terça-feira, 10 de setembro de 2019

Futebol - Porque os europeus tomaram a bola do jogo e, tudo indica, não vão devolver

por Niko Bolontrin

Se você estiver vendo os jogos das Eliminatórias da Eurocopa e, ao mesmo tempo, conferindo os amistosos entre seleções sul-americanas, terá muito a observar e comparar.

Conforme-se, um antigo trio de excelência do futebol - Brasil, Argentina e Uruguai - caiu para a  Segundona mundial, ao lado das demais seleções do continente.

O futebol sul-americano ainda produz craques, mas os envia cedo para a Europa. Os times europeus se valorizaram tremendamente, principalmente nas duas últimas décadas, e construíram uma potência financeira. E os milhões de euros resultaram em poder político. A UEFA, hoje, desafia a Fifa. Com o apoio da entidade, redesenhou o calendário. As chamadas "datas Fifa", que eram a oportunidade para os sul-americanos enfrentarem em amistosos as melhores seleções da Europa foram ocupadas por torneios fechados do Velho Continente. Atualmente, além dos jogos classificatórios e da Eurocopa em si, foi criada a Liga das Nações, que preenche as datas que sobraram. Em consequência, uma seleção com a do Brasil tem que se contentar em enfrentar adversários menos qualificados. O mesmo vale para Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia etc.

Seleções europeias ganharam as últimas quatro Copas do Mundo, uma sequência que jamais aconteceu desde o primeiro mundial em 1930. Aliás, apenas uma vez eles ganharam duas Copas seguidas. Foi com a Itália em 34 e 38. Depois disso, Uruguai, Brasil e Argentina sempre interromperam o domínio, até 2002, ultimo ano em que uma seleção sul-americana venceu um mundial. No caso, o Brasil.

A transferência para a Europa de craques formados e, cada vez mais, promessas de craques, também afeta a qualidade do futebol sul-americano, especialmente nas suas características individuais, o drible, o improviso, a criatividade. Ao trabalhar com os jovens que recebem nos times, como Vinicius, Jesus, Paquetá e outros, os treinadores europeus costumam falar que a primeira etapa, antes que garantam vagas de titulares, é a "adaptação".  Essa reciclagem nada mais é do que encaixá-los no atual padrão do futebol dominante, que reduz, ou inibe, as opções por jogadas individuais. Isso fica claro no estilo dos nossos "estrangeiros" quando atuam na seleção brasileira. Quer um simples exemplo? Jogador em condição de finalizar prefere, não raro, transformar a última bola em mais um passe, às vezes para um companheiro em posição menos favorável para um chute a gol.  Aconteceu  mais de uma vez no recente Brasil 2X2 Colômbia. Passes laterais e em profundidade, tempo de posse de bola e marcação alta são fundamentos do novo futebol em detrimento da maioria das iniciativas individuais. Um Maradona que hoje pegasse a bola e corresse por 55 metros driblando adversários em fila irritaria treinadores. Pelo menos, até que se surpreendessem com a bola dentro do gol.

As seleções sul-americanas estão aos poucos abrindo mão dos seus estilos sem, ao contrário do que os teóricos do futebol esperavam, assimilar o jogo europeu, até por, evidente, falta de tempo para treinar.

Um tempo que, segundo os poderes da Fifa e da UEFA e as restriçoes do novo calendário, não mais terão.
  

6 comentários:

Lourival de Caxias disse...

Concordo que em seleções Brasil é Segundona. Acrescento que em times de clubes é Terceirona. Basta ver que jogadores fracassados na Europa chegam de volta aqui e tiram onda de craques.

Maura disse...

Acho que o hexa virou fantasia

J.A.Barros disse...

O futebol brasileiro atravessa uma crise muito séria.A falta de grandes jogadores, a falta ide bons técnico e direção enlouquecida da CBF, que no afã de faturar cria jogos que não trarão nada de novo para a Seleção brasileira. Precisamos fazer alguma coisa de novo. Sermos mais ousados e reinventarmos novos técnicos. Precisamos parar de trocar de técnicos – os mesmos nomes – de um clube para outro e contratarmos técnicos europeus. O Flamengo já começou e está dando certo.

Giovanni disse...

Se o Brasil ficar refém das datas da Fifa não vai treinar a seleção nunca. Seria melhor montar um time base com jogadores que jogam no Brasil e a CBF abrir datas próprias, mesmo que sejam poucas, para um ou dois amistosos que sejam, já dava para conhecer e testar alguns. Temos times apresentando bom futebol, e futebol moderno, casos de Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Atlético do Paraná e o Santos. Tite tem os olhos voltados só para Neymar e companhia. Vejam quando tempo ele levou para convocar Bruno Henrique, como desprezou a boa fase de Dudu, artilheiro do Palmeiras, Paquetá quando estava aqui nem foi notado por ele.
Como Niko mostra, a UEFA domina a Fifa e fechou espaço só para suas seleções. Desse jeito, a própria copa do mundo tende a perder importância técnica para uma Eurocopa. A CBF tem que acordar para essa nova realidade.

J.A.Barros disse...

Não vamos pensar em "hexa ", porque precisamos primeiro pensar em refundar o futebol brasileiro. O nosso futebol, hoje, não revelou mais nas suas peladas e nos times do interior, as mesmas qualidades reveladas nos craques do passado. Alguns poucos jogadores ainda demonstram nos campos técnicas de craques, mas que são logo vendidos para o futebol europeu por motivos basicamente financeiros. Primeiro, os clubes, sempre em deficit, precisam fazer dinheiro para sobreviver como clube de futebol e segundo, os próprios jogadores, que na suposição de que ficarão ricos em pouco tempo trabalham para sua venda, porque ganharão comissão nesse novo contrato e viverão na Europa na doce ilusão de uma vida melhor. Mas, na Europa, os clubes vão condiciona–los fisicamente e tecnicamente para a prática do futebol praticado na Europa. Muitos jogadores, submetidos a esse novo tratamento perdem o seu estilo – muito brasileiro – e passaram praticar o futebol no estilo europeu que para nós não tem muita graça e perdem o que mais tinham de fantástico: o drible. Precisamos também em pensar rapidamente em renovar os nossos técnicos. Muitos já estão ultrapassados e repetitivos, que vivem trocando de times e sempre levando as mesmas técnicas e preparo físico de anos e anos. Alguma coisa tem de acontecer e fazer uma revolução no nosso futebol. O Flamengo já começou a sua revolução.

Lourival de Caxias disse...

Não quero ser pessimista mas não vejo mais futuro no futebol brasileiro. Agora o Congresso quer aprovar um projeto que obriga a transformação dos clubes em empresas. Isso vai significar o domínio total mais do que é hoje de empresários de jogadores que vão usar os clube apenas como plataforma para negócios. É só esperar para ver.