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segunda-feira, 6 de abril de 2020

Fotomemória da Redação: Cony no "circo do povo"

Cony durante o primeiro julgamento de Doca Street em Cabo Frio: em primeiro plano, no canto esquerdo da foto

Uma semana antes do julgamento, em outubro de 1979, ele entrevistou Doca Street em Búzios.
Reprodução Manchete
Na tarde de 30 de dezembro de 1976, o empresário Doca Street disparou quatro balas no rosto da socialite mineira Angela Diniz. Foi em Búzios. O crime ficou em cartaz na mídia até 1982.

Era comum, nos anos 1970, a Manchete acionar Carlos Heitor Cony para escrever sobre casos policiais de grande repercussão. No seu estilo, Cony recriava cenas e dramas. Às vezes, ele entrevistava os autores dos crimes. Outras vezes, era o observador, com olho de escritor, que narrava as tramas policiais.

Foi assim que Cony cobriu o julgamento de Doca Street, em Cabo Frio, em outubro de 1979, quando um júri popular formado por cinco homens e duas mulheres absolveu o assassino confesso. "Legítima defesa da honra" foi o argumento que o advogado Evandro Lins e Silva usou para obter a liberdade do matador de Angela Diniz (Doca foi condenado a dois anos e meio com direito a sursis). Cony deu à matéria o título "O Pão da Justiça no Circo do Povo".  O julgamento durou 21 horas e atraiu uma centena de jornalistas

A opinião pública reagiu ao veredito. A acusação recorreu e dois anos depois Doca Street foi novamente julgado e condenado a 15 anos de cadeia. Cumpriu três em regime fechado, dois no semiaberto e o restante  na condicional.           

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A Melhor da Galáxia era uma fábrica de apelidos. . .

Por Roberto Muggiati
Fotos Acervo RM

A arte de brincar com as palavras sempre foi uma verdadeira obsessão nas redações de Bloch Editores, em particular na Manchete (que sobrevive, 65 anos depois de sua criação, nesse apetitoso blog Panis Cum Ovum). Não saciados em escrever suas matérias e jogar conversa fora nos corredores, redatores e repórteres se aplicavam em criar apelidos, numa atividade tão espontânea e natural como o próprio ato de respirar.

Primeiro, preciso explicar a origem do apelido “a melhor da galáxia” para designar a Manchete.
Adolpho Bloch não suportava o sucesso de Justino Martins, embora Justino, um dos maiores
“revisteiros” do Brasil, tivesse tirado a Manchete do limbo em que ela viveu em seus primeiros oito anos e a transformado na maior revista do país. No final da década de 1960, Adolpho tirou o “Índio” – como chamava o Justino – da direção da revista, mas a manobra não deu certo. Justino voltou à direção da Manchete em alto estilo no início dos 1970. Em 1975, Adolpho defenestrou Justino de novo e colocou este que vos escreve na direção da revista. Para botar panos quentes na história, prometeu ao Justino uma tarefa maior – a direção de uma revista de decoração e jardinagem – e ofereceu-lhe uma megafeijoada de despedida no restaurante do terceiro andar, um evento para quatrocentos talheres. Entre os convidados de honra estava JK – o ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – que ganhara de Adolpho um escritório nobre no prédio da Manchete e ocasionalmente assinava resenhas de livros na revista. JK tomou a palavra e decolou: “És um homem feliz, Bloch. Tens a melhor revista do Brasil. Indisputavelmente da América Latina; tens a melhor revista do mundo – quiçá da galáxia!” O regabofe foi na terça-feira, um dia menos tenso: a Manchete fechava na segunda-feira e ia às bancas na quarta. Nas manhãs de quarta aguardávamos ansiosamente os exemplares da revista que vinham da gráfica em Parada de Lucas. No dia seguinte à feijoada, Alberto de Carvalho, nosso assistente de redação – título que não queria dizer nada e dizia tudo – adentrou a sala com aquela ginga de carioca do Estácio e perguntou: “Já chegou a melhor da galáxia?” A partir daí a Manchete ganhou um de seus codinomes mais nobres, cunhado por um ex-Presidente da República.

Alberto chamava a todos afetuosamente de Professor de Astúcia. Os apelidos eram incontáveis. Entre os contínuos, conhecidos como “siris”, havia o Sammy Davis Jr. – era até caolho como seu sósia – e o Tim Lopes, com seus cabelões à moda do famoso cantor Tim Maia. O rapaz saiu da Manchete, estudou jornalismo e, como Tim Lopes, se tornou o mártir da reportagem que todos conhecem.

Ainda outro contínuo foi apelidado de Pablito Cubano pelo chefe de reportagem João Luiz de Albuquerque. O João desconfiou que conhecia a cara do rapaz de algum lugar, fuçou umas revistas antigas e descobriu que ele era o menino que viajou clandestino no trem de aterrissagem de um avião do Galeão para Havana, por admiração a Fidel Castro, que tinha acabado de fazer sua revolução em Cuba.

