quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Do blog do Juca Kfouri: o drama dos demitidos da Abril...



(por Juca Kfoury/UOL)

Segundo a edição de 13 de setembro de 2016 da revista Exame, da Editora Abril, os três irmãos Civita — Gianca, Titi e Roberta — acumulavam uma fortuna de US$ 3,3 bilhões.

Hoje, a empresa, em recuperação judicial, deve cerca de R$ 110 milhões a 800 funcionários demitidos quando a Abril já havia decidido pedir a recuperação judicial.

Mas apesar da quantia ser irrisória diante da fortuna dos três irmãos (mais de 10 bilhões em reais), eles optaram por transformar os demitidos em credores também à espera da aceitação, na Justiça, do acordo de recuperação judicial.

Como se os trabalhadores fossem os bancos ou fornecedores, para os quais a empresa deve R$ 1,6 bilhão. A desfaçatez e...

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E VISITE NO YOU TUBE O CANAL "VÍTIMAS DA ABRIL", AQUI

Jornalistas & Cia: Justiça nega liminar contra foto em bloco carnavalesco...


Reprodução de Jornalistas & Cia. Edição 1184.

Oi, mamãe, sou eu, o homem de Marlboro...



por O.V.Pochê

Os brutos também sonham. Nem filósofo, nem ideólogo, nem embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A pose nada espontânea de Olavo de Carvalho, o guru do novo governo, que circula no twitter, mostra que o seu desejo mais cultivado é ser o modelo Eric Lawson, o Homem de Marlboro da propaganda dos anos 1970.


A crise dos jornais impressos é de conteúdo...



por Eduardo Tessler (para o Meio & Mensagem

Não há encontro internacional de jornalismo em que não se cite o The New York Times como exemplo de um meio tradicional que soube se reinventar. São tantos os acertos e a quantidade de casos de sucesso, que fica quase impossível falar de inovação em meios de comunicação sem falar da “Velha Senhora”, com seus mais de 160 anos de idade.

Mas atenção: nem mesmo o “benchmark” mais conhecido do mundo conseguiu promover a virada estratégica, ou seja, passar a ter mais receitas originadas no Digital do que no Papel. Mais de 50% do dinheiro que paga as contas do The NYT ainda vem das páginas do impresso. A mudança importante, porém, veio da fonte de recursos, não da plataforma: mais de 60% das receitas chegam por investimento da audiência e menos de 30% de publicidade. Isso quebra a lógica perversa que mantinha as empresas de comunicação pelo mundo.

A dependência da publicidade, ainda realidade em 99% dos meios de comunicação do Brasil, tem riscos enormes. Pior, se o anunciante for governo – como é habitual em cidades pequenas – a separação Igreja/Estado costuma não funcionar. E a qualidade do conteúdo, ao fim e ao cabo o maior ativo de uma empresa de comunicação, vai por água abaixo.

A estratégia do The NYT é simples – e pode ser copiada por qualquer meio de comunicação: o conteúdo publicado nas plataformas disponíveis (impresso, digital, podcast, vídeos, redes sociais) precisa ser ótimo. Precisa ter muita qualidade. Precisa ser tão bom (e exclusivo) que uma pessoa pagaria para recebê-lo. Simples assim. É claro que qualidade custa caro. E boa opinião também. Mas não há como vender conteúdo commodity ou opinião “meia-boca”. Isso não tem valor algum.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO MEIO & MENSAGEM AQUI

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

El País Brasil mostra que jornalismo não morreu. Alguns veículos tradicionais é que parecem estar em coma



O site de notícias El País Brasil informa que, segundo a plataforma Chartbeat, que afere audiência global na internet, a entrevista exclusiva com o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, assinada pelo repórter Gil Alessi e publicada no El País em março deste ano foi uma das que mais gerou engajamento nas redes sociais em todo o mundo. Cerca de 60 milhões de textos foram analisados e a citada entrevista ficou entre as 100 reportagens mais lidas no mundo.

Ainda segundo o Chartbeat, a notícia da morte do chef Anthony Bourdain, publicada no site da CNN, foi a que mais mobilizou as redes, seguida por um artigo anônimo no The New York Times sobre a administração do presidente Donald Trump. Em terceiro colocado ficou o blog da BBC sobre o Brexit.

Outros sites em língua portuguesa foram citados, mas não classificados, por notícias - e não por matérias exclusivas - sobre as últimas eleições brasileiras

Isso diz alguma coisa sobre a nossa velha mídia. Dançou nessa. E os motivos são os mais variados: em função de demissões em massa, comprometimento político, partidarismo, "reformulações" mal sucedidas e em série ou simples apatia jornalística, como em um caso desses, o do Nem, muitos veículos acabam comento pratos de moscas al dente.

A boa notícia é que, além do El País Brasil e de portais de notícias como BBC Brasil, DW Brasil, The Intercept Brasil, entre outros, com redações brasileiras de peso que produzem alternativas indispensáveis, a Agência Pública, especializada em fast checking, amplia sua equipe para produzir mais reportagens investigativas de interesse público e, principalmente, sobre temas mais sensíveis e menos presentes na grande mídia, que tem lá seus fortes interesses empresariais, partidários e ideológicos a influenciar pautas.

2019 é um ano crucial para o Brasil. O jornalismo não pode faltar à democracia. 

Deu no Guardian - Brasil X Venezuela: vem aí a nova "guerra dos farrapos"




The Guardian de ontem noticia que o Brasil pode ir à guerra.

O novo governo brasileiro, de extrema direita, como o jornal inglês e a mídia internacional classificam, já esticou a corda em relação à Venezuela. O assunto tem sido discutido com altos funcionários do governo americano que, caso venha a intervenção militar, preferiria Brasíl e Colômbia na linha de frente.

Em entrevista ao correspondente do Guardian para a América do Sul, Tom Phillips, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, declarou-se um "guerreiro da paz", mas avisa  que pode mobilizar 1,6 milhões de combatentes e que "invasores não sairão vivos".

Se a guerra virá, quien sabe, mas alguns "falcões" brasileiros, melhor dizendo, "gaviões", estão com a faca no bico.

