quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Trump: nota de 20 dólares para ajudar a combater as queimadas da Amazônia...


Reprodução twitter/Reuters

por O.V. Pochê

A Reuter publicou no twitter, hoje, essa foto de Donald Trump embarcando no Air Force One.

Embora de rotina, a imagem chama a atenção por alguns detalhes: a nota de 20 dólares quase escapando do bolso traseiro e o chuca-chuca de bebê na cabeleira esvoaçante junto com a gravata.

A Casa Branca não informou ser o dinheiro é pessoal, se é verba publica ou se foi recolhido da caixinha de emergências do Salão Oval e ainda não declarado na contabilidade federal.
Também não se sabe se foi um presente discreto de algum amigo da NRA, a poderosa National Rifle Association que ele tanto apoia.

Pode ser também uma ajuda para combater as queimadas da Amazônia, reforço que o presidente americano está levando para seu tiete Jair Bolsonaro caso este apareça na ONU. 

O resto é mistério.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Mídia: revolução digital e democracia


Em entrevista para a GaúchaZH, o jornalista Rosental Calmon Alves fala sobre democracia e revolução digital, o chamado jornalismo declaratório e a consequências do jornalismo neutro. Seguem-se dois trechos da entrevista que você pode acessar no link abaixo.
GaúchaZH - Estamos na era da pós-verdade: o compromisso em discutir com base em fatos não é mais um pressuposto. O terreno é fértil para fake news. O que fazer?
Rosental Calmon Alves - Não gosto muito da expressão "era da pós-verdade", porque é como se a "era da verdade" tivesse sido encerrada. Na realidade, estamos na era dos ataques à verdade ou de assalto à verdade, que ocorre graças a um dos aspectos mais importantes da revolução digital: a democratização da informação. Um dos privilégios que os meios de comunicação tinha era deter quase que o monopólio da distribuição de informações. Isso foi rompido, o que empoderou as pessoas e organizações da sociedade civil a terem algumas dessas habilidades. Para nós, veteranos na revolução digital, essa mudança nos dava um grande otimismo sobre o futuro. Sonhávamos que isso fortaleceria a democracia, que as pessoas seriam mais bem informadas. Mas o sonho virou pesadelo. Não pensávamos que os maus seriam mais eficientes e rápidos do que os bons em aproveitar as características desse novo ecossistema. Chamo de maus aqueles que têm usado a tecnologia para manipular informação, influenciar as eleições e o pensamento político, levando a essa polarização que vemos ao redor do globo.

GaúchaZH - Por definição, o que governantes dizem é notícia ou tem potencial de ser. Mas como lidar com a profusão de declarações de políticos sem base em fatos e na ciência? A imprensa deveria deixar de reportar?

Rosental Calmon Alves - A imprensa não pode usar a mesma metodologia de avaliação do que é notícia que usava no mundo anterior. De maneira geral, na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, vemos que a maior parte da imprensa continua usando esse critério. Em uma situação de assalto à verdade como vemos hoje, o jornalismo feito simplesmente com a mesma neutralidade anterior torna-se um amplificador das mentiras, falsidades que os news makers (pessoas que a imprensa acompanha) tentam levar à população. Sabe-se que muitos leitores não passam da manchete e do primeiro parágrafo da notícia. Se você simplesmente dá uma manchete que reproduz uma falsidade que um poderoso disse, não importa que, no quinto parágrafo, você diga que ele se contradiz. Você já ajudou a espalhar a mentira. O jornalismo é dinâmico e precisa mudar com a criação desse novo ambiente midiático. Deve tomar medidas de precaução para não ser só uma correia de transmissão de mentiras.
LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NO SITE DA GAÚCHAZH, CLIQUE AQUI


sexta-feira, 13 de setembro de 2019

O brado retumbante da censura



Na ditadura a tesoura tinha assinatura e carimbo do Divisão de Censura de Diversões Públicas. Era o autoritarismo explícito que o Brasil imaginava ter eliminado. Bolsonaro e dos seus adeptos em vários níveis de governo instituíram a censura dissimulada em total desprezo pela Constituição. O cinema tem sido um alvo preferencial. Pelo menos dois filmes são vítimas dos neofascistas de Brasília. "Marighella", dirigido por Wagner Moura, está em exibição em vários países mas teve sua estréia suspensa no Brasil. O filme conta a história do guerrilheiro que lutou contra a ditadura. "Chico, artista brasileiro", que deveria participar da mostra Cine de Brasil 2019, no Uruguai, segundo noticia a Revista Fórum, mas telefonema de "uma mulher que falou em nome do ministro das Relações Exteriores do Brasil" obrigou o exibidor a cancelar a participação do filme de Miguel Faria.
Os tempos sombrios estão de volta.

Memória da redação: Há 50 anos, a cobertura do sequestro do embaixador americano pelos guerrilheiros da ALN

Charles Burke Elbrick na Fatos & Fotos, Setembro de 1969

A página dupla de abertura da reportagem. 

O Fusca dos sequestradores fechou o Cadillac de Charles Elbrick na rua Marques, em Botafogo. 

Outro Fusca , um táxi, devolveu Elbrick três dias depois à rua São Clemente, onde morava. 

Operação militar para prisão dos guerrilheiros. E a casa onde Elbrick foi mantido em cativeiro,
na Rua Barão de Petrópolis, no Rio Comprido. 
Na Base Aérea do Galeão, treze dos 15 presos políticos libertados, entre os quais Luiz Travassos, Vladimir Palmeira, José Dirceu, Flávio Tavares, Maria Augusta Ribeiro, Outros dois embarcaram em Recife, Gregório Bezerra e Mário Zanconato. 

Gregório Bezerra, que sofria bárbaras torturas na prisão, chega ao México. 

