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quarta-feira, 23 de março de 2022

Pastor pediu ouro para liberar verba. "Especialistas" afirmam que commodities antigas podem subir de cotação no mercado do gabinete dos atravessadores. Incenso, mirra, sárdio, crisólito e açafrão estão em alta no pregão

por Ed Sá

O Estadão, ao revelar mais um escândalo do governo Bolsonaro - dessa vez em um gabinete paralelo informalíssimo formado por certos pastores que fazem política e que mandava na grana no Ministério da Educação - e a Folha, em seguida, divulgando uma estarrecedora gravação da jogada, praticaram jornalismo do bom essa semana. Reportagem e investigação. 

Em alguns dos demais veículos, onde esses dois pilares do jornalismo andam escassos, o de sempre: comentaristas, âncoras e "especialistas" pegando carona nos furos dos outros e "repercutindo" o assunto junto com repórteres escalados para colher monótonos desmentidos já previstos e o twist carpado do governo para tentar contornar o incontornável: o uso de pessoas alheias à Educação como atravessadores de verbas públicas para prefeituras. Segundo um prefeito, um dos pastores pediu um quilo de ouro para facilitar o encaminhamento da bufunfa para um município. 

Esse aspecto interessante que não me escapa: o pastor recorre ao valioso ouro. Podemos esperar outras transações usando valores consagrados em tempos antigos? A mirra, por exemplo, era muito apreciada pelos efeitos terapêuticos. O incenso era bem cotado. Nos vilarejos mais imundos e onde mortos jaziam ao ar livre, essa resina aromática - acreditava-se que a fumaça subia aos céus -  chegava a valer mais do que o ouro. Entende-se. O mau cheiro devia ser um grande problema na época. Tanto que o olíbano, outra resina perfumada, também era commoditie. Era chamado de "suor dos deuses" e concorria em valor com o ouro. Podia ser usado como analgésico. Era produto de exportação e também servia para pagamento de dívidas e para limpar o nome nos "serasa" da Galiléia. A canela e o açafrão eram coisa fina. Supondo que um religioso influente da época pretendesse obter, digamos, a exclusividade de uma rota para transporte de especiarias, o "homem de bem" poderia prometer a autoridade um mimo em forma de carregamento de canela. Obteria a concessão, certamente. 

As pedras preciosas, claro, mandavam bem no mercado da corrupção. Além do valor em si, carregavam poderes místicos que lhes davam ainda maior importância. Se quisesse ter a mulher de um potentado com aliada, uma joia de jasper era tiro certo, simbolizava a paixão; sárdio, crisólito e calcedônia eram apreciados como reforço nos lobbies empreendidos por negociantes. 

Fica a ideia aos corruptos atuais. Em vez de carregar volumosas malas de dinheiro e entupir apartamentos com sacos de notas de 100 e 200 reais, poderão transportar com discrição pedras valiosos, incenso e mirra. As duas últimas também facilitariam a lavagem de dinheiro e evitariam problemas legais. Duvido que o Banco Central fiscalize o mercado de especiarias é e improvável que a justiça eleitoral exiga dos políticos candidatos declaração de bens em olíbano e açafrão.

Antes que eu me esqueça: não me venham falar em intolerância religiosa. Pastores que fazem politica são políticos e devem ser tratados como tal sempre que estiverem nessa atividade. Intolerância religiosa é outra coisa. É, por exemplo, atacar e incendiar terreiros de religiões afro-brasileiras e destruir imagens de santos católicos.


sábado, 8 de agosto de 2020

Na capa do Extra, hoje: tudo em famiglia...

A capa do Extra é um competente resumo de um dos acontecimentos politico-policiais da semana. 
A comentar, a aparente falta de apetite da grande mídia para apurações exclusivas. Só na última semana, os principais jornais, que em passado recente eram tão ávidos por vazar documento em primeira mão, tomaram dois grandes furos. O primeiro, do UOL, sobre a "polícia política" montada no Ministério da Justiça para "fichar" opositores do governo. O segundo, que o Extra repercute em capa, foi apuração da revista Crusoé, que revelou com exclusividade mais um número da montanha de dinheiro que  o notório Queiroz despejava sobre o clã presidencial. 

