúdo apresentava afinidade com o produto exaltado pelo famoso comercial do mordomo.

Ambos prometiam "limpeza". No caso do AI-5, em nove páginas datilografadas em papel ofício, espaço dois, um Brasil politicamente "higienizado" na visão do sinistro "Arthuuur!" instalado em Brasília. 

Com as assinaturas acima, a ditadura inaugurada em 1964 recebeu um poder ainda maior, praticamente sem limites. Como consequência, autoridades e "otoridades" ganharam um "salve" (que na gíria das  atuais organizações criminosas é um espécie de "ordem" geral) para prender, sequestrar, torturar, assassinar, exilar, censurar, perseguir, intimidar, cassar mandatos, deter jornalistas, suspender os direitos políticos e individuais que ainda restavam, ocupar governos estaduais, prefeituras e fechar o Congresso.

Costa e Silva e ministros no Palácio Laranjeiras...

...onde Gama e Silva , da Justiça,
 e o locutor Alberto Cury
anunciaram o Brasil "sem escrúpulos'' Fotos Arquivo Nacional 

No dia 13 de dezembro de 1968, uma sexta-feira, Costa e Silva - o militar linha-dura em plantão no governo -, e seus ministros jamegaram o papelucho em mal traçadas linhas que avalizaram o sequestro da liberdade: Costa e Silva, Luís Antônio da Gama e Silva, Augusto Hamann Rademaker Grünewald, Aurélio de Lyra Tavares, José de Magalhães Pinto, Antônio Delfim Netto, Mário David Andreazza, Ivo Arzua Pereira, Tarso Dutra, Jarbas G. Passarinho, Márcio de Souza e Mello, Leonel Miranda, José Costa Cavalcanti, Edmundo de Macedo Soares, Hélio Beltrão,
Afonso A. Lima, Carlos F. de Simas.







No dia seguinte, os jornais já sob censura, embora alguns fossem claramente adeptos do regime, limitaram-se a noticiar o fato e transcrever o ato. Em reimpressão no mesmo dia, o Estado de São Paulo ainda registrou que teve a edição apreendida.
O Jornal do Brasil deixou seu protesto cifrado, no alto da página, em forma de "previsão do tempo".

A Veja, publicação recém-lançada, já estava no radar do regime.

No dia 4 de dezembro, a edição número 13 chegou às bancas com uma capa que mostrava uma foto do Congresso visto através de um vidro estilhaçado e a chamada profética: "O Congresso  Pressionado. Chegaremos a isso?". De fato, o Congresso estava sob pressão desde setembro daquele ano quando o deputado Márcio Moreira Alves pediu em discurso que, em protesto contra "os carrascos que espancam e metralham nas ruas", as famílias evitassem que seus filhos participassem do desfile de 7 de Setembro. Um trecho exortava: "esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais". Diz-se que houve quem interpretasse aquele apelo como um incentivo a uma greve de sexo contra militares. Fato ou fake, a linha dura já vinha endurecendo ao longo do ano. O AI-5 foi o manifesto do "golpe dentro do golpe". O discurso de Moreira Alves e a votação do Congresso que negou abertura de processo contra o deputado, como queriam os militares, eram pretextos úteis para a radicalizar a repressão. 


Naquela sexta-feira, a Veja tinha como opções de capa Paulo VI, que naquela semana pregava que a Igreja vivia "um momento de autodestruição provocado pelo liberalismo do Concílio Vaticano II", e Castelo Branco, como referência simbólica ao primeiro ciclo do regime militar e às medidas de exceção que encerravam esse período. Fechou com o último. No sábado, trocou a capa. A redação foi buscar nos arquivos da Folha de São Paulo uma imagem ainda mais simbólica feita meses antes pelo fotógrafo Roberto Stuckert quando Costa e Silva visitava o Congresso Nacional. O militar posara para Stuckert em um plenário vazio, o mesmo que ele viria a fechar. A edição da Veja, recebida como uma "provocação" foi rapidamente apreendida. 

