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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Minhas tabelinhas com Pelé • Por Roberto Muggiati

 

 

A Fatos&Fotos foi a primeira revista a publicar a história foto de Orlando Abrunhosa

           
Em seguida, a  mesma imagem do fotógrafo brasileiro foi colorizada para
a capa da Paris Match


Um gol de gênio

 Foi pelo rádio de um carro de reportagem nos arredores de São José dos Pinhais – a caminho do local do desastre de avião que matou Nereu Ramos em 1958 – que ouvi o primeiro gol de Pelé numa Copa do Mundo. O gol que deu a vitória ao Brasil contra o País de Gales nas quartas de final. Um gol antológico que é repetido a toda hora na TV.

O primeiro gol de Pelé em Copas do mundo - 1958 - YouTube CLIQUE AQUI

               

Le Roi Pelé

Em Paris, 1961, estudando no Centre de Formation des Journalistes, certas noites, voltando para a Cité Universitaire, eu comia algo leve no bistrô La Petite Source, no Carrefour de l’Odéon, muitas vezes na companhia do colega Abdou Cissé, do Senegal, que me assediava sedento de notícias do Brasil. Quando nos conhecemos olhou para mim como se eu fosse um ser extraterreno e me perguntou, solene:

– Monsieur Muggiatí, est-ce que tu connais vraiment le Roi Pelé?

Na sua visão, Sua Majestade Edson Arantes do Nascimento reinava soberano sobre um vasto império tropical cheio de súditos felizes. Curiosamente, eu acabara de assistir em 13 de junho, no Parc des Princes, à fabulosa vitória do Santos de Pelé sobre o Racing por 5x4 no Torneio de Paris, diante de um público de 40 mil pessoas.

O gol 1000 

Como editor da revista semanal Fatos&Fotos, que fechava às quartas-feiras para ir às bancas na sexta, coube a mim botar na capa da revista o milésimo gol de Pelé, no Maracanã, de pênalti, contra o goleiro do Vasco Andrada, na noite de 19 de novembro de 1969, na vitória do Santos por 2x1.

A foto imortal

Não há cargo mais arriscado do que editor de revista ilustrada. Em meados de 1970 eu ainda dirigia a Fatos&Fotos, notória pela alta rotatividade de seus editores. O Brasil estreava na Copa do México desacreditado e com um susto, em Jalisco: já aos 11 minutos, tomava um gol da Checoslováquia, mas acabava virando o jogo e ganhando de 4x1. O jogo foi numa quarta-feira. O entusiasmo pela seleção nos fez adiar o fechamento para quinta-feira. O fuso do México nos ajudava, recebemos as fotos pelo malote que chegou ao Rio na quinta, eram rolos e rolos de filme a ser revelados, demos preferência ao preto e branco pela urgência do fechamento. O laboratório revelava, depois copiava as tiras das fotos em 35mm nas “folhas de contato”, a partir das quais o editor escolhia as melhores imagens com a ajuda de uma lupa. Reparem, cada fotinho daquelas ocupava um pequeno retângulo de 35mm, ou seja, 3,5 centímetros de comprimento. Agradeço ao meu pai por encher nossa casa de livros com as obras-primas dos grandes pintores e as melhores revistas de fotografia. Aquilo contribuiu muito para minha educação visual, característica vital para um editor de revista ilustrada. Imaginem o vexame de deixar escapar uma imagem premiada... 

Quando os “contatos” pousaram na mesa de edição, foi como um golpe de mágica, meu olho logo caiu sobre a foto de Orlando Abrunhosa que mostra Pelé socando o ar no vértice de um triângulo formado por ele, Tostão e Jairzinho. Um detalhe importante: era uma foto horizontal, mas privilegiamos o corte vertical para maior efeito estético. Publiquei na capa, num preto-e-branco azulado com as chamadas e o logotipo em cor. Na manhã do sábado a revista esgotava em poucas horas  nas bancas do Rio e de São Paulo. Na semana seguinte, Paris-Match publicou a foto na capa, numa versão colorizada. A foto – que nós apelidamos “os três mosqueteiros” – ganhou o mundo nas décadas seguintes, foi até um selo comemorativo dos correios brasileiros. É uma das fotos que, em meus 28 anos de editor de revista ilustrada – mais me orgulho de ter publicado. Fazendo tabelinha com o inesquecível Rei Pelé...

PS • As imagens que revimos à exaustão na TV do futebol do Pelé são um hino à ousadia ofensiva, as investidas na diagonal e na vertical rumo ao gol. Os dribles, as fintas, um verdadeiro balé, calcado na pureza do futebol de várzea. O oposto do futebol de resultados mesquinho e chato de um Messi, futebol de salão maculando a grama sagrada¸ jogo de xadrez apostando no erro do adversário; e da monotonia da posse de bola dos espanhóis, com nojo da penetração. Em Pelé tivemos a velocidade física e do pensamento, a improvisação, a criação de jogadas nunca tentadas antes no futebol. A força comandada pela inteligência.


quarta-feira, 1 de junho de 2022

Memória da redação: os fotógrafos globetrotters da Manchete

 


Além de manter sucursais com equipes completas em Nova York, Paris, Lisboa, Milão e colaboradores em Londres e Tóquio Manchete enviava fotógrafos em viagens internacionais especiais. Em uma das edições da revista nos anos 1960 o diretor Justino Martins comentou na "Conversa com o Leitor", que publicava naquele número reportagens fotográficas realizadas na India, no Chile, Colômbia e Argentina. Veja o nível de fotojornalistas: Nicolau Drei, Walter Firmo, Antonio Rudge, Alécio de Andrade e Orlando Abrunhosa. Justino registrou a viagem do Orlandinho, a primeira jornada internacional do fotógrafo paraense, que confessou o sonho de "ver neve". Manchete o enviou para a Argentina, precsamente Bariloche, onde ele fez fotos e texto de uma grande reportagem sobre a estação de esqui então lotada de brasileiros.  