A edição 451 da Fatos & Fotos trazia na capa o embaixador americano Charles Elbrick fotografado no momento em que chegava em casa na Rua São Clemente, no Rio, depois de passar 75 horas em poder de guerrilheiros da Aliança Libertadora Nacional (ALN).

Ele havia sido sequestrado na noite de 4 de setembro de 1969. Foi libertado após a ditadura concordar com as duas exigências dos sequestradores: divulgar na imprensa um manifesto que justificava a ação e soltar 15 presos políticos que eram vítimas de torturas diárias e levá-los ao exílio do México.

Fatos & Fotos cobriu o passo a passo da ação da ALN realizada por um grupo de 15 guerrilheiros entre os quais Manoel Cyrillo, Cid Queiroz Benjamin, Vera Magalhães, Franklin Martins, Fernando Gabeira e Joaquim Câmara Ferreira.

O prédio da Manchete, em 1969. No canteiro em frente, no interior de uma escultura de Bruno Giorgi (à esq. do Fusca vermelho) os guerrilheiros deixaram
bilhete com instruções para as negociações. 

O embaixador foi devolvido ileso, à exceção da coronhada que sofreu, razão do band-aid que exibia na foto. Infelizmente, como era comum na época, o crédito da intensa cobertura da Fatos & Fotos foi registrado à "Equipe", não é possível identificar repórteres e fotógrafos envolvidos. A Bloch foi, ainda, uma coadjuvante involuntária da notícia: um dos bilhetes dirigido às autoridades contendo as instruções para a devolução do embaixador tão logo as exigências fossem aceitas foi deixado no canteiro em frente ao Edifício Manchete, na Rua do Russell, então recém-inaugurado.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Censura: o ataque histérico dos Odoricos Paraguaçus da vida real

O ataque censório do prefeito-"bispo" Crivella à Bienal do Livro do Rio de Janeiro foi felizmente rebatido pela Justiça, pela opinião pública que se manifestou com ênfase nas redes sociais e pelos cariocas que compareceram em peso ao Riocentro em evidente demonstração de repúdio à ofensiva contra a cultura e contra a Constituição.

Mas é preciso destacar no episódios dois absurdos

- Um prefeito e um governador (em outro caso, em São Paulo, João Dória mandou recolher arbitrariamente uma apostila escolar. A Justiça também corrigiu o rompante de autoritarismo) simplesmente têm um ataque de talibanismo e decidem como se Odoricos Paraguaçu fossem. Se essa moda se espalha, a cultura fica a depender de qualquer boçal do executivo. Um cidadão que se sinta ofendido por qualquer forma de arte ou de comunicação pode se queixar ao Ministério Público, as autoridades nervosinhas ou preocupadas com eleições devem fazer o mesmo.

- Outro fato sempre chocante mas típico do atual governo: presidente e ministros ficaram em absoluto silêncio diante da ofensiva censória. Não apenas nos dois casos recentes, mas em episódios semelhantes que atingiram espetáculos, exposições, livros e filmes. Obviamente porque concordam. 

Marie Claire inglesa: fim de linha para a edição impressa

por Clara S. Britto

Em 2000, reportagem premiada
por denunciar o drama das mulheres
na guerra no Congo.
A edição impressa da britânica Marie Claire pede desculpas e sai de cena. Em um ano, a tiragem caiu quase 40% e os editores decidiram concentrar esforços na versão digital.

Foram 31 anos nas bancas. O novo site estará integrado a uma plataforma de compras operada por parceiros varejistas.

A revista marcou época - ganhou prêmios da Anistia Internacional por matérias como uma que denunciava o estupro como arma de guerra no Congo -  mas carrega uma marca negativa: demitiu uma editora, a jornalista Liz Jones, que se recusou a usar modelo bulímicos nas produções de moda da revista.

Tá russa! Ekaterina Dorozhko, namorada do atacante Luiz Adriano, é a nova musa da torcida do Palmeiras

Ekaterina Dorozhko, namorada do atacante Luiz Adriano é...

...a musa do Palmeiras. Fotos Reprodução Instagram
A russa fez sucesso no Allianz Parque.
Foto Reprodução Instagram


Luiz Adriano, o goleador do Palmeiras.
Foto Cesar Greco/
Ag. Palmeiras/Divulgação
por Niko Bolontrin

No jogo Palmeiras 3 x 0 Fluminense ninguém contesta que o atacante Luiz Adriano foi o grande destaque, deixando seu hat-trick nas redes tricolores.

Mas nas arquibancadas do Allianz Parque despontou uma atração à parte: a namorada do centroavante, que jogou no Spartak, de Moscou, a modelo russa Ekaterina Dorozhko, 23, chamava atenção.

E não era para menos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Concurso Wildlife Photographer of the Year 2019: concorrentes flagram o embate da vida selvagem contra a vida moderna

Foto de Jason Bantle

Foto de Matthew Ware

No dia 15 de outubro, o Museu de História Natural de Londres anunciará os vencedores da 55ª edição do Wildlife Photographer of the Year 2019. São mais de 40 mil fotógrafos em competição. Muitas fotos mostram cenas da vida selvagem contaminada por elementos modernos. Como uma imagem de Jason Bantle de uma guaxinim que mora em um Ford abandonado nos anos 1970. Ou de uma tartaruga que chegou à praia presa a uma cadeira de praia largada no mar (foto de Matthew Ware).

VOCÊ PODE VER MAIS FOTOS NO SITE da PREMIAÇÃO, AQUI


terça-feira, 10 de setembro de 2019

Para o porta voz do clã Bolsonaro, o que atrapalha o governo é a democracia

por Flávio Sépia

Alguns estão chocados com essa declaração de Carlos Bolsonaro.

"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos".

Chocados porque querem. 