De qualquer forma, o "Platoon" brasileiro não tem data para estrear e o Dia D da invasão das forças que Maduro chama de "imperialistas" ainda não está marcado.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Marketing - Sobrou para João Paulo II - O "João de Deus" de Abadiânia abusa da marca papal

por José Esmeraldo Gonçalves 

O escândalo sexual que envolve João Faria, o curandeiro de Abadiânia, joga no limbo, junto com sua reputação, a marca "João de Deus" da qual ele se apropriou.

Sobrou então para a imagem de Karol Wojtyla, que eleito Papa adotou o título de João Paulo II e, ao visitar o Brasil pela primeira vez, em julho de 1980, ganhou o apelido de João de Deus.

A expressão que virou marca foi criada pelo maestro e compositor Paulo Roberto, autor da música "A Benção, João de Deus", a pedido dos organizadores da visita. A letra e melodia fácil foram rapidamente assimiladas pelas multidões que o Papa reuniu nas capitais brasileiras por onde passou.



As revistas Manchete, Fatos & Fotos, e as várias edições especiais adotaram nos textos a forma popularizada João de Deus - que era um achado e comunicava muito melhor do que o Karol Wojtyla, por exemplo -, e a divulgaram nos milhões de exemplares que circularam durante e depois do tour papal. Em uma delas, a "edição histórica", o João de Deus estreou como chamada de capa.

A propósito, a redação apelidava aquelas edições de "Papão", por utilizarem formato maior do que o standard das semanais. O jargão interno, desde então, passou a denominar certos números extras: viriam nos anos seguintes o "papão" do Tancredo, o "papão" do Cazuza, o "papão" do Senna, o "papão" do Tom Jobim etc.

Em outubro de 1980, Fluminense e Vasco decidiam no Maracanã lotado o primeiro turno do  Campeonato Carioca, então Taça João Baptista Coelho Netto - "Preguinho". O jogo estava empatado, e foi para os pênaltis. Alguns torcedores do Flu começaram a cantar a canção-chiclete do ano: "a benção, João de Deus, nosso povo te abraça...". A arquibancada tricolor fez coro, os vascaínos Dudu e Orlando Lelé perderam suas cobranças e a música pé-quente virou uma espécie de segundo "hino" do clube. Naquele ano, o Fluminense ganhou também o turno final, sobre o mesmo Vasco, e foi o campeão carioca, com direito à mesma trilha sonora.

Se você digitar João de Deus no Google, hoje, nem o Papa João Paulo II e nem o Fluminense aparecem nas primeiras páginas da pesquisa. Só dá o "João de Deus" de Abadiânia e os chocantes depoimentos de mais de 300 mulheres que o acusam de estupro, assédio e abusos sexuais.

A marca original João de Deus tornou-se vítima, também, de abuso. Foi tecnicamente estuprada.

Digamos que seu apelo mercadológico está definitivamente contaminado para os católicos, a torcida do Fluminense e o Vaticano.


Um último revival: em 1980, pra variar, o Brasil vivia uma grave crise econômica que se refletia no consumo de revistas em geral. A visita do Papa João Paulo II foi o milagre que a Bloch pediu.

Naquele ano difícil, a circulação das edições subiu aos céus e ajudou a salvar empregos.

Manchete retribuiu agradecida: no final de 1980, João de Deus foi escolhido o Homem do Ano.

E a Bloch pediu a benção a João de Deus. O do Vaticano.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Memória da propaganda: Em 1962, o Natal do consumo antes da crise...

O sonho de consumo. 

Os brinquedos analógicos, ainda quase artesanais. 

A anúncio da Coca-Cola apelando para Deus às vésperas de um ano de crises..

O presente de Natal da Seleções

Calça Lee nem pensar: o dólar alto deixava o sonho pra depois. O Brasil vestia Far-West.


A Varig oferecia o trenó aéreo para um White Christmas em Nova York.

Em 1962, o Brasil curtia um Natal de consumo marcado pela onda de industrialização que JK acelerou. O mineiro já não era presidente, mas os resultados da sua política repercutiam na mídia, que também se modernizava, e estavam nas páginas das revistas que passaram a receber centenas de páginas de anúncios.
Apesar do otimismo que a propaganda refletia, 1962 antecedeu uma ano de crise
econômica e política.
Pelo menos um dos anúncios - o da Coca Cola - apelava para Deus segurar a barra no Ano Novo que despontava. Não deu. A crise tornou-se aguda e acabou em golpe militar. 1963 foi último ano integralmente democrático antes da longa noite a partir de 1964 e que só começaria a clarear em 1985.

Design: revista sufoca cantora com uma tonelada de chamadas de capa. O caso é de assédio gráfico

Reprodução Instagram

por Flávio Sépia 

Até encontrar sua linguagem, um novo meio de comunicação que surge tende a utilizar o modelo anterior. Aconteceu com o rádio e a TV, por exemplo.

Já o alcance avassalador da internet parece provocar um efeito contrário. O impacto do digital foi recebido pelos meios impressos como um soco do Mike Tyson e desmentiu o "dogma" acima. Em vez de imitar o impresso ou a TV, a internet invadiu a aldeia impondo sua própria linguagem.

Em princípio, nocauteou os donos do pedaço.

Pouco mais de quinze anos depois da primeira onda que deu um "caldo" geral no mercado, há veículos impressos que encontraram melhores soluções de conteúdo e designs, explorando combinações editoriais gráficas que funcionam bem em plataformas físicas, ou seja, no papel, e não rendem integralmente nas telinhas dos smartphones. Textos maiores, analíticos, reportagens mais completas, aproveitamento de fotos abertas, permanência etc, são fatores que se desenvolveram sem impedir que jornais e revistas mantivessem suas versões impressas e digitais em sintonia com seus respectivos públicos.

Esses são os acertos que o mercado registra e que deram sobrevida a muitos veículos. Mas são muito mais comuns os erros que, afinal, sem desconsiderar outros fatores, acabaram extinguindo milhares de impressos todo o mundo.

Um erro comum é, por exemplo, um jornal ou revista impressos tentarem imitar conteúdo e design das redes sociais na esperança de descolar uma parcela de leitores dos influencers ou se inspirar em temas virais ou memes que "quebraram" a internet. E tome de assuntos "fofos", superficiais, incompletos ou mera clonagem e repetição de temas "chupados" da rede. Render-se ou se aliar ao "inimigo" que imagina não pode vencer equivale a tirar o time de campo. E foi o que muitos fizeram..

