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Folha de São Paulo |
domingo, 23 de junho de 2019
sábado, 22 de junho de 2019
Capa de jornal e certos closes da TV incomodam jogadoras da Copa de Futebol Feminino
por Jean-Paul Lagarride
A recente capa do jornal satírico Charlie Hebdo continua repercutindo mal entre as jogadoras que participam da Copa do Mundo de Futebol Feminino, na França. Sexismo e preconceito são os rótulos mínimos que algumas atletas atribuem à ilustração escolhida, inspirada no famoso quadro "A Origem do Mundo", de Gustavo Courbet. Na chamada, algo como "nós vamos comer por um mês". Há reclamações por parte de feministas sobre determinados ângulos e closes da TV considerados inadequados.
Celulares estão sumindo. UFOS abduzem aparelhos...
por O.V. Pochê
Ao ler o noticiário das últimas semanas sou obrigado a concluir que o Brasil vive uma estranha epidemia de sumiço de celulares. É preciso providências urgentes de Agência Brasileira de Inteligência para desvendar o fenômeno.
Estariam os celulares sendo abduzidos? Uma potência estrangeira tem sequestrado os aparelhos? Os adeptos da Terra Plana quem eliminar o GPS e o Google Maps do acessório? Seriam "coisa do diabo" para religiosos fundamentalistas e daí o exorcismo tecnológico?
Seja lá o que for, o problema pode se tornar de segurança nacional.
Najila Trindade, que acusa Neymar de estupro, perdeu um celular e um tablet.
A família do pastor Anderson do Carmo, casado com a deputada evangélica Flodelis e assassinado em São Gonçalo (RJ), não encontra o celular de um dos filhos do casal, precisamente o que confessou ter matado o pai. Também estaria desaparecido o celular do próprio pastor.
Por último, os celulares dos protagonistas do escândalo da VazaJato também em se encontram locais incertos e não sabidos. Os aparelhos que deveriam guardar os conteúdos das conversas por meio do aplicativo Telegram dão sinais de mistério. Entre os envolvidos, há quem diga que os arquivos foram apagados, outro diz que o seu aparelho era rudimentar, com pouco memória. Os participantes dos polêmicos diálogos revelados pelo site Intercept Brasil negam as conversas mas não apresentam os celulares que poderiam confirmar suas defesas. Ou seja; também estão virtualmente sumidos.
Um conselho: se você não tiver nada a esconder, ative o localizados do seu celular. Fica mais fácil encontrá-lo em caso de abdução, desaparecimento e evaporação.
Ao ler o noticiário das últimas semanas sou obrigado a concluir que o Brasil vive uma estranha epidemia de sumiço de celulares. É preciso providências urgentes de Agência Brasileira de Inteligência para desvendar o fenômeno.
Estariam os celulares sendo abduzidos? Uma potência estrangeira tem sequestrado os aparelhos? Os adeptos da Terra Plana quem eliminar o GPS e o Google Maps do acessório? Seriam "coisa do diabo" para religiosos fundamentalistas e daí o exorcismo tecnológico?
Seja lá o que for, o problema pode se tornar de segurança nacional.
Najila Trindade, que acusa Neymar de estupro, perdeu um celular e um tablet.
A família do pastor Anderson do Carmo, casado com a deputada evangélica Flodelis e assassinado em São Gonçalo (RJ), não encontra o celular de um dos filhos do casal, precisamente o que confessou ter matado o pai. Também estaria desaparecido o celular do próprio pastor.
Por último, os celulares dos protagonistas do escândalo da VazaJato também em se encontram locais incertos e não sabidos. Os aparelhos que deveriam guardar os conteúdos das conversas por meio do aplicativo Telegram dão sinais de mistério. Entre os envolvidos, há quem diga que os arquivos foram apagados, outro diz que o seu aparelho era rudimentar, com pouco memória. Os participantes dos polêmicos diálogos revelados pelo site Intercept Brasil negam as conversas mas não apresentam os celulares que poderiam confirmar suas defesas. Ou seja; também estão virtualmente sumidos.
Um conselho: se você não tiver nada a esconder, ative o localizados do seu celular. Fica mais fácil encontrá-lo em caso de abdução, desaparecimento e evaporação.
Porteiro não voa mais. Cabine de avião volta a ser área vip e deixa elite feliz
Em 2012, uma colunista comentou que viajar de avião tornara-se atividade "perigosa". E não por medo de acidentes. Segundo ela escreveu, ir a Paris e Nova York perdera a graça diante do perigo de dar de cara com o porteiro do próprio prédio.
Com melhor poder aquisitivo, mais empregos, construção civil em alta, salário ainda mínimo mas corrigido acima da inflação, aposentadorias igualmente irrisórias mas reajustadas com pequena margem, e obras de infraestrutura em andamento em várias regiões com abertura de milhares de postos de trabalho, parcela expressiva da população brasileira fazia check in. Em consequência aviões e aeroportos lotados incomodaram a elite viajante.
Para os abonados, os bons tempos voltaram. Os porteiros não voam mais.
A crise e os preços cartelizados em níveis absurdos (a depender do momento da compra uma passagem da ponte-aérea Rio-São Paulo alcança tarifas intercontinentais) levam milhares de passageiros dos percursos de média e longa distância de volta aos ônibus.
O Globo de hoje publica matéria sobre o assunto, admite a crise, tenta relativizá-la com a derrocada da Avianca, comenta o preço das passagens mas obviamente evita críticas às empresas aéreas e à ausência de concorrência.
Os porteiros perderam as asas.
sexta-feira, 21 de junho de 2019
Le Monde: Chico Buarque fala sobre a cultura de ódio no Brasil de hoje
Algo como "Uma cultura de ódio se espalhou pelo Brasil" é o título que Le Monde dá a uma entrevista com Chico Buarque publicada hoje.
O cantor fala sobre a situação do Brasil sob o regime Bolsonaro. Segundo o jornal francês, "com uma sinceridade muitas vezes tingida de tristeza".
Le Monde pergunta ao brasileiro porque solicitou à França um visto de longa duração e se esse é um "novo exílio".
Chico explica:
- "Minha situação atual é muito diferente da de 1969. Não estou no exílio hoje. Estou aqui escrevendo, trabalhando em Paris, como faço quando escrevo normalmente. Simplesmente aqui, em Paris, estou mais quieto. Eu tenho mais tempo, por exemplo, para me concentrar em escrever um livro que comecei no início deste ano.
Sobre o desprezo do governo pela cultura, ele comenta:
- "Hoje, artistas e atores culturais no Brasil não são bem-vindos nem bem vistos pelo governo, mas não há perseguição policial como em 1969. No entanto, existem ameaças, não necessariamente contra os artistas. mas contra a esquerda em geral, gays, minorias, mulheres. Uma cultura de ódio se espalhou para o Brasil de uma maneira impressionante. Este ódio é alimentado pelo novo poder, o presidente, sua comitiva, seus filhos, seus ministros ... Eles desacreditam os artistas, a quem eles consideram ser bom para nada. Cultura não tem valor em seus olhos. Dito isso, quero continuar morando no Brasil, não quero morar longe do meu país".
