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sábado, 7 de setembro de 2024

ABI e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro apresentam o documentário "Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazônia" no próximo dia 12/9, quinta-feira, às 18h.



por Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (*)

ABI e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro apresentam o documentário "Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazôniaa", que companha o repórter Daniel Camargo e os fotógrafos João Laet e Tom Phillips cobrindo as buscas pelo seu amigo, o jornalista Dom Phillips, assassinado na Amazônia em junho de 2022. A experiência muda sua visão sobre os conflitos na região.

Após o assassinato do jornalista Dom Phillips, no Amazonas, seu parceiro de reportagem, Daniel Camargos, da Repórter Brasil, embarca em uma jornada reflexiva sobre o papel dos jornalistas que cobrem os conflitos por recursos naturais na maior floresta do mundo. Ao descobrir o modo violento como seu amigo foi morto, ele se pergunta: vale a pena seguir neste ofício e terminar como Dom?

A resposta vem em outras coberturas pela Amazônia, quando Daniel conhece os Guajajara, no Maranhão. Eles se organizam para enfrentar os invasores que derrubam árvores dentro da sua terra. Os guerreiros Guajajara acumulam perdas de amigos e parceiros, com 50 mortes nos últimos 20 anos. Para eles, não há outro nome para o que vivem: é uma guerra.

Daniel segue para o Pará, viajando longas distâncias para chegar às aldeias munduruku mais distantes das cidades. Ali, no meio da floresta que deveria estar saudável, crianças caem com dor nas pernas, idosos perdem a visão e bebês nascem com problemas neurológicos incapacitantes – consequências da contaminação por mercúrio usado nos garimpos. Apesar do horror, as comunidades se recusam a sair e seguem denunciando os invasores.

A resiliência dos povos indígenas ajuda Daniel a aceitar a perda de seu amigo e muda o modo como o repórter enxerga o seu papel na cobertura das muitas guerras em curso na Amazônia.

O filme ganhou o 40º Prêmio Direitos Humanos De Jornalismo, concedido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul em 2023. O documentário também foi indicado ao Prêmio Gabo 2024, o mais prestigiado do jornalismo latino-americano.

O documentário “Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazônia” faz parte do projeto Bruno e Dom, quando mais de 50 jornalistas de 10 países se uniram para continuar o trabalho do repórter Dom Phillips, assassinado ao lado do indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari, em junho de 2022. O projeto foi coordenado pela Forbidden Stories.

Após a exibição do documentário teremos uma roda de conversa com o Daniel Camargos, jornalista autor do doc, e os fotógrafos João Laet (que trabalhou com Dom Phillips) e Tom Phillips.

Quando: 12/9/2024 – quinta-feira - 18h

Onde: sede da ABI – Rua Araújo Porto Alegre, 71 - 7° andar

Entrada franca a partir das 17h

(*) De material de divulgação enviado pelo SJPMRJ 

domingo, 16 de outubro de 2022

Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog divulga vencedores (*)



CATEGORIA ARTE – VENCEDOR

Três mulheres da Craco

Autoria: Carol Ito

Veículo: Revista Piauí


Categoria Arte – Menção Honrosa

Pós-Estupro

Autoria: Brum

Veículo: Jornal Tribuna do Norte


CATEGORIA FOTOGRAFIA – VENCEDOR

A dor da fome

Autoria: Domingos Peixoto

Veículo: Extra


Categoria Fotografia – Menção Honrosa

A narrativa desumanizante em torno dos assassinatos policiais no Rio de Janeiro

Autoria: Fabio Teixeira

Veículo: plataforma9p9


CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM ÁUDIO – VENCEDOR

O que os olhos não veem

Autoria: Ciro Barros – Reportagem, Entrevistas e Locução; Ricardo Terto – Produção, Roteiro e Edição de Som; José Cícero da Silva – Reportagem, Entrevistas e Locução; Alexandre de Maio – Ilustrações; Natalia Viana – Supervisão e Coordenação Jornalística

