Foto de Evgueni Khaldei/Multimedia Art Museum/Moscow |
por José Esmeraldo Gonçalves
Dia 2 de maio de 1945, há 75 anos: a bandeira soviética se ergue sobre o Reichstag, sede do governo de Hitler. É o fim da Batalha de Berlim, em curso desde 21 de abril, dia em que o ronco dos tanques pesados IS-2, do Exército Vermelho, foi ouvido nas ruas da cidade que deveria sediar o Reich de mil anos. As tropas nazistas que defendem o último reduto rendem-se aos soviéticos e a Segunda Guerra encaminha-se para o fim, na Europa.
Enquanto os soldados comemoravam a vitória nas ruas de uma Berlim destruída, o fotojornalista Evgueni Khaldei, que acompanhava a ofensiva como correspondente da agência Tass, pensava em como traduzir em uma imagem forte e simbólica daquele momento. Khaldei resolveu dar uma mão à história e produziu a foto que tinha na cabeça.
Repórteres e fotógrafos de revistas ilustradas, como Life, O Cruzeiro e Manchete, conheceram bem esse processo. Uma reportagem sem uma foto de página dupla de abertura ou de capa perde um pouco do seu impacto. É preciso algo que apresente ao leitor, em titulo e imagem, o que ele lerá e verá nas páginas seguintes. Não necessariamente a foto-síntese, de fácil leitura, surge ao longo do trabalho. Khaldei tinha na sua câmera cenas de ação espetaculares e dramáticas, mas nenhuma passava, ao primeiro olhar, o significado do fim de um conflito mundial.
Ele contou, anos depois, em entrevistas, que procurou nas imediações do Reichstag alguém que pudesse confeccionar uma bandeira, pediu a três soldados que o acompanhassem ao topo do prédio e se posicionou para captar a bandeira sobre os escombros de Berlim bombardeada. Há especulações em torno da foto. A fumaça ao fundo teria sido acrescentada em laboratório; um dos soldados ostentaria no pulso relógios saqueados durante a ofensiva final, delito típico dos conquistadores - ainda mais tratando-se de soviéticos vítimas de horrores por parte dos nazistas que invadiram a Rússia -, mas o fotógrafo preferiu retocar a evidência.
Nada disso impediu que a foto de Evgueni Khaldei se tornasse um poderoso logotipo da tomada de Berlim e do fim do poder nazista. O fotojornalista experimentou uma satisfação a mais ao registrar a derrocada de Hitler: judeu, Khaldei teve os pais assassinados pelos nazistas em 1941.
Aquela era também a foto da sua vida.
Um comentário:
Foi uma foto, na verdade produzida, assim como a foto da bandeira do EUA, levantada num dos morros conquistados na batalha de Iwojima
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