O cantor fala sobre a situação do Brasil sob o regime Bolsonaro. Segundo o jornal francês, "com uma sinceridade muitas vezes tingida de tristeza".
Le Monde pergunta ao brasileiro porque solicitou à França um visto de longa duração e se esse é um "novo exílio".
Chico explica:
- "Minha situação atual é muito diferente da de 1969. Não estou no exílio hoje. Estou aqui escrevendo, trabalhando em Paris, como faço quando escrevo normalmente. Simplesmente aqui, em Paris, estou mais quieto. Eu tenho mais tempo, por exemplo, para me concentrar em escrever um livro que comecei no início deste ano.
Sobre o desprezo do governo pela cultura, ele comenta:
- "Hoje, artistas e atores culturais no Brasil não são bem-vindos nem bem vistos pelo governo, mas não há perseguição policial como em 1969. No entanto, existem ameaças, não necessariamente contra os artistas. mas contra a esquerda em geral, gays, minorias, mulheres. Uma cultura de ódio se espalhou para o Brasil de uma maneira impressionante. Este ódio é alimentado pelo novo poder, o presidente, sua comitiva, seus filhos, seus ministros ... Eles desacreditam os artistas, a quem eles consideram ser bom para nada. Cultura não tem valor em seus olhos. Dito isso, quero continuar morando no Brasil, não quero morar longe do meu país".
Colunista conta como foi estuprada por Donald Trump
A colunista E. Jean Carroll, especializada em dicas de estilo, etiqueta e comportamento, conta à revista New York como Donald Trump a estuprou com violência em meados dos anos 1990.
O ataque aconteceu em um vestiário da loja Bergdorf Goodman.
Carrol é a 16ª mulher a acusar de assédio sexual o atual presidente dos Estados Unidos
Segundo ela, Trump a reconheceu como colunista, alegou que estava comprando lingerie para uma mulher e precisava de conselhos. Carroll, então com 56 anos, o acompanhou, mas ao chegar ao departamento ele a trancou em um camarim e partiu para o ataque.
E.Jean Carroll lança o livro “What Do We Need Men For? A Modest Proposal,” onde revela os detalhes: Trump forçou beijos e prendeu a colunista contra a parede. Apesar de lutar muito, ela conta que foi penetrada antes de conseguir abrir a porta e escapar.
A Casa Branca declarou à New York que a história é falsa. À mesma revista, dois amigos de Carrol confirmaram lembrar do incidente.
A colunista afirma que não denunciou o estupro na época porque teve medo.
quinta-feira, 20 de junho de 2019
segunda-feira, 17 de junho de 2019
domingo, 16 de junho de 2019
Franco Zefirelli foi personagem da ópera da Rua do Russell
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Zefirelli em 1987, com Bambina: passageiros da Kombi de reportagem da Manchete. Foto de Rauf Tauile. Reprodução |
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Em 1978, Manchete levou Zefirelli ao Theatro Municipal. Foto de José Moure. Reprodução |
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O diretor ficou fascinado pelo Municipal onde, um ano depois, encenou A Traviata. Foto de José Moure. Reprodução |
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Zefirelli na mesa de luz da redação, ao lado Roberto Mugiatti e Carlos Heitor Cony. O diretor era figurinha fácil na Manchete onde ganhou um apelido irreverente e para consumo interno: "Tia Zefa". |
por Ed Sá
Durante alguns anos, Franco Zefirelli foi figurinha fácil nos corredores do prédio da Manchete, no Russell.
Essa aproximação se deu a partir de 1978, quando Adolpho Bloch foi presidente da Funterj e convidou o diretor o italiano para montar A Traviata no Theatro Municipal. Desde então, sempre que vinha ao Rio, Zefirelli visitava a Manchete.
No livro Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou, a coletânea lançada por jornalistas e fotógrafos que trabalharam na Bloch, Roberto Muggiati conta que uma das vindas do cineasta provocou um pequeno incidente no Russell. "A nova mulher de um grande empresário do ramo editorial italiano tinha pretensões de tornar-se diva e veio ao Rio para assediar Zefirelli, que rodava pela cidade com sua cadelinha Bambina na Kombi da reportagem da Manchete. A aspirante a Callas conseguiu finalmente um teste, mas precisava de um piano para ensaiar. Adolpho, que se encantou menos pela voz da moça do que pelo "conjunto da obra", pôs à sua disposição o piano do décimo andar, um Steinway de cauda. Era um pretexto para encontrá-la a sós, ao redor do piano, onde havia uma profusão de almofadas e sofás. Deu instruções precisas para que o avisassem quando a jovem chegasse ao prédio. O chefe da portaria na época era um português baixote, seu Álvaro, um dos muitos enjeitados da Revolução dos Cravos que Adolpho adotou. Apelidado de Topo Giggio, Álvaro, metido a conhecer mil e uma línguas, não teve dúvidas quando chegou uma gringa falando arrevesado: mandou-a subir e avisou Adolpho. Ao chegar ao décimo andar, ele teve um choque: a estrangeira era uma professora sessentona de Milwaukee que queria conhecer a Pinacoteca de Arte Brasileira da Manchete no segundo andar. A gafe valeu ao Topo Giggio a destituição do posto", escreveu o ex-diretor da revista Manchete.
Voltando a Zefirelli, ele não frequentava apenas os corredores do prédio, como era personagem recorrente de muitas matérias na revista, especialmente entre 1978 e 1987.
Para os redatores da Manchete, em tempos nada politicamente corretos, o diretor de "Romeu e Julieta", "Jesus de Nazaré", "Amor sem Fim", entre outros filmes, era a Tia Zefa, Claro que esse apelido era pronunciado apenas nas "internas" - "lá vem Tia Zefa", "cadê o texto da Tia Zefa", "Adolpho que ver as fotos da Tia Zefa"...
O florentino Franco Zefirelli morreu ontem, em Roma, aos 96 anos, sem desconfiar da alcunha caroca e muito menos de que os loucos bastidores da Manchete que frequentou teriam rendido a ópera que ele não fez.
Copa América: Brasil sonolento, Messi triste, ingressos caros e a repórter-musa
por Niko Bolontrin
É possível extrair alguns destaques dos primeiros momentos da Copa América.
* O alto preço dos ingressos afasta dos estádios o povão.
* O calvário da seleção argentina e do seu maior craque, o Messi. Uma rotina nas últimas competições.
* O medíocre primeiro tempo da seleção brasileira contra a fraca Bolívia.