Veículo: Agência Pública


Categoria Produção Jornalística em Áudio – Menção Honrosa

Não sou mais o Pedro

Autoria: Tomás Chiaverini

Veículo: Rádio Escafandro


CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM MULTIMÍDIA – VENCEDOR

Mortes invisíveis

Autoria: Amanda Rossi – Repórter; Saulo Pereira Guimarães – Repórter; José Dacau – Repórter; Flávio VM Costa – Editor e coordenador do núcleo investigativo; Lúcia Valentim Rodrigues – Editor; Yasmin Ayumi – Arte; Gisele Pungan – Editor de arte; René Cardillo – Editor de arte; Douglas Lambert – Filmagens; Olívia Fraga – Edição

Veículo: UOL


Categoria Produção Jornalística em Multimídia – Menção Honrosa

A rota do tráfico humano na fronteira da Amazônia

Autoria: Mirelle Pinheiro

Veículo: Metrópoles


CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM TEXTO – VENCEDOR

Cercados e vigiados – PF legaliza seguranças que aterrorizam moradores de antiga usina de açúcar em Pernambuco

Autoria: Alice de Souza

Veículo: The Intercept Brasil


Categoria Produção Jornalística em Texto – Menção Honrosa

Mineração arada: quilombolas barram avanço de empresa inglesa na Chapada Diamantina

Autoria: Daniel Camargos – Repórter; Fernando Martinho – Repórter fotográfico

Veículo: Repórter Brasil


CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM VÍDEO – VENCEDOR

Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico

Autoria: Alexandre Hisayasu, Valéria Oliveira dos Santos – Produção e reportagem; Henrique Souza Filho – Técnico; Alexandro de Oliveira Pereira – Cinegrafista; Luciane Marques de Oliveira – Produção; Wagner Luis Suzuki – Editor; Gustavo Pereira Pacheco – Editor de imagem; Everton Altafim – Editor de imagem; Anderson da Silva – Editor de arte; Luciano Abreu – Produção

Veículo: Rede Globo


Categoria Produção Jornalística em Vídeo – Menção Honrosa

Não merecia ser humilhado; PM arrasta suspeito em moto e recria cena da escravidão em São Paulo

Autoria: Guilherme Belarmino – Repórter; Marconi Matos – Repórter cinematográfico; Eduardo de Paula – Repórter cinematográfico; Marcos Barcarollo – Técnico de Captação de Som; Raphael Moura – Técnico de Captação de som; Marco Aurélio Silva – Designer; Aline Lima – Designer; Esther Radaelli – Produtora; Renato Nogueira Neto – Editor; André Alaniz – Editor de imagem; Flávio Lordello – Editor de imagem

Veículo: Rede Globo / Fantástico


Categoria Produção Jornalística em Vídeo – Menção Honrosa

Identidade, o direito à vida transvesti

Autoria: Silvia Bessa – Direção, roteiro e coordenação executiva; Luiz Henrique Carneiro Siqueira – Codireção, direção de fotografia, videomaker e edição; Marcionila Teixeira de Siqueira – Entrevistas, produção de entrevistas e pesquisa; Diego Vieira Nigro de Almeida – Videomaker de imagens aéreas

Veículo: TV ESA PE e TV Universitária PE


CATEGORIA LIVRO-REPORTAGEM – VENCEDOR

Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo

Autora: Eliane Brum

Editora: Companhia das Letras


Categoria Livro-Reportagem – Menção Honrosa

Dano colateral: A intervenção dos militares na segurança pública

Autora: Natalia Viana

Editora: Objetiva


Categoria Livro-Reportagem – Menção Honrosa

Meninos malabares: retratos do trabalho infantil no Brasil

Autores: Bruna Ribeiro e Tiago Queiroz Luciano

Editora: Panda Books



(*) O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão formada por: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Conectas Direitos Humanos, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional), Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento e Instituto Vladimir Herzog (IVH).

Os parceiros da 44ª edição são: Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), TV PUC , Canal Universitário de São Paulo (CNU), União Brasileira de Escritores (UBE) e OBORÉ.


Fonte: Instituto Vladimir Herzog

sexta-feira, 28 de junho de 2019

ABI retoma liderança pela Democracia: Pagê é o novo presidente

(do site da Associação Brasileira de Imprensa) 

Em votação histórica- com a participação de 390 sócios, o maior quórum dos últimos anos – a Chapa 2 – ABI: Luta pela Democracia conquistou, nesta sexta-feira, 27/06,  56,6% dos votos e comandará a centenária Associação Brasileira de Imprensa (ABI) até 2022.