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Orlandinho vira o jogo: uma vítória póstuma na luta pelo respeito aos direitos autorais da foto mais famosa de todas as Copas



A foto de Orlando
Abrunhosa na capa
da Fatos & Fotos
A mais famosa imagem de Copas do Mundo - eternizada em capas de revistas, como Fatos & Fotos, Manchete e Paris Match, e no documentário Três no Tri, do jornalista Eduardo Souza Lima, o Zé José - volta a ser notícia. 

O fotógrafo Orlando Abrunhosa, falecido há cinco anos, acaba de ganhar na justiça uma ação de indenização por uso não autorizado da foto de Pelé, Tostão e Jairzinho no México, em 1970. O trio comemorava o gol de Pelé contra a Tchecoslováquia.e, em uma fração de segundo, Orlandinho registrou uma perfeição estética. 

A foto histórica foi muitas vezes publicada ilegalmente em jornais, capas de fitas de vídeo, selo e cartazes. Orlandinho abriu processos e lutou até o fim pelos seus direitos, até fora do Brasil. Alguns dessas pendências ainda estão em andamento. 

Ele, com certeza, se aqui estivesse, iria comemorar essa vitória merecida. Provavelmente, brindando com vodca e limão à sua maneira. Ele nunca deixava de recomendar ao garçom "Mas traz o limão pra eu espremer". Era um clássico do Abrunhosa nos bares cariocas. Martins, do bar do Novo Mundo, uma espécie de filial etílica da Manchete, deve ter ouvido essa frase centenas de vezes. O barman que serviu JK, Jango, Brizola, Garrincha e era capaz de fazer drinques e coqueteis complicados, ficava intrigado por não poder espremer um simples limão. Martins nunca entendeu e Orlandinho nunca explicou. 

Orlando Abrunhosa na cobertura da Copa do México, em 1970, quando
fez uma das fotos mais famosas do futebol

De acordo com matéria publicada por Ancelmo Gois, no Globo, na última segunda-feira, e que repercutiu em vários sites, a célebre foto estampou um painel instalado no Museu da Maracanã, sem que o governo do Estado do Rio de Janeiro e o Complexo Maracanã Entretenimento tivessem, para isso, autorização do autor ou da família.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Fotomemória da redação: quando os roqueiros franceses John Hallyday e Sylvie Vartan foram resgatados da chuva por uma Rural Willys da Manchete

John Hallyday e Sylvie Vartan foram resgatados de um temporal carioca pela Rural da Manchete.

Mesmo assim, no caminho para o hotel, tiveram que se abrigar na Rodoviário Novo Rio enquanto esperavam as águas baixarem. O fotógrafo Orlando Abrunhosa registrou o casal, em primeiro plano, vivendo involuntariamente uma típica experiência de cariocas. 

por José Esmeraldo Gonçalves

Como o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" descreve, o oitavo andar do prédio da Rua do Russell era uma espécie de sala de visitas para personalidades de várias áreas. 

Cientistas como Albert Sabin e Christian Barnard, astronautas como John Glenn e Yuri Gagarin, escritores como Jean-Paul Sartre, astros como Kirk Douglas, Gina Lollobrígida, Claudia Cardinale e muitos outros visitaram a redação. Esse desfile de famosos era praticamente uma rotina. Distribuidoras de filmes, editoras de livros, gravadoras e embaixadas geralmente agendavam uma ida à Manchete como parte do roteiro carioca das celebridades internacionais. Se o oitavo andar era a "recepção", a frota de camionetes Rural Willys  que servia a repórteres e fotógrafos vivia  muitas vezes momentos de viatura vip ao transportar os convidados. 

A foto acima, de março de 1967, mostra o cantor de rock francês Johnny Halliday e a mulher, a também cantora de sucesso Sylvie Vartan a bordo de uma Rural.  O casal vinha de São Paulo e uma equipe de reportagem foi ao aeroporto. Mas era verão no Rio e a coisa não acabou bem. O diretor de redação da principal revista da casa, Justino Martins, escreveu: 

"Johnny Hallyday desceu do avião paulista e consultou o relógio. Eram seis horas da tarde. Às nove, ele devia cantar no Maracanãzinho. Chovia a cântaros. Mas, como bom francês, ele murmurou para a sua bela Sylvie: 'Que d'eau, que d'eau! Vamos em frente. Em qualquer cidade do mundo, quando chove, a vida continua". Só mais tarde, às cinco da manhã, constatou o quanto se enganara: no Rio, quando chove, a cidade morre afogada. O casal de cantores foi apanhado pelas inundações torrenciais e , salvo por uma camionete da Manchete, abrigou-se na estação rodoviária, e o Maracanã, em vez de fãs do iê-iê, acolheu milhares de flagelados, sobreviventes de uma dessas calamidades que ultimamente vêm enlutando o Rio."