A fotografia também tinha seus apelidos. Frederico Mendes – nosso Woody Allen de plantão – passou a ser O Encucadinho. Dois “retratistas” reconhecidamente bem dotados se tornaram Tromba e Tripé (apelido que se referia também a uma das ferramentas de trabalho). Jovenzinho, Ayrton Camargo Jr foi seduzido pela Márcia Ramalho e passou a ser chamado de Ayrton Ramalho; o mais incrível na sua trajetória e que tempos depois ele se juntou com uma mineira de Rio Casca que faria sucesso em Los Angeles como Rainha do Anal no cinema pornô com o nome de guerra de Elle Rio. E o laboratorista Claybom? Detestava margarina, mas era de origem francesa e se chamava Clement... O primeiro fotógrafo a fazer um selfie voando de asa delta, nos anos 70, tinha um sobrenome complicado: Paulo Scheuenstuhl virou Paulo Chuchu – aliás, era alto, atlético e agradava às moças. Voltando ao Tripé: ele viveu um episódio que acabaria em apelido, também. Foi designado para fotografar o ator e diretor teatral Ziembinski. A empregada o encaminhou para a biblioteca, imensa, onde Ziembinski estava pendurado no alto de uma escada à beira de um ataque de nervos. Viu o Tripé chegar e desabafou: “Meu filho, quando procuro um livro e não consigo encontrar, isso me dá uma vontade louca de dar o rabo...” O Tripé encontrou uma desculpa qualquer e se mandou. E essa versão masculina de TPM foi batizada por um intelectual da Manchete de Síndrome do Ziembinski. Outra grande figura era o Sérgio de Souza, o Serjão, um dos melhores fotógrafos de futebol. Certa vez recebeu duas ordens de serviço para o mesmo horário, 14 horas; uma em Niterói, outra na Barra. Indignado, Serjão correu para o chefe de reportagem com as ordens na mão: “Cara, olha só aqui, eu não sou onipotente, não!”

Depois da Revolução dos Cravos em Portugal, Adolpho acolheu na empresa vários lusitanos desgarrados, entre eles um fotógrafo de origem aristocrática, Antônio D‘Atoughia, que ficaria conhecido como o Conde; e Lúcio Macedo, apelidado de Salazar por ter sido o fotógrafo oficial do ditador deposto. Um destes era um senhor gordote e pedante que cuidava da portaria e, por sua semelhança física com o ratinho famoso, ganhou o apelido de Topo Giggio. Tempos depois, a Bloch contratou um plano de saúde barato para os funcionários do baixo escalão, praticamente inaugurado com a morte do Topo Giggio.

Alguns redatores já vinham com apelido: desconheço a origem do Jacaré do Irineu Guimarães; já o Pato Rouco do Ivan Alves era mais fácil de detectar.

Eremita, Cony e Tia Zeffa. 

Quando Adolpho Bloch presidiu a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, promoveu a apresentação de uma série de óperas famosas, coroada pela Traviata dirigida por Franco Zeffirelli, que gostava de frequentar a redação. Já nos primeiros dias, ganhou a alcunha afetuosa de Tia Zeffa. Eu mesmo, como editor da revista e mergulhado em problemas de venda, gestão e jornalismo, passei a ser o Muggi das Crises (a cidade de Mogi das Cruzes, não lembro por que, estava em evidência na época). Nos tempos da longa barba, o Alberto me chamava também de Eremita. Já o Justino era o Lafra – de “lafranhudo”, xingamento do arco da velha com que foi brindado, sob golpes de guarda-chuva, pela crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, por não ter publicado um texto dela.

Alberto tinha uma sensibilidade especial para a música das palavras. Quando o Durval Ferreira, repórter de São Paulo, trouxe uma matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, pontificou o nome do coronel Palimércio de Rezende, um dos primeiros oficiais negros do exército brasileiro. Meu filho estava para nascer, ainda não tinha um nome escolhido, e o Alberto perguntou: “Quando é que chega o Palimércio?” A partir daí, todo bebê da redação passou a ser Palimércio ou Palimércia.

Outro apelido, altamente sofisticado, que saiu para fazer sucesso fora da Manchete, foi o do senador Marco Maciel: Mapa do Chile.

O Adolpho vivia às turras com um funcionário dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Da noite para o dia, ele virou Pseudônimo. Na época, as notas mais descontraídas e curtas da seção Leitura Dinâmica eram assinadas por pseudônimos, para evitar repetição de assinatura do mesmo redator. Lembro de alguns desses codinomes, que na verdade eram verdadeiros autoapelidos: Niko Bolontrim (Ney Bianchi), José Bálsamo (Cony), Jean-Paul Lagarride (Justino Martins), Acácio Varejão e, o mais curto de todos, Ed Sá (Ruy Castro). [O Ruy foi justamente interpelado por uma redatora nova, Marilda Varejão, sobre a escolha daquele codinome. “E existe algum Acácio Varejão?”, retrucou ele na defensiva. E Marilda, indignada: “Existe, sim! É o nome do meu pai.”] Um dia, um delator premiado (a Bloch foi pioneira também nessa instituição do momento) emprenhou o Adolpho pelo ouvido, alegando que pseudônimo não era jornalismo. O capo investiu então com toda fúria na redação: “Quero que parem imediatamente com esses possidônios!...”

Festa de meus 40 anos com Moët-Chandon: Layrton Cabral (Lalá), Antonio Rudge,
o Eremita, Justino, Wilson Cunha, ao fundo Murilinho. 