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Para justificar a destruição da Amazônia e as ameaças aos povos indígenas, Paulo Guedes apela até para o general Custer...

por O.V. Pochê 

Paulo Guedes ostenta diplomas mas é tão primário quanto o chefe Bozoroca. Juntos, transformaram o Brasil em um pária internacional. No momento em que não apenas ambientalistas, mas investidores e grandes corporações, sinalizam que o Brasil escalou o absurdo quanto à destruição da Amazônia, o frasista comete mais uma. Durante o recente evento virtual Aspen Security Forum, promovido pelo centro de estudos norte-americano Aspen Institute. Guedes justificou o crime ambiental e humanitário com toscos argumentos Disse aos americanos que eles também destruíram suas florestas e falou que aqui "não teve exterminações", o que é mentira, o Brasil matou milhões de índios e continua matando. O Ministro da Economia também citou o general Custer, que comandou forças-tarefas para exterminar tribos no Velho Oeste. Então tá, Guedes, na imagem ao lado, Custer chega a Manaus.

Se esse raciocínio idiota de Paulo Guedes prevalecer, o Brasil pode pedir licença para praticamente tudo. Imaginem se o "chicago boy" fosse buscar outras justificativas tão grosseiras quanto aquelas que apresentou ao Aspen Institute. Seguem alguns subsídios para o sujeito usar em outras reuniões internacionais. 

* Acabar com povos incômodos já que americanos eliminaram índios, os espanhóis exterminaram maias, incas, astecas, os australianos mataram aborígenes e colonizadores genocidas assassinaram milhões de africanos. No momento atual, pobre é chato, está sempre precisando de alguma coisa, seja saúde, educação ou respirador, assim não tem arrocho fiscal que resista.

* Europeus consumiram suas florestas como fontes de energia, porque pobre aqui teima em usar gás de cozinha caro?

* Japoneses até hoje contribuem com vigor para o extermínio de baleias. Podemos reforçar o almoço com todas espécies da Amazônia.

* Sukarno, na Indonésia dos anos 1960, eliminou o problema da oposição comunistas simplesmente abduzindo mais de 500 mil pessoas. 

* Se, irritados com o ritual democrático, os militares brasileiros fecharam o Congresso, enquadraram o STF e fizeram o que quiseram do Brasil entre 1964 e 1985, algo semelhante quebraria o galho e  resolveria um dos problemas do Guedes: ter que negociar com Câmara e Senado os pacotes econômicos empacados.

* Em vez de recomendar o isolamento social e distanciamento,  governos, antigamente, confinavam leprosos e vítimas do cólera em ilhas ou complexos que eram verdadeiras prisões. Os doentes eram largados longe, mas não atrapalhavam a economia, como no caso da Covid.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Adeus, Lolita

Sue Lyon em Lolita. 
E Humbert (James Mason) encantado.  


Em 1961, antes da estréia, Manchete antecipou detalhes das filmagens da "heroína mais escandalosa
do século". Reprodução Manchete

por Ed Sá

Sue Lyon em foto recente.publicada
no site Star Station
Sue Lyon, a Lolita do filme homônimo de Stanley Kubrick, baseado no romance de Vladimir Nabokov, morreu aos 73 anos em Los Angeles, distante da fama, pelo menos para as novas gerações.
Mas se houvesse internet em 1962, quando o filme foi lançado, Lyon, então com 14 anos, seria recordista dos trend topics por meses. A imagem da adolescente de biquíni, no filme Dolores Haze,  que se relaciona com Humbert Humbert, de meia-idade, interpretado por James Mason, agitou a mídia, provocou ligas de moralistas e encheu as salas de cinema.