Ex-vice-presidente da entidade até dia 13 de maio, o jornalista Paulo Jerônimo de Sousa, o Pagê, de 81 anos, venceu com 221 votos Domingos Meirelles, 79, que dirigia a ‘Casa do Jornalista’ desde 2013.

Com a Chapa 1 – ABI Para Todos, Meirelles teve 97 votos. Washington Machado, que disputava a presidência pela chapa 3 – Barbosa Lima Sobrinho, recebeu 68 votos e ficou em terceiro lugar.

A eleição na ABI foi marcada por disputas judiciais que começaram antes de iniciado o processo eleitoral, em fevereiro deste ano, para que a oposição obtivesse a relação de sócios da entidade.

Inicialmente marcada para 26 de abril, um primeiro pleito ocorreu somente em 16 de maio, mas até hoje os 256 votos depositados naquele dia estão acautelados judicialmente.

Em meio às várias batalhas  judiciais, a campanha da chapa 2 teve como principal mote a defesa da democracia e da liberdade de imprensa, sob ameaça no atual governo.

A chapa comandada por Pagê, que tem como vice-presidente Cid Benjamin, promete resgatar o papel que a ABI sempre teve junto à sociedade brasileira:

 “O objetivo da chapa vencedora é resgatar o protagonismo da ABI, que nos últimos anos se viu desprestigiada como nunca havia acontecido nos seus 111 anos de existência. Nossa primeira providência será promover as antigas parcerias com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Clube de Engenharia, incorporando novas entidades da sociedade civil como Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia (ABJD) e Associação Juízes para a Democracia (AJD).

Pagê anuncia ainda a intransigente defesa que a ABI protagonizará em torno da liberdade de imprensa e do respeito ao trabalho do jornalista. Com esse objetivo, ele diz que a nova diretoria irá buscar um trabalho conjunto com entidades tradicionais da categoria, como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os diversos sindicatos da categoria, a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19 e o Instituto Vladimir Herzog.

“Buscaremos essas parcerias para criar uma verdadeira trincheira em defesa da democracia e da liberdade de imprensa, ambas bastante ameaçadas atualmente”.

Chapa vencedora



LEIA NO SITE DA ABI, AQUI

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Roberto Muggiati escreve: A primeira sessão de cinema

ACONTECEU HÁ QUASE 60 ANOS - Uma das primeiras projeções da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio,
no Auditório Oscar Guanabarino, da ABI, em 13 de maio de 1958. O filme exibido foi O ferroviário, de Pietro Germi.
Na primeira fila, no centro (de óculos e bigode), Dejean Magno Pellegrin, um dos maiores incentivadores do cineclubismo no Brasil. Na extrema esquerda, Mary (futura Sra. Zuenir) Ventura. Na segunda fila, Leon Hirszman, futuro cineasta. Na terceira (ao centro, de óculos), Walter Lima Jr., idem. Ainda na terceira fila, Sarah de Castro Barbosa (futura Sra. Joaquim Pedro de Andrade). Na quarta fila, o jornalista Cláudio Mello e Souza, que dirigiu a Fatos & Fotos e foi apelidado de "O Remador do Ben-Hur" por Nelson Rodrigues. Também nessa fila, os futuros cineastas Carlos Diegues e David Neves. Na sexta fila, Tereza Aragão (futura Sra. Ferreira Gullar).
Foto de Robert Léon Chauvière * Arquivo Pessoal de Djean Magno Pellegrin


Por Roberto Muggiati

Sou de uma geração perdida – não aquela do Hemingway – mas perdida de amor pelo cinema, uma geração com o coração de celuloide. Desde o primeiro filme, embaçado nas névoas da memória – O mágico de Oz, primeiro filme também de Salman Rushdie, que escreveu um livro a respeito – desde aquela primeira viagem fantástica com Judy Garland não me afastei mais do escurinho do cinema.