Adolpho dizia para o Alberto: “Você é inteligente, porra! Se tivesse diploma seria diretor da Manchete...” De meados dos anos 60 até o amargo fim da revista, em agosto de 2000, Alberto foi sempre a sombra (benfazeja) do diretor da Manchete, fosse quem fosse. (Eu fui o que mais tempo se sustentou no pau de sebo, para lá de vinte anos.). Ele sugeria títulos de matérias instantâneos e
vencedores. Para uma reportagem científica sobre bebês que eram botados para nadar assim que saíam do ventre materno: QUEM NÃO NADA, NÃO MAMA. No auge da fama do Rei da Canção e do Rei do Futebol, reunimos os dois numa capa. Desta vez, o título do Alberto não foi publicado, por ser politicamente incorretíssimo: O REI E O PERNA-DE-PAU.

No Santa Genoveva, com direito a escultura de Krajcberg, 1997.
A arte do Alberto não se restringia a apelidar só pessoas. Em 1996, fui destituído da direção da Manchete e ganhei um novo cargo com o nome pomposo de Editor de Projetos Jornalísticos. O afastamento também foi geográfico: me exilaram para uma sala imensa, um andar inteiro, a cobertura da terceira fatia do prédio do Russell, à qual se tinha acesso através de uma escada em caracol (que, felizmente, impedia a visita da chatos idosos ou lesados...). Mauro Costa, também destituído da chefia de reportagem da TV, foi ocupar um espaço daquele latifúndio. Pois o Alberto apelidou o local imediatamente de Santa Genoveva – alusão ao asilo de idosos que praticava maus tratos contra os pacientes, fato que chocou o Brasil e só foi descoberto por acaso no rastro de uma daquelas grandes enchentes cariocas.

eresópolis, 8-10-1977, sábado, aniversário do Adolpho: Machadinho,
Wilson Cunha, Heloneida Studart, o Eremita, Flávio de Aquino,
Ceres Feijó, Célio Lyra.

O próprio Adolpho Bloch dava a sua contribuição aos apelidos, às vezes de forma indireta ou
involuntária. Uma dia chegou da gráfica em Parada de Lucas e plantou um jovenzinho franzino na sala de redação: “Ele é um gênio. Vai trabalhar com vocês. Como escreve!” E, exagerando nos elogios: “É um verdadeiro Machado de Assis!” Antônio Roberto é conhecido até hoje como “Machadinho” e colegas da época ainda não esqueceram sua estreia literária. Fã ardoroso de Carlinhos de Oliveira, ele escreveu uma crônica sobre um operário que vinha todo dia cedo para trabalhar na cidade. Logo no início do texto, mencionou a “hedionda marmita”. Até hoje não perdoaram a Machadinho o hediondo adjetivo. Em pouco tempo, ele passou a competir com o maître Severino Ananias Dias fazendo discursos nas grandes ocasiões da casa – discursos que o Cony, com sua ironia de sempre, dizia que eram comissionados “em nome da redação da Manchete”. Foi num destes, um aniversário do Adolpho, que o Severino cunhou um adjetivo inolvidável, referindo-se à “figura inevolúvel de Adolpho Bloqui”. . .

Ruy Castro (Ed Sá) e Narceu de Almeida (Capelinha) em 19-12-72.
Pedro Bloch, que na verdade apelidou a própria revista – sugeriu a Adolpho que a chamasse de
Manchete, lembrava uma manchete de jornal e também imitava a sonoridade de Paris-Match, a maior revista da época. Teatrólogo e fonoaudiólogo, Pedro cuidou de um fotógrafo com problemas de fala que Adolpho mandou para se tratar com ele – e, de saída, o apelidou de João Farofa.

Quando o redator Narceu de Almeida resolveu largar tudo e partir para a vida alternativa na Região dos Lagos, sob a égide dos colegas Cabral e Maciel, ambos Luís Carlos, Jaquito sabia que não ia dar certo e comentava conosco: “O Narceu foi jogar pingue-pongue contra o vento...” Depois de um tempo, Narceu voltou e Jaquito o colocou em regime de free-lancer: o pagamento por matéria redigida, em vez do trabalho assalariado, tornava o redator mais produtivo e mais ágil. Orgulhoso da sua artimanha, Jaquito dizia: “Agora sim, o Narceu está correndo atrás!” E o apelidou de Capelinha, em alusão à marca dos taxímetros da época.

Havia uma recomendação aos novatos que fazia sucesso na redação da Manchete e devia ser escandida, com ênfase nos trocadilhos, em ligeiro sotaque iídiche:  "Se você desobedecer a ordem que Adolpho deu, e aquela que Jaquito havia dado, o Oscar ralha.”