Bolsonano e suas facções não escondem desde as manifestações de rua que querem a volta da ditadura. Para eles, as instituições, mesmo aquelas já cooptadas. atrapalham. Outro rebento do clã já disse que "bastam um cabo e um soldado para fechar o SFF". Elogios a torturadores e ditadores brasileiros e ao corrupto e sanguinário Pinochet são rotina. Intervenções na PGR, no próprio STF, na PF, no Coaf têm sido recorrentes. A censura velada ou explícita ameaça, livros, filmes, peças, exposições e até debates em universidades.

O governo de ultra direita passou a receber críticas mais fortes até dos jornais conservadores. Apenas, diga-se, nos casos de medidas que atingem "costumes" e diante de frequentes declarações agressivas  de Bolsonaro sobre chefes de Estado.  No mais, apoiam integralmente a política econômica, as reformas, os cortes de verba e as privatizações em massa. Nessa linha de critico-ali e apoio-aqui um colunista, recentemente, apontou os erros de Bolsonaro, mas exaltou Paulo Guedes e Sérgio Moro, apesar de todos fazerem parte de um mesmo e coeso governo..

Não dá para ficar em cima desse muro. Todos jogam no mesmo time.

Alguém poderia falar do governo da Alemanha Nazista desancando Hitler e elogiando seu "núcleo duro", Goebbels, Himmler, Speer e Goering?

Futebol - Porque os europeus tomaram a bola do jogo e, tudo indica, não vão devolver

por Niko Bolontrin

Se você estiver vendo os jogos das Eliminatórias da Eurocopa e, ao mesmo tempo, conferindo os amistosos entre seleções sul-americanas, terá muito a observar e comparar.

Conforme-se, um antigo trio de excelência do futebol - Brasil, Argentina e Uruguai - caiu para a  Segundona mundial, ao lado das demais seleções do continente.

O futebol sul-americano ainda produz craques, mas os envia cedo para a Europa. Os times europeus se valorizaram tremendamente, principalmente nas duas últimas décadas, e construíram uma potência financeira. E os milhões de euros resultaram em poder político. A UEFA, hoje, desafia a Fifa. Com o apoio da entidade, redesenhou o calendário. As chamadas "datas Fifa", que eram a oportunidade para os sul-americanos enfrentarem em amistosos as melhores seleções da Europa foram ocupadas por torneios fechados do Velho Continente. Atualmente, além dos jogos classificatórios e da Eurocopa em si, foi criada a Liga das Nações, que preenche as datas que sobraram. Em consequência, uma seleção com a do Brasil tem que se contentar em enfrentar adversários menos qualificados. O mesmo vale para Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia etc.

Seleções europeias ganharam as últimas quatro Copas do Mundo, uma sequência que jamais aconteceu desde o primeiro mundial em 1930. Aliás, apenas uma vez eles ganharam duas Copas seguidas. Foi com a Itália em 34 e 38. Depois disso, Uruguai, Brasil e Argentina sempre interromperam o domínio, até 2002, ultimo ano em que uma seleção sul-americana venceu um mundial. No caso, o Brasil.

A transferência para a Europa de craques formados e, cada vez mais, promessas de craques, também afeta a qualidade do futebol sul-americano, especialmente nas suas características individuais, o drible, o improviso, a criatividade. Ao trabalhar com os jovens que recebem nos times, como Vinicius, Jesus, Paquetá e outros, os treinadores europeus costumam falar que a primeira etapa, antes que garantam vagas de titulares, é a "adaptação".  Essa reciclagem nada mais é do que encaixá-los no atual padrão do futebol dominante, que reduz, ou inibe, as opções por jogadas individuais. Isso fica claro no estilo dos nossos "estrangeiros" quando atuam na seleção brasileira. Quer um simples exemplo? Jogador em condição de finalizar prefere, não raro, transformar a última bola em mais um passe, às vezes para um companheiro em posição menos favorável para um chute a gol.  Aconteceu  mais de uma vez no recente Brasil 2X2 Colômbia. Passes laterais e em profundidade, tempo de posse de bola e marcação alta são fundamentos do novo futebol em detrimento da maioria das iniciativas individuais. Um Maradona que hoje pegasse a bola e corresse por 55 metros driblando adversários em fila irritaria treinadores. Pelo menos, até que se surpreendessem com a bola dentro do gol.

As seleções sul-americanas estão aos poucos abrindo mão dos seus estilos sem, ao contrário do que os teóricos do futebol esperavam, assimilar o jogo europeu, até por, evidente, falta de tempo para treinar.

Um tempo que, segundo os poderes da Fifa e da UEFA e as restriçoes do novo calendário, não mais terão.
  

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Fotomemória da redação: "Não esquece o Maverick".

Equipe Manchete na Copa de 1978 e o Maverick - obtido por permuta com a Ford - e que tinha espaço recomendado em matérias com direito a registro da equipe. Na foto em Mar del Plata aparecem Gil Pinheiro, Ney Bianchi, Gervásio Baptista, Tarlis Batista e Frederico Mendes.  
Nesta foto, Éldio Macedo, Gil Pinheiro, Ney Bianchi, David Klajmic, Gervásio Baptista, Frederico Mendesce Tarlis Batista e onipresente Maverick.

por Ed Sá

Com a Copa do Mundo de 1978 sediada na Argentina, bem ao lado, a Manchete enviou uma equipe mais numerosa. E com maior apoio logístico. Uma permuta comercial com a Ford garantiu carros à disposição dos jornalistas, repórteres fotográficos e diretor de publicidade.
Em meio às pautas esportivas usuais, os editores da Manchete e da Fatos & Fotos devem ter repetido várias vezes, por telefone, do Rio, uma instrução importantíssima: "Não esqueçam de fotografar o Maverick".
E assim foi feito. O Brasil perdeu a Copa, a Argentina, que vivia uma das épocas mais dramáticas da sua história - uma ditadura sanguinária - levou a taça, mas o carro que a Ford fabricou no Brasil até 1979 apareceu na revista mais do que muito jogador.

domingo, 8 de setembro de 2019

Já pensou nessa pergunta essencial? Quando o Brasil começou a não dar certo? Essa capa da Manchete pode ser uma pista


por O.V.Pochê

Os institutos de pesquisa jamais fizeram a pergunta essencial: quando o Brasil começou a não dar certo?