* O vídeo do torcedor que dormia profundamente enquanto a seleção de Tite andava em campo. No primeiro tempo, o único acordado em Richarlison.
* A declaração de Filipe Luís em coletiva: "Infelizmente não podemos disputar a Eurocopa, um torneio que tem muito mais glamour". A frase mostra que a Copa América é um peso. Filipe Luís, pelo menos, gostaria de estar jogando as Eliminatórias da Eurocopa. Vai ficar ainda mais difícil. Nem se fosse naturalizado. O jogador encerrou seu contrato com o Atlético de Madri e viria para o Flamengo, são os rumores.
* A consistência do time colombiano. Vai dar trabalho.
* E, por falar em Colômbia, chamou atenção no Morumbi, no jogo de abertura, a movimentação da repórter Melissa Martinez, da Fox colombiana. Durante o monótono primeiro tempo de Brasil X Bolívia, ela dividiu as atenções com o que rolava em campo. Inevitável, apesar de politicamente incorreto: é a primeira musa da Copa América
É possível extrair alguns destaques dos primeiros momentos da Copa América.
* O alto preço dos ingressos afasta dos estádios o povão.
* O calvário da seleção argentina e do seu maior craque, o Messi. Uma rotina nas últimas competições.
* O medíocre primeiro tempo da seleção brasileira contra a fraca Bolívia.
* O vídeo do torcedor que dormia profundamente enquanto a seleção de Tite andava em campo. No primeiro tempo, o único acordado em Richarlison.
* A declaração de Filipe Luís em coletiva: "Infelizmente não podemos disputar a Eurocopa, um torneio que tem muito mais glamour". A frase mostra que a Copa América é um peso. Filipe Luís, pelo menos, gostaria de estar jogando as Eliminatórias da Eurocopa. Vai ficar ainda mais difícil. Nem se fosse naturalizado. O jogador encerrou seu contrato com o Atlético de Madri e viria para o Flamengo, são os rumores.
* A consistência do time colombiano. Vai dar trabalho.
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Melissa Martinez - Reprodução Instagram |
* E, por falar em Colômbia, chamou atenção no Morumbi, no jogo de abertura, a movimentação da repórter Melissa Martinez, da Fox colombiana. Durante o monótono primeiro tempo de Brasil X Bolívia, ela dividiu as atenções com o que rolava em campo. Inevitável, apesar de politicamente incorreto: é a primeira musa da Copa América
quinta-feira, 13 de junho de 2019
quarta-feira, 12 de junho de 2019
VazaJato - Do Intercept Brasil para a mídia conservadora: seu vazamento é melhor do que o meu?
O escândalo VazaJato desperta um debate paralelo: é legítimo o uso jornalístico de informações de autoridades públicas envolvidas em irregularidades e obtidas por hackers?
Nem deveria existir essa dúvida. É.
No curso da Lava Jato, os vazamentos se tornaram até uma rotina. Havia até uma espécie de revezamento entre veículos que publicaram massivas reportagens baseadas em material obtido "secretamente".
Os jornais publicaram até conteúdo de interceptação telefônica ilegal, claramente criminosa, autorizada e divulgada pelo então juiz Sergio Moro. O Globo, na época, deu com prazer a reprodução dos diálogos em destaque na primeira página. Agora, no caso VazaJato, levou dois dias para considerar realmente jornalístico o novo escândalo e quando o fez foi para abrir palanque de defesa para os responsáveis pela conspiração judicial. Não que surpreenda, vindo do Globo. Historicamente, o jornalão carioca alinhado com a direita apoiou inúmeras conspirações que romperam a constitucionalidade do país. República do Galeão, golpe de 1964, apoio irrestrito à ditadura, ofensiva massiva contra Brizola (chegando ao ponto, como exemplo, de combater até os Cieps com a virulência de quem i nvestia contra "bocas-de-fumo"), rejeição às Diretas Já, engajamento na campanha de Fernando Collor, o que resultou em famosa denúncia de manipulação ao noticiar debate de candidatos, golpe jurídico-parlamentar contra Dilma Rousseff etc.
Nesse episódio da VazaJato, o Globo prefere cobrar apuração da ação de um suposto hacker e até considerou "normal", em editorial, o tipo de diálogo conspiratório entre o juiz e um procurador.
No interesse da sociedade, a mídia não só pode como tem até obrigação de publicar vazamentos que envolvam casos e figuras públicas envolvidas em parcerias inusitadas e que desafiam as leis.
O caso Watergate tomou forma porque os repórteres do Washington Post obtiveram informações confidenciais de uma fonte inicialmente anônima e que mais tarde revelou-se um agente do FBI com acesso a relatórios oficiais.
Os famosos Pentagon Papers, também publicados pelo Washington Post durante o governo Nixon, foram vazados por um analista militar. Eram sete mil páginas secretas que provavam as mentiras oficiais sobre a guerra do Vietnã e o que as autoridades escondiam da opinião pública.
O massacre de My Lai, brutal operação do exército americano contra civis em uma aldeia vietnamita, não foi desmascarado por notas oficiais, nem presses releases, nem coletivas com back drop, mas pela denúncia de um soldado e, em seguida, pelo trabalho de jornalistas que obtiveram material confidencial de um fotógrafo também militar.
No Brasil, o Caso Parasar - oficiais que planejaram uma série de atentados no Rio de Janeiro, com o objetivos de atribuir as mortes decorrentes aos "comunistas" e assim desmoralizar a oposição à ditadura - foi desmascarado porque o capitão Sérgio Ribeiro, o Sérgio Macaco, se recusou heroicamente a participar do plano terrorista bancado por militares da linha-dura e fez uma denúncia aos seus superiores. O plano previa explosões em áreas e equipamentos públicos, incluindo o Gasômetro, e o assassinato de 40 políticos, entre os quais Carlos Lacerda, JK e Jânio Quadros. Os terroristas ficaram impunes, mas a atitude de Sérgio Macaco abortou o plano. Ao fim de um inquérito manipulado, o capitão foi punido com o afastamento. Anos depois da restauração da democracia, apesar de pressões de setores remanescentes do autoritarismo, ele foi reabilitado e promovido.
Há centenas de casos que demonstram a relação entre jornalismo investigativo e vazamentos de maracutaias públicas.
As conversas entre Sergio Moro e Dallagnol não tinham nada de privadas.
Vazamentos de questões de interesse público são, portanto, no Brasil e no mundo inteiro, instrumentos legítimos da apuração jornalística.
Nem deveria existir essa dúvida. É.
No curso da Lava Jato, os vazamentos se tornaram até uma rotina. Havia até uma espécie de revezamento entre veículos que publicaram massivas reportagens baseadas em material obtido "secretamente".