Entre os autores de chistes mais antigos da Manchete, o repórter Ronaldo Bôscoli, que Nelson Motta chamou de “a língua mais rápida de Ipanema, um gênio da maledicência”, notabilizou-se pelos apelidos corrosivos que dava aos seus desafetos. Alguns exemplos: Sérgio Mendes (“compota de monstro”), Antônio Maria (“eminência parda da MPB”), Maysa (La Gorda), Elis Regina (“Vesguinha”). O apelido do próprio Bôscoli era Veneno. É bom lembrar também o fabuloso Nelson Rodrigues, que escrevia na Manchete Esportiva e criava apelidos os mais exóticos. Chamou Cláudio Mello e Souza, editor de Fatos&Fotos, de O Remador de Ben-Hur. Um dia eu vejo o Nelson adentrando a redação e saudando Adolpho Bloch como “Como vai este Cecil B. DeMille das revistas!” (pronunciando o DeMille como DeMaille). Sérgio Porto, colunista da Manchete, que apelidou a si mesmo de Stanislau Ponte Preta, fez do redator Raymundo Magalhães Jr um alvo predileto. O escritor e acadêmico fazia questão de assinar seus escritos como R. Magalhães Jr. Sempre que Sérgio entrava na redação e via o Magalhães batucando com dois dedos na Remington, gritava: “Erre, Magalhães Jr!” Ou gozava da sua baixa estatura: “Toda vez que o Magalhães pega uma caixa de fósforo as pessoas pensam que ele vai
viajar...”

Raul Giudiccelli, outra das línguas mais ferinas da Bloch, fez toda uma catilinária em cima do Ledo Ivo, poeta e redator. Só lembro esta: “O professor deu zero para o Ledo Ivo e ele foi se queixar que a nota não era justa. O mestre explicou-se com o Ledo: – Desculpe, meu filho, mas não tinha nota mais baixa do que o zero...” Ainda em relação ao Ledo Ivo, o Cony retificou o clichê “ledo engano” para “ledo e ivo engano”, usado até hoje por Cony e outros escribas.

A Santa Ceia em cor: Alberto, Ivan, Cunha, Flávio, ao fundo Sammy Davis Jr,
Eremita, Heloneida, Magalhães, Passos, Argemiro, Pedrão, Ney, Cony, Irineu.

Voltando ao Alberto: lendo agora o livro de contos inéditos de Scott Fitzgerald, I’d Die For You,
publicado 77 anos após a morte do autor, encontrei uma personagem – típica serelepe dos anos 30 – chamada Trouble, que só se poderia traduzir, é claro, por Encrenca. Pois sempre que aparecia na redação uma daquelas que a gíria do malandro chamava de “chave de cadeia”, o Alberto se referia a ela como Encrenca.

Almoço para Lula no Russell na véspera da votação do 2º turno, sábado 16-12-89.
Teria sido na Manchete que Brizola pela primeira vez chamou Lula de "sapo barbudo". 

Não faltaram encrencas na história da Manchete. Uma que mais fez jus ao apelido foi a produtora de moda de sobrenome Guerra que deu um tiro no recém-chegado diretor de arte Serge Elmalan. O
coitado do Serge acabara de chegar da França com mulher e cachorro e se instalara num
apartamento no Lido. Sofreu o imediato assédio e atração fatal da Guerra e levou um balaço.
A bala ficou alojada num ponto melindroso da região do ombro e teimava em não sair. Adolpho não hesitou: mandou o Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra, levando o atendimento para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira que acompanhará o Serge em suas andanças pelo mundo até o fim dos seus dias. Um parêntese para dar uma ideia de quem era Serge Elmalan. Convidou-me uma noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento. Quando adentrei a sala, lá estavam a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em La Piscine) e Gilberto Tumscitz e sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Outra Encrenca que fez nome na Manchete foi Marisa Raja Gabaglia (1942-2003). Fomos colegas na reportagem de Frei Caneca em 1966. Inteligente, neurótica, sedutora, fez sucesso como cronista, seu livro Milho Para a Galinha Mariquinha virou best seller. Foi repórter da TV Globo por dezoito anos, fez novela com Tônia Carrero. Marisa teve uma paixão fulminante pelo cirurgião plástico Hosmany Ramos, ex-assistente de Ivo Pitanguy, que de repente partiu para uma surpreendente carreira criminosa e, depois de várias fugas, está preso até hoje. Marisa foi pioneira do Amor bandido, título do livro que publicou em 1982 sobre sua relação com Hosmany.

Vou parando por aqui, porque “a melhor da galáxia” é como aqueles vampiros velhos que – mesmo com bala de prata e estaca no peito – se recusam a morrer.
 

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Memórias da redação: no tempo em que "trolar" era "tirar sarro"...

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", edição on line)

Trolar é uma gíria da internet para zoar, tirar sarro, gozação. O termo é novo mas a prática é antiga.

Na Manchete, duas figuras eram mestres na arte de criar situações fazendo uso de falsos memorandos ou falsas cartas: Alberto Carvalho e Carlos Heitor Cony. A dupla tinha o requinte de guardar papeis timbrados que chegavam à redação e recortar logotipos e cabeçalhos para "oficializar " memorandos ou comunicados. Os textos recriados em tom oficial eram montados na xerox, onde ganhavam uma certa autenticidade. Forjavam assim cartas de cobrança de dívidas, de convite para viagens internacionais e até de intimação policial.