A repórter Vera Rachel e o fotógrafo Orlando Abrunhosa cobriram a inesperada aventura dos cantores no Rio. 

Por algumas horas, os roqueiros franceses aguardaram em um banco da rodoviária Novo Rio a chuva diminuir. O show foi adiado e o dia já amanhecia quando o casal chegou, finalmente, ao hotel Copacabana Palace.

domingo, 21 de junho de 2020

Fotomemória da redação - 50 anos da Copa de 70, segundo o trio do Tri: Orlando Abrunhosa, Jáder Neves e Ney Bianchi

Pelé

Gérson

Pelé sobe mais do que Bobby Moore

O capitão abraça o rei

Vibração

Carlos Alberto comemora

Pelé faz...

...fila de uruguaios

Rivelino dispara um foguete

Os heróis do Tri

E o trio da Manchete e Fatos & Fotos: os saudosos Jáder Neves, Orlando Abrunhosa e Ney Biachi

Na capa da Fatos & Fotos, a famosa foto de Orlando Abrunhosa, eleita a melhor da Copa de 70. 

Na edição especial da Manchete, o compacto com os gols narrados por Waldir Amaral e Jorge Coury
FOTOS DE JÁDER NEVES E ORLANDO ABRUNHOSA
(Reproduções Manchete)

A Copa do Mundo de 1970, no México, há 50 anos, foi uma histórica conquista esportiva e um evento jornalístico com características especiais. Pela primeira vez, o Brasil via os jogos pela TV, ao vivo. Em preto e branco, embora as antenas da Embratel recebessem as imagens ema cores, tecnologia que só chegaria ao povão em 1972. Apenas convidados especiais da empresa tiveram o privilégio de ver as imagens coloridas do Tri em salas vips.

A Copa do México era a quinta que a Manchete cobria. A revista temia um possível impacto da transmissão ao vivo na venda das edições. Mas a cobertura dos primeiros jogos, com a Fatos & Fotos chegando rapidamente às bancas e com a Manchete, mais ampla, lançada um dia depois, mostrou que a TV ao vivo não atrapalhava. As edições se esgotavam. 

A equipe formada pelo repórter Ney Bianchi e os fotógrafos Jáder Neves e Orlando Abrunhosa produziu ao longo da Copa um total de 12 edições regulares e quatro especiais. 

Havia um enorme esforço de logística. Assim que cada jogo acabava, começava a corrida para enviar o material para o Rio de Janeiro no primeiro avião da Varig. Se não houvesse voo direto para o Brasil naquele momento, as fotos eram despachadas para Quito ou Bogotá e embarcadas em conexão de jatos da voadora brasileira rumo ao Rio. As tripulações cuidavam gentilmente para que tudo funcionasse sem extravios. O sistema nunca falhou. A conquista da Seleção Brasileira, que jogou a final com a Itália no dia 21 de junho, foi também um dos grandes momentos das duas revistas semanais da Bloch.

sábado, 9 de maio de 2020

Fotomemória - Little Richard no Galeão: "Cadê a limusine do contrato?"

Little Richard chega ao Rio em 1993. Foto de Orlando Abrunhosa/Manchete
Em 1993, aconteceu o Free Jazz. Pela oitava vez desde 1985. Só falhou um ano, em 1990, por causa de Collor, o pai de todas as desgraças culturais antes de Bolsonaro e Regina Duarte. Foram sete dias de música no Rio (Hotel Nacional) e em São Paulo (Palace).

Roberto Muggiati escreveu então que havia uma certa e falsa polêmica provocada pela invasão da "praia jazzeira" por Little Richard e Chuck Berry. Se souberam ou não da esnobada dos puristas, o fato é que os dois aprontaram. Berry escondeu o horário da chegada e forneceu informações desencontradas sobre sua agenda; não queria fotos. A repórter Ana Gaio e o fotógrafo Orlando Abrunhosa, da Manchete,  foram ao Galeão registrar a chegada de Little Richard. E ele já chegou soltando a franga. Paletó com estampa de pele de onça, botas amarelas e uma bíblia na mão, o astro do rock teve um ataque ao ver o carro que a produção escalou para levá-lo ao hotel: um modesto Opala. "Cadê a limousine? Está no contrato. Não vou".

Acabou indo. E, sim, os jazzófilos aplaudiram sua performance.

Little Richard morreu hoje, aos 87 anos. Um dos pioneiro do rock, ele influenciou gerações com sucessos como "Tutti Frutti", "Long Tall Sally", "Rip It Up" , "Lucille", "Good Golly Miss Molly", entre outros.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Ricardo Boechat: uma ausência

Em 1993, Manchete foi encontrar Ricardo Boechat na redação do Globo.
O colunista posou  para o fotógrafo Orlando Abrunhosa na mesa de trabalho,
que era sua trincheira. 
O jornalismo perdeu Ricardo Boechat no momento em que seu trabalho era mais importante.

O Brasil está precisando de indignação.

Muita.

