domingo, 19 de janeiro de 2014

Era o pai não existe. Pai e a mãe vão além da morte. Pai é para sempre

por Eli Halfoun
A língua portuguesa, ou melhor, essa nossa peculiar língua brasileira é a mais difícil do mundo e por isso mesmo muitas vezes nos deixa sem entender o que se quer dizer. Mesmo convivendo profissionalmente com a palavra há mais de 40 anos, às vezes me perco no sentido do que se coloca. A morte do advogado e escritor Cândido Motta me levou novamente a uma questão que tento entender há anos. No enterro o RJ TV informou que Cândido Motta “era pai de jornalista Nelson Motta”. Esse era contraria tudo o que aprendemos dede que nascemos: pai e mãe são eternos, mesmo depois que deixam a vida. Portanto morrer não faz com que ninguém deixe de ser pai ou mãe de ninguém. Assim o “era o pai de fulano” não faz sentido: quem morreu continua sendo o pai e continuará sendo porque não existe banco de reservas para pais e mães. Espero que depois da minha morte ninguém diga que eu era pai de meus filhos. Sou e serei sempre o pai mesmo que a convivência física, as conversas e a cumplicidade do olhar termine no enterro, o que não significa que eu era (ninguém era) o pai de meus filhos. Cândido Motta não era o pai de Nelson Motta. É o pai. Sempre será até porque a morte nos erva o corpo, mas não leva a nossa história e filhos são parte de uma história que nunca termina. (Eli Halfoun)

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