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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Fotomemória da Rua do Russell


Sobre o post acima (de Celso Arnaldo compartilhado por José Carlos Jesus), confira a escalação da foto em uma tarde qualquer perdida no tempo na sede da Revista Manchete. 
Da esq. para a dir: Hélio Carneiro, d.Bella, dr. Haroldo Jacques, Adolpho Bloch, Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Janir de Holanda, Pedro Jacques Kapeller, Claudia Richer, Roberto Barreira, Lena Muggiati e Tarlis Batista. Sentados: Vera Mendonça, Marilda Varejão, Celso Arnaldo Araújo, Ateneia Feijó, José Esmeraldo Gonçalves, Lincoln Martins, Silvia Leal e Silvia de Castro. 

domingo, 12 de abril de 2020

Covidético, o neologismo da pandemia

Ontem, em texto sobre o vocabulário da pandemia, este blog lançou o neologismo covidético para nomear os portadores do coronavírus que desenvolvem a doença. Trata-se, como se vê, do radical covid (da sigla Covid-19) e o sufixo ético, à grega.

É uma nova palavra, mas não plenamente original.

Certamente surgiu por desdobramento da linguagem médica, casos, por exemplo, de diabético, aidético.

Como o paciente zero da Aids foi um canadense residente nos Estados Unidos, os primeiros informes médicos e as primeiras matérias jornalísticas difundiram a sigla em inglês (de Acquired Immunodeficiency Syndrome). Portugal, fiel à Flor do Lácio, preferiu adotar o sidoso (derivado de Sida, de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).

O termo aidético, que se popularizou no Brasil, nasceu na redação da Manchete, nos anos 1980, e foi amplamente absorvido pela língua. Foi criado por sugestão do jornalista Celso Arnaldo Araújo, que assim resolveu o problema da falta de um substantivo para as vítimas do então novo vírus.

O paciente zero da Aids, no Brasil, surgiu em São Paulo em 1982. Entre outras tarefas, como a chefia da redação em São Paulo, Celso era o editor de Ciência da revista, pela qual conquistou por duas vezes o Prêmio Esso de Informação Científica.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Ayrton Senna na Manchete: recortes do eterno campeão

Ao longo de 12 anos, entre 1982 e 1994, Manchete acompanhou de perto da carreira de Ayrton Senna. O primeiro contrato importante, a afirmação do talento ainda nas pistas brasileiras, os primeiros passos no automobilismo internacional. Uma parceria que iria bem além da tragédia em Ímola, no dia 1° de maio de 1994, há 25 anos. A partir daquele triste domingo, não mais e apenas o Senna, mas Ayrton Senna, eterno mito mundial. Um ídolo que jamais deixou de estar presente no circuito de Fórmula 1. Vive na admiração de gerações de pilotos, é quase sempre citado nas entrevistas do atual tetracampeão Lewis Hamilton.

A primeira vez que uma foto de Senna foi publicada na revista, o mérito não foi do próprio, então desconhecido do grande público. Explica-se: a seção Brasil em Manchete destinava-se a notas que interessavam a anunciantes ou autoridades. Foi lá que Senna estreou, ao lado do pai e de diretores do Banerj, quando assinou contrato com o banco, bem antes de outro banco, o Nacional, agregar a marca à trajetória internacional do brasileiro.

Na sequência, alguns breves recortes da longa parceria Senna-Manchete.

A primeira foto de Senna na Manchete; em 1982, o piloto assina contrato com o Banerj
para correr na Fórmula Ford.

Um ano depois, ganhou mais espaço.

O primeiro destaque: em 1983, o repórter Celso Arnaldo Araújo e o fotógrafo Orípides
Ribeiro fazem o primeiro perfil de Senna. a matéria apostava em ele se tornaria "um dos
maiores ases do automobilismo mundial".

Em 1988, o primeiro título na F-1. 

A celebridade

O domingo trágico

A despedida. 