No Brasil, o problema tem sido mais grave. A concentração de empresas do setor e o baixo índice de leitura da população agravaram o quadro. Em países desenvolvidos, especialmente na Europa, é bem maior o número de jornais e revistas impressos que sobrevivem, apesar das dificuldades.

Um das características da web é a profusão infinitesimal de assuntos. Uma avalanche que confunde e cansa quem não consegue usar seus cliques para selecionar melhor leitura. Pois tentar atropelar o leitor com um caminhão de informações é a falha mais comum no impresso, estimulada pela busca desesperada para imitar o digital.

Até aqui não tem dado certo. O caminho da sobrevivência parece apontar para diferenciais mais inteligentes.

Algo que faltou ao editor da "First for women", vítima fatal de overdose. Incapaz de selecionar as chamadas de capa mais relevantes, ele resolveu o problema da maneira mais cômoda: "Bota tudo aí!"

O site Blue Bus, que reproduziu o resultado final que aprisionou a cantora norte-americana Reba McEntire, definiu a capa acima "o pesadelo da qualquer designer"

Quanto à cantora convidada para ser a capa da edição, passa bem e sobreviveu ao assédio gráfico em massa de letras e cores. 

Igrejas hi tech: aplicativos em lugar de templos

por Ed Sá

Nos Estados Unidos e Canadá, igrejas estão oferecendo aplicativos para os fieis acessarem cultos em streaming. Trata-se de um recurso de marketing digital para atrair as pessoas que acham "exaustivo" se deslocar até ao templos, enfrentar trânsito, mau tempo e aglomerações.

Na igreja via app há sermões, música e fóruns para compartilhamento de orações, sessões de "expulsão do diabo do corpo" via 4G e até "curas". Você pode desfrutar de tudo isso no sofá da sua casa.

A afiliação religiosa nos Estados Unidos está em baixa, segundo pesquisa de 2017 do Instituto Pew.

Como reação à queda de número de praticantes, é provável que essa tendência se expanda tal como aconteceu com inúmeras categorias de serviços na web. Lojas físicas de agências de turismo quase sumiram, foi reduzido o número de agências bancárias, livrarias são substituídas por equivalentes digitais, o home office avança, o comércio on line etc. As igrejas, evidentemente, já com tradicional presença em TV e rádio, não dispensarão o novo modelo.

Mesmo a utilização da internet não é novidade. Mas novas instituições religiosas, ainda em número reduzido, começam a abrir mão dos templos físicos e seus altos custos. Uma dessas novas corporações religiosas é a Churchome Global, inaugurada há um mês, sem prédio e sem CEP.
Os seguidores se conectam, tornam-se tornando assinantes e pagam uma taxa que equivale ao dízimo eletrônico. Se quiseram uma oração especial do pastor é só enviar um ícone via celular, um reverendo clicará em um "emoji divino", colocará na cesta de compras e o fiel o verá orando "olho no olho".

Alguns pastores e suas "ovelhas" ainda resistem aos templos virtuais. Há que cite o Evangelho de São Mateus onde Jesus diz que “onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou entre eles”.

Segundo esses teólogos, isso não inclui o crente que fica sozinho diante do computador, do tablet ou do smartphone. Outros religiosos defendem a adaptação ao novo estilo de vida e afirmam que Jesus se referia à formação de uma comunidade. E, para eles, comunidade virtual é comunidade.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Leitura Dinâmica: Goiabeira, João de Deus, Coaf, cometa, sífilis...

por O.V.Pochê

* O verão não começou, ainda não tem musa, mas já estão eleitos a fruta e o refrigerante da estação. Respectivamente, goiaba e Jesus.

* Mas não é verdade que Regina Casé vai reeditar seu programa "Um pé de que" para reunir testemunhos de fieis que presenciaram milagres em árvores frutíferas, aparições de santos, além de incursões de divindades do Jardim Botânico.

* O lado bom é que a revelação da  futura ministra Damares Alves, que se deparou com Jesus subindo em uma goiabeira, pode ter efeitos ambientais e deter, um pouco que seja, a anunciada derrubada de árvores na Amazônia para abrir megas roças do agronegócio.

* João de Deus é suspeito de ter assediado mais de 300 mulheres. Com isso, o médico Roger Abdelmassih, que foi condenado a 181 anos por mais de 37 estupros e manipulação genética poderá cair para a segundona nesse tipo de delito.

* Os jornais Estadão e Folha estão em regime de plantão bancário: os desdobramentos do escândalo dos depósitos em conta e repasses de salários revelado pelo Coaf, no que as redes sociais chamam de Bolsogate, está mobilizando uma legião de jornalistas.

* Nesse momento, o Brasil procura três desaparecidos: João de Deus, o assessor legislativo Fabricio Queiroz, o do caso Coaf, e o italiano Cesare Batisti.

* Confirmado: o Brasil está oficialmente à direita do Chile. O país andino mesmo governado por neoliberais radicais topou sediar a conferência climática da ONU, em 2019, que o Brasil rejeitou e chutou de bico. Bolsonaro convenceu Temer a cancelar a reunião por supor que o evento pode ser uma passo para a desapropriação da Amazônia a partir do Plano Triple A, uma interpretação que é uma espécie de verão ambiental da URSAL.

* Colete amarelos, na França, mostrando que palavras não bastam para responder ao assédio fiscal do neoliberalismo sobre as populações de baixa e médias rendas.

*O cometa 46P/Wirtanen  passará "próximo" da terra, em distância astronômica, neste domingo. Mas não é verdade que cairá em Brasília.

* Gabriel Jesus que não fazia gol desde agosto, fez dois na vitória ontem do Manchester City sobre o Everton. O próximo gol dele está previsto para junho.

* Segundo Boletim Epidemiológico, a sífilis voltou a ser uma epidemia no Brasil. A taxa de infecção  aumentou de 44,1 para cada grupo de 100 mil habitantes, em 2016, para 58,1/100 mil em 2017. Não deixa de ser um país vintage. Com os cortes de verbas previstos por exigência do "mercado", podem vir aí a peste negra, a varíola, a espinhela caída em massa e a cólera. Febre amarela, tifo e malária O Brasil já reabilitou.
 