A edição da Manchete naquela semana registrou factualmente o AI-5. Durante o ano de 1968, as duas semanais da Bloch haviam feito uma intensa cobertura fotográfica das passeatas. Nas revistas ilustradas, inclusive em capas, os protestos ganhavam uma dramaticidade extra. Com o esforço das suas equipes de repórteres e fotógrafos, cumpriram um papel jornalístico. Apesar disso, e como boa parte da mídia, a Bloch ajudava a construir uma imagem positiva do regime. Internamente, sabe-se que, naquele dia 13 de dezembro, o AI-5 repercutiu na editora. À noite, o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi preso ao sair do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. JK era, como se sabe, grande amigo de Adolpho Bloch.  Ontem, em texto de Miguel Enriquez, o site Diário do Centro do Mundo (DCM) lembrou que JK logo foi abandonado "pela legião de áulicos que o cercavam nos tempos áureos". "Uma das raras exceções naqueles tempos de ostracismo, ao lado do então deputado federal Tancredo Neves e do banqueiro Walter Moreira Salles, atendia pelo nome de Adolpho Bloch. Sempre fiel, disposto a socorrê-lo em todos os momentos de dificuldades financeiras e pessoais, Bloch chegou a destinar uma sala especial para JK no último andar do prédio que sediava suas empresas, na Rua do Russell, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro", escreve o DCM. A solidariedade a JK rendeu ameaças a Adolpho Bloch. A revista Manchete, contudo,  jamais desafiou o regime, ao contrário, exaltou o "Brasil Grande" em sucessivas reportagens ao longo da década de 1970. Nunca sofreu censura prévia oficial. A única revista da Bloch obrigada a mandar textos e fotos para Brasília foi a EleEla. O que a Manchete teve durante aqueles anos foi um "coronel" ou assemelhado que circulava informalmente pela redações e cuja função era detectar reportagens incômodas aos governos militares. Muitas matérias sucumbiram na mesa de redatores e editores. Umas poucas foram publicadas e renderam convites aos editores para visitar a sede da PF ou do DOPS. Justino Martins e o repórter Geraldo Lopes, por exemplo, entraram nessa lista. O próprio Adolpho Bloch recebeu, certa vez, um grosseiro telefonema de Armando Falcão, então ministro da Justiça, que praguejou contra uma matéria publicada na Fatos & Fotos sobre um caso policial que envolvia um agente do governo.

É justo registrar que, assim como O Globo, a Bloch abrigou - especialmente depois do AI-5 - vários jornalistas perseguidos pela ditadura e que, por isso, não conseguiam empregos em vários veículos.

O AI-5 permanece como um alerta histórico de que a democracia é tão indispensável quanto frágil.

De tempos em tempos seus inimigos apontam no horizonte.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Fotografia - Dos arquivos do fotojornalista Guina Araújo Ramos - Figueiredo, o último ditador?

Figueiredo dando pulinho. Gávea Pequena, Rio, 1983. Foto de Guina Araújo Ramos

Figueiredo ao sair do governo - Rio, 1985 - Foto Guina Araújo Ramos

por Guina Araújo Ramos (do blog Bonecos da História)

Em plena campanha presidencial de 2018, a discussão sobre os candidatos (não “entre”, que Jair Bolsonaro se recusa a participar de debates) tem mudado dos tradicionais “programas de governo” para conflitos mais radicais: Barbárie x Civilização e/ou Democracia x Ditadura.

Barbárie x Civilização, quanto ao Brasil, pode até parecer retórico, “apenas” um reflexo do terrorismo, das guerras, das ondas de refugiados, dramas que dilaceram a África, a Europa e o Oriente Médio.

Já o dilema Democracia x Ditadura, que tem raízes profundas no solo brasileiro, tornou-se tema recorrente. O motivo é mais do que sabido: o candidato Jair Bolsonaro, do PSL, os seus filhos também parlamentares, o candidato a vice-presidente, Gal. Mourão, e vários de seus correligionários, todos eles se referiram recentemente à intenção explícita de interferir no Judiciário, de desrespeitar direitos de minorias, de ameaçar os opositores de prisão ou exílio.