Os jornais publicaram até conteúdo de interceptação telefônica ilegal, claramente criminosa, autorizada e divulgada pelo então juiz Sergio Moro. O Globo, na época, deu com prazer a reprodução dos diálogos em destaque na primeira página. Agora, no caso VazaJato, levou dois dias para considerar realmente jornalístico o novo escândalo e quando o fez foi para abrir palanque de defesa para os responsáveis pela conspiração judicial. Não que surpreenda, vindo do Globo. Historicamente, o jornalão carioca alinhado com a direita apoiou inúmeras conspirações que romperam a constitucionalidade do país. República do Galeão, golpe de 1964, apoio irrestrito à ditadura, ofensiva massiva contra Brizola (chegando ao ponto, como exemplo, de combater até os Cieps com a virulência de quem i nvestia contra "bocas-de-fumo"), rejeição às Diretas Já, engajamento na campanha de Fernando Collor, o que resultou em famosa denúncia de manipulação ao noticiar debate de candidatos, golpe jurídico-parlamentar contra Dilma Rousseff etc.
Nesse episódio da VazaJato, o Globo prefere cobrar apuração da ação de um suposto hacker e até considerou "normal", em editorial, o tipo de diálogo conspiratório entre o juiz e um procurador.
No interesse da sociedade, a mídia não só pode como tem até obrigação de publicar vazamentos que envolvam casos e figuras públicas envolvidas em parcerias inusitadas e que desafiam as leis.
O caso Watergate tomou forma porque os repórteres do Washington Post obtiveram informações confidenciais de uma fonte inicialmente anônima e que mais tarde revelou-se um agente do FBI com acesso a relatórios oficiais.
Os famosos Pentagon Papers, também publicados pelo Washington Post durante o governo Nixon, foram vazados por um analista militar. Eram sete mil páginas secretas que provavam as mentiras oficiais sobre a guerra do Vietnã e o que as autoridades escondiam da opinião pública.
O massacre de My Lai, brutal operação do exército americano contra civis em uma aldeia vietnamita, não foi desmascarado por notas oficiais, nem presses releases, nem coletivas com back drop, mas pela denúncia de um soldado e, em seguida, pelo trabalho de jornalistas que obtiveram material confidencial de um fotógrafo também militar.
No Brasil, o Caso Parasar - oficiais que planejaram uma série de atentados no Rio de Janeiro, com o objetivos de atribuir as mortes decorrentes aos "comunistas" e assim desmoralizar a oposição à ditadura - foi desmascarado porque o capitão Sérgio Ribeiro, o Sérgio Macaco, se recusou heroicamente a participar do plano terrorista bancado por militares da linha-dura e fez uma denúncia aos seus superiores. O plano previa explosões em áreas e equipamentos públicos, incluindo o Gasômetro, e o assassinato de 40 políticos, entre os quais Carlos Lacerda, JK e Jânio Quadros. Os terroristas ficaram impunes, mas a atitude de Sérgio Macaco abortou o plano. Ao fim de um inquérito manipulado, o capitão foi punido com o afastamento. Anos depois da restauração da democracia, apesar de pressões de setores remanescentes do autoritarismo, ele foi reabilitado e promovido.
Há centenas de casos que demonstram a relação entre jornalismo investigativo e vazamentos de maracutaias públicas.
As conversas entre Sergio Moro e Dallagnol não tinham nada de privadas.
Vazamentos de questões de interesse público são, portanto, no Brasil e no mundo inteiro, instrumentos legítimos da apuração jornalística.
segunda-feira, 10 de junho de 2019
Alberto Dines, nossa longa vida pelas Redações dos jornais e a histórica primeira página do JB, sem manchete. Por Nelio Barbosa Horta
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Alberto Dines no front jordaniano, em 1967, quando cobriu para Manchete a guerra no Oriente Médio. |
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Em 1962, no almoço de comemoração de um ano da revista Fatos & Fotos, ao lado de Austregésilo de Athayde, Juscelino Kubitschek e Adolpho Bloch |
por Nelio Barbosa Horta
Eu achava que o Dines ia chegar aos 100 anos. Era uma pessoa extremamente saudável. Extrovertido, criativo, feliz ao lado de sua companheira, a jornalista Norma Curi, que também foi do JB nos anos dourados. Confesso não pensei que nos deixaria antes do centenário, trazendo muita tristeza a todos que tiveram, como eu, a honra de trabalhar e conviver com ele na sua longa e brilhante trajetória pelos jornais e revistas brasileiros.
Conheci o Dines nos anos 50, no antigo Diário da Noite, jornal verde, cujo secretário era o Carlos Eiras (só os mais antigos se lembrarão dele), jornal do Paulo Vial Corrêa, do Austregésilo de Athayde, do Fernando Bruce, do Brício de Abreu, (o Briabre), do Marcelo Pimentel, do Nelson Rodrigues e que ficava na Rua Sacadura Cabral, 103.
Como o jornal enfrentava grandes dificuldades financeiras, apesar da grande equipe, o Dines foi contratado e transformou o DN verde em tabloide, numa desesperada tentativa de recuperá-lo. Conseguiu, já que houve momentos em que o novo tabloide triplicou a vendagem, coisa rara na época.
Deixando o DN, Dines foi ser editor da Fatos&Fotos, revista de Bloch Editores, onde seu brilhante espírito de liderança e competência se fez sentir, já que ele chegou a balançar e a concorrer com a tiragem da revista mais importante da Bloch, a Manchete. Naquela redação havia muita gente competente, o Macedo Miranda, o Ney Bianchi, o Itamar de Freitas, o Paulo Afonso Grisoli. Na Arte, o Ézio Speranza, eu e o Laerte Gomes. Trabalhei no Diário de Notícias, que tinha o José Carlos Oliveira, o Luiz Alberto, o Ascendino Leite, o Teixeira Heizer e tantos outros. Depois trabalhei na Folha da Guanabara, com o Rennée Deslandes. Passei pelo Mundo Ilustrado, onde conheci o Hugo Dupin, pai do Fábio Dupin. Mais tarde, Tribuna da Imprensa, com o Hélio Fernandes e o Guimarães Padilha, em plena ditadura. Também trabalhei na precária cenografia da TV Tupi. Meu chefe era o Carlos Thiré, casado com a Tônia Carreiro e pai do Cecil Thiré. Quando saía, por volta das 23 horas, ia, a pé tranquilamente até o Largo de São Francisco pegar o bonde São Januário que me levava até São Cristóvão, onde morava. O Aterro ainda não existia...
Voltei a trabalhar com o Dines em 1º de maio de 1965, Dia do Trabalho, naquele lindo prédio da Av. Rio Branco, quando ele me convidou para o JB, para me juntar à equipe que ia fazer da edição de domingo um “jornal diferente”, segundo suas palavras. Não havia vaga na Arte e eu fui ser repórter- especial . Meu chefe era o Aluizio Flores, o “Amiguinho” lembram dele?