Mídia: quando uma notícia tiver origem em "fontes próximas" duvide. É grande a chance de ser fake...

Reprodução Instagram


No Instagram, Fernanda Lima Fernanda Lima, do programa “Amor e Sexo”, da Globo, esclareceu dois assuntos que circularam na web nessa semana.

Uma nota de Ricardo Feltrin, do UOL, reproduzida em dezenas de sites, usa o manjado "fontes próximas" para afirmar que a apresentadora "deu chilique" ao ver que o cantor Eduardo Costa, a quem processa na Justiça, apareceu na Globo.

Outro assunto foi a ação por calúnia, injúria e difamação que Fernanda Lima move contra o cantor, que a chamou de "imbecil" e, certamente em alusão aos novos governos de direita, acrescentou que "a mamata vai acabar". Eduardo perdeu a linha nas redes sociais ao ouvir Fernanda falar contra machismo e conservadorismo. A apresentadora pede na Justiça indenização por danos morais e também move processo na área criminal. Ela não aceitou acordo proposto nem pedido de desculpas. Está certíssima.

Ao colunista Ricardo Feltrin, do UOL, a apresentadora mandou a seguinte mensagem;

“Colega, sua fonte sequer me conhece e muito menos é próxima. Quando tudo isso se deu, eu estava em um retiro de meditação, incomunicável por dois dias, e só fiquei sabendo dos acontecimentos quando cheguei em casa e minha assessoria me mandou a sua coluna”, escreveu a apresentadora. E prosseguiu: “Ricardo, essa é outra forma que o machismo estrutural usa para desqualificar uma mulher quando ela é vítima. É simples dizer que ela é louca, descompensada, dá chiliques, logo não tem razão nenhuma sobre os fatos. Inclusive, Ricardo, esse era o tema principal do Programa Amor e Sexo que gerou tanta polêmica”.

"Meu caro colega, me desculpe a intimidade, mas como também sou jornalista tomei a liberdade. Diante dos fatos relatados acima e depois de uma entrevista que o Sr. Eduardo Costa concedeu ao nosso colega Pedro Bial, o senhor publicou (e muitos veículos, sem checar a veracidade de sua nota, replicaram) que “fontes” muito próximas relataram que eu teria dado um “chilique” e que eu teria ficado “possessa” e até teria pegado “ranço” do Pedro Bial por ter entrevistado o cantor.
Colega, sua fonte sequer me conhece e muito menos é próxima. Quando tudo isso se deu, eu estava em um retiro de meditação, incomunicável por dois dias, e só fiquei sabendo dos acontecimentos quando cheguei em casa e minha assessoria me mandou a sua coluna. Outra inverdade da sua última nota sobre mim é que eu fracassei ao tentar fazer com que o Sr. Eduardo Costa não fosse mais convidado por outros programas da TV Globo.
Pois, para seu conhecimento, não tenho ingerência sobre a escolha de convidados da emissora (com exceção do Amor e Sexo).
Ricardo, essa é outra forma que o machismo estrutural usa para desqualificar uma mulher quando ela é vítima. É simples dizer que ela é louca, descompensada, dá chiliques, logo não tem razão nenhuma sobre os fatos. Inclusive, Ricardo, esse era o tema principal do Programa Amor e Sexo que gerou tanta polêmica.
– Viu como é importante falarmos e sabotarmos essa engrenagem machista? Conto contigo..."

Sobre Eduardo Costa:

“Em tempos de fake news é melhor esclarecer os fatos".
"Depois de ser difamada, agredida e ameaçada por ele através de um post indignado, procurei orientação jurídica a fim de proteger a mim e a minha família. Fui orientada a processá-lo, pois dessa forma inibiria agressões futuras. E assim o fiz.
Após eu autorizar o processo, o Sr. Eduardo Costa pediu desculpas através de outros programas a que foi convidado, deixando claro que não se arrepende do que disse e sim da forma como disse. Tendo em vista que ele me agrediu moralmente, me ameaçou, incitou o ódio de seus fãs contra mim (ontem mesmo minha assessoria recebeu telefonema de um fã dele me ameaçando) e atacou o meu trabalho, não entendo que pedido de desculpas é esse. Além disso, um pedido de desculpa verdadeiro pode até ser louvável, mas ele não repara o mal que fez a vítima.
Faz parte do machismo estrutural transformar a vítima em ré. Era justamente esse o assunto do programa Amor e Sexo que tanto indignou o meu agressor."

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A foto do dia é um recado para racistas e preconceituosos: um baiano, um rondoniense, um gaúcho e um carioca ganham ouro em mundial de natação na China


Fotos: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

por Niko Bolontrin

Os dementes, como as redes sociais veiculam nesses tempos sombrios, gostariam que o Brasil fosse dividido em castas. Eles pregam a exclusão ou segregação de brasileiros de acordo com a naturalidade gravada no RG.

Felizmente, o esporte se encarrega de jogar tais opiniões em uma estação de tratamento para dejetos.

É o que mostram as fotos acima que registram a conquista da medalha de ouro no revezamento 4X200 no Mundial de Natação em piscina curta, que acontece em Hangzhou, na China.

A jovem equipe que ainda bateu o recorde mundial na prova, onde desbancou russos, chineses e americanos, é formada por Luiz Altamir (roraimense), Fernando Scheffer (gaúcho), Leonardo Santos (carioca) e Breno Correa (baiano). O nadador reserva do time, Leonardo de Deus, é sul-mato-grossense.

Waltel Branco, meu irmão • Por Roberto Muggiati

Waltel Branco, novembro de 2013. Foto: Fundação Cultural/Prefeitura de Curitiba.

Outro que se foi. Outro anjo torto tocador de trombeta da noite curitibana. Por tocador de trombeta entenda-se músico no mais amplo sentido da palavra. Waltel Branco o era, ricamente. Exímio violonista, compositor e arranjador, ele só não queria uma coisa: passar para a posteridade como o arranjador da Pantera Cor de Rosa. Coitado, foi justamente o que aconteceu.