"Uma Noite no Mar Cáspio" enlouquece marqueteiro 

Houve uma época, lá pelo comecinho dos anos 1970, em que foi contratado um executivo cuja função era introduzir na revista modernas técnicas de marketing. Dizem que o sujeito era uma usina de ideias, mas nada do que ele apresentava nas reuniões ia pra frente. O próprio Adolpho Bloch não botava fé nas estratégias do especialista. Para o patrão, o marketing mais importante era a capa da revista que se resumia em duas categorias: "vendeu" ou "encalhou".

Apesar disso, os "projetos" não paravam de jorrar nas reuniões de pauta. Um dia, Cony resolveu sacanear o marqueteiro. Mandou um memorando endereçado para ele próprio, para os setores engenharia, de segurança, de bufê etc e para o expert em marketing, convocando uma grande reunião para discutir um evento chamado "Uma Noite no Mar Cáspio".

Segundo o comunicado, a festa aconteceria ao redor da piscina, no terceiro andar do prédio do Russell e celebraria as origens russas de Adolpho Bloch, ao mesmo tempo em que associava sua trajetória de sucesso à importância da marca Manchete. Seria um evento lítero-musical, como pedia o memorando "da presidência".  A reunião preparatória efetivamente ocorreu. Cony se engajou na própria farsa, compareceu ao local marcado e ouviu, a sério, as várias ideias que foram postas à mesa, enquanto o marqueteiro e coordenador do evento anotava tudo e discutia os comes e bebes, a contratação de um solista de violino, uma projeção de fotos, a lista de convidados etc. Antes de fazer uma saída triunfal da reunião, Cony embaralhou os trabalhos e enlouqueceu o "comitê organizador" ao despejar suas próprias sugestões, que iam de espetáculo pirotécnico à apresentação de um coral de funcionários. Só ao voltar à sua sala, o perplexo executivo, novo na casa, descobriu que "Uma Noite do Mar Cáspio" era tão autêntica quanto "Uma Noite nos Mares do Sul", o famoso baile de carnaval que a Manchete cobria todo ano.

Editor em crise de depressão  

Outra trolagem: Em 1970, o jornalista Raul Giudicelli assumiu a direção da Fatos & Fotos. Talvez para sair do trivial e deixar sua marca na revista partiu pro delírio total: vestiu uma fantasia do Fantasma e convenceu Chico Anysio a fazer uma entrevista com o personagem. A matéria surreal foi publicada na revista.  Cony desencavou nos Serviços Editoriais (o setor da Bloch que recebia material de agências e revistas estrangeiras) um papel timbrado da todo-poderosa King Features Syndicate, detentora dos direitos do Fantasma. Recortou a matéria da Fatos & Fotos e anexou uma carta dirigida ao "Editorial Director Mr. Raul Giudicelli" informando que os advogados da empresa entrariam com um processo por uso indevido de imagem do Fantasma. A causa, dizia o "documento", estava estipulada em 100 mil dólares. Cony só assumiu a brincadeira quando soube que o pobre do Raul Giudicelli estava em crise de depressão e não comparecia ao trabalho havia dois dias, sem saber como dar a Adolpho Bloch a notícia de que a empresa ia entubar um processo milionário.

Jornalista é convocado a comparecer ao Crematório Municipal

Essa foi do Alberto. Um colega redator que já havia ultrapassado a barreira dos 60 anos e era particularmente hipocondríaco (embora gozasse de saúde perfeita) recebeu um dia uma "carta" da Secretaria de Administração Civil do Rio de Janeiro, cujo teor era o seguinte:
DCP/RJ 19/09/
Controle de População
Lei 32.694 de 02/06/1946
Prezado senhor:
Conforme registro do nosso cadastro de controle, verificamos que V. Sª atingiu o limite de idade previsto por lei. Nossos estudos estatísticos indicam que a sua idade não oferece mais nenhuma vantagem para a sociedade. Muito pelo contrário, acarreta uma carga complementar às entidades assistenciais de sua comunidade, bem como o desagrado daqueles que o rodeiam.
Por este motivo, V. Sª deverá apresentar-se ao Crematório Municipal até 8 (oito) dias após o recebimento desta, a partir das 9h00 da manhã, diante do Forno Nº 5, Ala Norte, para que possamos proceder vossa incineração.
Na oportunidade, V. Sª deverá apresentar-se munido dos seguintes documentos e acessórios:
1. Carteira de identidade (original);
2. Protocolo do atestado de óbito em andamento;
3. Comprovante de pagamento da taxa de cremação (autenticada);
4. Comprovante de pagamento do IR dos últimos 5 (cinco) anos;
5. 1 (um) saco plástico (sem propaganda de supermercado) para as cinzas;
6. 2 (dois) metros cúbicos de lenha seca, ou dez litros de gasolina de alta octanagem.
Para evitar qualquer contratempo ou perigo de explosão, fica estipulado que até 48 (quarenta e oito) horas antes V.Sª não deverá ingerir qualquer bebida alcoólica ou mesmo comer batata doce ou repolho, pois provocam reações incontroláveis de alta periculosidade ao ecossistema.
Antecipadamente agradecemos vossa valiosa colaboração e.... ADEUS!!!
Atenciosamente (assinatura)
Subchefe Adjunto Substituto do Assessor do DCP- Departamento de Controle da População.