Quando Cabral desembarcou? Quando a família imperial chegou ao Rio de Janeiro? Quando Deodoro proclamou a República? Quando Getúlio saiu da vida para entrar na história? Quando Jânio foi eleito? Quando militares fizeram a "revolução" de 64? Quando inventaram o axé?  Ou quando a música sertaneja se tornou a trilha sonora do país que já foi da bossa nova? Quando o "bispo" Macedo escreveu sua biografia? A eleição de Bolsonaro? Essa não ajuda, é mais um complicador na escolha.

Difícil responder à pergunta. .

Melhor ficar com uma capa representativa da Manchete, em 1992: Chico Anysio e Zélia Cardoso de Mello.

Essa capa e esse encontro sentimental tão inesperado de figuras nacionais deve significar alguma coisa. O humorista e a ministra que entrou para a posteridade ao confiscar a poupança de milhões de brasileiros.

Carlos Heitor Cony contava um caso que cabe nesse post. Nos anos 60, intelectuais se reuniam em um casarão da rua das Palmeiras, em Botafogo, para discutir a "conjuntura". O Brasil estava no escuro e não havia qualquer indicação luminosa da porta de saída. O debate lançava todo tipo de ideia para a possível solução do impasse institucional. Lá pela madrugada - contava Cony - levanta-se um idoso, voz trêmula, e faz sua única e última intervenção: "Temo que não dê certo".

Essa frase deveria estar na bandeira do Brasil no lugar do insípido "ordem e progresso".

Ou, pelo menos, na chamada de capa da Manchete.

Amazônia ainda na mídia internacional e a gangue das queimadas acima da lei




A mídia internacional enviou equipes para testemunhar no próprio local a destruição da amazônio pelo fogo de fazendeiros, posseiros e garimpeiros. A mídia brasileira aos poucos reduz espaço para o assunto. Nessa semana, apenas a revista Época destaca o problema que persiste e focaliza a gangue que incendeia a mata. Segundo os ambientalistas, setembro é o mês onde tradicionalmente ocorrem mais focos de queimadas. A ver se a mídia nacional vai agir como extintora ou denuncia

Brasil de joelhos: a teocracia avança

por Flávio Sépia 
A censura avança em desafio aberto à Constituição. Episódios de restrição da liberdade começam a se tornar perigosa rotina, como a ofensiva contra a Bienal do Livro, exposições de arte, peças teatrais e obras didáticas.

A maioria dessas iniciativas autoritárias é movida pelo fundamentalismo religioso. Não se trata aqui de criticar uma denominação. A mesma Constituição que os fanáticos desrespeitam assegura a todos o direitos de exercer a fé que lhes aprouver.

Criticar censura, perseguições a cultos afro, apropriação de verbas públicas, ocupação de funções publicas e a contaminação de parte da Justiça em desafio à laicidade constitucional do Estado não têm a ver com fé. Trata-se de denunciar projeto político de dominação e opressão, de imposição de preceitos, de sufocamento das liberdades individuais em nome de uma lucrativa indústria de altos faturamentos e altamente subsidiada por favores dos governos e que mira um domínio político partidário sobre todos os brasileiros.

Nos últimos 20 anos vários partidos, tanto conservadores quanto social democratas ou de esquerda, de olho em votos fáceis, colaboraram para a ascensão desse complexo político-industrial-religioso, que espalha influências sobre todos os aspectos da vida do país, com digitais no golpe que derrubou Dilma Rousseff, na supressão de direitos dos mais carentes e no desmonte de leis de proteção dos trabalhadores, casos das reforma da Previdência e trabalhistas. O agravamento da distribuição de renda e consequente aumento da pobreza favorecem à máquina partidária da fé. O desprezo ao meio ambiente e a liberação de armas também estão entre suas bandeiras políticas.

O Brasil paga caro por ter estimulado a serpente a sair do ovo. E, mais uma vez, não se trata de religião mas de lucro, política e poder.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Janir de Hollanda: uma vida dedicada ao jornalismo

Janir de Hollanda, em 1995, em Moscou, quando fez matérias para a Manchete
sobre a Rússia e os desafios do pós-comunismo. 
Janir de Hollanda foi um dos tripulantes da "nave louca" da Rua do Russell. Em épocas diversas, revistas como Amiga, Mulher de Hoje, Conecta e Manchete levaram sua marca.

Esta foto é de 1982. A revista Manchete comemorava
30 anos. Janir de Hollanda, Roberto Muggiati, Lincoln Martins, Edson Pinto,
Roberto Barreira, Daisy Prétola e Gervásio Baptista. Na primeira fila: Marília Campos,
Justino Martins, Vera Gertel, José Resende Peres e Thereza Jorge.
Os anos 1990 não foram fáceis para quem dirigia publicações da Bloch. Além dos desafios crescentes do mercado, cada jornalista enfrentava a instabilidade de uma editora em crise. A incerteza passeava nos corredores da redação enquanto as equipes se debruçavam sobre exaustivos fechamentos.

Ao longo da sua carreira, Janir lançou vários produtos jornalísticos visando nichos do mercado. Era atento aos novos caminhos. Os anos difíceis não abalaram essa sua característica. Mesmo em meio àquela década criou a Conecta, revista especializada no universo digital e esteve à frente da Manchete on line, que tentou inserir a marca em um novo tempo.