Ainda de calças curtas, escambava gibis na calçada do Cine Broadway, em Curitiba, antes de encarar a matinê de domingo, que começava às duas e ia até o fim da tarde, com direito a trailers, cinejornais, filme de abertura, filme principal e os seriados tipo Flash Gordon (“Continua na próxima semana...”)

Dejean Magno Pellegrin
Como cinéfilo, ganhei um upgrade no meu ano e meio de Paris, de fins de 1960 a começo de 1962: via dois filmes por dia, um deles inevitavelmente na Cinémathèque. Foi também lá que conheci Dejean Magno Pellegrin, que se tornaria meu personal de cinema (na época não se usava essa expressão, nem guru). Um dia ainda vou fazer um perfil mais aprofundado com o título Dejean: Le Chevalier Galant du Septième Art.

Nos primeiros meses de Paris, morei na Cité Universitaire, na Maison du Brésil: uma máquina de morar tramada em 1957 por Lúcio Costa e Le Corbusier. Era acolhedora, cada quarto com calefação e seu chuveiro próprio – uma dádiva em Paris – mas a gente pagava um preço por aquele conforto. A Cidade Universitária ficava quase fora de Paris, confinava com o Boulevard Périphérique, isso diz tudo: pertencia à periferia. E a Casa do Brasil era um gueto tupiniquim, com feijoada e rodas de violão aos sábados.

Em fevereiro de 1961, com uma primavera precoce, temperatura de vinte graus e alguns afoitos nadando nas águas do Sena, eu já estava instalado num hotelzinho barato, mas admiravelmente bem situado, no coração de Paris, na Place Dauphine, vizinho do casal Yves Montand-Simone Signoret.

Conheci Dejean ainda na Cité Universitaire, num bistrô das redondezas frequentado por cineastas e cinéfilos brasileiros. Joaquim Pedro morava lá, estudava no IDHEC (Institut de Hautes Études Cinematographiques), ficamos amigos. No fim do ano foi um festival, vieram de Roma Paulo César Sarraceni e Gustavo Dahl, que estudavam cinema em Roma, tinham um colega italiano chamado Bernardo Bertolucci. Déjean morava perto, dividia um apartamento com o pianista Artur Moreira Lima em Montrouge.

Le Champo ou Le Champollion, em Paris.
Hoje é o Espace Jacques Tati

Minha mudança de endereço para a Place Dauphine, na Île de la Cité, não rompeu meu contato com Dejean. Bolsista do governo francês, eu só tinha aulas à noite, no Centre de Formation des Journalistes. Uma de nossas ocupações era caçar filmes de Ingmar Berman por toda a cidade. Dejean aparecia com a revistinha La Semaine de Paris debaixo do braço: “Está passando Törst num cinema de bairro perto da Mairie du 9ème, cara, vamos nessa.”

E lá íamos nós, fazendo três ou quatro “correspondances” (trocas de trem) no metrô de Paris. Törst, de 1949, era Sede em português, no Brasil se chamaria Sede de Paixões. Na França tinha o título poético de La Fontaine d’Arethuse, alusão a um recanto da Sicília mencionado no filme, que trata basicamente da DR de um casal numa viagem de trem da Itália à Suécia, atravessando a Alemanha devastada pela guerra. A evocação da ninfa Aretusa seria a metáfora da impossibilidade do amor.

O filme, embora um Bergman menor, me tocou fundo e levou a visitar a Fonte de Aretusa, em Siracusa, no meu Grand Tour daquele verão. E a revisitar Siracusa em 1999, 38 anos depois.

Havia muito Bergman a descobrir. Antes de Morangos silvestres, de 1957, ele tinha rodado dezessete longas. Fazíamos também concursos para ver quem lembrava mais títulos originais: Det regnar på vår kärle (Chove sobre nosso amor), Kvinnors väntan (Quando as mulheres esperam) En lektion i kärlek (Uma lição de amor) Sommarnattens leende (Sorrisos de uma noite de amor), o quebra-línguas Smultronstället (Morangos silvestres), Ansiktet (O rosto) e o belíssimo Gycklarnas afton (Noites de circo), que teve traduções inspiradas em francês (La Nuit des Forains/A noite dos circenses) e inglês (Sawdust and Tinsel/Serragem e purpurina). Eu levaria a mania pela vida afora: um dos títulos mais geniais para mim é o de Gritos e sussurros (1972): Viskningar och Rop. Claro, os franceses, inventores e cultores da sacrossanta Sétima Arte, projetavam estes filmes em v.o. – versão original – o áudio em sueco, com legendas. Assim, pela persistência das falas, sempre aprendíamos alguma coisa: Jag älskar dig (Eu te amo); ingen tingen (nada).