Como o JB estava em grande fase de expansão, o jornal se dava ao luxo de “exportar” profissionais, o Dines me mandou para a Gazeta do Povo, de Curitiba, para uma reestruturação gráfica e editorial. Fiquei lá por três meses. Muito frio, 16 horas de ônibus pela viação Penha, mas acho que o nosso trabalho foi reconhecido, apesar do jornal ter saído, naquele período, com a “cara do JB”.
Na volta para a Redação do JB encontrei grandes profissionais e editores: Wilson Figueiredo, Oldemário Touguinhó, Luiz Orlando Carneiro, Carlos Lemos, Gazzaneo, Joaquim Campelo, Humberto Vasconcelos, Macksen Luiz, Zózimo, Zuenir Ventura, Luiz Paulo Horta, Fleury, Regina Zappa, Bella Stall, Ana Arruda, Iesa Rodrigues, Rose Esquenazi, Sandra Chaves, Celina Côrtes, Léa Maria e tantos outros e outras, todos brilhantes profissionais.
Em 2004, participei da equipe que ganhou o último Prêmio Esso do JB com a 1ª página: Ministro Berzoíni: “ Eu odeio filas”. Na equipe, o Augusto Nunes, o Otávio Costa, o Marquinho e eu.
Como eu trabalhava de dia em Bloch Editores só podia chegar ao JB à noite, às 18 horas, eu era o “fechador”, responsável pelas edições diárias. Eu ficava na primeira página junto com o copy-desk. Não tinha hora para sair, mas meu esforço era compensado porque o jornal, naquela época, já estava na Av. Brasil, próximo da subida da ponte. Eu morava em Niterói e subia a ponte rapidamente. Eu tinha uma Brasília que vivia enguiçando, quase sempre no vão central. Os funcionários já me conheciam e diziam: “outra vez seu Nelio...”, uma festa!
Passei por todos os cadernos do JB, especialmente o Caderno Especial, cujo fechamento era às sextas-feiras, de madrugada. Era um super-pescoço e várias vezes eu amanhecia no jornal, esbarrando nos que chegavam para “abrir” as edições do fim-de-semana. Foram 46 anos, ininterruptos, até 2011, no Rio Comprido, já na edição digital.
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A antológica capa do JB, em 12 de setembro de 1973 |
“-Vamos obedecer à censura, a página sairá sem manchete”.
A ideia da página sem manchete foi dele. Como o Avellar, (José Carlos Avellar) que era o diagramador oficial da primeira página já tinha saído, a “bomba” estourou na minha mão. Confesso que foi a página mais fácil de se fazer. Sem manchete, sem foto, apenas com o “L” dos classificados. Antes de tirar a manchete que seria, ‘Golpe derruba e mata Allende’... O texto, acho que foi a editoria internacional que mandou uma parte (Humberto Vasconcelos, que estava em Santiago) e o Lutero, que escreveu o restante, com a supervisão do Dines, e do Lemos, que àquela altura já haviam voltado ao jornal. Infelizmente, talvez tenha sido aquela página o “estopim” para a saída do Dines do JB.
Deve-se a Nelson Tanure a manutenção do jornal, primeiro impresso e depois “digital” e a Omar Catito Peres o relançamento, há pouco mais de um ano, do grande JB.
Agora, é só saudade. Dines, companheiro de tantas trincheiras, de tantas lutas, o mais completo jornalista do século passado, nos deixou aos 86 anos, em 22 de maio de 2018, há um ano.
Deus o abençoe e até qualquer dia.
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saudades
A capa de revista que abalou a Índia: o sari sexy de Priyanka Chopra
por Clara S. Britto
A capa da revista InStyle, de julho, causou polêmica na Índia.
A indiana Priyanka Chopra é estrela hollywoodiana mas seu país ainda a vê como ligada às raízes. Ao vestir um sari e deixar as costas nuas a atriz provocou reações iradas não só de religiosos mas de conterrâneos que prezam a cultura local. Sari, pregam, é para ser usado com uma blusa por baixo.
A variação sexy adotada pela bela Priyanka - que também recebeu milhares de elogios e likes - gerou comentários fanáticos e machistas que a rotularam de "vulgar", entre outros adjetivos.
Ela respondeu que o sari tem tradição, é veste icônica que a moda global respeita, o que não impede de destacar a feminilidade e a elegância da mulher.
A mídia e a VazaJato - quem minimizou e quem destacou o vazamento da conspiração de toga
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Na Folha, chamada lateral. |
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No Globo, discreta chamada |
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Estadão focaliza investigação da PF sobre vazamento |
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Diário de Pernambuco destacou o principal fato da semana |
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Correio do Povo deu importância à notícia |
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Correio Braziliense respeitou a hierarquia do fato. |
O fato jornalístico que abre a semana é o VazaJato: o explosivo vazamento de diálogos nada protocolares entre o então juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato.
Durante a operação, em muitas ocasiões, houve vazamentos de depoimentos que deveriam ser sigilosos e que, revelados, mostraram impacto político com suspeita de direcionamento.
Dessa vez, o vazamento alcança o acerto de estratégias e o jogo combinado entre o julgador do processo e a força-tarefa investigativa.
Já há sinais de uma Operação Abafa em torno das denúncias.
Seja qual for o desenrolar, The Intercept Brasil cumpre sua função jornalística, investe em uma vertente que não interessou à mídia conservadora e presta um serviço inestimável à compreensão de um dos mais obscuros períodos da vida política brasileira, coisa de porões, onde uma espécie de Operação Mãos Sujas de manobras, suspeitas de interferências em campanhas eleitorais, irregularidades, contaminação de processos e comportamentos no mínimo estranhos por parte de algumas instituições e autoridades, dominou a cena nos últimos anos.
The Intercept Brasil promete para os próximos dias mais revelações.
Aparentemente, a caixa preta foi apenas entreaberta.
domingo, 9 de junho de 2019
Chernobyl e Fukushima: marcas das tragédias
por Flávio Sépia
Filmes e séries que denunciam as terríveis consequências de acidentes nucleares são importantes para despertar consciências sobre os danos irreparáveis que causam ao meio ambiente, quando colapsam, e às populações atingidas. Valem também como alertas sobre os riscos permanentes e inerentes a esse tipo de geração de energia.
O problema é que a abordagem dessas tragédias - quando se transformam em entretenimento - vem invariavelmente contaminada por irradiações ideológicas.
Mais ou menos assim: Chernobyl, em 1986, foi acidente do "mal", produto da "burocracia socialista"; Fukushima foi um imprevisto lamentável que a mídia em geral apresenta como contido pela "eficiência capitalista".
Nenhuma da duas interpretações é verdadeira. Apesar da alegada segurança tecnológica, acidentes nucleares acontecem, como já demonstrado em usinas dos Estados Unidos, da França e da Alemanha.