E Boechat foi, na grande mídia, um dos poucos que não não se deixou calar e deu voz à justa indignação sem selecionar os alvos.

Em 1993, a Revista Manchete reuniu em uma matéria de várias páginas os principais colunistas da época. O título: "A guerra dos colunistas". O subtítulo: "Obrigados pela crise a dar menos importância às dondocas e badalações, eles partem para o jornalismo mais in do Brasil".

Boechat, um dos focalizados, comentou a mudança que motivava a pauta da revista.

- "O colunista teve que se transformar em repórter apurador", disse ele ao repórter Jorge Eduardo Antunes, sem sequer observar que sua obstinação pela notícia era um dos fatores da evolução do colunismo.

A força das redes sociais era então uma miragem, os fatos não eram acessados com um clique e os jornais impressos ainda eram a fonte mais disputada de notícias de várias áreas. Como apurador, Boechat era um cão farejador que se desafiava a contar o que nem sempre podia ser desvendado.

A internet provocou uma crise de identidade no jornalismo impresso, abalou a mídia, e Boechat, como tantos outros profissionais, teve que se reinventar. Firmou-se como âncora na TV aberta, sem  se empolgar com sites, canais de You Tube e redes sociais. Curiosamente, foi encontrar seu melhor público em um veículo cuja força é hoje subestimada: o rádio e o seu programa nas manhãs da Bandeirantes, de grande repercussão.


Ricardo Boechat recebeu justas homenagens. Uma, talvez, simbolize a missão cumprida junto ao público, a razão de ser do jornalismo. Foi a manifestação espontânea dos taxistas, dos quais a voz de Boechat foi passageira e, agora, torna-se ausência e saudade.

VEJA O VÍDEO DA HOMENAGEM DOS TAXISTAS, EM SÃO PAULO. CLIQUE AQUI

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Fotomemória da redação: quando uma equipe de fotógrafos da Manchete teve seu dia de modelo...




Clique nas imagens para ampliar


A matéria acima, de Marilena Costa com fotos de Hélio Santos, foi publicada na Manchete em 1966 e focalizava a moda do figurinista Gérson.

A curiosidade fica por conta dos modelos utilizados por Hélio Santos.

Devidamente produzidos em smokings, câmeras e flashes a postos, os fotógrafos da equipe Manchete, Thomas Scheler, Sebastião Barbosa, Antônio Rudge, Juvenil de Souza, Antonio Trindade, Orlando Abrunhosa, Nicolau Drei, Domingos Cavalcanti e Pedro Braga, na foto do alto, e Orlando Abrunhosa, o figurinista Gérson e Juvenil de Souza, na foto acima, contracenam com a modelo identificada apenas como Paola.

A reprodução é da Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional, que agora disponibiliza para consulta on line a coleção da Revista Manchete

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Programa carioca - 20ª Feira do Vinil - O som dos LPs e a arte das capas.

A Feira de Vinil do Rio comemora sua 20º edição no próximo domingo, dia 8 de abril. No campus da Univeritas, antigo Bennett, no Flamengo, acontecerão shows, uma homenagem ao compositor, pianista e arranjador João Donado, exposição e o painel "Vinil - Mercado, Memória e Mídia".

O revival do vinil - que surgiu há alguns anos e, hoje, está consolidado em todo o mundo -, também despertou, além da questão musical, a arte dos designers e fotógrafos que elaboravam as capas do LPs. Com 30x30 cm, o espaço era um veículo em si. Há capas simples, às vezes duplas e até triplas, que são memoráveis.

Durante a 20° Feira do Vinil, 60 expositores de todo o Brasil mostrarão seus acervos de LPs e CDs.

Na antiga Manchete, em diferentes épocas, eram vários os fotógrafos que se especializaram nesse segmento. Nilton Ricardo, Frederico Mendes, Orlando Abrunhosa, Dario Zalis e Walter Firmo deixavam o fotojornalismo por algumas horas para traduzir em imagens os artistas e suas obras.
Foto de Nilton Ricardo.Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas"

Foto de Walter Firmo. Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas"

Foto de Dario Zalis. Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas". 

Foto de Orlando Abrunhosa. Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas"


Foto de Frederico Mendes.Reprodução do livro "bambas do Samba, a arte das capas"

A Feira de Vinil do Rio de Janeiro

O jornalista Fábio Cezzane envia ao blog informações sobre a Feira, que reproduzimos a seguir.

João Donato. Fotos de Marcos Hermes
Durante o evento, João Donato vai receber o Troféu Feira de Vinil do Rio de Janeiro, já entregue ao longo das últimas edições ao grupo Azymuth, a Marcos Valle, ao compositor e arranjador Arthur Verocai, ao cantor e compositor Carlos Dafé e ao sambista Wilson das Neves. Haverá haverá apresentações das bandas Monoplano, Cajubeats e Digga Digga Duo, estreando, no Flamengo, uma programação que incentiva também as bandas independentes.
Às 15h, acontecerá o painel “Vinil – Mercado, Memória e Mídia”, com a participação dos palestrantes Silvio Essinger (jornalista do jornal O Globo), Arnaldo De Souteiro (jornalista, produtor e colecionador de vinis) e Marcelo Fróes (pesquisador e produtor musical), com a medição do produtor e DJ Marcello MBGroove.