Outro cineasta que me arrebatou na época foi Michelangelo Antonioni, com L’Avventura, de 1960. Eu ignorava que ele tinha feito anteriormente dezessete filmes, começando em 1943. Dejean me apresentou a La Signora senza camelie/A dama sem camélias (1953), Le Amiche/As amigas (1955), baseado numa história de Cesare Pavese, e Il Grido/O grito (1957), já inserido no hábito italiano de usar atores americanos, nesse caso Steve Cochran (atuou em Copacabana com Groucho Marx e Carmen Miranda) e Betsy Blair (ex-Sra. Gene Kelly). Talvez eu tenha levado o título no meu inconsciente para o do meu livro Rock: o grito e o mito (1973).

Estranha coincidência naquela nossa escolha de colecionar Bergmans e Antonionis. Os dois diretores morreram com horas de diferença em 30 de julho de 2007: Bergman no começo da manhã, aos 89; Antonioni poucas horas depois, aos 95. Ambos com uma obra sólida: Antonioni com sua Trilogia da Incomunicabilidade (A aventura, A noite, O eclipse), de 1960-62; Bergman com sua Trilogia do Silêncio (Através de um espelho, Luz de inverno, O silêncio), de 1961-62. Escrevendo sobre as analogias na obra de ambos e a sincronicidade de sua morte, um crítico definiu sua obra como “um retrato da alienação do homem moderno num universo sem Deus.”

Em Paris, Dejean trabalhava na Radiodiffusion Télévision Française, fazendo programas em português para o Brasil. Amigo generoso, me encaminhou para uns frilas na RTF, mas não me dei bem na estreia e não me chamaram mais. Eu mal podia imaginar que no ano seguinte, 1962, seria contratado para trabalhar durante três anos no Serviço Brasileiro da BBC de Londres. Uma experiência inesquecível: cheguei numa Inglaterra ainda vitoriana, saí de lá com a Swinging London a todo vapor. Pertencíamos ao que eu chamo de A Legião Estrangeira do Rádio. Tive colegas que trabalharam em The Voice of America em Washington e na BBC de Londres: o saudoso Telmo Martino e José Guilherme Correa.

Quando fui conhecer Estocolmo no verão, Dejean me encaminhou ao carioca Jack Soifer, que trabalhava na Rádio Suécia e foi para mim um cicerone generoso e hospitaleiro. Havia ainda a Rádio Canadá (nosso chefe de reportagem da Manchete, João Resende, quase foi parar lá) e a Deutsche Welle, em Colônia, para os mais afoitos que conheciam o alemão, em geral descendentes. Mas Dejean parece que levou a coisa da Legião Estrangeira a sério, inspirado também naqueles filmes épicos da antiga como Beau Geste, Lanceiros da Índia e As quatro penas brancas. (Quando você é cinéfilo de verdade, a ficção das telas muitas vezes comanda suas escolhas no mundo real.) Ele foi trabalhar no Serviço Brasileiro da Rádio do Cairo, onde se tornaria parceiro de transmissão do gaúcho Francisco Bittencourt, crítico de arte que se tornaria meu amigo em 1970. Imaginem só o que é viver na cidade do Cairo no final dos anos 1960, na república presidida por Gamal Abdel Nasser, que destronou o Rei Faruk. (Bem humorado, Faruk comentou: “Em breve só haverá quatro reis: o Rei da Inglaterra e os quatro reis do baralho…”)

Um corte rápido, coisa de cinema. Em 1969, Dejean está morando em Moscou como oficial de chancelaria na Embaixada do Brasil. Na época, uma das grandes salas moscovitas exibia em noite de gala 2001: Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick. Ao final da sessão, os russos na plateia vaiaram o filme, que acharam recheado de mensagens religiosas, principalmente no destaque dado ao misterioso monólito negro. Irritado, Dejean fez um tremendo discurso em inglês, arrasando com os comunistas: “Vocês são uns ignorantes, não entenderam porra nenhuma!”

