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domingo, 1 de setembro de 2024

O dia em que o movimento Black Rio invadiu a Manchete

 


Fotos Antonio Rudge/Manchete

por Ed Sá

"Black Rio! Black Power!" estreia dia 5 de setembro nos cinemas. O documentário visita  um fenômeno musical e de comportamento no Rio de Janeiro dos anos 1970. O movimento Black Rio, assim denominado pela jornalista Lena Frias, começou em Caxias, na Baixada Fluminense e ganhou a cidade que então só estimulava "modas" de elite. Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicalismo, Rock Br tinham carimbo da classe média. Levou anos para que o funk se um impusesse furando a bolha social. A luta cultural e política, mas, no tempo do Black Rio,  poucos percebiam a extensão do protesto contra o racismo embutido nos bailes soul dos jovens da periferia naqueles trágicos dias da ditadura militar. 

Uma sinalização essencial do Black Rio: os negros se orgulhavam da raça e mostravam a cara para assumir a luta contra o racismo no Brasil que, infelizmente, é batalha diária até hoje.

Por volta de 1975, as redações da Rua do Russell testemunharam de perto um dos efeitos do movimento black. Simbólico, mas efeito. A Bloch contratou um contínuo - eram chamados internamente de "siris", certamente porque passavam o dia inteiro andando para frente e para trás nos corredores da editora. Eles faziam o importante tráfego interno de fotos do laboratório para a redação, conduziam lay outs para a fotcomposição, levavam ordens de serviço para a fotografia e para o transporte, traziam correspondências e jornais. Em geral não usavam uniformes, vestiam-se, digamos, com sobriedade possível. Um dia, aparece um contínuo repaginado, ganhou o óbvio apelido de "Black". Era o próprio: calças boca de sino, óculos, sapatos plataforma. Não se sabe se foi selecionado usando esse figurino contestador. Provavelmente, não, mas talvez tenha sido um pioneiro na periferia dos ambientes do jornalismo conservador brasileiro. O documentário não o cita, claro, não era artista nem compositor. Passou, como todos nós. 

Por volta de 1975, o repórter Tarlis Batista e o fotógrafo Antonio Rudge realizaram uma pauta sobre o Black Rio. Não acredito que os repórteres da Manchete frequentassem Caxias. Aposto que o Black Rio não veio à Manchete, foi o "Black" que invadiu reuniões de pauta da revista que o Adolpho Bloch vigiava de perto. 

O documentário Black Rio, dirigido por Emílio Domigos e produzido por Letícia Monte, revisita essa época. 

A equipe do documentário usou muitas fontes de pesquisa, uma delas na mídia da época. Uma dificuldade, contudo, se apresentou: os registros na mídia tradicional eram quase sempre críticos e negativos. Nenhuma surpresa.         


quinta-feira, 28 de março de 2024

O 'apartheid' estadunidense ataca a cantora Beyoncé. Racistas não aceitam que ela cante canções country

por Ed Sá 

Beyoncé em versão country irrita racistas dos Estados Unidos. Foto Divulgação.

por Clara S. Britto

Com o advento das redes sociais, o racismo se torna mais explícito nos Estados Unidos. Apesar de todas as conquistas a partir dos anos 1960 e da luta por direitos civis, o povo black continua sofrendo com ataques policiais nas ruas apenas por serem pretos e um apartheid na sociedade (como bairro, empresas, universidade e high school exclusivas para pretos). Duvida? Veja filmes e séries americanos com elenco iteiramente preto. Na maioria das produções de Hollywood, pretos não interagem com brancos.

Dessa vez, a cantora Beyoncé é o alvo. Ao lançar um álbum country, ela é detonada e ameaçada na web. O seu "crime"? Criar o 'ACT II: Cowboy Carter', que tem como tema o universo country, um segmento tão conservador que tem notas racistas e reúne os red necks do meio oeste e dos subúrbios estadunidenses. "Minha esperança é que daqui a alguns anos a menção à raça de um artista, no que se refere ao lançamento de gêneros musicais, seja irrelevante”, diz ela em resposta às agressões e até ameaças. Duas faixas do álbum divulgadas antecipadamente foram boicotadas em emissoras de rádio por progamadores que critiram a "ousadia" da cantora ao cantar um "gênero de brancos". 

O álbum será lançado amanhã. Ligue-se no Sportfy. 

Beyoncé reponde com músicas a um conflito pessoal do passado. "Anos atrás tive uma experiência ruim, não me senti acolhida. Por conta dessa experiência, mergulhei mais fundo na história da música country. As críticas que enfrentei quando entrei neste gênero me forçaram a superar as limitações que me foram impostas. O disco é o resultado de me desafiar e de dedicar meu tempo para misturar gêneros" 

Em entrevista ao progama "One American News Network", o ator e cantor country John Schneider comparou a aventura de Beyoncé no gênero a um "cão que urina para marcar o seu território", segundo o Daily Mail.

Beyoncé já havia irritado a extrema direita dos Estados Unidos ao exibir no seu show espacial no Superbowl uma coreografia que remetia claramente ao movimento Black Power, com direido à histórica saudação de punho fechado. Isso quando se sabe que a plateia do Superbowl costuma reunir "conservadores" (muitos ali são racistas e neonazistas mesmo) que até hoje lamentam ter sido derrotados na guerra civil e têm saudades da escravatura.    

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Veja trechos omitidos pela mídia neoliberal na entrevista de Lula à TIME, principalmente opiniões sobre a guerra na Ucrânia

A entrevista de Lula à revista Time é a polêmica do momento. Embora tenha afirmado ser  contra  a invasão da Ucrânia, o ex-presidente considerou Putin e Zelenski igualmente  responsáveis pela escalada do conflito. Essa segunda parte da declaração é criticada pela mídia há três dias. 

A entrevista é longa, outros pontos são ignorados. E muito importante divulgá-la para que se conheça o que Lula pensa doze anos depois de deixar o Planalto, onde governou por oito anos. 

