segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Revista Ele Ela: fora das bancas mas ainda presente nas salas de aula...




A capa da Ele Ela número 1: 1969
por Niko Bolontrin
A revista Ele Ela sumiu das bancas mas ainda pode ser vista na curva da história do jornalismo/comportamento brasileiros. A mais recente edição da revista Esboços, da Universidade Federal de Santa Catarina, publica um artigo de Renata Rodrigues Brandão sobre revistas masculinas, com destaque para a Ele Ela. 

Leia a seguir um trecho do artigo: 


"De fato, as inúmeras reportagens de ELE ELA com a temática da
revolução sexual discutem a requisição da “moral sexual única” pelas mulheres
e como deveria ser a postura dos homens diante do novo cenário social. 

Heitor Cony, editor-chefe dos primeiros anos da revista, afirmou que o modelo de ELE ELA era inspirado na revista alemã Jasmim que discutia assuntos sexuais, numa época em que a pílula, a minissaia, o divórcio e o aborto faziam parte de temas de “uma humanidade que aspirava total libertação”.  

O movimento feminista questionava o “machão”, afirma Cony e ELE ELA desejava que os homens compreendessem esse questionamento e correspondessem a ele:

A linha editorial de Jasmim, e por consequência Ele Ela, era o direito da mulher ter uma vida sexual equivalente à do homem, com direito inclusive ao orgasmo. Por absurdo que possa aparecer, isso era uma novidade que merecia ser transformada em linha editorial. 43

A Ele Ela publicou nas primeiras
edições um dicionário especial logo
censurado pela ditadura militar
Nos primeiros cinco anos da revista ELE ELA, observamos uma sequência de artigos sobre a revolução sexual. Citando Wilhelm Reich, Edgard Morin, Simone de Beouvouir, Jean-Paul Sartre, a revista abordava o tema sem cessar. Com auxílio de sexólogos, sociológos e psicanalistas brasileiros, tais como, Naumi Vasconcelos, Heloneida Studart, Rose Marie Muraro, tecia uma interpretação sobre a revolução sexual que, apesar de expor imagens dos EUA e da Europa, acreditava estar em curso também no Brasil.

O primeiro número de ELE ELA trouxe, no editorial de maio de 1969,
o seguinte texto: As pílulas encorajaram a mulher, mas os homens ainda não souberam interpretar a nova mentalidade feminina. Não durma no ponto e saiba que as mulheres exigem cada vez mais do amor.

No quarto número de ELE ELA, o artigo “EUA 69: O amor está ficando de fora” abordava a revolução sexual, questionando se a mudança comportamental empreendida no final da década de 1960 elevava ou degradava a grande nação americana.

No editorial de ELE ELA de janeiro de 1970, podemos ler em destaque a chamada para um artigo sobre a nova mulher moderna: A mulher moderna, libertando-se de velhos preconceitos, corre o risco de continuar sendo um brinquedo nas mãos dos homens. É preciso que ela conheça tudo a respeito de seu companheiro, a fim de evitar a submissão sentimental e econômica que continuará a escravizá-la como simples marionete.

No número seguinte, a revista dedica algumas páginas para destrinchar as ideias de Wilhelm Reich. O artigo intitulado: “Wilhelm Reich: o amor como remédio” aborda as principais ideias do psicanalista austríaco, sua defesa da compreensão das relações entre o corpo e a mente e, principalmente, da função do orgasmo, do prazer sexual para o bem-estar do indivíduo e da sociedade. Foi depois das revoltas estudantis de 1968 em Paris que o nome de Wilhelm Reich começou a ser citado. Inicialmente, como simples pai espiritual de Marcuse; mais tarde, como a síntese entre o marxismo e a psicanálise. Reich conseguiu desagradar aos partidos do comunismo oficial e aos pesquisadores remunerados da alma humana. Charlatão para uns, oportunista e louco para outros, viveu uma obstinação científica a respeito do sexo. Para ele, a luta de classes esconde uma revolução anterior: a do sexo. Foi ele o primeiro a empregar a expressão que hoje parece marcar a nossa época: o caos sexual.

A ideia de caos sexual estava presente em vários artigos da revista cujas imagens corroboravam a instituição de uma revolução sexual. De modo semelhante, o artigo de julho de 1970, “Afinal a juventude é feliz?” abordava o modo pelo qual a revolução sexual estava ocorrendo no Brasil, entrevistando jovens de classe média da zona sul do Rio de Janeiro. O medo da solidão aparecia como o principal efeito colateral da mudança de costumes e a liberdade da mulher, como a melhor conquista. Questionava-se se a liberdade dos jovens tinha trazido felicidade. Ao ler as imagens que compõem o artigo, observa-se o modo pelo qual as relações inter-raciais, o movimento hippie, traduzido pelas cabeleiras masculinas e as vestimentas de alguns personagens foram dispostos de modo a traduzir uma liberdade, solidariedade e exposição do corpo que expressava para a revista ELE ELA a revolução sexual."

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