Foto de Marcio Graffiti
A Feira de Vinil do Rio é produzida por Marcello Maldonado e pelo produtor artístico Marcello MBGroove (coletivo Vinil É Arte), com realização da Espelho D’Água Produções e da UNIVERITAS, e apoio do CNA, da Rádio Alpha FM e da Satisfaction Discos. Assim como nas edições anteriores, será cobrada como entrada simbólica 1 kg de alimento, a ser entregue à instituição de caridade Solar Meninos de Luz. Ao longo do dia, vários DJs apresentarão seus sets em vinil, especialistas nos mais variados estilos; MPB, Black Music, Rock, Eletronic. Pela primeira vez em sua história, a Feira do Vinil terá um expositor internacional, a Human Head, diretamente do bairro do Brooklyn, Nova York.

Cerca de 60 expositores de todo o Brasil estarão presentes com discos e CDs. Do Rio, participarão, dentre outros, a Tropicália Discos e a Arquivo Musical, além da Livraria Baratos da Ribeiro e da Satisfaction. Os paulistas serão representados pela Locomotiva, Mafer Discos e Vinil SP, só para citar algumas. A feira terá também estandes de venda de CDs, equipamentos de áudio, marcas de roupas e acessórios com esta temática.

 SERVIÇO: 20° Feira de Discos de Vinil do Rio de Janeiro

Dia: 08 de abril, domingo

Horário: 10h às 18h

Local: UNIVERITAS

Endereço: Rua Marques de Abrantes, 55, Flamengo

Entrada: 1 kg de alimento não perecível

Classificação: livre


Fonte: Fábio Cezanne - Cezanne Comunicação - Assessoria de Imprensa em Cultura e Arte
www.cezannecomunicacao.com.br

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Fotografia & Justiça: a importante vitória de Orlando Abrunhosa





por Sérgio Rodas (do site Consultor Jurídico - Conjur)


O fato de uma imagem ser famosa não afasta os direitos do autor sobre ela. Este foi um dos fundamentos da 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para negou apelação da Infoglobo e condenar a empresa a pagar indenização por danos materiais e morais de R$ 93,7 mil a Carlos Orlando Novais Abrunhosa autor da icônica foto de Pelé comemorando um gol na Copa do Mundo de 1970 com um soco no ar. Segundo a decisão, reproduzir fotografia sem prévia e expressa autorização do autor configura a prática de contrafação, proibida pela Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998).

O autor foi à Justiça após os jornais O Globo e Extra, publicados pela Infoglobo, reproduzirem a imagem em sete ocasiões, entre 2009 e 2014, sem pedir autorização nem remunerá-lo. Segundo ele, a companhia violou seus direitos autorais sobre a fotografia, que foi publicada sem indicação de autoria.

Em contestação, a Infoglobo alegou que as reportagens tinham cunho informativo, de cunho social, sem fim lucrativo. Por isso, não teria cometido danos materiais e morais a publicar a imagem. Além disso, a empresa sustentou que teria havido prescrição, uma vez que já se passaram três anos das veiculações da foto, como estabelece o Código Civil.

Efeito pedagógico
O juiz de primeira instância deu razão ao fotógrafo, mas a empresa recorreu. No TJ-RJ, o relator do caso, desembargador Marcelo Lima Buhatem, entendeu que a reiterada publicação sem autorização das imagens configura danos continuados. Dessa maneira, o prazo prescricional para a ser contado a partir da data da última veiculação – no caso, 5 de janeiro de 2014. Como a petição inicial foi distribuída em 21 de maio daquele ano, não houve prescrição, destacou o relator.

A fotografia é uma obra protegida por direitos autorais, como estabelece o artigo 7º, VII, da Lei 9.610/98, apontou Buhatem. Assim, disse, a sua reprodução sem prévia autorização configura a prática de contrafação. E o fato de ser uma imagem famosa, comumente reproduzida, não afasta o direito do autor sobre ela, ressaltou o desembargador.

Para ele, a Infoglobo infligiu danos morais a Abrunhosa, e o mero pagamento de retribuição autoral não é suficiente. O valor da indenização, a seu ver, deve “desestimular o comportamento reprovável de quem se apropria indevidamente da obra alheia”. Considerando que a imagem foi reproduzida sete vezes, durante cinco anos, Marcelo Buhatem avaliou que a reparação de 100 salários mínimos – o que dá R$ 93,7 mil – fixada pela primeira instância é adequada.

Ele também concluiu que a Infoglobo gerou danos materiais ao fotógrafo, uma vez que usou indevidamente um patrimônio dele. Dessa forma, o magistrado decidiu que o ressarcimento deve ser feito com base no valor de mercado normalmente empregado para utilização de espaço nos jornais O Globo e Extra, a ser apurado na liquidação de sentença. O voto de Buhatem foi seguido por todos os seus colegas da 22ª Câmara Cível do TJ-RJ.

À ConJur, Marcelo Buhatem afirmou que a decisão reitera e potencializa os direitos do autor. De acordo com ele, o acórdão também serve para encorajar profissionais que estejam na mesma situação que Carlos Orlando Novais Abrunhosa — tendo suas obras reproduzidas sem autorização nem remuneração — a buscar a Justiça.