A redação inteira da Manchete ficou observando o hipocondríaco ler a carta, circunspecto. Ele coçou a cabeça antes de levantar a vista da carta sinistra, ouvir a explosão de gargalhadas na sala e tomar mais um Lexotan.  



terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A Santa Ceia, au grand complet, versão 77

 
Foto: Arquivo Pessoal RM

Por ROBERTO MUGGIATI

Esta foto posada da redação da Manchete, feita em 1977, reproduz, por uma feliz coincidência, o leiaute do afresco famoso de Da Vinci, com uma pequena variação: sentados, não, mas eretos, como cabia àquela brava equipe.

Vamos recordar, a partir da esquerda: o impagável secretário de redação, Alberto de Carvalho, alma secreta da revista; o redator Ivan Alves, o Pato Rouco, que nos anos de chumbo foi protegido na Sucursal de Paris; Wilson Cunha, chefe de redação e cinéfilo, que saiu depois para a Rede Manchete e as TV Globos da vida; o crítico de arte Flávio de Aquino; este que vos escreve, que carregava uma cruz por semana; Heloneida Studard, escritora e líder feminista; R. Magalhães Jr., redator e imortal, um baixinho duro de lidar; Wilson Passos, o grande chefe de paginação da Manchete, que desenhou a revista dos anos 50 até o final (com um período sabático durante a “ditadura italiana” de Vincenzo e Massimo, em meados dos anos 90); Argemiro Ferreira, redator e líder sindical; Pedro Guimarães, diagramador, o primeiro a nos deixar: partiu dias antes da edição de Carnaval de 1980; Ney Bianchi (de Almeida), que cobria Copas e Olimpíadas e depois encontrou o filão místico: desvendou os mistérios do Dr. Fritz e tornou-se interlocutor exclusivo de Dona Neila Alkmin; Carlos Heitor Cony, romancista, escritor escalado para as grandes coberturas de Manchete, como a visita do Papa (veio com o Sumo no mesmo avião), casamento da Princesa Diana e, last but not least, ghost writer do grande vidente Allan Richard Way – vidente que foi literalmente cegado por Cony; e o redator Irineu Guimarães, que foi seminarista em Marselha e trabalhou no prestigioso Le Monde.

Treze diante da mesa. Um reparo: entre meu ombro direito e a cabeça do Flávio de Aquino aparece o contínuo Sammy Davis Jr. Só numa empresa como a Bloch, o contínuo tinha acesso direto ao dono da empresa. Sammy falava sempre com o Adolpho que iria conseguir para ele a casa que ficava ao lado do 766 da Rua do Russell, (que já estava em construção e seria aberto em 1980). Esta foto foi feita ainda no primeiro prédio, o 804. E o contínuo de codinome Sammy conseguiu finalmente convencer a senhorinha a vender sua casa. Ali, em 1986, Adolpho construiu a terceira fatia da fachada do Niemeyer, para abrigar parte da Rede Manchete. Que fim levou o Sammy Davis eu não sei. Não sei sequer se recebeu alguma comissão por ter conseguido o terreno para o Adolpho. Aliás, estes apelidos eram da lavra do Alberto. Outro contínuo, de cabelão afro avantajado como o do Tim Maia, foi apelidado de Tim. Acabou se tornando o grande repórter Tim Lopes.

Desta Santa Ceia 77, somos quatro sobreviventes: Wilson Cunha, eu, Argemiro e Cony. Ainda bem que sobrou alguém para contar a história. . . 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Revelações de Carlos Heitor na Globo News. Neste sábado, 28, às 21 horas



Reprodução coluna Gente Boa

No próximo sábado, vai ao ar na Globo News uma entrevista com Carlos Heitor Cony feita por Geneton Moraes Neto (no programa Dossiê, neste sábado, dia 28, 21h). Um dos seus comentários é sobre o famoso vidente Allan Richard Way. Cony revela que criou o bruxo e inventava previsões astrológicas que a Manchete publicada anualmente. É fato. Mas alguém leva previsões a sério? Nem as inventadas. Aquilo era uma tremenda gozação. E virou "pegadinha" até para outros veículos. Era, digamos, em plena ditadura, algo que sites como o "Sensacionalista" fazem hoje, onde cada notícia vira uma piada que tem fundo de verdade. Cony criou o vidente mas, no fundo, restou um mistério aí. Alan Richard Way já enviou previsões para este blog através de um email codificado, que não aceita replay. Se é o velho mago ou se alguém está usando seu nome, quem vai saber? Segundo a nota ao lado, publicada na coluna Gente Boa, do Globo, Cony conta na entrevista a repercussão da previsão sobre um falso desabamento da Ponte Rio-Niterói. Houve também o caso de uma equipe de TV que procurou a Manchete pedindo o endereço do bruxo, em Londres, para entrevistá-lo em seu programa de previsões de fim de ano. Jamais o encontrou, claro. Era exclusivo, só falava com o Cony.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ecos do tempo...