A entrevista não é obviamente um programa de governo. No dia 7, mais conhecido como o próximo sábado, a candidatura de Lula será anunciada oficialmente. A partir da formalização, ele e equipe deverão elaborar o programa de governo, trabalho que já está em andamento. Antes disso, qut tal conhecer mais da entrevista à Time, principalmente o que não foi divulgado pela mídia conservadora? Até para conhecer outros pontos polêmicos e algo do mapa do caminho que o candidato oferecerá ao Brasil. 

Caso seja eleito e caso as eleições e a posse de fato aconteçam. 

Abaixo, destacamos alguns tópicos da entrevista. E você, se preferir, pode acessar o Blog do Esmael que publica na íntegra a matéria da revista americana. Basta clicar AQUI


A seguir, leia 13 trechos da entrevista com Lula feita pela repórter Ciara Nugent, da TIME em fins de março e publicada na mais recente edição. 

1 - Quando o Supremo Tribunal Federal restaurou seus direitos políticos no ano passado, você já estava, segundo a mídia brasileira, se preparando para uma vida mais tranquila, fora da política. Você decidiu imediatamente voltar à política quando isso aconteceu?

Eu na verdade nunca desisti da política. A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política. E eu tenho uma causa. Quando deixei a Presidência em 2010, efetivamente eu não pensava mais em ser candidato à Presidência da República. Entretanto, o que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre— todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego—, tudo isso foi destruído, desmontado. Porque as pessoas que começaram a ocupar o governo depois que deram o golpe na presidenta Dilma [Rousseff] eram pessoas que tinham o objetivo de destruir todas as conquistas que o povo brasileiro tinha obtido desde 1943.

2 -A situação do Brasil hoje — a polarização política, a economia, o panorama internacional — é muito diferente do que quando você ganhou a Presidência pela primeira vez. Não vai ser mais difícil governar desta vez?

O futebol americano tem um jogador, que aliás é casado com uma brasileira que é modelo, e que é o melhor jogador do mundo há muito tempo. A cada jogo que ele faz, a torcida fica exigindo que ele jogue melhor do que no jogo anterior. No caso da Presidência é a mesma coisa. Só tem sentido eu estar candidato à Presidência da república porque eu acredito que eu sou capaz de fazer mais e fazer melhor do que eu já fiz. Eu tenho clareza de que eu posso resolver os problemas [do Brasil]. Eu tenho a certeza de que esses problemas só serão resolvidos quando os pobres estiverem participando da economia, quando os pobres estiverem participando do orçamento, quando os pobres estiverem trabalhando, quando os pobres estiverem comendo. Isso só é possível se você tiver um governo que tenha compromisso com as pessoas mais pobres.

3 - Muitas pessoas no Brasil dizem que houve muitas encarnações do Lula, especificamente em política econômica. Qual Lula temos hoje?

Eu sou o único candidato com quem as pessoas não deveriam ter essa preocupação, porque eu já fui presidente duas vezes. E a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições. Primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que você vai fazer. Quem tiver dúvida sobre mim olhe o que aconteceu nesse país quando eu fui presidente da República: o crescimento do mercado. O Brasil tinha dois IPOs. No meu governo fizemos 250 IPOs. O Brasil devia 30 bilhões, o Brasil passou a ser credor do FMI, porque emprestamos 15 bilhões. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, o Brasil tem hoje 370 bilhões de dólares de reserva internacional. […] Então as pessoas precisam ter em conta o seguinte: ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz.

4 -Quero falar da Ucrânia. Você sempre teve orgulho de poder falar com todos—Hugo Chávez e também George Bush. Mas o mundo de hoje é muito fragmentado diplomaticamente. Quero saber se sua abordagem na diplomacia ainda funciona. Você poderia falar com Putin depois da invasão da Ucrânia?

Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema.

5 -Você acha que a OTAN foi a razão da Rússia para invadir?

Esse é o argumento que está colocado. Se tem um segredo nós não sabemos. O outro é a [possibilidade de a] Ucrânia entrar na União Europeia. Os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto!

6 -Mas acho que tentaram falar com a Rússia.

Não tentaram. As conversas foram muito poucas. Se você quer paz, você tem que ter paciência. Eles poderiam ter sentado numa mesa de negociação e passado 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução. Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério.

7 -Então se você fosse presidente neste momento, o que você faria? Você seria capaz de evitar o conflito

Eu não sei se seria capaz. Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar. Às vezes eu fico preocupado. Eu fiquei muito preocupado quando os Estados Unidos e quando a União Europeia adotaram o [Juan] Guaidó [então líder da assembleia nacional da Venezuela] como presidente do país [em 2019]. Você não brinca com democracia. O Guaidó para ser presidente da Venezuela teria que ser eleito. A burocracia não substitui a política. Na política são os dois chefes que mandam, os dois que foram eleitos pelo povo, que têm que sentar numa mesa de negociação, olho no olho, e conversar. E agora, às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ‘Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas’. Ele ficou mentindo para o seu povo. Agora, esse presidente da Ucrânia poderia ter dito: ‘Olha, vamos deixar para discutir esse negócio da OTAN e esse negócio da Europa mais para frente. Vamos primeiro conversar um pouco mais.’

8 -Então Zelensky tinha que falar mais com Putin, mesmo com 100,000 soldados russos na sua fronteira?

Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no parlamento inglês, no parlamento alemão, no parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação.

9 - Não seria um pouco difícil dizer isso a Zelensky? Ele não queria guerra, mas ela chegou.

Ele quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’

10 -O que você acha de Joe Biden?

Eu fiz até um discurso elogioso ao Biden quando ele anunciou o primeiro programa econômico dele. O problema é que não basta você anunciar um programa, é preciso executar o programa. E eu acho que o Biden está vivendo um momento difícil. E acho que ele não tomou a decisão correta nessa guerra Rússia e Ucrânia. Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. Que ele tenha interferência para que as coisas não aconteçam de forma atabalhoada. E eu acho que ele não fez.

11 -Biden deveria ter feito mais concessões a Putin?