O papel foi sucesso e fardo na carreira da atriz. Virou um rótulo. Dois anos depois ela filmou "A Noite do Iguana", quando seduz um homem mais velho, dessa vez interpretado por Richard Burton.

Até a vida real imitou a arte, de certa forma: ela se casou em 1964, aos 16 anos, com um roteirista dez anos mais velho.

Lolita ganhou o carimbo de cult e entrou para a história do cinema. Tanto que é um dos filmes que mais geraram trívias, as historinhas de bastidores das filmagens que fazem a cabeça de nerds e cinéfilos e que circulam até hoje em dezenas de sites.

Conheça algumas dessas revelações of câmeras:

* Stanley Kubrick viu Sue Lyon em um programa de TV onde ela "seduzia" um professor. Um detalhe o convenceu a contratar a atriz: o tamanho dos seios, que eram avantajados para a idade dela na época (13).


* Uma das imagens mais icônicas de Sue Lyon como Lolita é a que mostra a atriz de óculos em forma de coração e chupando um pirulito. É uma criação do fotógrafo Bert Stern, foi usada para divulgação e a cena não aparece no filme.


* O escritor Vladimir Nabokov teria preferido que Lolita fosse interpretada pela atrizinha francesa Catherine Demongeot vista em "Zazie dans le metro". Stanley Kubrick também. Mas o diretor optou por uma atriz um pouco mais velha e que aparentava ainda mais idade. Preferiu evitar problemas ainda maiores com a censura e "envelheceu" a ninfeta que no livro tem 12 anos.

* O livro, de 1955, foi proibido em vários países. Por isso, o roteiro do filme se afasta da trama original. Além disso, Kubrick preferiu filmá-lo secretamente em Londres.

* Sue Lyon não foi à estréia em Nova York em junho de 1962. Nos Estados Unidos, o filme foi proibido para menores de 18 anos. Mas ela compareceu à estréia de Londres, dois meses depois.

* Cary Grant foi convidado para fazer o papel do Humbert. Recusou por achar o filme imoral.

* O desempenho de Sue Lyon lhe valeu o prêmio de revelação do ano no Globo de Ouro de 1963.

* Lolita é morena no livro e loura no filme.

* No começo do filme, Stanley Kubrick aparece rapidamente, saindo da cena, no momento em que Humbert abre a porta.

* Caso a censura fosse intransigente, Kubrick tinha uma carta na manga: fazer com que Humbert e Lolita se casassem em um estado onde isso não fosse ilegal.


*Em 1997, Dominique Swain, então com 16 anos, protagonizou o remake de Lolita, dirigido por Adrian Lyne, com Jerymi Irons e  Melanie Griffith. Essa versão é mais fiel ao romance de Nabokov. 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Memórias da redação - Watergate? O que Manchete teve a ver com aquilo?

Reprodução cedida pelo jornalista Lincoln Martins, ex-diretor da Ele/Ela

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em 1973, Watergate fervia em Washington. O filme The Post, em cartaz 45 anos depois, reaquece o escândalo que derrubou Nixon.

Naqueles dias da tempestade jornalística gerada pela invasão do escritório do Partido Democrata e pela cobertura implacável do Washington Post, a Casa Branca sob pressão consumia quilos de Diazepam, o ansiolítico da moda.

Mas, em um dos escritórios, havia um funcionário que encontrou tempo e calma para enviar à Manchete uma prosaica carta de congratulações, em nome de Nixon, saudando a distribuição da revista brasileira em Nova York, Washington e Boston.

Escrever aquela carta protocolar deve ter sido a atividade mais entediante do jornalista Herbert Klein no dia 17 de janeiro de 1973, principalmente porque ele era Diretor de Comunicação do Poder Executivo na gestão de Richard Nixon.