A defesa da tortura e a proposta de uma nova ditadura militar no Brasil, supostamente sem corrupção, aparecem em diversas falas do presidenciável. Jair Bolsonaro, sustenta seu adversário, Fernando Haddad, do PT, é uma ameaça à democracia, que também está sendo ameaçada por fake news.

Tudo isto me trouxe à mente um sisudo e autoritário Presidente da República que fotografei muito, um dito ditador, apontado até como mandante de torturas, e a pergunta: terá sido (ou será) João Figueiredo o último ditador do Brasil?...

Ao menos, sabe-se que João Figueiredo foi o último militar presidente do Brasil de uma série de presidentes militares instalados no Palácio do Planalto com o evento auto-batizado de Revolução de 1964.

O mesmo que mais tarde foi renomeado (por historiadores) para Golpe Civil-militar de 1964 (com sua consequente Ditadura, exacerbada pelo AI-5, de Dezembro de 1968) e, há pouco, “reinventado” pelo ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, através do singelo epíteto de Movimento de 1964.

Desde o início de seu mandato (Março de 1979), acompanhei algumas visitas de Figueiredo ao Rio, especialmente para a Fatos & Fotos, da Bloch Editores.

A partir de Junho de 1980, ao passar para o Jornal do Brasil, Figueiredo virou figurinha repetida nas minhas pautas... Como exemplo, os vários registros do seu desembarque, e comitiva, no setor militar do aeroporto do Galeão.

Numa solenidade tradicional, todo ano realizada na Praia Vermelha, na Urca, no Rio, registrei Figueiredo entre vários dos seus mais ministros, mais o governador Chagas Freitas e o cardeal Eugênio Câmara, no palanque das comemorações militares da assim chamada Intentona Comunista de 1935. 

A foto é sugestiva pelo detalhe de que peguei um gesto seu que pode ser remetido a uma das suas mais sugestivas frases: “Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo.”.
Sinceridade, aliás, não lhe faltava. Tanto é que deixou muitas outras frases marcantes, em entre elas um autoelogio, bem ao estilo ditatorial: “Me envaideço de ser grosso!”...

LEIA A MATÉRIA COMPLETA E VEJA MAIS FOTOS AQUI


sábado, 24 de fevereiro de 2018

Em crônica e rimas, Vinicius de Moraes pede para o Brasil sair do baixo astral... Qualquer coincidência...

Em 1965, Vinicius de Moraes era cronista da Fatos & Fotos. O Rio comemoraria 400 anos e o regime militar estava às vésperas de um triste aniversário. O primeiro da longa lista dos 21 que o país não festejaria.

Naquela semana de janeiro não havia motivos para festas e nem o  mar de Ipanema estava para poetas. A revista pediu ao cronista para fazer do Ano Novo o tema da sua página Vida e Poesia. Vinicius preferiu abrir a crônica falando sobre o ano anterior. "Ano ruim, ano safado, ano assim nunca se viu", escreveu.

Havia um baixo astral nos becos e nas praças, como agora, como nesses dias de intervenção, de Crivella, de Temer, de Moreira, A saída encontrada por Vinicius foi fazer rimas sobre desejos. 

"Que nasçam poemas, nasçam canções, nasçam filhos; e se terminem os exílios e se exerça mais  perdão. E brotem flores das dragonas militares e não mais se assuste os lares com esses tiros de canhão. Que todos se unam, se protejam, apertem os cintos; se reúnam nos recintos com esperança brasileira . E que se dê de comer a quem não come, porque o povo passa fome: e a fome é má conselheira..."

LEIA A CRÔNICA EM VERSOS DE VINICIUS DE MORAES PUBLICADA EM 9 DE JANEIRO DE 1965 NA FATOS & FOTOS N° 206. 