Não. Da mesma forma que os americanos convenceram os russos a não colocar mísseis em Cuba em 1961, o Biden poderia falar: ‘Vamos conversar um pouco mais. Nós não queremos a Ucrânia na OTAN, ponto’. Não é concessão. Deixa eu lhe contar uma coisa: se eu fosse presidente da República e me oferecessem ‘o Brasil pode entrar na OTAN’, eu não ia querer.

(...) 

É urgente e é preciso a gente criar uma nova governança mundial. A ONU de hoje não representa mais nada. A ONU de hoje não é levada a sério pelos governantes. Porque cada um toma decisão sem respeitar a ONU. O Putin invadiu a Ucrânia de forma unilateral, sem consultar a ONU. Os Estados Unidos costumam invadir os países sem conversar com ninguém e sem respeitar o Conselho de Segurança. Então é preciso que a gente reconstrua a ONU, coloque mais países, envolva mais pessoas. Se a gente fizer isso, a gente começa a melhorar o mundo.

12 -No Brasil, durante a pandemia, a população negra sofreu um risco de mortalidade maior que os brancos, e uma taxa maior de desemprego também. E os problemas com a violência policial pioraram durante o governo do Bolsonaro. Você tem coisas que vai fazer para melhorar o mundo para os brasileiros negros especificamente?

Olha, eu li muito sobre a escravidão quando eu estava preso e eu às vezes tenho dificuldade de compreender o que foram 350 anos de escravidão. E eu tenho mais dificuldade de compreender que a escravidão ela está dentro da cabeça das pessoas, o preconceito está dentro da cabeça das pessoas. Aqui no Brasil, na periferia brasileira, milhares de jovens são mortos quase todo mês, todo ano. Então não é possível isso continuar. Quando eu estava na presidência nós criamos uma lei para que a história africana fosse contada na escola brasileira. Para que a gente aprendesse sobre a história africana para não ver os africanos como cidadãos inferiores. Então nós precisamos começar essa educação dentro de casa, na escola. E o Bolsonaro despertou o ódio, despertou o preconceito. Aí tem outros presidentes também na Europa, na Hungria, [que fazem o mesmo]; está aparecendo muito fascista, muito nazista no mundo.

13 -O Bolsonaro tem culpa pelo racismo hoje no Brasil ou é um país racista?

Eu não diria que ele tem culpa pelo racismo porque o racismo é crônico no Brasil. Mas ele estimula.

sábado, 10 de abril de 2021

Philip, o racismo na corte...

por José Bálsamo 

Os editores tiveram trabalho extra ao noticiar a morte de Philip, o marido de Elizabeth: procurar eufemismos. O sujeito em questão exalava racismo. Impossível negar. Tanto que O Globo, a Folha e o Estadão reuniram várias das suas declarações vulgares que "elegantemente" chamam de "gafes" e classificam de "inoportunas" e "politicamente incorretas". Um esforço para evitar a palavra que não ousaram grafar: racismo. Já o Valor teclou a palavrinha. A CNN Internacional destacou o "humor britânico". O Business Insider pontuou "a longa e degradante história de racismo" do falecido. O site Red Flag o chamou de "idiota elitista'". 

A maquiagem semântica no racismo de Philip tem origem na própria comunicação palaciana. Sem poder ocultar as declarações preconceituosas do marido da rainha, até porque quase todas aconteceram em público, os assessores, com a ajuda da BBC, adicionavam um tom cômico às grosserias e o consorte virava "espirituoso", "incorrigivel".  A esquerda britânica rebatia que incorrigível era o racismo do duque de Edimburgo. Era sempre lembrado que a família de Philip teve ligações muito próximas com nazistas. 

Em 1937, nazistas comparecem 
a enterro da irmã de Philip.
Em 1937 uma delegação de oficiais de Hitler compareceu ao funeral de uma das suas irmãs morta em acidente. Goering foi uma das presenças na cerimônia. Philip, que nasceu na Grécia e era descendente de dinamarqueses e alemães, foi fotografado ao lado dos militares, dois deles seus parentes que usavam uniformes da SS.

Não há registro de comentários de Philip sobre Meghan Markle, talvez porque já estivesse debilitado nos últimos anos. Os comentários racistas sobre a mulher de Harry, conforme ela revelou em entrevista a Oprah Winfrey, teriam partido de Anne, filha de Elizabeth. E, como ficou claro através de Meghan Markle, há algo de podre no reino dos Windsor. Chama-se racismo.


Confira algumas das "philipetas" racistas

* A um grupo de dançarinos negros: "Vocês são todos da mesma família?"'

* Ao desdenhar de uma exposição na Etiópia: "Isso parece o tipo de coisa que minha filha traria da aula de arte na escola". 

* Ao ofender aborígenes: "Vocês ainda atiram flechas uns nos outros?"'

* A um estudante que percorreu trilhas na Nova Guiné referiu-se a canibais: "Conseguiu que não te comessem"?

* A um convidado negro de uma festa em Londres: "De qual exótico lugar do mundo você procede? "Sou de Birmingham", respondeu o inglês. 

domingo, 28 de março de 2021

O vício dos símbolos nazistas e racistas

por José Esmeraldo Gonçalves

O regime bolsonarista é viciado na suástica. Cheira uma trilha de racismo e intolerância quase todo dia. Se não fosse, como explicar o uso reincidente de tantas referências fascistas, nazistas  e racistas. É uma nítida preferência. Um sujeito, membro do atual regime, penteia o cabelo e monta todo um cenário caprichado para compor seu grande discurso inspirado em frase de Goebbels. Outro, o líder supremo, encena beber um copo de leite explícito em live nacional, gesto adotado pela direita racista dos Estados Unidos. Mais um outro, o marqueteiro gomalinado do gabinete do ódio usa um gesto adotado pelos supremacistas brancos em pleno Senado Federal. Aliás, o que fazia o elemento bem ao lado do presidente do Senado? O indivíduo mostrou por duas vezes a mão direita com polegar e indicador em círculo, dedos médio, anular e mínimo esticados. Mandou o recado no palco do Congresso Nacional. Nem todo mundo entendeu, mas ele se comunicou perfeitamente com a gangue usando um gesto-símbolo adotado pelos iniciados. Os racistas amigos do  funcionário do Planalto estão rindo até hoje do deboche no Congresso. Foi o equivalente moral tupiniquim da invasão do Capitólio pelas hordas do führer Trump 

Existem muitos outros símbolos de ódio da direita terrorista americana onde esses brasileiros militantes do racismo vão buscar inspiração. Tudo isso significa muito. É uma obra em progresso que, sem espaço para dúvidas, traduz o ambiente atual. 