Nixon e Herbert Klein,
em 1971
Na verdade, o nome era pomposo para um cargo quase decorativo. Klein havia sido secretário de imprensa de Nixon durante várias campanhas eleitorais, incluindo a da primeira eleição para deputado, a corrida presidencial mal sucedida de 1960 (que Kennedy venceu) e, finalmente, a conquista da Casa Branca em 1968. Só que, ao assumir, Nixon escolheu como Secretário de Imprensa Ronald Ziegler, protegido de H.R.Haldeman, que se envolveu até a medula no Caso Watergate. Chefe de gabinete de Nixon, Harry Haldeman foi condenado a 18 meses de prisão por perjúrio, conspiração e obstrução da justiça

A mídia americana registrou que, por ser preterido, Klein ficou magoado com Nixon. O núcleo que cercava o presidente chegou a suspeitar, no auge do escândalo, que ele era o Deep Throat que passava informações aos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein. "Ele não é o nosso cara, é?", duvidou  Nixon. Klein ouviu o próprio presidente falar isso em uma gravação e, logo após, recebeu uma ordem para passar a se reportar a Ronald Ziegler. Sua resposta foi pedir demissão.

Isso lhe aconteceu poucos meses depois de ter escrito a carta reproduzida acima e um ano antes da renúncia de Nixon, em 1974.

A carta foi endereçada a Amilcar Moraes, presidente da M&Z Representatives, que distribuía nos Estados Unidos, além da Manchete, o Jornal do Brasil, o Globo e o Pasquim. Amilcar encaminhou uma cópia da carta a Lincoln Martins, então diretor da EleEla, revista que sua distribuidora também levava a algumas bancas americanas.

Herbert Klein morreu em 2009, aos 91 anos, e nunca foi acusado de participar do escândalo de Watergate. A "traição" de Nixon acabou livrando seu antigo assessor de imprensa do valão a céu aberto do escândalo político.

Quando os repórteres queriam saber do envolvimento de Klein com o caso, ele apenas ironizava: "Se eu tivesse feito aquilo, teria feito melhor".

E, não, ele não era o Deep Throat. Como se sabe, a identidade do informante foi finalmente revelada em 2005 quando Mark Felt, diretor do FBI nos anos 1970, confessou em artigo que escreveu para a Vanity Fair que era o homem que passava informações para o Washington Post.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Beckileaks: vazamento de milhares de emails de David Beckham é gol contra a imagem do ex-jogador


por Jean-Paul Lagarride

O assunto do momento nos jornais ingleses é o chamado Beckileaks: o vazamento de milhares de emails da caixa postal do jogador David Beckham. O conteúdo do pacotaço atinge em cheio a imagem do ex-jogador.

A troca de mensagens em Beckham e seus assessores expõe suas supostas tentativa de usar trabalhos de caridade para alavancar sua campanha para se tornar Cavaleiro do Império Britânico (o nome do jogador foi recentemente bloqueado no último minuto com base em objeções levantadas a propósito da sua participação em um sistema controverso de investimentos financeiros). Antes disso, comentando rumores sobre uma possível homenagem oficial que receberia, ele foi curto e grosso: "se não for o título de Cavaleiro, foda-se".

Até agora, apenas parte do material foi vazada.

Nos emails, Beckham, que é Embaixador da UNICEF, também se queixa de que a organização lhe pediu dinheiro. Ele diz que não vai dar qualquer ajuda com seus próprios recursos.

Porta-voz da UNICEF tuitou afirmando que por mais de 15 anos "David Beckham tem sido um embaixador @UNICEF dedicado e apaixonado, ajudando milhares de crianças". Representantes do ex-jogador dizem que os emails foram editados e divulgados depois que ele se recusou a ceder a uma tentativa de chantagem de milhões de dólares.


terça-feira, 26 de julho de 2016

Netflix anuncia: escândalo do Panama Papers vai virar filme (não se sabe quem fará o papel dos sonegadores brasileiros)

Foto: Reprodução/ICIJ.org
por Niko Bolontrin
A Netflix vai transformar em filme um dos maiores escândalos internacionais do ano: a revelação do listão de sonegadores e de lavagem de dinheiro através de contas secretas manipuladas pelo grupo Mossack Fonseca, que tem importantes contatos com a elite brasileira, incluindo barões da comunicação.