Em um texto que escreveu há alguns anos, Janir analisou o impacto da internet na atividade a que tanto se dedicou. "O grande desafio para figurões e figurinhas da mídia é entender e se aproveitar da grande revolução que está em marcha. O futuro não é o de jornais e revistas de hoje embrulhados em formato digital. O que está em gestação é uma nova forma de fazer jornalismo. Uma mesma história poderá ser contada de diferentes maneiras, usando áudio, vídeo e texto, uma nova especialização para as futuras gerações de jornalistas. É possível até que esta revolução bote no lixo um dos mais importantes cânones da construção da notícia, as cinco perguntas que formam a estrutura do texto jornalístico: quem, quando, como, onde e por quê. No espaço limitado do papel ou do tempo no rádio e na tv, essas perguntas botaram ordem na casa do jornalismo. Mas na internet, na qual cada internauta é um editor em potencial e onde viceja um novo idioma, o internetês, o mínimo que se pode esperar é que uma nova pergunta seja acrescentada às cinco consagradas: pra quê?
A morte anunciada de revistas e jornais impressos, sob a avalancha da internet, beira o catastrofismo. Em todo caso, de que a coisa está feia ninguém dúvida".

Quase na reta final da Bloch, editou a Manchete na versão tradicional. O fim da editora o levou à Ediouro e, depois, às alternativas que a crise do modelo jornalístico impôs a muitos profissionais. Escreveu livros e criou revistas corporativas.

Até há poucos dias, Janir trabalhava em um novo projeto. Um infarto o atingiu ontem enquanto estava estava envolvido na seleção de fotos, edição e textos para um livro ilustrado sobre a história do Circo. Foi o ponto final da sua intensa e múltipla trajetória.

Boris Johnson, o trapalhão atrapalhado

Boris Johnson. Twitter
por Jean-Paul Lagarride

Em matéria de mundo bizarro, o Brasil não está sozinho.

O Reino Unido também vive às voltas com um trapalhão atrapalhado.

O apresentador Graham Norton, da BBC (no Brasil, seu programa de entrevistas com celebridades é exibido no canal por assinatura Film&Arts) é normalmente bem-humorado, pelo menos até o atual primeiro-ministro Boris Johnson o tirar do sério.

Se você já se perguntou o que diabos está acontecendo no Reino Unido, Norton explica. Ao comparecer ao Late Show de Stephen Colbert, ele deu uma aula de política.

À sua maneira.

Norton comparou Boris Johnson a Cabbage
Patch Kid, boneco famosos na
Inglaterra e nos Estados Unidos.
"De um modo leve, é como se o Reino Unido estivesse envergonhado pelos Estados Unidos se sentirem sozinhos no cenário mundial e encontrado seu próprio Cabbage Patch Kid bravo e o tornou líder", disse Norton.

"Eu não confiaria que ele regasse minhas plantas quando estivesse fora, mas de alguma forma ele é o primeiro-ministro", finalizou.

A notícia está no Mashable.

Além da comparação inevitável com Bolsonaro, o contexto do Reino Unido em guinada para a direita mostra outra semelhança com o Brasil: o movimento de apresentadores de TV rumo à política. Boris Johnson era um animador televisivo caricato e histriônico. João Dória e Luciano Huck, egressos da TV, estão aí para não deixar Trump, Boris, Beppe Grillo (comediante da Itália, deputado e fundador do  Movimento 5 Estrelas) e Volodymyr Zelenskiy (humorista que se tornou presidente da Ucrânia) mentirem.               

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

"Vou de preto" - Manifestação em defesa da Amazônia, contra cortes de verbas de educação e pesquisa


Encurralado por acusações de corrupção, um Collor de Mello descontrolado convocou os brasileiros para irem às ruas no dia 16 de agosto de 1992 vestidos de verde e amarelo. Naquele momento, sob o argumento de que "a minoria atrapalha, a maioria trabalha", ele imaginou ser apoiado por multidões.

Deu ruim.

O povo foi às ruas, mas vestindo preto e pedindo 'fora Collor".

Na semana passada, Bolsonaro pediu que a população vista verde e amarelo no próximo sábado, 7 de setembro. "É para mostrar ao mundo que aqui é o Brasil. Que a Amazônia é nossa". Em baixa nas pesquisas, batendo recordes de desaprovação em comparação com vários outros presidentes no mesmo tempo de governo, o inquilino do Planalto cria "inimigos". Nenhum país está dizendo que "aqui não é Brasil", muito menos as potências estão a beira de mandar tropas ocupar a Amazônia. Ao contrário, quem está botando fogo na Amazônia são brasileiros incentivados pela política governamental exposta em declarações públicas do próprio Bolsonaro e dos seus ministros.


Em resposta, a UNE convoca manifestação para o mesmo sábado e pede aos estudantes e à população que se vistam de preto e pintem os rostos de verde e amarelo para protestar contra corte de verba de educação e pesquisa e pela defesa do meio ambiente.

Na capa do Cahiers du Cinéma, o bangue-bangue social do filme "Bacurau"


Cahiers du Cinéma Bacurau vem com a capa de "Bacurau", filme que ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, de Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival de Munique e já está em exibição nos cinemas brasileiros desde a semana passada. A revista francesa publica uma entrevista com o diretor Kleber Mendonça Filho (Júlio Dornelles codirigiu o filme). O contexto da fictícia cidade de Bacurau remete à violência, aos abusos e à desigualdade  dos dias atuais. Por lançar na cara do freguês uma dura realidade, a mesma que está à sua volta, não é filme que agrade a todos. A crítica brasileira, em sua maioria, reconheceu a qualidade do filme e seu hipertexto do difícil momento atual, embora uma ou outra dissonante tenha ironizado roteiro e personagens. A propósito, a Cahiers du Cinema também faz uma análise dos polos eletrificados do cinema brasileiro no "Brasil de Bolsonaro". 