Todos os obituários o acoplaram ao felino safado de Henry Mancini que, de vinheta de filme, virou personagem principal dos desenhos animados que fizeram a alegria de infantes de todas as idades a partir de 1964.

Waltel foi o arranjador também de, entre outros, Azul da cor do Mar (Tim Maia), Bastidores (Cauby Peixoto) e Faz parte do meu show (Cazuza)

Nascido em Paranaguá, de uma família musical séria – o pai ainda considerava o violão coisa de boêmio – Waltel, para convencer o velho, resolveu estudar música clássica. Ainda jovem, no Rio de Janeiro, aquele violonista que sabia ler partituras impressionou o maestro Radamés Gnatalli, que o contratou para sua orquestra. Embora o Rio na época fosse o paraíso da música, Waltel não esquentou a cadeira. Abduzido pela cantora cubana Lia Ray, partiu em turnê pela América Latina, passou dois anos em Cuba, outros tantos nos Estados Unidos, imergindo-se em mambo e jazz.

De volta ao Brasil, caiu nos braços da bossa nova e lançou os primeiros da centena de álbuns que gravaria ao longo da vida. Em 1963, integrou a equipe de arranjadores de Henry Mancini durante a gravação da trilha de A pantera cor de rosa (ele homenagearia o compositor no álbum de 1966 Mancini também é samba, com bambas da música instrumental brasileira como K-ximbinho, Dom Salvador e Edson Maciel.)

Não quero embarcar num extenso verbete – Waltel fez de tudo, foi até um dos pioneiros das trilha de novelas da Globo e, até hoje, um dos melhores. Acho que um depoimento de Roberto Menescal no documentário Descobrindo Waltel resume tudo: “O Waltel foi o primeiro músico mesmo que eu pensei, músico na concepção total! Músico que estudava, que lia, que tocava bem seu instrumento…”
Waltel Branco morreu no dia 28 de novembro, uma semana depois de completar 89 anos, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Nossos caminhos se cruzaram muitas vezes, na noite curitibana. Eu o vi ainda em 2008, no Teatro Paiol, onde fez questão de me presentear com um novo livro de partituras, devidamente autografado; e, em 2012, num de seus últimos shows, uma espécie de homenagem, num auditório grande, completamente lotado.

Mas a trombeta do anjo torto da noite curitibana não calou, sua música continua iluminando nossa vida.

Uma sugestão: por que não vão correndo ouvir a sua homenagem a Mancini?

É só clicar em https://www.youtube.com/watch?v=G56f4dc3H7o

Ruy Castro recorda os craques do fotojornalismo do Correio da Manhã



Há poucos dias, Ruy Castro escreveu na Folha de São Paulo sobre uma exposição de fotografias na Caixa Cultural, no Rio, que reúne parte do arquivo do extinto Correio da Manhã. 

O acervo do jornal carioca, hoje guardado no Arquivo Nacional, já foi digitalizado pela Biblioteca Nacional. 

Entre os fotojornalistas do Correio, na década de 1960, estavam Antônio Andrade, Sebastião Marinho, Fernando Pimentel, Rubens Seixas, Rodolpho Machado, Gilmar Santos, entre outros. 

Ruy, que foi repórter do Correio da Manhã em 1967, recorda a época. 

A mostra "Correio da Manhã: Uma revolução de imagens nos anos 1960" registra protestos de estudantes, passeatas e manifestações de artistas, o fechamento do Congresso em 1966; a visita do presidente De Gaulle ao Brasil; o fim da Panair, além do cotidiano do Rio. 

"A exposição é uma grande homenagem aos fotojornalistas brasileiros e em especial aos que atuaram no Correio da Manhã", resume Maria do Carmo Rainho, curadora da mostra. 

Está em cartaz deste outubro e será encerrada no próximo dia 23 de dezembro. 

Ainda dá tempo de conhecer o trabalho de uma brilhante geração de fotojornalistas.

DETALHES SOBRE A EXPOSIÇÃO  NO SITE DA CAIXA CULTURAL, AQUI


Fotografia: Exposição "A Luta Yanomami", em São Paulo, reúne cinco décadas de imagens feitas por Claudia Andujar

A imagem da menina Susi Korihana em um igarapé da Rondônia faz parte de uma série realizada entre 1972 e 1974.
Foto de Claudia Andujar/Divulgação.

Claudia Andujar tem 87 anos e mais de 50 focalizando a trajetória dos povos indígenas brasileiros.

A exposição "A Luta Yanomami", que será aberta amanha no IMS (Instituto Moreira Salles), em São Paulo, reúne 300 itens entre fotos, livros e documentos e chega em um momento oportuno, quando o novo governo brasileiro anuncia um cerco aos índios em benefício do agronegócio e da mineração.

Nos anos 1970, Claudia Andujar foi expulsa da região pela ditadura militar que promovia uma ocupação predatória da Amazônia e se incomodava com imagens que documentavam os dramáticos efeitos daquele política sobre os povos indígenas. Mas não desistiu. Ela passou a  participar da luta para a criação do Parque Yanomami, que só veio a se concretizar em 1992.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO "A LUTA IANOMAMI" AQUI

Fotomemória: O retorno do guerreiro que a História tornou Herói da Pátria

Aeroporto do Galeão, Rio, 10 de setembro de 1979: a revogação do AI-5, em dezembro de 1978,
abriu caminho para a volta dos exilados. Entre eles, Miguel Arraes, que fez seu primeiro discurso
cercado pela imprensa e apoiadores. Foto de Guina Ramos. 

Miguel Arraes. Foto de Guina Ramos

por Guina Ramos (do blog Bonecos da História)

Esta semana, mais uma vez, misturaram-se, em comemorações, os conflitantes sentidos da História do Brasil.

Hoje (ontem), em especial, é uma data de chumbo... É a “comemoração” dos 50 anos de decretação do AI-5, o mais pesado dos Atos Institucionais da ditadura civil-militar do Golpe de 1964. O governo, ao pretender calar por completo a oposição ao regime, através da ampla prisão de opositores e fechamento do Congresso Nacional, acirrou a luta pelo retorno da democracia, que atravessara o ano com manifestações de rua e atos de contestação, instigando a reação armada de grupos políticos na clandestinidade, firmemente combatidos por ações repressivas, incluindo torturas e mortes. Eis que, agora, com apoio de importantes setores da sociedade, a eleita "nova" classe política brasileira quer um retrocesso de 50 anos, o retorno àquela situação asfixiante que o país vivia...

