por Eli Halfoun
A língua portuguesa, ou
melhor, essa nossa peculiar língua brasileira é a mais difícil do mundo e por
isso mesmo muitas vezes nos deixa sem entender o que se quer dizer. Mesmo convivendo
profissionalmente com a palavra há mais de 40 anos, às vezes me perco no
sentido do que se coloca. A morte do advogado e escritor Cândido Motta me levou
novamente a uma questão que tento entender há anos. No enterro o RJ TV informou
que Cândido Motta “era pai de jornalista Nelson
Motta”. Esse era contraria tudo o que aprendemos dede que nascemos: pai e mãe
são eternos, mesmo depois que deixam a vida. Portanto morrer não faz com que
ninguém deixe de ser pai ou mãe de ninguém. Assim o “era o pai de fulano”
não faz sentido: quem morreu continua sendo o pai e continuará sendo porque não
existe banco de reservas para pais e mães. Espero que depois da minha morte
ninguém diga que eu era pai de meus filhos. Sou e serei sempre o pai mesmo que
a convivência física, as conversas e a cumplicidade do olhar termine no
enterro, o que não significa que eu era (ninguém era) o pai de meus filhos. Cândido
Motta não era o pai de Nelson Motta. É o pai. Sempre será até porque a morte
nos erva o corpo, mas não leva a nossa história e filhos são parte de uma história
que nunca termina. (Eli Halfoun)
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