por Alberto Carvalho
Foram os 34 anos trabalhando em Bloch Editores, onde tive o privilégio e o prazer de conviver diariamente com grandes escritores e jornalistas desse país: Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Ruy Castro  e muitos outros. Eram pessoas que, além da competência, passavam humor e brincadeiras, das quais eu lembro até hoje. 
Eco 1
Cony, por exemplo, aprontou uma que foi genial! "Numa segunda-feira, pela manhã, entrou na redação da Manchete pedindo o jornal para conferir um jogo da loteca. Antes de chegar na redação, havia passado na casa lotérica onde fizera um jogo com os mesmos números sorteados da semana anterior. Simulando conferir o bilhete, aos gritos, bradou que havia sido premiado. Todos correram para conferir o bilhete. Os números batiam, é claro. Mas ninguém teve a ideia de atentar para a data da aposta. O prêmio estava acumulado em 20 milhões de reais e havia um só ganhador. A notícia se espalhou pela empresa e os telefonemas não paravam! ...E o Cony na dele. Quando a farsa foi descoberta, a galera caiu na gargalhada e outros ficaram p... da vida, inclusive o "seu" Adolpho Bloch que já estava a fim de descolar  um empréstimo.
Cony foi o responsável pelo título do nosso blog, este Panis Cum Ovum. A cada fechamento das edições das revistas Manchete e Fatos e Fotos, que se prolongavam pela madrugada, o pedido ao restaurante, para que a rapaziada fizessem um boquinha, era o tradicional pão com ovo. Cony ligava e pedia pra caprichar na manteiga, dizendo que era uma exigência do Geraldo Matheus. O popular sanduba vinha carregado na manteiga, que escorria pela boca, inevitavelmente caindo sobre a mesa e as laudas. Os computadores não haviam chegados às redações. O pão com ovo ficou fazendo parte dos fechamentos de todas as revistas da Bloch. Mas com manteiga, só Manchete e Fatos e Fotos.
Eco 2
A união do Muggiati com a nossa querida colega Lena começou com uma brincadeira da minha parte. Lena era secretária do Arnaldo Niskier, diretor de Jornalismo. Muggiati e Lena, até então,  só se falavam sobre trabalho. Não tinham a menor intimidade um com o outro. Certo dia, eu disse para a Lena que o Muggiati não tirava os olhos dela. E disse o mesmo para o Muggiati. A partir daí os dois passaram a olhar um para outro com bastante frequência. Não demorou muito e o amor começou a tomar forma. Conclusão: casaram-se e tiveram dois filhos lindos - Roberto e Natasha. Natasha adorava futebol e era vidrada no Corinthians. Até hoje ninguém conseguiu entender o porque da paixão da Natasha pelo Corinthians, uma vez que ela sempre morou no Rio. Muggiati, para satisfazer os desejos da menina, comprou bola, camisa do Corinthians, calção, meias, chuteiras e todo o final de semana, ambos uniformizados, se dirigiam ao Aterro do Flamengo para baterem uma bola. Muggiati ficava no gol e a Natasha ia batendo pênaltis. Muggiati dizia que quando jovem jogava de goleiro nos filhotes, (juvenis) do Coritiba. Será?

Eco 3
Ruy Castro até hoje, quando me vê, exclama: "Lá vem o último dos cariocas!" O seu bom humor se reflete sempre nos papos que mantêm com os amigos. Flamenguista doente, piadista e  contador de histórias hilariantes, Ruy Castro vivia pregando peças  nos colegas de trabalho. Alegria e o humor eram a tônica da nossa convivência.

Eco 4
Outro gozador era o João Luiz de Albuquerque. Ele foi nosso correspondente em Nova York e depois chefe de Reportagem da Manchete, no Rio. Nunca chegava na hora para o trabalho. Jaquito esbravejava: - "Ele se chafurda nos lençóis!"  João Luiz foi demitido  varias vezes pelo Jaquito e  Adolpho Bloch o readmitia.  Ele tinha um bugre conversível, vermelho, sujo,, caindo aos pedaços.  De vez em quando o seu Adolpho, quando saia da empresa, dispensava a Mercedes Benz, e pegava uma carona no bugre do João. Contando, ninguém acredita! Os dois se davam muito bem.


Eco 5
Se ninguém conhecesse o Narceu de Almeida, acharia que ele era mudo. Raramente abria a boca para falar alguma coisa. Ele tinha um Fusquinha que estacionava todos os dias em frente ao Hotel Novo Mundo, quando vinha para a empresa. Na saída, passava no bar do hotel, tomava vários gorós e saia cambaleando para pegar o fusca e voltar para casa. O guarda de trânsito, que ficava na porta do hotel e  que já era nosso conhecido, impedia sempre que o Narceu dirigisse o carro naquele estado. Narceu prometia que no dia seguinte não iria beber e levar o carro para casa. No dia seguinte, a mesma coisa: Narceu bebia e o guarda não deixava ele levar o carro. Isso se repetiu durante um mês. E o Fusquinha, ali estacionado, parecia móvel e utensílio do hotel. Até que um dia um colega resolveu levar o Fusca com o Narceu, ainda de pileque, no banco do carona.

domingo, 16 de junho de 2013

Foto-Memória da redação: Manchete, um time que jogava uma bola redondinha...

