por Flávio Sépia
Filmes e séries que denunciam as terríveis consequências de acidentes nucleares são importantes para despertar consciências sobre os danos irreparáveis que causam ao meio ambiente, quando colapsam, e às populações atingidas. Valem também como alertas sobre os riscos permanentes e inerentes a esse tipo de geração de energia.
O problema é que a abordagem dessas tragédias - quando se transformam em entretenimento - vem invariavelmente contaminada por irradiações ideológicas.
Mais ou menos assim: Chernobyl, em 1986, foi acidente do "mal", produto da "burocracia socialista"; Fukushima foi um imprevisto lamentável que a mídia em geral apresenta como contido pela "eficiência capitalista".
Nenhuma da duas interpretações é verdadeira. Apesar da alegada segurança tecnológica, acidentes nucleares acontecem, como já demonstrado em usinas dos Estados Unidos, da França e da Alemanha.
A série Chernobyl, da HBO, tanto apresenta verdades como manipula, desloca e cria "fatos". Por exemplo, ao mostrar 400 mineiros trabalhando nus na descontaminação. Isso, segundo agências internacionais europeias que acompanharam - e até ajudaram a financiar a limpeza da área e a construção de sarcófagos - não foi constatado até hoje em nenhum relato de testemunhas nem antes nem depois do fim da União Soviética. A queda de um helicóptero sobre o reator, por ter se aproximado demais, também não aconteceu. Um helicóptero de fato que se chocou com um guindaste semanas depois do acidente e não no dia seguinte e em local afastado do reator. Além disso, há personagens inspirados em cientistas e técnicos que existiram e há outros criados pelos roteiristas da série.
O último dia 11 de março marcou oito anos do desastre de Fukushima, que ocorreu em 2011, e é reconhecido como acidente nuclear de gravidade semelhante a Chernobyl. Não é uma competição, ambos são terríveis. E além disso, ao contrário que que se imagina, não foi contido: cerca de 300 toneladas de água contaminada continuam vazando diariamente para o Pacífico. O combustível nuclear derretido permanece entre as ruínas.
Inicialmente, a empresa Tepco (subsidiária da americana General Eletric), proprietária da usina, atribuiu o acidente ao tsunami que provocou o derretimento de três reatores. O tsunami existiu, o que não existiu e era exigido foi uma estrutura adequada e bem mais cara capaz de obrigatoriamente resistir a terremotos e tsunamis eventos que frequentemente atingem o Japão. A reação das equipes de contenção foi lenta, o trabalho de resfriamento dos reatores ineficaz e criticado por especialistas.
Há relatos de que a empresa sabia dos problemas dos reatores desde anos antes da tragédia, e não agiu. O desastre deixou mortos. É impreciso o número de vítimas ao longo dos anos em consequência da radiação de Fukushima. Em Chernobyl, 31 pessoas morreram imediatamente e muitos milhares, um cifra que talvez jamais seja conhecida, pereceram depois por exposição a material radioativo.
Assim como a nuvem radioativa de Chenobyl alcançou a Europa, a contaminação espalhada por Fukushima circulou na atmosfera. Lançada ao mar, alcançou pontos em 100 milhas ao largo da Califórnia.
Não há previsão de quando os técnicos japoneses controlarão o vazamento e recolherão o urânio derretido no interior das instalações.
Parte da província em torno de Fukushima tornou-se radioativa. São chamadas "zonas de exclusão". Há cidades e vilas fantasmas, sem presença humana.
Mesmo assim, o governo japonês pretende usar as Olimpíadas de 2020 como vitrine do trabalho de descontaminação. Áreas da região entrarão no marketing governamental. A cidade de Fukushima, que fica a 20 quilômetros da usina, receberá jogos de beisebol.
Enquanto isso, agências de turismo da Ucrânia, onde fica Chernobyl, informam que a série da HBO fez crescer em 40% o número de turistas que visitam Pripyat (sob determinadas condição, inclusive restrito tempo de permanência), a famosa cidade fantasma que restou como lembrança silenciosa do terrível desastre.
Haverá pacotes turístico para um tour olímpico em Fukushima?
Em 2016, a revista Galileu publicou uma matéria do fotógrafo Keow Wee Loong, da Malásia, que visitou a zona de exclusão de Fukushima. Você pode vê-la AQUI
No site da Magnum, você pode ver fotos de Chernobil e Pripyat feitas em 2017. AQUI
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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domingo, 9 de junho de 2019
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Chernobyl, Ucrânia: drone mostra a cidade-fantasma de Pripyat... enquanto isso, Fukushima, no Japão, saiu do noticiário mas continua vazando radiação e é alvo de protestos da população
Do vídeo "Postcards from Pripyat" |
Ano que vem, em 26 de abril, o acidente nuclear de Chernobyl completa 29 anos. A área permanece isolada. As exceções são as presenças de equipes com trajes especiais que trabalham em uma "arca" de segurança que cobrirá o "sarcófago" (a proteção de concreto construída logo depois do vazamento radioativo e que está em fase final de validade estrutural) e, por incrível que pareça, grupos de turistas que visitam a cidade-fantasma de Pripyat, onde podem permanecer apenas por algumas horas, sem sair do roteiro estabelecido nem pegar objetos como lembranças. Recentemente, um fotógrafo registrou algumas imagens da região e, com a ajuda de um drone, mostrou uma panorama de praças, ruas e prédios de Pripyat, um cidade moderna, que foi planejada para receber, nos anos 70, os funcionários da usina. Chernobyl foi classificado como o maior acidente nuclear da história. Atualmente, essa classificação começa a ser posta em dúvida por ecologistas. Fukuyama, no Japão, continua comprometendo uma região não claramente delimitada e jogando água radioativa no mar, além de contaminar lençóis freáticos. A falta de transparência do governo e da empresa privada dona da usina e que cuida da descontaminação mas de olho no balanço de lucros e prejuízos, têm deixado alarmados setores ambientalistas internacionais.