Ontem, por outro lado, um dos grandes perseguidos daquela ditadura, preso nos primeiros momentos do golpe de 1964, o então governador do estado de Pernambuco, Miguel Arraes (que, aliás, faria 102 anos neste 15/12/2018), teve o seu nome gravado no livro de aço dos Heróis e Heroínas da Pátria, junto a mais 20 personalidades e políticos do país (inclusive, neste Bonecos da História, o ex-governador Leonel Brizola).

Fotografei o ex-governador de Pernambuco apenas uma única vez, para a revista Manchete, quando do seu retorno do exílio na Argélia, em seu desembarque no aeroporto do Galeão (hoje, Tom Jobim), em 10 de Setembro de 1979, no correr de uma sequência de retornos de políticos brasileiros ao país.

Miguel Arraes, cercado pela imprensa e por apoiadores, fez o seu primeiro discurso de retorno do exílio no próprio saguão do aeroporto do Galeão, envolvido por centenas de pessoas que se mantiveram sentadas no chão para ouvi-lo.

Restaram-me do momento apenas estas duas fotos, uma delas sofridamente escaneada...

LEIA NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, AQUI

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Do Knight Center: Em meio a ameaças à imprensa, Brasil prepara lançamento de rede de proteção a comunicadores

Valério Luiz Filho (Instituto Valério Luiz), Emmanuel Pellegrini (MPF), Raiana Falcão (MDH) e Andrew Downie (CPJ) durante encontro em São Paulo. (Foto: Marina Atoji / Abraji). Reproduzida do Knight Center. 

por Carolina de Assis (do Knight Center for journalism in the Americas)

Um encontro realizado em São Paulo no começo de dezembro reuniu comunicadores, organizações pela liberdade de imprensa e representantes do Estado para debater as ameaças enfrentadas pela imprensa, as medidas que o Estado vem tomando para combater a impunidade nos casos de violência contra trabalhadores da categoria e os próximos passos para o lançamento de uma rede de proteção a comunicadores no Brasil.

O Encontro Nacional de Proteção a Comunicadores aconteceu na capital paulista nos dias 4 e 5 de dezembro e foi organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, pela Artigo 19, Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pelo coletivo Intervozes.

O evento reuniu cerca de 50 pessoas de 11 Estados brasileiros para aprofundar o debate sobre a violência contra comunicadores e articular uma rede de proteção a estes profissionais que cubra os diversos contextos comunicacionais do país, disse Artur Romeu, da RSF, ao Centro Knight.

No primeiro dia do encontro, comunicadores de várias regiões do países participaram de mesas temáticas com membros das organizações e com representantes do Estado. Buba Aguiar e Gizele Martins, do Rio de Janeiro, Cláudio André, de Pernambuco, Cristian Góes, de Sergipe, e Valério Luiz, de Goiás, contaram casos vividos por eles de censura, criminalização, violência e impunidade em crimes que tiveram comunicadores como alvo.

“Trouxemos as principais violações que observamos com relatos em primeira pessoa de casos emblemáticos, para personalizar e gerar essa identificação, que funcionou bastante junto aos participantes”, contou Marina Atoji, gerente executiva da Abraji, ao Centro Knight. “Quando falamos em censura ou criminalização, parece uma coisa muito etérea. Mas quando contamos uma história e colocamos isso na figura de alguém, isso tem uma força maior.”

Os representantes do Estado, disse Atoji, trouxeram “a visão do Estado enquanto criador e executor de política pública”. Participaram Carlos Weis, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Emmanuel Pellegrini, do Ministério Público Federal (MPF), e Raiana Falcão, do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) e coordenadora-geral do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores Sociais e Ambientalistas.

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

AI-5: como a mídia reagiu ao "salve" que a ditadura emitiu há 50 anos...


A primeira página do AI-5 e as...

...assinaturas das...

...figuras que entraram para a história pela porta dos fundos.
Reprodução de documento publico

Alfreeedo! Infelizmente, o papel acima não é Neve.

Entrou para a história como se fosse.

Não era macio, nem absorvente, mas no conteúdo apresentava afinidade com o produto exaltado pelo famoso comercial do mordomo.

Ambos prometiam "limpeza". No caso do AI-5, em nove páginas datilografadas em papel ofício, espaço dois, um Brasil politicamente "higienizado" na visão do sinistro "Arthuuur!" instalado em Brasília. 

Com as assinaturas acima, a ditadura inaugurada em 1964 recebeu um poder ainda maior, praticamente sem limites. Como consequência, autoridades e "otoridades" ganharam um "salve" (que na gíria das  atuais organizações criminosas é um espécie de "ordem" geral) para prender, sequestrar, torturar, assassinar, exilar, censurar, perseguir, intimidar, cassar mandatos, deter jornalistas, suspender os direitos políticos e individuais que ainda restavam, ocupar governos estaduais, prefeituras e fechar o Congresso.

Costa e Silva e ministros no Palácio Laranjeiras...

...onde Gama e Silva , da Justiça,
 e o locutor Alberto Cury
anunciaram o Brasil "sem escrúpulos'' Fotos Arquivo Nacional 

No dia 13 de dezembro de 1968, uma sexta-feira, Costa e Silva - o militar linha-dura em plantão no governo -, e seus ministros jamegaram o papelucho em mal traçadas linhas que avalizaram o sequestro da liberdade: Costa e Silva, Luís Antônio da Gama e Silva, Augusto Hamann Rademaker Grünewald, Aurélio de Lyra Tavares, José de Magalhães Pinto, Antônio Delfim Netto, Mário David Andreazza, Ivo Arzua Pereira, Tarso Dutra, Jarbas G. Passarinho, Márcio de Souza e Mello, Leonel Miranda, José Costa Cavalcanti, Edmundo de Macedo Soares, Hélio Beltrão,
Afonso A. Lima, Carlos F. de Simas.