R.I.P - Governo coveiro vai enterrar obra de estação de metrô. Arqueólogos do futuro agradecem

por Flávio Sépia
O arrocho fiscal imposto pelo neoliberalismo - política econômica já em revisão em muitos países - deixa o Brasil em coma e os especuladores financeiros no paraíso. Com o Estado paralisado pelo rentismo, só se ouve falar em desmonte, desativação, fechamento de fábricas, abandono de obras e, agora, enterro de canteiros.

A "nova era" inventou a tecnocracia do coveiro.

O Globo de hoje noticia que o governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, vai mandar soterrar a enorme escavação feita na Gávea para o que seria a estação de metrô do bairro. O Rio está quebrado, alega o político. O fato exemplifica bem o que é a privataria de obras prontas. Nenhum grupo privado se apresenta para concluir a estação e explorar a linha depois, nem mesmo os fundos controladores do metrô carioca. Este sim seria um investimento, tal como se faz em muitos países. Aqui, empresários preferem esperar que o Estado faça as obras e banque seus custos e só então se coçam para descolar uma concessão amiga.

Ser capitalista assim é moleza. Nessa hora, os espertos esquecem o dogma do "estado mínimo".
Se não embolsarem o máximo, essa obra, apesar das reivindicações dos cariocas - Jardim Botânico, Jockey e Gávea são bairros campeões de engarrafamentos - jamais ficará pronta.

Além do prejuízo que é soterrar todo o canteiro de obra da Praça Santos Dumont, o governo do Rio de Janeiro ainda banca o aluguel do tatuzão utilizado para escavar a linha, que está enterrado no subsolo da imediações da Rua Igarapava, no Leblon, e custa, parado, milhões em manutenção.

Casos como esse, de obras paradas que geram prejuízos bilionários, se multiplicam pelo país.

Procura-se um capitalista que abra mão de mamar no Estado e assuma esses investimentos.

No Brasil do fanatismo neoliberal e de uma política econômica de corretagem especulativa, enterrar canteiros de obra é o único "investimento" em infraestrutura. Os arqueólogos do futuro agradecem.

Protesto carioca leva governo pro poste! Em Botafogo, Rio

Reproduzido do Twitter

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Na capa da Piauí: o Brasil veste cinza...

Capa da Revista Piauí. Edição de setembro/2019

Ministro da "Educassão" pode virar acadêmico. Por que não?

Foto: Reprodução O Globo/04/7/2019


Elio Gaspari conta hoje na sua coluna do Globo um caso pouco conhecido. O general Aurélio de Lira Tavares, um dos integrantes da junta ditatorial que mandou no Brasil entre 31 de agosto e e 30 de outubro de 1969, escrevia preciosidades como "acessoramento", "encorage" e "distenção".

A revelação pode ser um alento para o atual ministro da Educação Abraham Weintraub, que também tem embates perdidos com o idioma e problemas graves pelo menos com a letra "s", como em "paralização" e "suspenção.

O general Lira Tavares, apesar da falta de estrelas ao manusear o vernáculo, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 23 de abril de 1970. Segundo o site da ABL, ele é autor de 16 livros, a maioria sobre temas da caserna, além de poesias que escrevia sob o pseudônimo de "Adelita".

Tudo isso está registrado na biografia do general que votou a favor do AI-5 pontuando que não acreditava na Constituição para salvar a nação.

Restou apenas um mistério para a história: quem era o revisor de Lira Tavares.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Mídia: atestado de bons antecedentes para acesso de repórteres a coletiva de ministro? Bizarro. Se a mesma exigência for feita a autoridades as coletivas serão praticamente extintas...



O credenciamento para uma entrevista coletiva do ministro Paulo Guedes, marcada  para a próxima quinta-feira, 4, em Fortaleza, fez uma exigência bizarra. Se quisessem ouvir o que o "Posto Ipiranga" de Bolsonaro tem a dizer, repórteres e fotógrafos eram obrigados a apresentar atestado policial de antecedentes criminais.

Ora, se a mesma exigência fosse feita às autoridades de todos os níveis que os jornalistas são obrigados a entrevistar em todo o país, praticamente seriam extintas as coletivas.

O  Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram imediatamente a exigência. "Uma obrigatoriedade completamente inédita e absurda. Como reportou nesta tarde o jornal O Povo, uma cobrança “nunca antes apresentada para o acompanhamento de autoridades durante suas passagens pelo Ceará”, diz trecho da nota das entidades de classe.

Após a repercussão negativa da exigência descabida, o tal atestado deixou de ser condição para acesso à coletiva. A empresa AD2M Engenharia de Comunicação, responsável pela assessoria de imprensa de evento com o Ministro Paulo Guedes, afirmou que tudo não passou de um "equívoco".

Deve ter sobrado para o estagiário.

Começou mal a primeira apresentação de Paulo Guedes no Nordeste após oito meses de governo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Fotomemória da redação: Cony e o carrasco nazista Franz Wagner

Em 1978, Carlos Heitor Cony entrevistou com exclusividade para Manchete o carrasco nazista Franz Wagner. Oficial austríaco da SS, ele era o segundo em comando no campo de concentração Sobibor. Com o fim da guerra, fugiu para o Brasil onde viveu durante anos até localizado por Simon Wiesenthal, caçador de nazistas e sobrevivente do Holocausto, com o auxílio do jornalista brasileiro Mário Chimanovitch. Foi preso em maio de 1978.
Com o Brasil em plena ditadura, o STF negou sucessivos pedidos de extradição de Franz Wagner para Áustria, Polônia, Alemanha Ocidental e Israel.
Cony perguntou ao nazista se ele ainda fazia planos de vida. "Continuar vivendo. Isto é um plano. Sou um homem simples, me basto com pouco. Se tiver que ser preso, prefiro ficar na Alemanha. Foi por ela que lutei durante a guerra. Foi por ela que estou nessa situação, sendo acusado de besta humana, de fera nazista", disse ele, sem dar sinais de arrependimento.
Dois anos depois, o nazista foi encontrado morto em uma cela em São Paulo, com uma faca cravada no peito. Houve suspeita de assassinato, mas oficialmente foi declarado o suicídio.