Fonte: Conjur


A FOTO SÍNTESE DA COPA DE 1970




Originalmente em preto&branco, a histórica foto de Orlando Abrunhosa foi colorizada para a capa da  Paris Match, em 1970. A revista francesa foi uma das publicações internacionais que não resistiram à icônica "pirâmide" dos craques do Tri. Antes, na versão p&b autêntica, foi capa da Fatos & Fotos 
A premiada foto do genial Abrunhosa foi alvo de muita pirataria. 
Em vida, ele lutou exemplarmente pelos seus direitos. Desde o uso não autorizado da foto em um selo dos Correios passando por capa de fita de vídeocassete e até inclusão ilegal em catálogo de uma agência internacional. 
Foi em torno da foto-símbolo da Copa de 1970 que o cineasta e jornalista Eduardo Souza Lima, o Zé José, fez o documentário "Três no Tri" sobre a trajetória de Orlando Abrunhosa. 
No caso em questão, a justiça agora feita vale como uma homenagem ao profissionalismo e talento do  grande fotógrafo. (José Esmeraldo Gonçalves)

quarta-feira, 8 de março de 2017

Aos 70 anos, Emerson Fittipaldi, que comemorará 45 anos do seu primeiro título na F1, lança carro esportivo de alto desempenho

O superesportivo Fittipaldi EF7 Vision Gran Turismo. Foto Divulgação


Emerson Fittipaldi ao lado do novo carro que ajudou a desenvolver. Foto Divulgação

por Niko Bolontrin 

Ao 70 anos, Emerson Fittipaldi volta a acelerar. No ano em que comemora 45 anos do seu primeiro título de Fórmula 1, no GP da Itália, em 1972, o ex-piloto acaba de desenvolver junto com o estúdio Pinifarina e a equipe de engenheiros da HWA o carro esportivo Fittipaldi EF7 Vision Gran Turismo, de 600cv.

É coisa para apaixonados, como o próprio Emerson. Desde que os irmãos Fittipaldi, Wilson e Emerson,  construíram os primeiros carros Fórmula V, lá pelos idos dos anos 1960, essa paixão os levou a títulos, glórias e prejuízos. A mais famosa e corajosa empreitada foi o do Copersucar, o primeiro e até hoje único Fórmula 1 brasileiro. No ano passado, Emerson Fittipaldi enfrentou dificuldades financeiras e acumulou dívidas que se agravaram em função de mais um sonho automobilístico: promover a prova de Endurance para o Brasil.

A recém-criada Fittipaldi Motors, responsável pelo novo carro apresentado no Salão de Genebra, é uma prova de que o bicampeão mundial de F1 não desiste. O Fittipaldi EF7 Vision Gran Turismo é o modelo de estreia da marca.

Este será um ano especial para Emerson. Foi há 45 anos que ele se tornou campeão de Fórmula 1, um título inédito para o Brasil, na época, e que abriu caminho para José Carlos Pacce, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Rubem Barrichello e Felipe Massa, além de vários outros pilotos brasileiros que se destacaram na principal categoria do automobilismo.

Ao longo da vitoriosa carreira, Emerson Fittipaldi foi várias vezes capa da Manchete. Duas dessas foram especiais. A primeira, em 1972, a do título.

Na época, as fotografias em cores (cromos) eram despachadas da Europa para o Rio por avião.

Para alcançar o fechamento da edição que traria a matéria da conquista do brasileiro, Manchete fretou um avião que levou o material para Paris a tempo de ser entregue a um piloto da Varig que o trouxe para o Brasil.

Além da Manchete da semana, a Bloch lançou uma "edição sonora", com um CD que trazia o som e a fúria da vitória do brasileiro. Coisa dos tempos pré-digitais.

ATUALIZAÇÃO EM 15/03 - Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, envia a seguinte mensagem: 
"Alguns reparos, com relação à edição sonora Fittipaldi em 72. O disco é um 8 polegadas 33 rotações com transcrição das transmissões de corridas ganhas pelo Emerson na voz do seu pai, Wilsão: tem Espanha, Inglaterra, Áustria e Monza, onde ele foi campeão. Apostando num primeiro título brasileiro de Fórmula 1, a Manchete começou a investir. Os fotógrafos de Paris, Pedro Pinheiro Guimarães e Francisco Mascarenhas (Xico, o dono do restaurante Guimas) cobriam todos os GPs da Europa. 

O GP anterior a Monza, onde Fittipaldi seria campeão, foi o de Zeltweg, na Áustria. Para que a Manchete pudesse dar Fittipaldi na capa, Claudio Mello e Souza foi autorizado a alugar um jatinho Paris-Zeltweg-Paris.
Embarcaram na aventura os fotógrafos, o Cláudio e/ou o Sylvio Silveira e o Murilo Melo Filho, que andava por lá e traria as fotos no voo Paris-Rio de domingo à noite. Emerson ganhou subiu ao pódio com uma coroa de louros enlaçando seu peito e a foto deu capa. Na terça à noite, já com exemplares impressos da Manchete, o Célio Lyra viajou para Paris. Assim que chegou, foi às redação do Paris-Match com as revistas, Fittipaldi na capa, na foto feita na tarde de domingo. Os coleguinhas do Match não quieseram acreditar. "Mais non, çà c'est pas possible!" Disseram que era uma fotomontagem. Célio explicou como a coisa foi feita
e tiveram de acreditar. Eu, pessoalmente, como segundo do Justino, comecei a paginar uma edição especial com belas fotos, acreditando também no lema da época "Fitti is Fab!" Era uma edição em formato compacto, 28x21cm, toda em cores e papel supercouchê. 
Emerson acelera. Para fazer essa foto, Orlando Abrunhosa subiu no bico do Fórmula V.
Detalhe, o carro ia a mais de 100km por hora. 
E não é que deu certo? Fittipaldi foi campeão em Monza e na sexta seguinte a edição ia às bancas, com o disquinho. Ele veio para um evento no Riocentro e o Júlio César - lembra dele? escrevia sobre automobilismo - pediu que ele autografasse um exemplar para mim. Aí vai, em anexo. Foi nessa edição que publiquei a fabulosa foto que o Orlandinho fez acocorado no bico do Formula-Vê do Fittipaldi em 68.
Um abraço, Muggiati"