No dia seguinte, os jornais já sob censura, embora alguns fossem claramente adeptos do regime, limitaram-se a noticiar o fato e transcrever o ato. Em reimpressão no mesmo dia, o Estado de São Paulo ainda registrou que teve a edição apreendida.
O Jornal do Brasil deixou seu protesto cifrado, no alto da página, em forma de "previsão do tempo".

A Veja, publicação recém-lançada, já estava no radar do regime.

No dia 4 de dezembro, a edição número 13 chegou às bancas com uma capa que mostrava uma foto do Congresso visto através de um vidro estilhaçado e a chamada profética: "O Congresso  Pressionado. Chegaremos a isso?". De fato, o Congresso estava sob pressão desde setembro daquele ano quando o deputado Márcio Moreira Alves pediu em discurso que, em protesto contra "os carrascos que espancam e metralham nas ruas", as famílias evitassem que seus filhos participassem do desfile de 7 de Setembro. Um trecho exortava: "esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais". Diz-se que houve quem interpretasse aquele apelo como um incentivo a uma greve de sexo contra militares. Fato ou fake, a linha dura já vinha endurecendo ao longo do ano. O AI-5 foi o manifesto do "golpe dentro do golpe". O discurso de Moreira Alves e a votação do Congresso que negou abertura de processo contra o deputado, como queriam os militares, eram pretextos úteis para a radicalizar a repressão. 


Naquela sexta-feira, a Veja tinha como opções de capa Paulo VI, que naquela semana pregava que a Igreja vivia "um momento de autodestruição provocado pelo liberalismo do Concílio Vaticano II", e Castelo Branco, como referência simbólica ao primeiro ciclo do regime militar e às medidas de exceção que encerravam esse período. Fechou com o último. No sábado, trocou a capa. A redação foi buscar nos arquivos da Folha de São Paulo uma imagem ainda mais simbólica feita meses antes pelo fotógrafo Roberto Stuckert quando Costa e Silva visitava o Congresso Nacional. O militar posara para Stuckert em um plenário vazio, o mesmo que ele viria a fechar. A edição da Veja, recebida como uma "provocação" foi rapidamente apreendida. 

A edição da Manchete naquela semana registrou factualmente o AI-5. Durante o ano de 1968, as duas semanais da Bloch haviam feito uma intensa cobertura fotográfica das passeatas. Nas revistas ilustradas, inclusive em capas, os protestos ganhavam uma dramaticidade extra. Com o esforço das suas equipes de repórteres e fotógrafos, cumpriram um papel jornalístico. Apesar disso, e como boa parte da mídia, a Bloch ajudava a construir uma imagem positiva do regime. Internamente, sabe-se que, naquele dia 13 de dezembro, o AI-5 repercutiu na editora. À noite, o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi preso ao sair do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. JK era, como se sabe, grande amigo de Adolpho Bloch.  Ontem, em texto de Miguel Enriquez, o site Diário do Centro do Mundo (DCM) lembrou que JK logo foi abandonado "pela legião de áulicos que o cercavam nos tempos áureos". "Uma das raras exceções naqueles tempos de ostracismo, ao lado do então deputado federal Tancredo Neves e do banqueiro Walter Moreira Salles, atendia pelo nome de Adolpho Bloch. Sempre fiel, disposto a socorrê-lo em todos os momentos de dificuldades financeiras e pessoais, Bloch chegou a destinar uma sala especial para JK no último andar do prédio que sediava suas empresas, na Rua do Russell, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro", escreve o DCM. A solidariedade a JK rendeu ameaças a Adolpho Bloch. A revista Manchete, contudo,  jamais desafiou o regime, ao contrário, exaltou o "Brasil Grande" em sucessivas reportagens ao longo da década de 1970. Nunca sofreu censura prévia oficial. A única revista da Bloch obrigada a mandar textos e fotos para Brasília foi a EleEla. O que a Manchete teve durante aqueles anos foi um "coronel" ou assemelhado que circulava informalmente pela redações e cuja função era detectar reportagens incômodas aos governos militares. Muitas matérias sucumbiram na mesa de redatores e editores. Umas poucas foram publicadas e renderam convites aos editores para visitar a sede da PF ou do DOPS. Justino Martins e o repórter Geraldo Lopes, por exemplo, entraram nessa lista. O próprio Adolpho Bloch recebeu, certa vez, um grosseiro telefonema de Armando Falcão, então ministro da Justiça, que praguejou contra uma matéria publicada na Fatos & Fotos sobre um caso policial que envolvia um agente do governo.

É justo registrar que, assim como O Globo, a Bloch abrigou - especialmente depois do AI-5 - vários jornalistas perseguidos pela ditadura e que, por isso, não conseguiam empregos em vários veículos.

O AI-5 permanece como um alerta histórico de que a democracia é tão indispensável quanto frágil.

De tempos em tempos seus inimigos apontam no horizonte.

Fake news: o fim da impunidade?

A lei pune ofensas e difamações tanto na vida real quando na virtual. Muitas dessas agressões na internet circulam em forma de fake news. Mas do ponto de vista jurídico, há buracos negros ou zonas de sombra e indefinição quanto à divulgação de notícias falsas. Um exemplo é quando a divulgação de mentiras com propósito eleitoral não pode ser individualizada e fica impune.

O Legislativo deverá analisar em breve projetos de lei que propõem a criminalização da divulgação, criação e compartilhamento de notícias falsas, a partir de atualizações nas redações de artigos do Código Penal, do Código Eleitoral e o Marco Civil da Internet.

Há no Congresso cerca de 20 iniciativas com propósitos semelhantes. A maioria considera que as notícias falsas  - como exemplo os esquemas industriais postos em ação durante eleições em vários países - ameaçam a democracia.

Uma das grandes discussões deverá se dar em torno da caracterização da notícia falsa. Um desses projetos de lei propõe definir, criminalizar e penalizar as fake news. Outro debate deverá abordar a responsabilidade dos provedores, veículos, redes sociais, sites, blog e portais e a velocidade com que serão obrigados a retirar do ar as notícias falsas.

O desafio será encontrar a definição precisa da fake news e, principalmente enquadrar claramente o fator intencional e o objetivo de causar danos a instituições e reputações. Alguns desses projetos de lei assinalam que a liberdade de expressão e de opinião, as manifestações artísticas e literárias, o conteúdo humorístico não podem ser previamente classificados como notícia falsa.