Os democratas vão ter que acordar e, principalmente, aprender sobre isso se quiserem sobreviver.. 

Veja aqui alguns significados e fique atento. 

- 1-11 é um numeral Cavaleiros Arianos. Substituindo letras por números 1 e 11 significam A e K, ou seja, Cavaleiros Arianos na sigla em inglês.

- 100% é branco" entre os supremacistas brancos. O 100% é usado em frase do tio "sou 100%".

- 109 - o número é uma abreviatura numérica da supremacia branca para o número de países dos quais os antissemitas afirmam que os judeus foram expulsos. Ao pedir a expulsão de judeus dos EUA, eles costumam se referir aos EUA como o 110º.

- 13/52 e 13/90 são códigos numéricos racistas usados ​​por supremacistas brancos para retratar os afro-americanos como selvagens e criminosos. Os supremacistas brancos afirmam que os negros representam apenas 13% da população dos Estados Unidos, mas cometem 52% de todos os assassinatos e 90% de todos os crimes interraciais violentos.

- 18 é um código alfanumérico de supremacia branca para Adolf Hitler (1 = A e 8 = H). 

Os neonazistas também usam símbolos gráficos. Há muitos outros, mas veja alguns a seguir: 

Logotipo do partido nazista húngaro antes da Segunda Guerra


American Identity Moviment, violenta gangue direitista americana


Da sigla em inglês "a klans man I am". Usado pelas novas gerações da Ku Klux Klan.

E quando fizer o gesto do coraçãozinho tenha cuidado. A variação acima usada pela direita neonazista significa 88. Sabe o que é 88 no dicionário supremacista? É um código para Heil Hitler. O "H" é a oitava letra do alfabeto. Captou?


sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O ano da Covid também foi marcado por duas doenças sociais: o racismo e o feminicídio

A Revista Família Tupi incluiu o Feminicídio e o Racismo entre os temas do ano. Roberto Muggiati abordou a violência contra a mulher, a partir do assassinato de Ângela Diniz... 



...e a repórter Dani Maia registrou a reação da sociedade contra o avanço do preconceito. 


Feita por revisteiros (*) ex-Manchete  para a Rádio Tupi FM, a Revista Família Tupi Especial de Natal e Ano Novo apontou como Temas do Ano o racismo e o feminicídio. 

A publicação, que foi para a gráfica no dia 7/12 e está nas bancas desde o fim de semana seguinte, chama a atenção para a incidência de crimes com essas características ao longo de 2020. 

Infelizmente, na saideira do ano, novos fatos referendam as pautas. 

No dia 9/12, durante jogo do PSG contra o Istambul Basaksehir, pela Liga dos Campeões, o quarto árbitro Sebastião Coltescu proferiu ofensa racista contra Pierre Webo, ex-jogador e atualmente auxiliar técnico do time turco. Os demais jogadores se revoltaram, interpelaram o árbitro e se retiraram de campo. Pela primeira vez na história, um jogo de futebol foi suspenso em protesto contra o racismo. A partida só foi retomada no dia seguinte. E no dia 20/12, em jogo no Maracanã,o Brasil assistiu à indignação do jogador Gerson, do Flamengo, que denunciou em campo ter sofrido ofensa racial por parte de Ramirez, jogador do Bahia. Os dois acontecimentos reacenderam na mídia a discussão sobre o racismo e o feminicídio, crimes em alta no Brasil. 

A repórter Dani Maia, ex-Contigo! e colaboradora da Família Tupi, abordou o racismo a partir dos casos George Floyd, assassinado pela polícia nos Estados Unidos, e João Alberto, o soldador morto por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre. A matéria registra a opinião de militantes do movimento negro que pedem união contra o racismo. 

O outro tema do ano apontado pela Família Tupi - o feminicídio - se evidenciou ontem de forma cruel. A juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi foi morta a facadas na frente das três filhas, na véspera do Natal. O suspeito, o ex-marido dela, o engenheiro Paulo José Arronenzi, foi preso em flagrante. Viviane estava antes sob proteção policial por ter sofrido lesão corporal e ameaças do ex-marido. A pedido de uma das filhas, que teria dito que o pai não era bandido, ela havia dispensado a escolta. 

Na noite de Natal, Thalia Ferraz, 23 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro, que está foragido.. O crime aconteceu em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. O assassino enviou mensagem pouco antes avisando a Thalia que faria uma "surpresa".

Em Recife, o sargento Ademir Tavares de Oliveira matou a tiros, também na noite de Natal, a esposa Ana Paula dos Santos. O assassino foi preso em flagrante.

A revista registra o aumento dos casos de feminicídio em 2020, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública,  e pontua o tema através de matéria sobre um caso marcante: o assassinato de Ângela Diniz, em dezembro de 1976, em Búzios, alvo de tiros desfechados no rosto pelo empresário Doca Street. O texto, assinado por Roberto Muggiati, conta que no primeiro julgamento do assassino, o seu advogado, Evandro Lins e Silva, conseguiu livrá-lo da cadeia usando o odioso argumento de "legítima defesa da honra". Na época houve protestos. Só em segundo julgamento, Doca Street, que morreu no último dia 18, foi condenado a 15 anos de prisão. 

O Brasil vive dias em que a ultradireita se manifesta nas redes sociais invariavelmente tentando minimizar esses dois tipos de crimes, às vezes até depreciando as vítimas. Neste crítico 2020, a mídia em geral teve um papel importante ao aprofundar o debate sobre racismo e feminicídio, ao dar espaço aos protestos, denunciar os crimes e expor essas graves questões. Que 2021 se mostre mais civilizado.