sexta-feira, 6 de maio de 2016

Orlandinho: retratos de um amigo

Orlandinho, nos anos 80: editor de fotografia da Manchete. Na foto, selecionando imagens. 

Essa é, provavelmente, uma das suas mais antigas fotos na Manchete, ainda na redação da Frei Caneca. Orlandinho, de paletó, nos anos 60, ao lado de Cordeiro de Oliveira, Nilo Martins, Nelio Horta, Laerte Moraes, Léo Schlafman, Paulo Henrique Amorim, Hedyl Valle, Robertinho, José-Itamar de Freitas e Ney Bianchi.



No Sindicato dos Jornalistas, com ex-fotógrafos da Manchete então preocupados com o desaparecimento do arquivo fotográfico da Bloch. Conduzidos por José Carlos Jesus, reuniram-se, entre outros, Orlandinho, Henrique Viard, João Miguel Jr., J. Egberto, Frederico Mendes e Aziz Filho, na época presidente do Sindicato.  

Com Ney Bianchi, durante a Copa de 90, na Praça de São Pedro, no Vaticano



por José Esmeraldo Gonçalves
Orlandinho, na redação da Manchete,
na Rua do Russell. Nos anos 80,
como chefe de reportagem de revista,
tive o privilégio de trabalhar com ele
.
Uma trajetória admirável. Assim foi a vida de Orlando Abrunhosa. Do menino que embarcou em um Ita, em Belém do Pará, no começo dos anos 50, ao fotógrafo premiado, ele construiu uma história de sucesso traduzida em imagens de rara beleza e sensibilidade.

Captava a notícia e seus personagens onde quer que estivessem, fosse em Copas, Olimpíada, viagens à China, Japão, Egito, Argentina, Estados Unidos, interior do Brasil ou logo ali na esquina, o palhaço, o sem-teto, o detento, o ídolo da música, o vendedor anônimo, entre tantas matérias marcantes que fez para as revistas Manchete e Fatos & Fotos.

Tostão, Pelé e Jairzinho. México, 1970. Foto de Orlando Abrunhosa
Orlandinho acreditava que cada fato guardava uma alma. Foi assim que fez sua foto mais famosa internacionalmente. Em um milésimo de segundo, ele encontrou em Pelé, Tostão e Jairzinho o símbolo perfeito da Copa de 70.

Nos últimos anos, o fotógrafo retomou um antigo ângulo, fora das lentes: o de compositor. Os amigos testemunharam o entusiasmo com que passou semanas em um estúdio, perfeccionista como sempre, gravando um sonhado CD de sambas ao qual deu o título de "Agora é minha vez". E registraram o justo e merecido orgulho que demonstrou ao ver sua vida e carreira reconhecidas no documentário "Três no Tri", do diretor Eduardo de Souza Lima, o Zé José.

Aos dois Orlandinhos descritos acima - o da fotografia e o da música - somavam-se mais dois: o que expressava sempre que podia a paixão pela família - sua amada d. Helena e os queridos filhos Fábio e Frederico  - e o amigo que reunia em torno de si metade do Rio de Janeiro. Os quatro eram, na verdade, um só: o mesmo Orlando, o bom caráter, a generosidade, a sensibilidade, a integridade, a inteligência, a sábia simplicidade.

Fará muita falta. O sentimento, hoje, é de imensa tristeza.

Aos poucos, seremos confortados pelas lembranças, os bons momentos, o bom humor e, principalmente, pelo grande privilégio de ter conhecido Orlando Abrunhosa.

Um grande abraço, amigo.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Orlando Abrunhosa: lembranças (e saudades) de um amigo