A série Chernobyl, da HBO, tanto apresenta verdades como manipula, desloca e cria "fatos". Por exemplo, ao mostrar 400 mineiros trabalhando nus na descontaminação. Isso, segundo agências internacionais europeias que acompanharam - e até ajudaram a financiar a limpeza da área e a construção de sarcófagos - não foi constatado até hoje em nenhum relato de testemunhas nem antes nem depois do fim da União Soviética. A queda de um helicóptero sobre o reator, por ter se aproximado demais, também não aconteceu. Um helicóptero de fato que se chocou com um guindaste semanas depois do acidente e não no dia seguinte e em local afastado do reator. Além disso, há personagens inspirados em cientistas e técnicos que existiram e há outros criados pelos roteiristas da série.
O último dia 11 de março marcou oito anos do desastre de Fukushima, que ocorreu em 2011, e é reconhecido como acidente nuclear de gravidade semelhante a Chernobyl. Não é uma competição, ambos são terríveis. E além disso, ao contrário que que se imagina, não foi contido: cerca de 300 toneladas de água contaminada continuam vazando diariamente para o Pacífico. O combustível nuclear derretido permanece entre as ruínas.
Inicialmente, a empresa Tepco (subsidiária da americana General Eletric), proprietária da usina, atribuiu o acidente ao tsunami que provocou o derretimento de três reatores. O tsunami existiu, o que não existiu e era exigido foi uma estrutura adequada e bem mais cara capaz de obrigatoriamente resistir a terremotos e tsunamis eventos que frequentemente atingem o Japão. A reação das equipes de contenção foi lenta, o trabalho de resfriamento dos reatores ineficaz e criticado por especialistas.
Há relatos de que a empresa sabia dos problemas dos reatores desde anos antes da tragédia, e não agiu. O desastre deixou mortos. É impreciso o número de vítimas ao longo dos anos em consequência da radiação de Fukushima. Em Chernobyl, 31 pessoas morreram imediatamente e muitos milhares, um cifra que talvez jamais seja conhecida, pereceram depois por exposição a material radioativo.
Assim como a nuvem radioativa de Chenobyl alcançou a Europa, a contaminação espalhada por Fukushima circulou na atmosfera. Lançada ao mar, alcançou pontos em 100 milhas ao largo da Califórnia.
Não há previsão de quando os técnicos japoneses controlarão o vazamento e recolherão o urânio derretido no interior das instalações.
Parte da província em torno de Fukushima tornou-se radioativa. São chamadas "zonas de exclusão". Há cidades e vilas fantasmas, sem presença humana.
Mesmo assim, o governo japonês pretende usar as Olimpíadas de 2020 como vitrine do trabalho de descontaminação. Áreas da região entrarão no marketing governamental. A cidade de Fukushima, que fica a 20 quilômetros da usina, receberá jogos de beisebol.
Enquanto isso, agências de turismo da Ucrânia, onde fica Chernobyl, informam que a série da HBO fez crescer em 40% o número de turistas que visitam Pripyat (sob determinadas condição, inclusive restrito tempo de permanência), a famosa cidade fantasma que restou como lembrança silenciosa do terrível desastre.
Haverá pacotes turístico para um tour olímpico em Fukushima?
Em 2016, a revista Galileu publicou uma matéria do fotógrafo Keow Wee Loong, da Malásia, que visitou a zona de exclusão de Fukushima. Você pode vê-la AQUI
No site da Magnum, você pode ver fotos de Chernobil e Pripyat feitas em 2017. AQUI
Filmes e séries que denunciam as terríveis consequências de acidentes nucleares são importantes para despertar consciências sobre os danos irreparáveis que causam ao meio ambiente, quando colapsam, e às populações atingidas. Valem também como alertas sobre os riscos permanentes e inerentes a esse tipo de geração de energia.
O problema é que a abordagem dessas tragédias - quando se transformam em entretenimento - vem invariavelmente contaminada por irradiações ideológicas.
Mais ou menos assim: Chernobyl, em 1986, foi acidente do "mal", produto da "burocracia socialista"; Fukushima foi um imprevisto lamentável que a mídia em geral apresenta como contido pela "eficiência capitalista".
Nenhuma da duas interpretações é verdadeira. Apesar da alegada segurança tecnológica, acidentes nucleares acontecem, como já demonstrado em usinas dos Estados Unidos, da França e da Alemanha.
A série Chernobyl, da HBO, tanto apresenta verdades como manipula, desloca e cria "fatos". Por exemplo, ao mostrar 400 mineiros trabalhando nus na descontaminação. Isso, segundo agências internacionais europeias que acompanharam - e até ajudaram a financiar a limpeza da área e a construção de sarcófagos - não foi constatado até hoje em nenhum relato de testemunhas nem antes nem depois do fim da União Soviética. A queda de um helicóptero sobre o reator, por ter se aproximado demais, também não aconteceu. Um helicóptero de fato que se chocou com um guindaste semanas depois do acidente e não no dia seguinte e em local afastado do reator. Além disso, há personagens inspirados em cientistas e técnicos que existiram e há outros criados pelos roteiristas da série.
O último dia 11 de março marcou oito anos do desastre de Fukushima, que ocorreu em 2011, e é reconhecido como acidente nuclear de gravidade semelhante a Chernobyl. Não é uma competição, ambos são terríveis. E além disso, ao contrário que que se imagina, não foi contido: cerca de 300 toneladas de água contaminada continuam vazando diariamente para o Pacífico. O combustível nuclear derretido permanece entre as ruínas.
Inicialmente, a empresa Tepco (subsidiária da americana General Eletric), proprietária da usina, atribuiu o acidente ao tsunami que provocou o derretimento de três reatores. O tsunami existiu, o que não existiu e era exigido foi uma estrutura adequada e bem mais cara capaz de obrigatoriamente resistir a terremotos e tsunamis eventos que frequentemente atingem o Japão. A reação das equipes de contenção foi lenta, o trabalho de resfriamento dos reatores ineficaz e criticado por especialistas.
Há relatos de que a empresa sabia dos problemas dos reatores desde anos antes da tragédia, e não agiu. O desastre deixou mortos. É impreciso o número de vítimas ao longo dos anos em consequência da radiação de Fukushima. Em Chernobyl, 31 pessoas morreram imediatamente e muitos milhares, um cifra que talvez jamais seja conhecida, pereceram depois por exposição a material radioativo.
Assim como a nuvem radioativa de Chenobyl alcançou a Europa, a contaminação espalhada por Fukushima circulou na atmosfera. Lançada ao mar, alcançou pontos em 100 milhas ao largo da Califórnia.
Não há previsão de quando os técnicos japoneses controlarão o vazamento e recolherão o urânio derretido no interior das instalações.