Dados de milhões de brasileiros estão ameaçados - Privatização do Dataprev e Serpro pode gerar a maior invasão de privacidade já vista no mundo...




A mídia neoliberal brasileira sequer discute o assunto. Na verdade, omitiu dos brasileiros essa perigosa consequência ao noticiar o recente e açodado pacote de privatizações anunciado pelo governo federal.

O site de tecnologia ZDNet destacou o tema na sua edição americana, com artigo da jornalista Angélica Mari, e foi direto ao ponto. Dados pessoais e profissionais de cidadãos brasileiros estão ameaçados pela privatização de duas grandes empresas públicas; o Dataprev e o Serpro. O primeiro cuida de todas as informações para o sistema de assistência e seguridade social do Brasil. O segundo é responsável pelas informações fiscais, pelo controle da receita e gastos públicos, dados do imposto de renda, entre outros, além de demais aspectos das relações dos cidadãos com o governo. Se a anunciada privatização se consumar, dados confidenciais de milhões de brasileiros poderão ser manipulados pela empresa privada que comprar toda a movimentação das operações de cada cidadão. 

Um manifesto divulgado pelos funcionários do Dataprev alerta para essa enorme apropriação de informações pessoais. O documento foi encaminhado à Câmara dos Deputados, onde os funcionários levantam a importante questão e argumentam, também, que o Dataprev é lucrativo e não depende de fundos federais.

O que está sendo gestado é a mais gigantesca invasão de privacidade já implementada por um governo.

PARA LER A MATÉRIA DO ZDNET, CLIQUE AQUI

Jornalista e professora brasileira é indicada para o Press Freedom Award 2019

A organização Repórteres sem Fronteiras RSF anunciou os indicados para o Press Freedom Awards 2019. Jornalistas de 12 países foram selecionados para três prêmios cujo resultado final será divulgado no próximo dia 12 deste mês, em Berlim.
"Muitos dos indicados enfrentam ameaças constantes ou foram presos várias vezes por seu trabalho - mas esses jornalistas se recusaram a ser silenciados e continuam a levantar a voz contra o abuso de poder, corrupção e outros crimes. Em vez de nos desanimar, as situações difíceis que esses jornalistas enfrentam nos inspiram com a vontade de conseguir mudanças. A coragem na busca de ideais jornalísticas é uma força motivadora formidável para todos aqueles que desejam enfrentar os desafios mais importantes da humanidade ". diz Christophe Deloire, secretário-geral do Repórteres Sem Fronteiras.
Entre os nomeados para o Press Freedom está a jornalista naturalizada brasileira Lola Aronovich, nascida em Buenos Aires, professora da Universidade Federal do Ceará, e que se tornou conhecida por lutar pelos direitos das mulheres. Entre suas conquistas está a chamada "Lei Lola", que possibilita à Polícia Federal assumir qualquer investigação sobre crimes online de natureza misógina.
Lola Aronovich, que mantém o blog Escreva Lola Escreva e está presente no Twitter e no You Tube, é repetidamente atacada pelas milícias digitais e recebe frequentes ameaças de morte.
VISITE O BLOG DE LOLA ARONOVICH, AQUI

Lembra? O escândalo Panama Papers, que envolveu brasileiros, deu em nada mas agora virou filme

Meryl Streep em "A Lavanderia"
por Ed Sá

Um escândalo internacional brilha nas telas do Festival de Veneza. O filme "The Laundromat" ("A Lavanderia"), da Netflix, é baseado no escândalo internacional gerado pelo vazamento de movimentações bancárias da vasta elite internacional que manobra dinheiro em paraísos fiscais para fugir dos impostos.

Para recordar: em 2016 documentos do escritório de advocacia Mossack & Fonseca - muito frequentado por oligarcas brasileiros do mercado financeiro, da indústria, do agronegócio e da comunicação, revelaram o esquema de evasão fiscal e lavagem de dinheiro com o qual super-ricos de vários países escondiam seus bilhões de dólares através de empresas de fachada.

Em apenas um endereço havia 250 mil "pessoas jurídicas" registradas. Se todos os donos daquelas firmas "laranjas" resolvessem ir ao trabalho no mesmo dia nem um estádio de futebol seria suficiente para recebê-los.

Gary Oldman e Antonio Banderas estão em "A Lavanderia". 
Apesar do tema dramático, o diretor Steven Sordenberg optou por contar a história através de um filme com tons de uma comédia "ácida". A figura central da trama é uma viúva enganada por um golpe financeiro. À RFI, Maryl Streep que faz o papel da viúva, declarou: "Este filme é divertido e engraçado, mas é realmente importante. Essa é uma maneira engraçada de contar uma piada de mau gosto, uma piada que riu de todos nós". Streep contracena com os atores Gary Oldman, Antonio Banderas e Sharon Stone

Os Panama Papers, um pacote de mais de 10 milhões de documentos, foram enviados por uma fonte anônima para o jornal alemão Süddeutsche Zeitung. Diante do enorme volume de provas, um grupo de jornalistas investigativos organizou a publicação em centenas de veículos de vários países. No Brasil, Estadão, UOL e Rede TV participaram do pool que publicou reportagens exclusiva sobre o assunto. Em geral, a mídia conservadora brasileira minimizou o escândalo sob o argumento de que abrir empresas em paraísos fiscais não é crime. De fato, não é ilegal, em princípio. Mas os documentos apontavam para evasão fiscal, lavagem de dinheiro e até movimentação financeira para para traficantes de drogas através de empresas de fachada.

