Por muitos anos – pelo
menos vinte – o Dr. Haroldo Jacques foi, informalmente, o médico da Manchete.
No período que cobriu os anos 70 e 80 ele dirigiu a revista mensal da Bloch Medicina de Hoje. A megaempresa de
comunicação – até mesmo depois que cresceu com a aquisição da TV Manchete, a
partir de 1983 – não dispunha de um plano de saúde para seus funcionários. Para
Adolpho Bloch, seus empregados eram imunes à doença. Havia apenas um
ambulatório, escondido nos desvãos do Teatro Adolpho Bloch, em que atendiam
dois médicos: a Dra. Tamara Rubinstein Hazan e o dr. Salvador Hazan,
respectivamente mulher e irmão do Chefe da Engenharia, Isaac Hazan. No
nepotismo Adolpho acreditava: a Casa estava cheia de Blochs, Sigelmanns,
Rubinsteins, Hazans. Melmanns e Dines ocupando os mais diversos postos.
A certa altura, para
amenizar a pressão das cobranças que lhe faziam, Adolpho contratou um plano
barato, que inaugurou matando uma das
figuras mais saudáveis da empresa, o chefe da portaria, Seu Álvaro, um daquela
chusma de portugueses adotados pela Bloch depois da Revolução dos Cravos. De
terno azul marinho na portaria, falando todas as línguas, Topo Giggio – foi o
apelido que lhe pespegaram – nas horas de folga se metamorfoseava e exibia-se
diante do prédio da Manchete montado numa supermoto, de quepe e blusão de
couro, guapo membro da confraria Harley Davidson. O plano acabou logo
em seguida, para sorte dos muitos funcionários que já haviam agendado consultas
ou até cirurgias.
Em meados dos anos 80,
Célio Lyra, dos Serviços Editoriais, se meteu a escolher sozinho uma amostra de
fotógrafos da Manchete para a revista francesa Zoom e teve um colapso
nervoso. Sua internação no Hospital Samaritano, um dos mais caros do Rio,
custou uma nota preta à Bloch. Valendo-se do episódio, David Klajmic convenceu
Oscar Sigelmann a fazer uma permuta com a Golden Cross, um dos melhores planos
de saúde da época. Claro, o benefício durou poucos anos e era restrito aos
diretores e altos executivos sem atingir a massa dos funcionários.
Isso faria do Doutor
Haroldo Jacques uma das figuras mais requisitadas da Bloch. Como editor da Medicina de Hoje, ele acabou se tornando
o consultor de plantão daqueles(as) que ousavam abordá-lo pelos corredores para
lhe expor suas mazelas. Humano e solícito, Haroldo sempre atendeu a todos com a
maior boa vontade. Como dirigia uma revista mensal tranquila e precisava
atender os pacientes do seu consultório médico, Haroldo não frequentava a Bloch
todo dia. Aparecia sempre para a feijoada das sextas, com um comentário bem
humorado sobre o traje: “Fatiota inteiramente branca e sapato branco é uniforme
de pai-de-santo, pipoqueiro e, eventualmente, médico.” Naqueles almoços
divertidos, eu, Cony e Haroldo transformamos a melodia de Frère Jacques numa canção de escárnio, com uma letra sacana em bom português.
Além dessa incursão jornalística,
Haroldo Jacques publicou vários livros levando a medicina para o leigo, como Receitas simpáticas para doenças
antipáticas, que fez em parceria com a renomada chef Silvana Bianchi. Agora,
ele lança (Travessa do Leblon, segunda-feira, 10 de junho), uma nova edição
do livro que fez com o psicanalista Luiz Alberto Py, A linguagem da saúde/Entenda os
aspectos físicos, emocionais e espirituais que afetam a sua vida. Com o carimbo da Manchete, é claro:
duplo prefácio de Carlos Heitor Cony e deste que vos escreve.
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