(*) José Esmeraldo Gonçalves, Dirley Fernandes, Sidney Ferreira, Alex Ferro, David Júnior, Tânia Athayde e Roberto Muggiati.

domingo, 14 de junho de 2020

Discriminação na internet mostra que Hitler e Mussolini adorariam ter algorítimos para chamarem de seus...

Hitler e Mussolini morreriam de inveja.

Os regimes autoritários têm hoje à disposição um arsenal digital extremamente útil aos ditadores. Reconhecimento facial, redes sociais, hackeamento, pesquisa de dados, localização geográfica etc.

Ferramentas perfeitas para caçar opositores.

A atual temporada de protestos nos Estados Unidos mostra mais uma faceta: o uso antidemocrático dos algorítimos. Institutos que medem audiências na internet identificaram anunciantes que marcam palavras como "black lives", "george floyd", "black people", "racism" etc para bloquear seus comerciais junto a sites que veiculam o conteúdo que consideram indesejado.

Não apenas apenas a comunidade negra está reclamando junto às agências de publicidade, sites jornalísticos também apontam perda de receita com a tática corporativa racista.

sábado, 13 de junho de 2020

A caça às estátuas

Foto Reprodução Twitter
por Ed Sá 

Nessa questão da derrubada das estátuas talvez caiba um meio termo. Churchill era um tremendo racista. É isso está documentado. Merece ser incomodado pelos manifestantes.

No últimos dias, as estátuas em praças não têm se preocupado apenas com os pombos. Aquelas cujo passado condena botaram as barbas de bronze de molho.

Os atuais protestos têm um lado didático elogiável indiscutível: mostrar às novas gerações quem de fato foi o "herói" britânico.

Mas cancelar Churchill da história é menos educativo do que mostrar quem foi ele.

E isso vale para outros.

O Brasil, por exemplo, tem estátuas polêmicas a literalmente a dar com o pé. Borba Gato foi um assassino, um cruel mercador de escravos. Um miliciano, um membro do PCC , se existisse na época. Os ditadores brasileiros homenageados em pontes, avenidas e até cidades comandaram os porões da tortura e dos assassinatos políticos. Há milhares de outros canalhas que poluem nossas praças, ruas e parques.

E se essas "homenagens" forem mantidas, mas reconfiguradas? Por exemplo, ao lado dos bustos e esculturas placas informam as atrocidades que as figuras em questão cometeram por baixo da história oficial.

Assim, os facínoras não seriam esquecidos, mas teriam seus crimes sempre lembrados.

Para finalizar: alguns historiadores criticam manifestações contra o racismo e defendem as estátuas-alvo. Onde vivem? Muito antes de qualquer problema ideológico contra figuras "ilustres",  o povo já destrói estátua aqui nas quebradas tropicais do Terceiro Mundo. No caso, para afanar o valioso bronze dos monumentos.

Que nos desculpe a Velha Albion, mas nessa o Brasil saiu na frente.

domingo, 12 de abril de 2020

Jornalistas do SBT repudiam apresentador, vulgo "Marcão do Povo", que sugere campos de concentração para pessoas com coronavírus

O repórter Gabriel Vaquer obteve com exclusividade para o UOL carta escrita por jornalistas do SBT e enviada à direção do canal em repúdio às declarações do apresentador "Marcão do Povo", do programa "Primeiro Impacto", que sugeriu a instalação de "campos de concentração" para pessoas que estivessem com o coronavírus.
Os jornalistas querem que "Marcão" seja dispensado da emissora após os 15 dias de suspensão que foram impostos a ele.
Esse "Marcão" é o mesmo que é alvo de processo por racismo movido pela cantora Ludmila, a quem chamou de "macaca". Na época, o apresentador era da Record, que após a repercussão da ofensa o demitiu.
Não se conhece a reação de Silvio Santos, que está ausente. E não se sabe se dará importância ao fato.
Além de achar que um instrumento nazista é adequado para o combate á pandemia, o tal Marcão parece ser do time que minimiza o coronavírus. Os colegas o acusam de por a redação em perigo por não seguir as recomendações de higiene recomendadas pela Organização Mundial da Saúde.
Leia no UOL a carta na íntegra AQUI

quinta-feira, 12 de março de 2020

No Whatsapp: grupo de jornalistas fazia ofensas racistas aos colegas negros. Foi na redação da Rede Record em Brasília. Crise provocou demissão de diretor

Daniel Castro, do Notícias da TV (UOL) expôs a crise que abalou a Rede Record, mais precisamente a redação de Brasília. A origem do problema foi um grupo no Whatsapp, sugestivamente chamado de "Resistência",  mantido por quatro jornalistas, que era usado para difundir ofensas racistas dirigidas ao funcionários negros da emissora. A facção preconceituosa comparava, por exemplo, lábios de colega a ânus e chamava outro de "macaco", segundo o NTV. Descoberta, a milícia do deboche foi demitida. Mas, segundo Daniel Castro apurou, o diretor de Jornalismo em Brasília, João Beltrão foi contra a demissão dos racistas e tentou protegê-los. Antonio Guerreiro, vice-presidente de Jornalismo da Record, demitiu Beltrão. A nota não revela os nomes dos jornalistas autores das ofensas no grupo "Resistência". Cujo nome já revela que o preconceito, para os envolvidos, não é acaso, é causa. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Liga Antidifamação denuncia: sinal de "OK" (nos Estados Unidos) virou gesto racista

Racista americano faz o "OK", agora gesto
de ódio. Reprodução Twitter
O gesto que simboliza o "OK" geralmente visto no cinema americano sempre foi controverso no Brasil.

Aqui, mostrar para alguém a mão aberta com apenas o indicador e o polegar juntos em círculo é ofensa, uma espécie de tradução do "vtc" em linguagem de sinais. Lá, sinalizava um "tudo bem".

Pois o "OK" à americana acaba de ser proscrito nos Estados Unidos. Foi anexado pela Liga Antidifamação à lista de símbolos racistas agora que supremacistas brancos se apropriaram do gesto.

A decisão da ADL, na sigla em inglês (Anti-Defamation League), deve levar as redes sociais a eliminarem o "OK" das galerias de emojis. O que não vai afetar os internautas brasileiros.