A facção brasileira do escândalo envolveu vários políticos e seus parentes, empresários e instituições financeiras e grupos de comunicação. Pra variar, deu em nada.

Durante uma entrevista coletiva em Veneza, Meryl Streep lembrou que "pessoas morreram por causa disso". A atriz se referia à jornalista Daphe Anne Caruana Galizia, assassinada em ataque a bomba em 2017, em Malta, quando participava da investigação dos Panama Papers. Galizia denunciava grupos organizados para lavagem de dinheiro em vários jornais e mantinha o blog "Running Commentary, um dos mais lidos no seu país, um ativo paraíso fiscal.

"The Laundromat" estréia na Netflix no dia 18 de outubro.

domingo, 1 de setembro de 2019

O que o "Museu Temer" esqueceu de contar...

Fotot- Reprodução o Globo

por O. V. Pochê

Matéria no Globo, hoje, mostra o Centro de Memória Presidente Michel Temer, na Faculdade de Direito, em Itu (SP). O local contém acervos do ilegítimo que ocupou o Planalto após conspirar para o golpe que derrubou Dilma Rousseff. A reportagem informa que o tal centro está fechado. Apesar de ter ocupado valioso espaço do pátio da faculdade, certamente mais importante em metros quadrados e bem mais útil do que o notório Michel, o Centro de Memória não é uma má ideia. Precisa, talvez, de alguns ajustes. Uma sala especial sobre o Porto de Santos, por exemplo, que seria rendoso latifúndio político do golpista. Uma estátua em tamanho real do Coronel Lima, o amigo de Temer apontado como intermediário de propinas, uma espécie de "avião" que decolava para recolher malas de dinheiro. Uma sala multimídia onde os visitantes poderão assistir ao vivo a conversa de Temer com Joesley Batista e diálogos na madrugada com Moreira Franco, outro acusado por corrupção. E, para relaxar ou sair correndo, dependendo do gosto do freguês, uma sala com as poesias escritas por Temer. O único problema é que assim repaginado o memorial será proibido para menores.

Leitura Dinâmica: Neymar, Vereza, Oscar...

* Amanhã fecha-se a janela de transferência que possibilitaria a negociação de Neymar para o Barcelona. Dificilmente haverá uma reviravolta. O jogado deverá voltar ao elenco do clube francês mesmo a contragosto. Neymar acumula recordes: foi protagonista da transferência mais cara do futebol - 222 milhões de euros para sair do mesmo Barcelona -, da mais fracassada (seu rendimento no PSG com os vários afastamentos por contusões que o levaram a não participar de jogos decisivos, não justificou a transação), sofreu bullying em rede mundial de TV  (quando Mbappé tentou impedir o brasileiro de entrar na foto com os demais jogadores do PSG para a pose com o Troféu dos Campões) e passou pelo vexame de oferecer 20 milhões de euros do próprio bolso para reforçar a última proposta do Barcelona ao PSG. Neymar, na verdade, sabe que se tiver que permanecer no PSG terá a difícil tarefa de reconquistar a torcida e o próprio ambiente no time.

* Carlos Vereza, cheerleader do bolsonarismo, reclama da "patrulha". Coitado. Daqui a 50 anos alguém vai fazer um filme sobre ele corrigindo perseguição "injusta". Vide Simonal. Regina Duarte também bolsonarista e também "patrulhada" deverá render outro filme-reabilitação bancado pela direita futurista.

* A Academia Brasileira de Cinema anunciou o filme "Vida Invisível", de Karim Ainouz como representante do Brasil para concorrer a uma das cinco vagas de produções internacionais que disputarão o Oscar de Melhor Filme Internacional (antes chamado "Melhor Filme em Língua Estrangeira). O filme de Karim Ainouz recebeu cinco votos enquanto "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho, foi indicado por quatro jurados. Os perdedores tentaram indicar um filme que passasse uma mensagem política mais forte. Os vencedores da disputa preferiram eleger um filme que, na visão deles, está mais próximo do gosto dos eleitores do Oscar. Nos últimos anos tem sido assim: jurados condicionam a escolha a uma espécie de loteria para acertar o "estilo" preferido de Hollywood. Não tem dado certo. A última vez que o Brasil ficou entre os cinco concorrentes foi há 20 anos, com "Central do Brasil".

* A nova cirurgia de Bolsonaro, supostamente marcada para a semana que vem, desperta rumores nas redes sociais. o sujeito deverá ficar dez dias afastado. A dúvida é se a cirurgia justificará sua ausência na abertura solene de novo período de trabalhos da ONU. Tradicionalmente, presidentes brasileiros discursam durante a sessão inaugural. Com o tema das queimadas na Amazônia será abordado pela ONU, as redes sociais desconfiam que Bolsonaro vai dar no pé. Uma novela a acompanhar nos próximos dias.

* O evangélico Bolsonaro foi ao "Templo do Salomão", em São Paulo, receber benção do "bispo" Macedo. Até aí, "saravá mi si fio". O problema é que sobrou para a imprensa. O oligarca dono da Record, que tem sido privilegiada no quesito verbas publicitárias do governo federal, chamou de "inferno da mídia" o tipo de cobertura que é feita sobre o governo. Macedo ainda declarou que falava com autoridade porque não era ele quem estava ali, mas o próprio Espírito Santo. Enquanto isso, bispos católicos que criticam a destruição da Amazônia são ameaçados como "inimigos da pátria".

Na capa da Carta Capital - Agronegócio queima seu "latifúndio" e tragédia amazônica atinge Brasília