Aos 10 anos da morte de Senna, a Manchete já não estava nas bancas. A Bloch Editores
foi à falência em 2000. Durante pouco mais de um ano, uma cooperativa de ex-funcionários, a Nova Bloch,  autorizada pela Justiça, havia mantido a revista viva. Pouco depois, a marca foi a leilão. Em 2004, o empresário Marcos Dvoskin, da Editora Manchete, nova proprietária do título, lançou uma edição comemorativa editada por Lincoln Martins, ex-diretor da EleEla, Geográfica e da Manchete. Foi o ponto final da parceria Senna-Manchete.

sábado, 10 de março de 2018

O bilhete do Joel - por Walterson Sardenberg S°



Por Walterson Sardenberg Sº

Quando Joel Silveira chegava na sucursal de São Paulo da Bloch Editores, vindo do Rio de Janeiro, carregando o corpanzil e toda a simpatia, naquele final dos anos 70, o fotógrafo Mituo Shiguihara já sabia: teria noites animadas. Os dois se davam muito bem. Joel era sergipano de Lagarto. Mituo, paulista de Lins, onde o escrivão do cartório, inapto, esqueceu o “s” de Mitsuo ao grafar o nome de batismo. Apesar das extensas diferenças de origem, o velho repórter nordestino e o experiente fotógrafo nissei tinham imensas afinidades. A começar pelo gosto pelas noitadas.
Sabendo dessa ligação, Pedro Jack Kapeller, o Jaquito, sobrinho de Adolpho Bloch e diretor da editora, gostava de propor matérias para a dupla. Uma delas lhe pareceu juntar o útil, o agradável e o departamento comercial.

Joel e Mituo fariam uma odisseia pela grande e pequena indústria de bebidas do país, das cachaças do interior nordestino aos espumantes da Serra Gaúcha, passando por destilarias mineiras, paulistas, fluminenses, catarinenses, o que houvesse. Na visão de Jaquito, era uma pauta que renderia anúncios publicitários em Manchete e, ao mesmo tempo, irrecusável pela dupla nipo-sergipana, muito chegada aos eflúvios etílicos. Consultado a respeito, Joel Silveira estranhou: “Você quer uma matéria ou duas cirroses?”. A matéria não saiu.

No final de 1978, eu, aos 21 anos, recém-contratado, era foca — e foca total — na sucursal paulista, quando vi Joel Silveira pela primeira vez, entrando na redação da avenida 9 de julho. Naturalmente, o jovem jornalista que fui sabia de quem se tratava. Eu já tinha lido a devastadora e hilariante reportagem que Joel escrevera, ainda nos anos 40, sobre a grã-finagem paulistana, para a revista Diretrizes, de Samuel Wainer. Havia sido republicada, por sinal, pela própria Bloch no livro As Reportagens que Abalaram o Brasil, naqueles anos 70. Mas eu ainda não tinha a real dimensão de quão revolucionário era o estilo coloquial e divertido de Joel, se comparado ao ramerrão parnasiano da maioria dos seus parceiros de geração. Tampouco havia lido as candentes crônicas da Segunda Guerra dele, escritas no front, no calor da hora.

Tudo isso para dizer que, por obra do acaso, encontrei em casa um bilhete do Joel Silveira para o então chefe de reportagem da sucursal paulista, Celso Arnaldo Araujo. Como foi parar nas minhas mãos? Creio que o meu velho amigo — e também professor sem cátedra, no dia a dia da redação — Celso me pediu que fosse ao bairro da Liberdade colher dados policiais para completar uma matéria do Joel. Não lembro de ter falado com o delegado, mas isso deve ter acontecido. É provável que Joel, em suas andanças com Mituo, tenha, digamos, se esquecido de apurar algumas informações. De qualquer maneira, o bilhete, que reproduzo aqui, é autoexplicativo.

Vi Joel Silveira duas ou três vezes na redação. Não o acompanhei em seu périplos noturnos paulistanos, pois ainda não era então tão amigo de Mituo para ser convidado. Tem mais: o fotógrafo, naqueles dias, devia me achar pouco mais do que um fedelho — o que eu era de fato. Com o passar dos anos, contudo, me tornei amigo de Mituo, o que me muito me honra. Fizemos, inclusive, viagens juntos pelo Nordeste em matérias para revistas já não da Bloch, mas da Editora Abril. Corintiano fanático, gozador, contumaz apreciador do sexo oposto, bebedor de whisky nas pedras – abominava cerveja –, era um companheiraço, além de um mestre na fotografia, que aprimorou, ainda jovem, numa escola de Nova York.

Joel Silveira morreu em 2007, aos 89 anos. Seu amigo Mituo não teve tamanha longevidade. Morreu em dezembro de 1988, fazendo uma reportagem com Expedito Marazzi – lendário jornalista da área de veículos – para a revista Caminhoneiro. O caminhão em que rodavam despencou na sinuosa e então  perigosa estrada Mogi-Bertioga. Lá se foi o “nissei e aculturado”, com “mais cara de cearense do que de nipônico”, como Joel, sacana e carinhoso, descrevia no bilhete que despontou nos meus guardados, como uma estrela.