Clique na imagem para ampliar

domingo, 8 de outubro de 2017

Futebol: no tempo das excursões internacionais, o dia em que o Vasco ganhou do time de Di Stéfano e a histórica turnê do Madureira em Cuba...

O Vasco na Europa. Reprodução
Manchete Esportiva
por José Esmeraldo Gonçalves 

Até os anos 1960, era intensa a programação de excursões de times brasileiros de futebol à Europa.

A partir da década seguinte, essa prática tornou-se esporádica, até cair em desuso. A Manchete Esportiva costumava acompanhar essas turnês.

Aí está parte de uma matéria sobre a excursão do Vasco. Em campo, em Paris, os jogadores saúdam a torcida antes do jogo contra o Racing a quem o Vasco derrotou por 4X1. Na partida seguinte, outra vitória. Em um disputado 3X2, o Vasco venceu o Espanyol, em Barcelona.

Com um detalhe: os dois gols do adversário foram marcados por ninguém menos do que Di Stéfano.

Mas o time brasileiro que fez a turnê mais épica da história do futebol foi o Madureira.

Em 1963, sem que as madames da direita mandassem, o Madureira foi pra Cuba.

Che e o Madureira. Foto do arquivo
pessoal do ex-jogador Farah. 
Che Guevara, como bom argentino, torcedor do Rosário Central, o time da sua cidade natal, assistiu a um dos jogos.

Foram cinco partidas, sendo duas contra a seleção de Cuba. O Madura ganhou todas. De Cuba, os cariocas seguiram para a Europa, Ásia e Estados Unidos. Deram a volta ao mundo e jogaram mais de 36 partidas no que foi a maior excursão de um time brasileiro ao exterior. Não fez feio: voltou com 23 vitórias, três empates e 10 derrotas.

Em 2013, um então vice-presidente de marketing do clube, Carlos Gandola, recordou o encontro do Madureira com Che Guevara, 50 anos antes, e lançou uma camisa comemorativa que virou cult e é sucesso de vendas.

Se o Madureira fez história, o Vasco, segundo levantamento do site oficial, é um dos clubes brasileiros que mais jogou no exterior. Desde 1931, foram 72 viagens para 54 países. Algumas dessas excursões duravam mais de 60 dias. Foram 396 jogos, com 204 vitórias. O levantamento não incluiu  competições oficiais como a Libertadores.

A bola rolou, o mercado mudou. Hoje, com os principais jogadores brasileiros atuando em clubes de todo o mundo, e principalmente na Europa, as jovens promessas carimbando passaportes aos 16 anos e o calendário apertado, sumiu o interesse em ver de perto os times brasileiros.

E as excursões nunca mais foram convocadas.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Fotografia - Manchete 65 anos - A Exposição Impossível-7

A capa  da Manchete Esportiva, que produziu um
reality show fotográfico com Pelé em 1959

O script da fotonovela foi assinado por Benedito Ruy Barbosa.
As fotos são de José Castro

A fotonovela tornou-se um reality show fotográfico porque os personagens,
incluindo o Pelé, claro, eram reais. Dondinho e D. Celeste, pais de Pelé, o técnico Lula, do Santos, a dona da pensão onde Pelé morou, Dona Raimunda, viveram seus próprios papeis. 

Manchete Esportiva recriou a chegada de Pelé ao Santos.
Na foto, com o técnico Lula e o pai, Dondinho. 

O craque, tímido, diante dos ídolos do Santos.

Tensão antes de entrar em campo. 
O primeiro "treino" no Santos, segundo a fotonovela
da Manchete Esportiva
Com os demais jogadores estáticos, em pose para a foto, Pelé "domina" a bola e faz... 

...o primeiro gol (recriado) em treino no Santos

Depois da consagração no Mundial da Suécia, a volta ao Brasil. 

Em Bauru, recebeu seu primeiro presente: uma Romisetta. 

O herói da primeira Copa conquistada pelo Brasil desfila nas ruas. 
O expediente da edição especial da Manchete Esportiva.
Em 1959, Pelé era o ídolo que a Copa da Suécia revelou e o mundo consagrou.