O filme, dirigido por John Russel, será baseado em um livro dos jornalistas investigativos alemães Frederik Obermeier e Bastian Obermeyer.

O nome do longa metragem? "Panama Papers: a história de como os ricos e poderosos do mundo escondem seu dinheiro". Em muitos casos, o "seu" dinheiro não é bem deles, claro, mas produto de crimes de sonegação, desvio e lavagem.

O caso Panama Papers, que envolve inúmeras figuras brasileiras, não chegou a ter muita repercussão no Brasil e logo foi abafado do noticiário.

Além da produção da Netflix, Hollywood prepara outro filme sobre o mesmo escândalo baseado no livro "Secrecy World" do Jake Berstein. Steven Soderbergh dirigirá essa versão.

O Consórcio Internacional de Jornalistas Ivestigativos, que revelou os papéis, vai colaborar com ambas as produções.

O que não se sabe ainda é o teor das possíveis referências aos tais brasileiros donos de contas secretas ilegais. Ou, talvez, os tupiniquins nem apareçam já que há ilustres norte-americanos e europeus metidos na lavanderia panamenha.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cantor Biel assedia repórter do portal IG e a revista Todateen tem que explicar às leitoras porque botou o funkeiro na capa...

Revista teve que explicar aos leitores porque pôs na capa
um cantor acusado de assediar uma repórter do IG. Segundo a editora da Todateen, a edição foi fechada
há várias semanas, antes da polêmica.
por Clara S. Britto
Nos últimos dias tem repercutido nas redes sociais uma denúncia de assédio sofrido por uma repórter do portal IG. A jornalista deu queixa à polícia após ter sido alvo de comentários e convites por parte do funkeiro Biel durante uma entrevista. O cantor a chamou de "gostosinha", além de revelar à jornalistas o que gostaria de fazer com ela: "Menina, se eu te pego, te quebro no meio".
Depois de receber milhares de críticas na web (tem também machistas que o defendem), Biel já prova algumas consequências do seu ato. A TV Globo suspendeu convite ao funkeiro para participações em programas, teria retirado da trilha sonora de uma novela um das músicas dele, até que a situação se esclareça totalmente, e a revista Todateen se justificou junto às leitoras porque a capa da edição que chegou às bancas é o Biel. A editora explica que a edição foi fechada há várias semanas, bem antes da polêmica.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Campanha da Calvin Klein com a modelo Kendall Jenner tira o sono dos moralistas

por Clara S. Britto 
A nova campanha Primavera 2016 da Calvin Klein está dando o que falar. Nas imagens, a modelo Kendall Jenner mostra as qualidades do jeans, os sabores de um grapefruit e faz uma performance com a famosa cueca da griffe. Segundo a Maxim, "elegante, icônica e, mais do que nunca, sexual". Para as brigadas moralistas, um escândalo capaz de despertar suas libidos ressecadas.
(Foto: Harley Weir/Calvin Klein)

(Foto: Harley Weir/Calvin Klein)

(Foto: Harley Weir/Calvin Klein)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Impostômetro existe. Mas cadê o sonegômetro? Bacanas brasileiros enviaram ilegalmente bilhões de dólares para "lavagem a seco" no exterior. Vai lá buscar essa grana, Joaquim Levy. Se conseguir, vira herói nacional e samba-enredo da campeoníssima Beija Flor