Parte da província em torno de Fukushima tornou-se radioativa. São chamadas "zonas de exclusão". Há cidades e vilas fantasmas, sem presença humana.
Mesmo assim, o governo japonês pretende usar as Olimpíadas de 2020 como vitrine do trabalho de descontaminação. Áreas da região entrarão no marketing governamental. A cidade de Fukushima, que fica a 20 quilômetros da usina, receberá jogos de beisebol.
Enquanto isso, agências de turismo da Ucrânia, onde fica Chernobyl, informam que a série da HBO fez crescer em 40% o número de turistas que visitam Pripyat (sob determinadas condição, inclusive restrito tempo de permanência), a famosa cidade fantasma que restou como lembrança silenciosa do terrível desastre.
Haverá pacotes turístico para um tour olímpico em Fukushima?
Em 2016, a revista Galileu publicou uma matéria do fotógrafo Keow Wee Loong, da Malásia, que visitou a zona de exclusão de Fukushima. Você pode vê-la AQUI
No site da Magnum, você pode ver fotos de Chernobil e Pripyat feitas em 2017. AQUI
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sábado, 8 de junho de 2019
Peso Real - Brasil e Argentina juntam seus trapinhos econômicos
por O.V.Pochê
O sujo se junta ao mal lavado. Bolsonaro quer Brasil e Argentina com uma moeda só e as respectivas economias dando o abraço dos afogados.
O nome da coisa, segundo o inominável, é "peso real". Talvez seja um nome provisório, talvez não, sei lá.
Não importa o nome, a futura moeda já nasce como piada internacional. Piada sem graça, bem entendido, já que além de roubado pelo confisco da Previdência o trabalhador vai receber a aposentadoria que lhe restar em um maço de peso real.
A alta crápula do governo ainda vai se reunir para oficializar o nome da nova moeda. Mas sugestões serão bem-vindas pela atual burrocracria. Por exemplo, algo que caia na boca do povo:
- "Tem troco para 1 "Milício"?
- "Tem algum "Terraplana" pra me emprestar"?
- "Onde posso lavar 5 mil "Guedes"?
- "Comprei um apê por 300 mil "Laranjas"
- "Recebi um cheque de 29 mil "Queirozes".
Seguem algumas propostas e sua justificativas para inclusão no devido projeto de lei.
- "Queiroz" - multiplica seu dinheiro.
- "Milício" - seu dinheiro na mão deles.
- "Bimba" - você nunca vai ficar duro.
- "Goiaba" - dinheiro que dá em árvore.
- "Terraplana" - sem arredondar o troco.
- "Jesus" - dinheiro acima de tudo.
- "Golden shower" - dinheiro pornô.
- "Guedes" - nunca tem fundo e sai voando.
- "Carluxo" - dinheiro sem noção.
- "Olavo" - traz seu dinheiro de volta em três dias.
- "Maradona" - dinheiro que vira pó
- "Macri" - já vem com inflação.
- "Trump" - pra mesada do Tio.
- "Bala" - só acerta a cabecinha.
- "Moro"- só vale no STF.
- Barra Brava - quebra tudo.
- "Previdência" - já vem roubado.
- "Toffoli" - moeda do pacto
- "Laranja" - pra gastar em família.
- "Evita" - não chora por você".
- "Cumparsita" - faz você dançar.
O sujo se junta ao mal lavado. Bolsonaro quer Brasil e Argentina com uma moeda só e as respectivas economias dando o abraço dos afogados.
O nome da coisa, segundo o inominável, é "peso real". Talvez seja um nome provisório, talvez não, sei lá.
Não importa o nome, a futura moeda já nasce como piada internacional. Piada sem graça, bem entendido, já que além de roubado pelo confisco da Previdência o trabalhador vai receber a aposentadoria que lhe restar em um maço de peso real.
A alta crápula do governo ainda vai se reunir para oficializar o nome da nova moeda. Mas sugestões serão bem-vindas pela atual burrocracria. Por exemplo, algo que caia na boca do povo:
- "Tem troco para 1 "Milício"?
- "Tem algum "Terraplana" pra me emprestar"?
- "Onde posso lavar 5 mil "Guedes"?
- "Comprei um apê por 300 mil "Laranjas"
- "Recebi um cheque de 29 mil "Queirozes".
Seguem algumas propostas e sua justificativas para inclusão no devido projeto de lei.
- "Queiroz" - multiplica seu dinheiro.
- "Milício" - seu dinheiro na mão deles.
- "Bimba" - você nunca vai ficar duro.
- "Goiaba" - dinheiro que dá em árvore.
- "Terraplana" - sem arredondar o troco.
- "Jesus" - dinheiro acima de tudo.
- "Golden shower" - dinheiro pornô.
- "Guedes" - nunca tem fundo e sai voando.
- "Carluxo" - dinheiro sem noção.
- "Olavo" - traz seu dinheiro de volta em três dias.
- "Maradona" - dinheiro que vira pó
- "Macri" - já vem com inflação.
- "Trump" - pra mesada do Tio.
- "Bala" - só acerta a cabecinha.
- "Moro"- só vale no STF.
- Barra Brava - quebra tudo.
- "Previdência" - já vem roubado.
- "Toffoli" - moeda do pacto
- "Laranja" - pra gastar em família.
- "Evita" - não chora por você".
- "Cumparsita" - faz você dançar.
sexta-feira, 7 de junho de 2019
quarta-feira, 5 de junho de 2019
Trump fazendo o seu melhor....
![]() |
Reproduções Twitter |
por O.V.Pochê
Por algum motivo fisiológico, os protestos contra Donald Trump sempre incluem referências explícitas a vasos sanitários e ao ato correspondente. Agora, no Reino Unido, um Trump sentado no vaso em pleno exercício da sua política foi atração nas ruas. Bem distante de Londres, na China, um item muito vendido nas ruas é um limpador de privadas em homenagem ao oligarca americano, dando-lhe à sua cabeleira uma função bastante coerente com o repúdio às suas iniciativas imperiais. Na linha de produtos inspirados no americano estão ainda em fase de design papel higiênico, supositórios, fraldas descartáveis e utensílios para clister.
Sambódromo - Não vale o que está escrito - Com virada de mesa, o palco do samba se esvazia...
terça-feira, 4 de junho de 2019
Virou meme! O filme de terror da Família Trump
A viagem do oligarca americano Donald Trump ao Reino Unido rende memes nas redes sociais.
A foto acima viralizou. O genro Jared Kushner e Ivanka, a filha do magnata, foram estranhamente fotografados atrás de cortinas e janelas do Palácio de Buckingham.
A web achou que a cena lembra filmes de terror quando almas penadas espreitam os vivos.