Outros acidentes nucleares assustaram o mundo: Three Mile Island, nos Estados Unidos, que expulsou de suas casas 140 mil pessoas, em 1979; e o da usina de Tricastin, no sul da França, em 2008. Mas o que preocupa mais é que o Japão não tem segurança confiável no setor porque entre os dez piores acidentes nucleares da história o país emplaca quatro eventos (Fukushima, em 2011, Tsuruga, em 1981; Tokai, em 1997 e em 1999, e Mihama, em 2004), com a agravante de que Fukushima é uma tragédia em andamento silencioso.
Na semana passada, moradores organizaram mais um protesto conta a empresa proprietária, a Tepco, e o governo japonês. Denuncia-se uma censura interna na mídia japonesa sobre o assunto.
O Brasil também detém um "título", felizmente não na Usina Nuclear de Angra dos Reis. Em 1987, um acidente radiológico de Goiânia vazou Césio-137. É tido como o mais grave do mundo fora de uma usina nuclear. Classificado como de Nível 5 (para se ter uma ideia, Chernobyl foi Nível 7)
sil, ocorreu quando catadores de ferro velho encontraram um cilindro abandonado e o desmontaram, contaminando centenas de pessoas. Quatro morreram nas semanas seguintes e mais 100 até 2012, segundo, segundo a Associação de Vítimas do Césio. Os sócios da clínica privada que abandonou o cilindro radioativo só foram julgados e condenados por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) em 1996, quase dez anos depois. Mesmo assim pra variar, tiveram a pena substituída por prestação de serviços.
Em uma entrevista com Helen Caldicott - que presidiu a Physicians for Social Responsability, organização americana de médicos contra guerras nucleares que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em parceria com a International Physicians for the Prevention of Nuclear War - um jornalista perguntou porque, afinal, a radiação em Fukushima não é contida? "Porque dinheiro vale mais do que pessoas", respondeu a cientista.
VEJA O VÍDEO DE CHERNOBYL-PRIPYAT, CLIQUE AQUI
LEIA UM ARTIGO SOBRE A TRAGÉDIA DE FUKUSHIMA, QUE CONTINUA VAZANDO RADIAÇÃO. CLIQUE AQUI
terça-feira, 12 de abril de 2011
Japão: depois da tragédia, o crime ambiental
por Gonça
Infelizmente, as organizações ambientais tinham razão; a contaminação radioativa em Fukushima é uma ameaça que equivale à tragédia de Chernobyl. Ontem, as autoridades japonesas finalmente elevaram o nível de alerta para o fatídico número 7, o índice mais grave, igual ao que foi registrado na Ucrânia. Em 1986, os ventos levaram partículas radioativas à Europa, o que fez o mundo pressionar fortemente, e com razão, a União Soviética. À custa de vidas, Chenobyl virou um sarcófago de cimento, cidades foram abandonadas mas os danos foram contidos na região da usina. Compreensivelmente comovido com as consequências do terremoto e da tsunami, o mundo omitiu-se diante dos vazamentos de Fukushima, demorou a agir (apenas essa semana os Estados Unidos enviaram um super-caminhão-pipa (equipamente que os japoneses não tinham) para ajudar a resfriar os reatores. Chernobyl vazou radiação por dez dias: de 26 de abril a 4 de maio. O sarcófago foi concluido em sete meses. Fukushima já despeja radioatividade há quase um mês, e não parou. O governo japonês e a empresa privada proprietária da usina estimam que a radiação espalhada já equivale a dez por cento da tragédia ucraniana. Claro que ambos, governo e empresa, um incompetente e a outra tentando preservar investimentos, já perderam qualquer credibilidade. Especialistas consideram o número muito aquém da realidade. O povo japonês, que pagará o preço em vidas, já se manifesta nas ruas em protesto contra o crime oficial depois da tragédia natural.
Infelizmente, as organizações ambientais tinham razão; a contaminação radioativa em Fukushima é uma ameaça que equivale à tragédia de Chernobyl. Ontem, as autoridades japonesas finalmente elevaram o nível de alerta para o fatídico número 7, o índice mais grave, igual ao que foi registrado na Ucrânia. Em 1986, os ventos levaram partículas radioativas à Europa, o que fez o mundo pressionar fortemente, e com razão, a União Soviética. À custa de vidas, Chenobyl virou um sarcófago de cimento, cidades foram abandonadas mas os danos foram contidos na região da usina. Compreensivelmente comovido com as consequências do terremoto e da tsunami, o mundo omitiu-se diante dos vazamentos de Fukushima, demorou a agir (apenas essa semana os Estados Unidos enviaram um super-caminhão-pipa (equipamente que os japoneses não tinham) para ajudar a resfriar os reatores. Chernobyl vazou radiação por dez dias: de 26 de abril a 4 de maio. O sarcófago foi concluido em sete meses. Fukushima já despeja radioatividade há quase um mês, e não parou. O governo japonês e a empresa privada proprietária da usina estimam que a radiação espalhada já equivale a dez por cento da tragédia ucraniana. Claro que ambos, governo e empresa, um incompetente e a outra tentando preservar investimentos, já perderam qualquer credibilidade. Especialistas consideram o número muito aquém da realidade. O povo japonês, que pagará o preço em vidas, já se manifesta nas ruas em protesto contra o crime oficial depois da tragédia natural.
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