Já avisei ao Celso Arnaldo: o bilhete era endereçado a ele, mas não devolvo sob hipótese alguma.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Há 50 anos – O dia em que (não) entrevistei o Dr. Barnard na Cidade do Cabo


Por Roberto Muggiati

Era uma vez na Manchete. O Dr. Christiaan Barnard tinha conseguido o feito médico do século: o primeiro transplante do coração na Cidade do Cabo, África do Sul.

Foi no domingo, 3 de dezembro de 1967.

Eu trabalhava há um ano como repórter especial do carro-chefe da Bloch. A revista demorou um pouco a assimilar a novidade e avaliar sua importância jornalística. Acho que estávamos meio distantes do mundo, naquele velho prédio da Frei Caneca, onde tínhamos de percorrer quase um quilômetro atravancado por máquinas gráficas sucateadas até chegar ao imenso elevador de carga que nos levava às redações. A penitenciária ficava ao lado: era frequente detentos escaparem atravessando as dependências da Bloch. A atmosfera conspirava para que nos sentíssemos um pouco também como prisioneiros.

Tudo mudou na manhã de sexta-feira, 5 de janeiro. Alguém devia ter feito um contato muito importante na África do Sul para nos garantir uma entrevista exclusiva com o Dr. Barnard. Ao chegar à redação, encontrei a saudosa maloca de Frei Caneca à beira de um ataque de nervos. O chefe de reportagem em exercício, Raul Giudiccelli, investiu esbaforido para cima de mim. “Vai correndo ao Itamaraty tirar um passaporte especial, você viaja ainda hoje à Cidade do Cabo para entrevistar o Dr. Barnard!”


Eu tinha um contato excelente no Palácio dos Cisnes, onde reinava o velho Magalhães Pinto como Ministro das Relações Exteriores. Seu chefe de gabinete, o jovem e brilhante diplomata paranaense Orlando Soares Carbonar, ex-jornalista, era meu companheiro das noitadas de fechamento na redação do jornal Gazeta do Povo de Curitiba, onde vivi as emoções da minha primeira edição extra na morte de Getúlio Vargas, em agosto de 1954.

Duas horas foram suficientes para que eu saísse do palacete da Rua Larga com o passaporte azul na mão e pegasse um táxi para Frei Caneca. Cheguei entusiasmado, mas foi como se trombasse com um muro de concreto.

Cara de tacho, Giudiccelli falou, numa voz deprimida: “A viagem michou, Muggiati. Pode voltar à cobertura do lançamento do filme do Tarzã...”




Eu havia acompanhado a filmagem de Tarzã e o grande Rio e agora o filme estreava em grande estilo. Pífio consolo: não ia mais à África entrevistar o Dr. Barnard, mas teria um gostinho da África via Tarzã, o Rei da Selva.

Dr. Barnard visitou a Manchete em 1978
e deu uma canja no piano da casa. Foto: Lúcio Macedo

Essa viagem abortada foi uma das grandes frustrações dos meus 64 anos de jornalismo. Mas a gente logo fica vacinado. Guardo como prova do crime o passaporte azul novinho em folha que nunca usei. Quanto ao Dr. Barnard, não resistiu à fama. Deixou as cirurgias, virou celebridade, largou a mulher para namorar a Gina Lollobrigida, e um belo dia apareceu no Palácio de Cristal do Russell para desfrutar da hospitalidade de Adolpho Bloch e da cuisine do chef Severino Ananias Dias.

Era 1978, só havia o primeiro prédio, Rua do Russell 804, nos salões do décimo andar Barnard deu uma canja no piano Steinway. Editor da Manchete, eu estava lá, mas nem eu nem ninguém lembra o que ele tocou.

Na Manchete era assim. Muitas vezes grandes ímpetos jornalísticos eram sufocados no nascedouro, como minha viagem à Cidade do Cabo. Mas, no correr do tempo, o que contava era o consistente trabalho de formiguinha da legião de jornalistas que batalhava por lá. Para fechar com um exemplo na área dos transplantes: seis meses depois do feito pioneiro na Cidade do Cabo – com a seriedade profissional que acabou abandonando o brilhante Barnard – o doutor Euryclides de Jesus Zerbini fez o primeiro transplante cardíaco, no Hospital das Clínicas de São Paulo, e se firmou como um dos maiores especialistas mundiais nessa área. Nosso repórter Celso Arnaldo Araújo, Prêmio Esso de Informação Científica, não só acompanhou o Dr. Zerbini na sua gloriosa jornada, como escreveu a biografia definitiva, Dr. Zerbini: o operário do coração.

Operários do jornalismo éramos, somos nós.