Frère Jacques, o médico da Manchete • Por Roberto Muggiati
Por muitos anos – pelo
menos vinte – o Dr. Haroldo Jacques foi, informalmente, o médico da Manchete.
No período que cobriu os anos 70 e 80 ele dirigiu a revista mensal da Bloch Medicina de Hoje. A megaempresa de
comunicação – até mesmo depois que cresceu com a aquisição da TV Manchete, a
partir de 1983 – não dispunha de um plano de saúde para seus funcionários. Para
Adolpho Bloch, seus empregados eram imunes à doença. Havia apenas um
ambulatório, escondido nos desvãos do Teatro Adolpho Bloch, em que atendiam
dois médicos: a Dra. Tamara Rubinstein Hazan e o dr. Salvador Hazan,
respectivamente mulher e irmão do Chefe da Engenharia, Isaac Hazan. No
nepotismo Adolpho acreditava: a Casa estava cheia de Blochs, Sigelmanns,
Rubinsteins, Hazans. Melmanns e Dines ocupando os mais diversos postos.
A certa altura, para
amenizar a pressão das cobranças que lhe faziam, Adolpho contratou um plano
barato, que inaugurou matando uma das
figuras mais saudáveis da empresa, o chefe da portaria, Seu Álvaro, um daquela
chusma de portugueses adotados pela Bloch depois da Revolução dos Cravos. De
terno azul marinho na portaria, falando todas as línguas, Topo Giggio – foi o
apelido que lhe pespegaram – nas horas de folga se metamorfoseava e exibia-se
diante do prédio da Manchete montado numa supermoto, de quepe e blusão de
couro, guapo membro da confraria Harley Davidson. O plano acabou logo
em seguida, para sorte dos muitos funcionários que já haviam agendado consultas
ou até cirurgias.
Em meados dos anos 80,
Célio Lyra, dos Serviços Editoriais, se meteu a escolher sozinho uma amostra de
fotógrafos da Manchete para a revista francesa Zoom e teve um colapso
nervoso. Sua internação no Hospital Samaritano, um dos mais caros do Rio,
custou uma nota preta à Bloch. Valendo-se do episódio, David Klajmic convenceu
Oscar Sigelmann a fazer uma permuta com a Golden Cross, um dos melhores planos
de saúde da época. Claro, o benefício durou poucos anos e era restrito aos
diretores e altos executivos sem atingir a massa dos funcionários.
Isso faria do Doutor
Haroldo Jacques uma das figuras mais requisitadas da Bloch. Como editor da Medicina de Hoje, ele acabou se tornando
o consultor de plantão daqueles(as) que ousavam abordá-lo pelos corredores para
lhe expor suas mazelas. Humano e solícito, Haroldo sempre atendeu a todos com a
maior boa vontade. Como dirigia uma revista mensal tranquila e precisava
atender os pacientes do seu consultório médico, Haroldo não frequentava a Bloch
todo dia. Aparecia sempre para a feijoada das sextas, com um comentário bem
humorado sobre o traje: “Fatiota inteiramente branca e sapato branco é uniforme
de pai-de-santo, pipoqueiro e, eventualmente, médico.” Naqueles almoços
divertidos, eu, Cony e Haroldo transformamos a melodia de Frère Jacques numa canção de escárnio, com uma letra sacana em bom português.
Além dessa incursão jornalística,
Haroldo Jacques publicou vários livros levando a medicina para o leigo, como Receitas simpáticas para doenças
antipáticas, que fez em parceria com a renomada chef Silvana Bianchi. Agora,
ele lança (Travessa do Leblon, segunda-feira, 10 de junho), uma nova edição
do livro que fez com o psicanalista Luiz Alberto Py, A linguagem da saúde/Entenda os
aspectos físicos, emocionais e espirituais que afetam a sua vida. Com o carimbo da Manchete, é claro:
duplo prefácio de Carlos Heitor Cony e deste que vos escreve.
domingo, 2 de junho de 2019
Shakespeare e o Rei Lear: o drama e a farsa
![]() |
No filme Rei Lear, de 2008, o protagonista interpretado pelo ator Ian McKellen é vítima de traição por parte de duas das filhas. Foto: Divulgação |
por Ed Sá
Em sua tragédia de 1606, Shakespeare mostra o Rei Lear às turras com suas três filhas – Goneril, a 01; Regan, a 02; e Cordelia, a 03. Um conflito de poder na época seria mais verossímil entre um pai e três filhos homens, mas o Bardo já era feminista no século 17 e dava destaque à mulher em todas suas peças. Bravo!
Por aqui não temos tragédia, mas, até agora, uma “comédia de erros” e a baixaria corre por conta da macharia, como era de se esperar...
E o Liverpool levou o melhor futebol do mundo de volta pra casa...
por Niko Bolontrin
A final da Liga dos Campeões não foi o que se esperava. O gol de Salah no primeiro minuto, originado por um pênalti duvidoso, inibiu o Tottenham e aparentemente acomodou o Liverpool. A partida burocratizou-se. Poucas jogadas mostraram a marca que o treinador Jürgen Klopp imprimiu ao seu time ao longo da temporada: pressão, passes ofensivos e não o chatíssimo tic-tac que ele, aliás, abomina, e a busca obsessiva do gol. No segundo tempo, o Tottenham acordou e o jogo melhorou. Klopp, por sua vez, fez duas substituições para conter o despertar do adversário. Deu certo. Origi fez o segundo gol e consolidou a vitória no Wanda Monumental, em Madri.
Alissson, o excepcional Van Dijk, Salah, Firmino, Mané e os demais comandados por Klopp fizeram uma temporada perfeita.
Merecidamente, são os campeões.
Parodiado um verso da música "Three Lions", da banda britânica the Lightning Seeda, composta para a Eurocopa 1996 que aconteceu na Inglaterra - "Football's coming home" - o Liverpool levou a taça e o melhor futebol do mundo de volta para o berço do futebol.
Publimemória:em 1961, meninos e meninas de azul, sem patrulha do fanatismo religioso
![]() |
Foto: Reprodução do blog Propaganda de Gibi |
sábado, 1 de junho de 2019
Invadiu! Final da Champions virou pelada
Propaganda: quem lembra desse slogan levante a bengala...
Para comemorar seus 110 anos, as Casas Pernambucanas encomendaram da J. Walter Thompson Brasil um filme especial.
A geração baby boomer vai lembrar.
Segundo o site Meio & Mensagem, "o novo filme foi criado por Guilherme Alvernaz, filho de Ruy Perotti — um dos donos da Lynxfilm, produtora que fez o filme original da comunicação –, sob a autorização dos herdeiros de Heitor Carillo — criador do Friozinho e detentor dos direitos autorais da obra até seu falecimento, em 2003".
PARA VER O NOVO COMERCIAL, CLIQUE AQUI
PARA VER O FILME ORIGINAL, CLIQUE AQUI
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