Reprodução Instagram


Repercussão do caso na midia internacional.Reproduções

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SABÃO E DETERGENTE LTDA
A mídia brasileira tem abordado o escândalo do HSBC, que estourou na Suíça, de forma tímida, falando baixinho. O caso anda meio abafado por aqui. Dá para entender. Haveria um braço da evasão de divisas ligado supostamente à Lava Jato, mas, por incrível que pareça, é o braço menor em número. O polvo do HSBC tem mais uma dezena de membros superiores pilantras, bem superiores e bem ativos. Por enquanto é a porção ignorada pela mídia talvez por ser aquela que denuncia brasileiros poderosos que sonegam bilhões e remetem dinheiro para a devida lavagem no exterior. No caso, os extratos vão muito além da corrupção política partidária (embora tenham sido identificadas contas de figuras ligadas a governos desde os anos 90). Os "diretórios" dessa "coligação" estão nos Jardins, na Vieira Souto, Av. Paulista... O Brasil é um dos países com maior número de pessoas físicas envolvidas no escândalo do bancão que abriu uma "filial" de sabão e detergente da melhor qualidade. Os jornais europeus estão dando seguidas matérias de capa. Nos contracheques da sonegação em massa, há nomes de empresários, banqueiros, artistas, atletas, intelectuais, fazendeiros. Pelo menos um veículo brasileira teria em mãos a lista completa mas optou por divulgar apenas o que se relaciona com a investigação Lava Jato. O total sonegado e lavado por brasileiros, apenas no HSBC, passaria dos 20 bilhões de reais. 
Nos últimos dias, a mídia ocupa-se muito com a Guiné Equatorial e a Beija Flor, legítima campeão do Carnaval. Parece hipocrisia. Um biombo oportuno para deixar de falar da monumental sonegação e evasão fiscal? São crimes que fazem parte importante do complexo de corrupção que extrai recursos públicos que fazem falta em escolas e hospitais, em prevenção de doenças e saneamento. Provocam mortes, talvez até superem a condenável ditadura da Guiné Equatorial. Só que são registradas apenas em estatísticas, sem nome, nem rosto. Por enquanto, o Ministério da Justiça diz apenas que o caso "está sob análise". A Receita Federal anunciou que vai apurar operações em contas secretas de brasileiros na agência suíça do banco. Até aqui, o escândalo parece bem maior do que o interesse da mídia e das autoridades brasileiras.
O PLACAR DO SONEGÔMETRO
Em São Paulo, empresários são acometidos de orgasmo cívico ao exibir um painel da cobrança de impostos no país, o Impostômetro. Aguarda-se um painel ao lado capaz de medir a sonegação, o Sonegômetro. Sem o Sonegômetro, o Impostômetro é uma homérica babaquice que o Jornal Nacional gosta de alardear. Não é preciso ser economista para saber que quando uma conta não fecha, sobra para alguém. Uma instituição internacional, a Tax Justice, demonstra que o Brasil sonega 280 bilhões de dólares por ano, só perde para os Estados Unidos que têm uma economia várias vezes maior. Se muitos dos grandes contribuintes sonegam, todos, especialmente os honestos, acabam pagando mais. O ministro Joaquim Levy foi saudado como o homem que vai pôr em ordem as contas públicas. Beleza. Pena que a receita para isso não muda; arrocho, desemprego, cortes em áreas sensíveis como educação, saúde e segurança, direitos trabalhistas no alvo, investimentos, alta de juros. É o beabá neoliberal que prega arrancar uns trocados de quem já não tem.
LEVY PODE VIRAR SAMBA-ENREDO DA BEIJA FLOR
Levy poderia virar o herói nacional e até samba-enredo da Beija Flor se escalasse com prioridade o combate à sonegação e a captura de recursos ilegais remetidos para o exterior. Isso daria quase 15% do PIB, segundo a Tax Justice. 
O tal ajuste fiscal que o governo Dilma quer fazer, de menos de 2% do PIB, é merreca diante dessa montanha de dinheiro.

JORNAL INGLÊS OPTA POR CENSURAR O ESCÂNDALO. SÓ QUE LÁ VIROU DENÚNCIA


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