Pelo motivo apontado, usa-se aqui o polegar para cima, o popular "joinha", como símbolo afirmativo.

Os supremacistas brancos também adotam um sinal que pode ser confundido aqui com aquele "coração" formado pelas duas mãos juntas muito comum em estádios. Com pequena diferença de posição dos dedos, os racistas formam o "88". Para eles, o número é código para "Heil Hitler" e refere-se ao "H", a oitava letra do alfabeto.

No site oficial da Liga estão relacionados dezenas de símbolos de ódio.

Veja AQUI

quinta-feira, 9 de maio de 2019

BBC demite apresentador racista que comparou o filho de Harry e Meghan a um chimpanzé

Harry e Meghan, ao lado da mãe dela, Doria, apresentam o bebê Archie aos bisavós Rainha Elizabeth e  Príncipe Philip.
Foto  Sussex Royal/Divulgação 
A BBC demitiu sumariamente, por telefone, o apresentador de rádio Danny Baker. Ele publicou uma mensagem racista sobre o nascimento do bebê de Meghan Markle e do príncipe Harry usando a foto de um chimpanzé em alusão à ascendência da Duquesa de Sussex, cuja mãe, Doria Ragland, é negra.

O título da postagem:"Bebê real deixa o hospital".

O bebê Archie Harrison Mountbatten-Windsor é o sétimo na linha de sucessão da coroa britânica.

Veja abaixo o tuíte, que já foi deletado do aplicativo, com a imediata e justa punição do apresentado racista. A mensagem odiosa foi condenada por muitos dos 500 mil seguidores de Baker.



domingo, 10 de fevereiro de 2019

Diretora da Vogue faz festa na Bahia e rede social vê racismo em noite temática de sinhás e mucamas

Donata Meireles, diretora da Vogue Brasil, em modelito sinhá&mucamas. Reprodução Instagram
Repercute nas redes sociais uma bizarra festa de aniversário de Donata Meireles, que acumula o ofício de socialite com o de diretora da Revista Vogue Brasil.

Tão logo começaram a circular na web, as fotos da festa dos 50 anos da Meireles provocaram reações. O regabofe parecia ter o Brasil Colônia como "conceito", como costumam rotular os marqueteiros. Se Debret fosse convidado para a festa, realizada no Palácio da Aclamação, em Salvador, teria se sentido à vontade entre suas fontes de inspiração: só faltou o pelourinho, havia "mucamas", "sinhás", tronos e abanadores.

Como lembrancinha da volta ao passado, convidados posavam em tronos ao lado de "escravas". Aniversariante e convivas talvez esperassem likes e carinhas alegres a enfeitar as postagens rede social afora. Foi aí que entrou areia no coco e o acarajé passou do ponto. O bombardeio foi de críticas que assinalaram teor "racista' da badalação. A aniversariante pediu desculpas. se "causamos uma impressão diferente". Taoquei, mas entre mucamas, abanadores e tronos, que impressão deveria ser passada?

Houve quem gostasse. Segundo a colunista Paula Saldanha, do site GPSLifetime, "a brasilidade vibrou" na noite e "quem embalou os convidados foi o nativo Caetano Veloso". A coluna não informa se Caetano cantou "eu sou neguinha".


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Afanaram a Libertadores

O jornal espanhol Mundo Desportivo usou um termo de orgiem africana - quilombo - para definir a chegada de River Plate e Boca Juniors a Madri. No Brasil, a palavra quilombo tem hoje conotação positiva e lembra a resistência dos negros durante a escravidão. Na tradução racista da Espanha, quilombo significa desordem, prostíbulo, lugar de devassidão. 

por Niko Bolontrin

O futebol sul-americano já está em nítida decadência e tenta resistir mesmo sufocado pela força do euro que leva craques, futuros craques e promessas de craques.

A Conmebol resolveu ajudar esse processo de desintegração levando a final da Libertadores para o estádio do Real Madri. O interesse é, claro, apenas financeiro, o resto é desculpa. Para isso, a entidade atropela os direitos do River Plate, do Boca Juniors e dos torcedores, a maioria, que não pertencem a facções e gostariam de ver seus times jogarem a decisão.

Se tumulto em futebol implicasse em levar jogo de um continente para outro a França jamais voltaria a sediar uma Copa do Mundo. Lá, em 1998, houve graves tumultos que causaram até a morte de um policial.

Agora mesmo, na Liga das Nações de 2018, houve quebra-quebra nos jogos Inglaterra X Espanha e Inglaterra X Eslováquia. E a Inglaterra deve se candidatar a sediar a Copa de 2030.

Recentemente, o site Red Bull listou as cinco torcidas mais perigosas do mundo. A primeira é inglesa, do Milwall Bushwackers, temida em todo o Reino Unido. A segunda é a UltrAslan, do Galatasaray, da Turquia. O lema deles ao receber adversários em Istambul é "bem-vindo a inferno". A terceira torcida mais violenta do mundo é La Doce, do Boca Juniors. Mas entre os barra-bravas, como são conhecidas as torcidas organizadas na Argentina, há vários outros grupos perigosos. A quarta torcida de alto risco e a do Estrela Vermelha, da Sérvia. Para complicar, são nacionalistas radicais e racistas. A quinta torcida mais intolerante é a do Lazio, clube italiano que foi ligado ao fascismo. São agressivos, racistas e levam suásticas para os estádios. Na Espanha, no começo deste ano, um policial morreu durante briga de torcedores do Athletc de Bilbao e Spartak de Moscou.

Mesmo assim, a Fifa e a UEFA não pensam em levar decisões europeias para o Butão.

A Conmebol leva Boca x River Plate para a Espanha por um motivo simples: viu nos condenáveis acontecimentos de Buenos Aires uma oportunidade de faturar alguma grana ou ouviu a irresistível conversa de empresários sortudos. Ou caiu infantilmente na conversa de Gianni Infantino, o presidente da Fifa, que não bate prego sem estopa. Só isso.