Manchete Esportiva lançou na edição 191 um fotonovela sobre a vida de Pelé. Em cerca de 170 fotos, a revista fez, na verdade, uma superprodução com personagens reais, a maioria - já que a infância de Pelé é interpretada por pequenos figurantes -, recriando momentos decisivos da trajetória do jogador, até então.

Hoje, a fotonovela "Sua Majestade Pelé" seria chamada de reality show fotográfico. Provavelmente pioneiro na fórmula.  Estão lá os pais, Dondinho e Celeste, o irmão, Zoca, o treinador do Santos, Lula, jogadores do time, na época etc. Também foi utilizado material de fotojornalismo no trecho que mostra a chegada ao Brasil após a Copa da Suécia e um desfile em carro aberto.

A sequência de fotos publicada aqui e reproduzida de um raro exemplar da edição especial da Manchete Esportiva faz ou fazia parte do acervo fotográfico da extinta Bloch Editores, hoje desaparecido.

terça-feira, 28 de março de 2017

Manchete 65 anos: os arquivos desaparecidos da MPB e as fotos infinitas enquanto durem


Reproduções da edição especial Manchete 45 anos

No dia 23 de abril de 1952, Manchete N° 1 chegou às bancas. Em agosto de 2000, a Bloch foi à falência e a revista deixou de circular com periodicidade semanal. Ainda voltou às bancas através da Nova Bloch, uma heroica mas difícil iniciativa de um grupo de funcionários que em regime de cooperativa tentou recriá-la por um período.

Depois, quando o empresário Marcos Dvoskin adquiriu o título em leilão realizado pela Massa Falida da Bloch Editores, foram produzidas, ao longo da década de 2000, edições especiais de Carnaval realizadas por equipes experientes formadas na antiga Manchete.

A partir de hoje e nas próximas semanas, este blog se inspira nos 65 anos que a revista faria em abril e destacará, sem lei e sem ordem, apenas com o que vier à memória da ex-redação, alguns fatos e especialmente fotos que marcaram a trajetória da Manchete.

As duas fotos acima são históricas e exclusivas. São dois momentos da MPB. Infelizmente, os originais dessas imagens estariam em lugar incerto, arquivados ou destruídos em algum galpão não sabido desde que o acervo de milhões de fotos que pertenceram à Bloch foi leiloado. A lenda urbana especula que o arquivo teria sido revendido secreta e discretamente para um grupo de mídia.

Mas essa é apenas a lenda que estimula o mistério da importante memória fotográfica desaparecida.

Voltando às duas reproduções acima: a foto do alto, colorida, é menos conhecida. Manchete reuniu as principais estrelas da MPB, em 1967, em São Paulo, em pleno clima do Festival da Canção daquele ano. Estão aí reunidos Gil, Caetano, Nara, Roberto Carlos, Vandré, Nana Caymmi, MPB-4, Sidney Miller, Os Mutantes Rita Lee, Sérgio e Arnaldo Batista, Marília Medalha, Chico Buarque e Sérgio Ricardo. Infelizmente, não foi possível identificar o autor dessa bela cena então creditada à "equipe".

Já a foto em preto e branco é famosa. Foi reproduzida em livros e documentários. Foi feita em agosto do mesmo ano, 1967, pelo fotógrafo da Manchete Paulo Scheuenstuhl no terraço da casa de Vinicius de Morais, no Jardim Botânico, Rio. Grandes nomes da MPB então se reuniam para organizar um movimento de revalorização do Carnaval, especialmente das marchinhas. Aí aparecem, entre outros, Edu Lobo, Tom Jobim, Caetano, Capinam, Paulinho da Viola, Zé Keti, Francis Hime, Chico Buarque, Braguinha, Vinicius, Dircinha Batista, Torquato Neto, Eumir Deodato.

Manchete foi o único veículo cobrir aquela reunião que resultou na foto histórica.

Imagem infinita enquanto dure, como Manchete escreveu parodiando Vinicius.