Combater fake news, sim.

Utilizar a necessidade de criminalizar os esquemas de propagação de mentiras como justificativa para para impor censura prévia, não. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Revista Time escolhe como Pessoa do Ano 2018 jornalistas perseguidos em vários países


por Ed Sá 

A revista Time homenageia como Pessoa do Ano de 2018 os jornalistas que foram hostilizados, presos, expulsos de países e assassinados.

São "Os Guardiões na Guerra pela Verdade".

Jamal Khashoggi, do Washington Post, morto em outubro deste ano no consulado da Arábia Saudita em Istambul pela ditadura saudita apoiada por Donald Trump.

Maria Ressa, perseguida pelo radical da direita Rodrigo Duterte, nas Filipinas, por denunciar assassinatos em massa de dependentes de drogas e traficantes como parte da repressão indiscriminada empreendida pelo governo.

Wa Lone e Kyaw Soe Oo, repórteres da Reuters presos em Myanmar por revelar o genocídio da minoria muçulmana Rohingya;

O Capital Gazette, de Annapolis, jornal que foi atacado por um atirador que matou quatro repórteres e um vendedor de anúncios. O assassino havia sido denunciado pelo jornal em uma reportagem sobre violência sexual.

A Time justificou a escolha sob o argumento de que as  principais reportagens publicadas pela revista em 2018 focalizaram exatamente a ofensiva contra jornalistas em várias partes do mundo.

O tema venceu finalistas cotados para Pessoa do Ano como Donald Trump, Vladimir Putin, as famílias separadas na fronteira dos EUA com o México, o procurador especial americano Robert Mueller (ele investiga Trump que ainda tenta demiti-lo), o diretor de cinema Ryan Coogler, a professora de psicologia Christine Blasey Ford (que foi vítima de assédio sexual por parte de um juiz indicado por Trump para a Suprema Corte)  os ativistas da marcha "Pela nossas vidas" (sobreviventes do tiroteio na escola de Parkland), o presidente da Coréia do Sul Moon Jae-in e Meghan Markle, a atriz e ativista americana que se casou com o príncipe Harry.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Kirk Douglas: 102 anos esta noite • Por Roberto Muggiati


Kirk Douglas em Spartacus.
Divulgação
por Roberto Muggiati 

Iussur Danielovitch (mais conhecido como Kirk Douglas) completou ontem, domingo, 9 de dezembro, 102 anos, inteiro e lúcido.

Não há tempo e espaço para contar aqui tudo o que fez o ator – considerado um dos maiores na história do cinema. Mas todos nós – particularmente aqueles nascidos em meados do século passado – fomos tocados por sua arte num momento ou outro de nossas vidas.

O escravo rebelde de Spartacus, o militar pacifista de Glória feita de sangue, o trompetista de jazz de Êxito fugaz, o jornalista corrupto de A montanha dos sete abutres, o produtor de cinema idem de Assim estava escrito, o mocinho de muitos faroestes e o vilão de muitos filmes noir, Kirk tocou nas emoções de muita gente em seus 62 anos de carreira.

E, como Van Gogh,
m Sede de Viver. Divulgação
Limito-me a citar um episódio que diz tudo da sua capacidade de extrapolar da tela para a vida real. É uma história que meu amigo cineasta Sylvio Back relata amiúde.

Em 1956, saindo de uma matinê numa das salas da Cinelândia curitibana – onde passava Sede de viver, a biografia romanceada do pintor Vincent van Gogh, interpretado por Kirk Douglas – Sylvio entreouviu duas senhorinhas condoendo-se da sorte do ator. “Coitadinho do Kirk Douglas, você viu o que fizeram com ele? Cortaram sua orelha.” Falavam com tanta convicção que parecia que o coitado do Iussur Danielovitch passaria o resto da vida com um vazio no lado da cabeça onde ficava o órgão auditivo amputado.

A fake news do Bernabéu...

por Niko Bolontrin

A Copa Libertadores da América, que homenageia os heróis sul-americanos que venceram os colonizadores espanhóis, acabou decidida na terra dos antigos conquistadores. Se levar o jogo de Buenos Aires para Madrid já foi uma estupidez da Conmebol associada à Fifa, a ironia histórica de negar à grande massa de torcedores dos dois times o direito de assistir à decisão torna-se tristemente simbólica.

O Santiago Bernabéu, a casa do Real Madrid, clube de raízes na ultra-direita - o nome do estádio homenageia um ex-jogador e ex-soldado fascista das tropas do ditador Francisco Franco - está se orgulhando hoje na  mídia espanhola de ser o único estádio do mundo que recebeu quatro importantes decisões internqacionis: da Liga dos Campeões, da Eurocopa, Copa do Mundo e da Libertadores.

O Maracanã acha isso muito pouco.

O mítico estádio carioca já foi palco de duas finais de Copa do Mundo, de uma Copa das Confederações, de uma final Olímpica, do Campeonato Sul-Americano, quando este reunia os maiores craques do mundo, da Libertadores, de finais de Jogos Pan-Americanos, Copa América e de duas finais de mundiais de clubes.

Huawei, River Plate, Boca Juniors e espionagem: a guerra fria bate um bolão...

por Jean-Paul Lagarride

Na semana em que, a pedido dos Estados Unidos, o Canadá prendeu Meng Wanzhou, executiva da megaempresa Huawei - sob acusação de suposta espionagem, mas expondo o medo do Tio Trump com o avanço da China no front tecnológico de computação quântica -, o futebol dá um drible na política internacional.



Ao entrar em campo, ontem, no Santiago Bernabéu, para o jogo final da Libertadores, River Plate e Boca Juniors exibiam nas camisas o patrocínio da Huawei.

A gigante chinesa, que fabrica smarphones, laptops, tablets e equipamentos para redes e telecomunicações, também patrocina PSG, Atlético de Madrid e Borussia de Dortmund, Arsenal, América do México, Galatasaray, Sport Lisboa e Benfica.

O mundo está tão interligado e as coisas mais malucas tão entrelaçadas que até a nova guerra fria vai parar no futebol.