ATUALIZAÇÃO EM 02/12/2018 - O River Plate e o Boca Juniors se recusam oficialmente a jogar a final da Libertadores em Madri. Demonstram mais bom senso e respeito às suas torcidas do que a Fifa e a Conmebol com a estranha e nada transparente decisão de levar um dos mais históricos clássicos da América do Sul para a Europa. Aguarda-se a reação dos cartolas. Se, mesmo assim, o jogo se realizar, espera-se que depois de um dos tumultos que envolvem com frequência torcidas de clubes europeus em brigas e demonstrações de racismo, a Fifa traga para a América do Sul um dos seus jogos ameaçados por hooligans. A lamentar que boa parte da mídia esportiva brasileira declarou-se em colunas e mesas redondos a favor da exótica decisão da Conmebol e da Fifa. Esses coleguinhas acabam de ganhar o troféu Vira-Lata, com direito a beijar as mãos dos cartolões Gianni Infantino e Alejandro Dominguez. 

terça-feira, 3 de julho de 2018

Empresas que apoiaram "influenciador" que publicou post racista fazem mea culpa

Nos últimos anos, "influenciadores" das redes sociais e seus milhões de seguidores passaram a disputar com outros meios anunciantes de peso. Não foram poucas as marcas que trocaram revistas impressas por youtubers, blogueiras, celebridades em geral capazes de atrair enormes audiências. Uma sucessão de incidentes racistas, homofóbicos, de preconceito social, religioso, ideológico, etário, contra pessoas com deficiência, imigrantes, entre outras demonstrações de agressiva rejeição à diversidade, mostra que, muitas vezes, a maioria dessas empresas não tem a menor ideia de onde sua marca vai parar. Casos recentes demonstram que pode ser em depósito de lixo moral. Comparando: é como se o anunciante não se preocupasse com o entorno e colocasse o outdoor que vende seu produto bem no meio de um esgoto ou no alto de uma montanha de aterro sanitário.

O youtuber Júlio Cocielo fez um comentário racista sobre o jogador francês e um dos destaques da Copa do Mundo Kylian Mbappé. Após repercussão na web, várias marcas, entre aquelas que veicularam campanhas no veículo das ofensas (Coca Cola, Adidas, Submarino, Itaú, McDonald's, Gilette) anunciaram cancelamentos de patrocínio. Antes tarde...


Mas é surpreendente que nenhuma dessas marcas - até que o caso Mbappé chocou as redes sociais - tenha se preocupados em verificar, com alguns cliques, os conteúdos do Cocielo. Não se pode acusá-lo de disfarçar. As demonstrações de racismo estão lá, claras e contundentes. Só não viu o anunciante que não quis ou, pior, gostou. Mesmo com seu histórico, o youtuber virou queridinho e foi convidado para atuar no "Pânico na Band", em teatro e em filmes como "Os Penetras 2", produzido pela Conspiração e Globo Filmes, onde interpretou a ele mesmo.

Segundo a Carta Capital, depois da polêmica Mbappé, o autor do post racista correu para apagar quase 50 mil outras mensagens semelhantes.

Na maioria das vezes racistas ficam impunes, a condenação só vem quando instituições, empresas e anunciantes despertam para a consciência social e de cidadania  - e, claro, temem as consequências da repercussão nas redes sociais, como eventuais riscos de boicotes a produtos e marcas - e param de beneficiar canais de ódio.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Childish Gambino em "This is America": um clipe denuncia racismo, violência e os estereótipos do rap. Tudo isso junto quebra a internet e agita o país do Tio Trump



Reproduções You Tube

Em pouco mais de 24 horas, um vídeo lançado pelo rapper, cantor de soul e comediante Childish Gambino (nome artístico de Donald Glover) acumulou mais de 18 milhões de visualizações. O clipe "This is America" ganhou elogios da crítica, é considerado um dos melhores de 2018, e há quem o veja tão antológico quanto o célebre "Thriller", mas ao contrário da fantasia de Michael Jackson este é uma guerrilha satírica bem real com um certo clima de Black Panther, não o filme, o movimento revolucionário dos anos 1960.

Gambino detona a violência armada, o racismo, a ostentação de carrões e correntes de ouro por artistas blacks e outros estereótipos do rap. Tudo isso em um grande cenário - um armazém onde acontece um motim - e embalado por vistosa coreografia.

O rapper abusa das poses grotescas, caretas, gestos caricaturais e estereotipados e, para quem vê o clipe, é bom não se distrair com isso: ao fundo acontecem cenas que compõem  a fuzilaria irônica em tempos fascistas do tipo "America Great Again".

O rapper também atira contra a forma como a polícia vê os negros - o que seria uma referência ao assassinato de Stephon Clark, morto por um "cop" que viu uma arma na mão da vítima quando era apenas um iPhone -, remete ao movimento Black Lives Matter e lança frases como "Você é apenas um homem negro neste mundo / Você é apenas um código de barras".

Donald Glover é um artista multimídia: além de rapper, é roteirista do seriado 3D Rock e criou e atuou no seriado Atlanta, com o qual ganhou dois Emmys, de Melhor Diretor e Melhor Ator.

VEJA O VÍDEO DE "THIS IS AMERICA", CLIQUE AQUI

quinta-feira, 15 de março de 2018

Revista National Geographic pede desculpas por racismo histórico. Jornalismo brasileiro também deve retratação


por José Esmeraldo Gonçalves 

"Durante décadas, nossa cobertura era racista". Na mais recente edição da National Geographic, a matéria de capa é um pedido de desculpas. A revista reconhece que o jornalismo que praticou durante décadas foi racista e, até a década de 1970 (a NG foi criada em 1888) praticamente ignorou "pessoas de cor". Quando apareciam em matérias realizadas no continente africano, eram classificadas como "exóticas". O mesmo rótulo era, a propósito, aplicado aos índios brasileiros.

Para edição em que faz a retratação histórica, a National Geographic contratou um estudioso da Fotografia, John Edwin Mason, professor da Universidade da Virgínia, que mergulhou na coleção da revista para identificar manifestações racistas explícitas e ilustradas. Não raro, populações "exóticas", como os aborígenes australianos, eram citados em reportagens como de "menor grau de inteligência".