Alberto Carvalho, Ivan Alves, Wilson Cunha, Flávio de Aquino, Roberto Muggiati, Heloneida Studart, Raymuno Magalhães Jr, Wilson Passos, Argemiro Ferreira, Pedro, Ney Bianchi, Carlos Heitor Cony e Irineu Guimarães. Ao fundo, Sammy. 
por Gonça
O cenário é a sala do oitavo andar do prédio da Rua do Russell. Era a redação da revista Manchete, um "butantã' de cobras do jornalismo. O prédio hoje abriga pretroleiras, não adianta chorar o óleo derramado. Os tempos mudam, épocas passam, mas não a memória. Relembrem aqui. A foto foi reproduzida do livro "Aconteceu na Manchete, as história que ninguém contou" (Desiderata), esgotado mas ainda à venda em sebos digitais.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Parada de Lucas: mais fotomemória da Manchete

Em Parada de Lucas, na escola instalada na gráfica, 1966
Parada de Lucas, 1977
Sarte em Parada de Lucas, 1966
Nelio Horta, ex-diagramador da Fatos & Fotos, publicou no blog uma foto que mostra a equipe da revista em visita à gráfica de Parada de Lucas (veja post nesta página. A viagem nostálgica motivou outro caro colega a pesquisar neste sábado sem sol seu valioso baú de fotos.
Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, compartilha as imagens. Conta MuggiatiI: "Na virada de 50/60, Parada de Lucas era a sala de visitas do Adolpho Bloch. Servia uma feijoada ao convidados e mandava neguinho jamegar num quadro-negro que tinha por lá. O Sartre e a Simone não escaparam,Veja as fotos de 1960, de Gil e Gervásio. (ao lado, o Roberto ? - da Joia, queridinho da Lucy - e o Justino de bigodinho cafifa). Volta e meia a cúpula enfiava a redação num ônibus e a mandava num "Lucas Tour". Tenho duas fotos, na de 1966, da esquerda p direita, temos Arnaldo Niskier, Sérgio Alberto, Juarez Costa, Homero Homem, Muggiati, Muniz Sodré (atrás do Raimundo Costa), Moacyr Souza, Vera Rachel Bergstein e o - agora definitivamente imortal - Ledo Ivo.
Na de 1977, ou por aí, Flávio de Aquino, de capa preta, Edson Pinto, Adolpho, Justino, Oscar; 2ª fila: Lincoln, Wilson Cunha, Murilo, David Rubinstein; 3ª fila: Cony, Muggiati. Estavam presentes também Marília Campos, José Guilherme e, se não me falha a memória, Heloisa Marra. E bola pra frente! Um abraço, Muggiati"

sábado, 12 de maio de 2012

Renato Sérgio, que amava o texto e o som das palavras...

por Sérgio Costa
(Texto reproduzido do Facebook)
Caraca! Soube agora, lendo a coluna do Arnaldo Bloch sobre uma visita à Eco (não percam), que morreu Renato Sérgio. Escritor, roteirista de TV, jornalista que amava o texto... Pelo texto, pela beleza e pelo som das palavras reunidas. Foi redator de Manchete e sempre me deu força nesta carreira. Nunca esqueci os elogios que me fez, foca ainda, encarregado de cobrir um baile de Carnaval para a revista.
As edições de Manchete sobre a festa eram exclusivamente fotográficas. Íamos a todos. Os repórteres, para fazer legendas. Os bailes eram, digamos assim, quentes. Resolvi arriscar um texto mais autoral descrevendo uma noite em que rolou de tudo a partir do momento em que "voou o primeiro sutiã" e ele gostou. Gostou e passou a reparar no meu trabalho.
A equipe de redatores da Manchete era de feras consagradas: Justino Martins, Ney Bianchi, Cony, Irineu Guimarães, Flavio de Aquino, Roberto Paulino, Roberto Muggiatti, José Esmeraldo, devo estar esquecendo alguém, e ele, Renato Sérgio. Gostava de ler seus perfis de celebridades. Uma vez fizemos juntos um caderno reconstituindo a noite da Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova York. Tive a oportunidade de recolher depoimentos de quase todos os artistas brasileiros que participaram daquela noite histórica. Hoje quem se dá ao trabalho de gastar um caderno para reconstituir um show em todos os seus detalhes?
Trabalhamos juntos, depois, na redação de Ele Ela, na época uma rival que dava trabalho à Playboy. Uma revista que revelou muitas modelos e manequins... Era uma redação divertidissima. Principalmente quando Henrique Diniz e Machadinho bebiam um pouco além da conta no almoço e protagonizavam cenas antológicas à tarde. Nesta época, Renato Sérgio já não bebia, esporte a que se dedicou profissionalmente por muitos anos. Estava sempre comendo uma barrinha de chocolate, mas se divertia muito com aqueles moleques muito loucos que brincavam de fazer revista de sacanagem. Seu filho, Renatinho, virou meu amigo e parceiro de longas conversas. Seu pai deixa saudades.
Nesta foto, ele está entre Indalécio Wanderley e Gervásio Batista, dois monstros de uma equipe de fotografia da Bloch não menos recheada de craques.
Toma uma por mim no ceu da irreverência, Renato.
Obrigado.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cony vai contar tudo

Carlos Heitor Cony, um dos autores do livro Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou, assinou contrato com a editora Levy para publicar seu livro de memórias. Título: Eu aos Pedaços. O lançamento está previsto para o ano que vem.