por NILTON RICARDO

Orlando Abrunhosa. Foto: Reprodução Facebook Hy Brazil Filmes
Toda a imprensa estava à espreita, havia uma semana, na tentativa de fotografar o Comandante Aragão, Chefe da Polícia Militar, detido na Embaixada da  Argentina. Vivia-se um regime duro, pós-golpe de 64. "Tempos difíceis, em que não existiam filmes de alta sensibilidade e as pesadas câmeras Rolleyflex acabavam com qualquer clima intimista que o fotógrafo desejasse imprimir", lembra o fotógrafo Orlando Abrunhosa. Em meio ao tumulto de máquinas fotográficas, laudas e flashes, lá estava ele, fotógrafo miúdo, com pouco mais de metro e meio de altura, à espera de uma oportunidade para fazer seu primeiro furo de reportagem.
— Eu era laboratorista da revista Manchete, mas precisei encarar muita gozação das pessoas quando disse que um dia seria um fotógrafo, recorda.
 — Precisamos de fotógrafos peitudos, que aguentem porrada, e não um cara pequenininho como você, porque todo mundo vai passar na sua frente, dizia o editor da revista. Não importava. Orlando queria o flagrante. Acabou encontrando um prédio que lhe permitiu observar o pátio da Embaixada da Argentina. De repente, apareceu o Comandante Aragão, que se sentou numa cadeira ao ar livre para ler um jornal.
— Ele virou o rosto na minha direção e eu não perdi tempo: fiz a seqüência inteira de fotos, furando toda a imprensa, entusiasma-se Orlando. Considerando-se um «fotógrafo de detalhes», Orlando se especializou em fotos que exigiam horas a fio de observação. Certa vez, ficou 48 dias fotografando um casal de rolinhas se movimentando sobre um pinheiro de Natal. O ensaio fotográfico foi publicado no Brasil e na Alemanha, em forma de diário, com texto e fotos acompanhando a seqüência de movimentos líricos dos passarinhos.
Orlandinho no México: cobertura da Copa de 1970.
Foto: Arquivo Pessoal de Orlando Abrunhosa
Gastando quase todo o seu salário na compra de substâncias químicas importadas — para aumentar a sensibilidade dos filmes —, Orlando também registrou a personalidade noturna do bairro de Copacabana, com seu vendedores de flores, pipoqueiros, futebol de praia e festivais de chope. Na década de 60, três matérias suas ganharam o Prêmio Esso: Porque o Homem Mata (uma série sobre detentos e cadeias, que se estendeu por oito números de revista); Os Frutos Proibidos (sobre o controle de natalidade); e A Verdade Sobre o Box, com textos do repórter Juvenal Portella. Mas uma das maiores alegrias de Orlando Abrunhosa foi mesmo ver uma foto sua (Pelé, Jairzinho e Tostão na Copa de 70) transformar-se em selo e entrar para a história.

Orlando Abrunhosa (1941-2016) : uma vida em busca da perfeição

por ROBERTO MUGGIATI

Orlando Abrunhosa. 
Conheci Orlando Abrunhosa — eu repórter, ele fotógrafo da revista Manchete, ainda na redação da Frei Caneca — no final de 1965, quando os Beatles lançaram Rubber Soul, comentávamos cada faixa. Nas inundações de 1966, fizemos uma reportagem maravilhosa que foi direto para a gaveta (ou cesta de lixo) do editor: um ensaio felliniano sobre um palhaço que ficou sozinho num circo mambembe naufragado na Baixada Fluminense.
Orgulho-me de ter sido o primeiro editor a publicar (na capa da Fatos&Fotos) a foto icônica que Orlando fez no primeiro jogo do Brasil na Copa do México de 1970: Pelé alçando vôo e socando o ar para comemorar seu gol, ladeado por Tostão e Jairzinho. Na redação, batizamos a foto de “Os Três Mosqueteiros”. Na semana seguinte, a foto saiu colorizada na capa da Paris-Match. E depois virou selo, pôster e continua rodando o mundo como uma das imagens mais significativas da nossa época.
Em tempo, um comentário técnico, que vai interessar principalmente aos fotógrafos: era uma foto horizontal, cortei radicalmente as laterais para que se transformasse numa foto vertical, um hino visual com Pelé simbolicamente subindo para o céu. (Uma subleitura: as telas verticais de El Greco com os píncaros escarpados de Toledo.)
Orlando Abrunhosa fez tudo o que podia fazer na fotografia, foi um caçador-de-imagens campeão. Mas soube também perseguir seu sonho de compor e cantar, de dar vazão à música que sempre morou no seu coração. Ouvi com imensa felicidade seu CD, com um título que diz tudo: "Agora é minha vez". Vocalista afinado e envolvente, autor de canções afetivas e atuais, Orlando traz uma nova dimensão ao samba. Sempre fiel a sua fórmula mágica de aliar, com perfeição, técnica e sensibilidade.

EM 1997, A EDIÇÃO ESPECIAL MANCHETE 45 ANOS CONTOU A HISTÓRIA DE UMA SÉRIE DE FOTOS QUE ORLANDO ABRUNHOSA FEZ DE EMERSON FITTIPALDI, NO AUTÓDROMO DE INTERLAGOS.

PARA OBTER A IMAGEM QUE CONSIDERAVA IDEAL, ELE DEITOU-SE SOBRE O CAPÔ DO CARRO. FITTIPALDI ACELEROU MAIS DO QUE O FOTÓGRAFO ESPERAVA E, NUMA CURVA, A CÂMARA ESCORREGOU E FOI LITERALMENTE ATROPELADA. 

ORLANDINHO, COMO ERA CHAMADO PELOS AMIGOS, NÃO  PERDEU O FOCO: PEGOU A CÂMERA RESERVA E, ANTES DA LINHA DE CHEGADA, CONSEGUIU AS FOTOS QUE PLANEJOU E EMPLACOU SEIS PÁGINAS NA EDIÇÃO DA MANCHETE DAQUELA SEMANA.