A capa da National Geographic retrata o pedido de desculpas tardio mas importante. As duas meninas são gêmeas birraciais. A chamada de capa - Black and White, com as palavras trocado de lugar - é igualmente simbólica.

As coleções de jornais e revistas brasileiros também guardam manifestações racistas, étnicas ou sociais. Não há registro de um levantamento minucioso do jornalismo do passado. E, muito menos, a expectativa de que algum veículo replique aqui, hoje, o gesto da  National Geographic. Durante décadas, os negros brasileiros frequentavam apenas as páginas policiais. Índios vendiam revistas, muitas vezes, pelo enfoque "exótico". As revistas de moda ignoravam modelos negras. Para a publicidade, o Brasil era um país caucasiano.
Uma das raras capas com uma negra: Ruth de Souza na Manchete em 1953,... 

...mas a mesma Manchete foi capaz de publicar o título racista acima.

A Manchete, embora tenha sido, provavelmente, a primeira grande revista a publicar uma capa com uma negra - a atriz Ruth de Souza, em 1953 -, também foi capaz de produzir uma matéria sobre um casamento interracial - o noivo era o jogador Escurinho, do Fluminense - e destacar um título que é um exemplo de racismo: "Quem ama o preto bonito lhe parece".

O Cruzeiro: a criminalização das religiões de origem afro. 

O Cruzeiro, em outro exemplo, focalizava manifestações religiosas de origem afro como rituais criminosos.

Em tempos mais recentes ainda era comum em algumas redações, ao se discutir eventual capa com personagem negro em evidência, alguém lançar a dúvida às vezes seguida de gesto (o dedo indicador tocando o pulso) que questionava a pele. Sem falar no bordão inspirado na publicidade e que estigmatizava metade da população brasileira: "Negro não vende".

O jornalismo ainda deve muita retratação.

Para ver a matéria da National Geographic, clique AQUI  

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Apresentadora de TV é afastada por gritar ofensas racistas


Robin Cross, do canal WSVN-Channel 7, armou um barraco com um vizinho, em Fort Lauderdale, Flórida. Em meio à discussão sobre um carro estacionado na frente da sua casa, apresentadora
dispara ofensas racistas.

Detalhe: o vizinho é branco. Ao xingar o homem, Cross (na foto) diz que o filho dele namora uma "fucking nigger".

O vídeo foi divulgado em redes sociais e  a emissora suspendeu a funcionária enquanto apura o episódio. A julgar pelo vídeo, não há muito o que apurar. Qualquer semelhança...

VEJA O VÍDEO AQUI

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Instituto Rio Branco admite pela primeira vez uma diplomata negra. E a instituição existe há 73 anos...

Reprodução/Site Fala Piauí
Luana Alessandra Roeder, 28 anos, abandonada ao nascer na Maternidade Dona Evangelina Rosa, em Teresina, e posteriormente adotada pela agrônoma alemã Reinhild Roeder - que morava na praia de Barra Grande, litoral do Piauí - cursou Relações Exteriores na Universidade de Brasília.

No último dia 15, ela tomou posse no Itamaraty depois de aprovada no concurso público do Instituto Rio Branco.  O site Fala Piauí celebra a conquista da jovem piauiense.

O primeiro embaixador negro foi Benedicto Fonseca Filho, nomeado pelo ministro Celso Amorim, apenas em 2010. O Itamaraty empreende, hoje, ações afirmativas e fornece bolsas para afrodescendentes, mas, ao longo da sua história, acumulou episódios de racismo.

O ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, já revelou uma anotação no relatório do seu exame psicotécnico, quando fez concurso em 1980: “tem uma auto-imagem negativa, que pode parcialmente ter
origem na sua condição de colored”, escreveu o avaliador. E na entrevista com diplomatas, Barbosa ganhou um "regular" no quesito "aparência". Parte dessas informações estão no estudo "Da exclusão à inclusão consentidas: negros e mulheres na diplomacia brasileira", de Karla Gobo.

Luana é a primeira negra diplomata do Itamaraty, embora o Rio Branco tenha sido fundado em 1945, e chega 100 anos depois da primeira mulher, branca, diplomata, nomeada em 1918. Registre-se que depois disso o Itamaraty fechou as portas às mulheres: a segunda diplomata branca só assumiu um cargo em 1953, por força de um mandato de segurança.

Luana ganha o direito de representar o Brasil no ano em que serão comemorados os 518 anos do Descobrimento, os 198 de Independência e os 130 anos da Lei Áurea.

O site do Instituto Rio Branco ainda não registrou no seu canal de notícias a nomeação da primeira mulher negra.

sábado, 23 de dezembro de 2017

"The Crown" na vida real: racismo no almoço de Natal da família real britânica

A princesa Michael of Kent, com o broche que retrata uma escrava africana. Ela escolheu a joia
para ir ao almoço de Natal onde estava presente Meghan Markle, futura
mulher do príncipe Harry, que é filha de uma afro-americana. Foto: Reprodução The Guardian


por Jean-Paul Lagarride

Não demorou muito e uma integrante periférica da família real britânica mostrou seu veneno. A princesa Michael of Kent, casada com um primo da rainha Elizabeth, tirou da caixa um broche com efígie de uma escrava africava e levou o adereço para o almoço de Natal no Palácio de Buckingham. 

Quem tem visto a série The Crown, no Netflix, já percebeu que nada no reino dos Windsor acontece por acaso, nem as formalidades e muito menos os barracos À mesa estava a futura mulher do príncipe Harry, Meghan Markle (na capa da Vanity Fair, ao lado), que é filha de pai branco e mãe afro-americana. 

Diante da repercussão, a princesa Michael de Kent pediu desculpas, mas seu recado já estava dado. O tipo de joia que ela usou já é há muito tempo visto no Reino Unido, por parte da sociedade, como inconveniente por representar o que era antigamente uma demonstração de "orgulho" diante do sangrento e cruel  império colonial: a submissão de uma raça conquistada por uma etnia "superior".