Foi em Moscou que Dejean conheceu sua primeira e única mulher, Michèlle, uma francesa que trabalhava na Embaixada da França. Tiveram uma filha, cujo nome Dejean tirou – é claro – de um filme, On a Clear Day You Can See Forever/Num dia claro de verão (1970), de Vincente Minnelli: Melinda, a protagonista interpretada por Barbra Streisand. Belo nome. Woody Allen o escolheu para um filme genial de 2004, Melinda e Melinda. Pura coincidência.

Cassado pela ditadura militar, Dejean teria seus direitos parcialmente reintegrados em 1990, mas a família ainda hoje continua lutando por seus direitos. Demitido, Dejean seguiu com Michèlle para uma segunda temporada na Rádio do Cairo.

Humano, muito humano, Dejean era uma contradição ambulante. Esquerdista ferrenho, adorava o cinema americano acima de todas as coisas.  E sua cultura era assombrosa. Há uns dez anos, propus a uma destas “casas do saber” cariocas um curso de quatro palestras sobre O filme noir e os Caminhos do cinema. Convidei Dejean para ser meu parceiro. Eu achava que sabia tudo de noir, mas ele me veio com uma peça rara: um filme de 1952, The Thief/O espião invisível, com Ray Milland, só de música e ruídos, sem nenhuma fala.

De volta ao Brasil, Dejean coordenou um festival de cinema que teve como convidada especial a musa da nouvelle vague Bernadette Lafont. Uma paixonite o levou a morar de novo em Paris, mas o timing conspirou contra ele: Bernadette na época ficou terrivelmente abalada com o desaparecimento da filha caçula, Pauline Lafont, 25 anos também atriz, que percorria sozinha trilhas do sul da França. Caiu de um penhasco e seu corpo só foi encontrado vinte dias depois. Dejean se deixou ficar por alguns tempos na Rue des Entrepreneurs, na Paris que tanto amávamos. Nos últimos anos nos víamos esporadicamente, seu endereço dificultava bastante os encontros:

Dejean morava num belo condomínio na Floresta da Tijuca, dez minutos de táxi além do Museu do Açude. Fui lá uma vez só, a vista era realmente magnífica, do alto das montanhas da Mata Atlântica num dia claro você podia ver o mar da Barra da Tijuca. As paredes do apartamento eram forradas pelos doze mil filmes de Dejean – e a coleção não parava de se avolumar, com as doações dos companheiros que já iam partindo. Antes, almoçamos no Bar da Pracinha, diante da entrada da Floresta da Tijuca, dividimos um belo filé à francesa (évidemment) com chope, discutindo apaixonadamente, como sempre, nosso assunto predileto.


A última vez que vi Dejean foi na ABI, no centro do Rio, em setembro de 2010, na cerimônia de descerramento da foto famosa que abre esta matéria, seguida da projeção do mesmo Il Ferroviere, de Pietro Germi, exibido na sessão histórica de 1958 – sutileza típica do Dejean. O amigo cinéfilo morreu do coração um ano e meio depois, aos 81, e sua cremação, no Cemitério do Caju, foi a única a que compareci até hoje.

No dia seguinte, um domingo, um incêndio destruíu totalmente o Cine Teatro Ouro Verde, um dos templos da minha adolescência cinéfila. Vi naquilo não uma mera coincidência, mas uma imolação do destino à altura do querido Dejean.


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Enquanto o arquivo fotográfico permanece desaparecido, coleções de Manchete, Fatos&Fotos, Amiga e outras revistas da Bloch estão disponíveis para consulta na Hemeroteca do Estadão. Pelo menos essa parte é boa notícia.


Coleções das revistas da Bloch, incluindo Manchete, na Hemeroteca do Estadão. Reprodução Instagram
Exemplar da Manchete na
Hemeroteca do Estadão. Reprodução Instagram
Para professores, pesquisadores, jornalistas, escritores, fotógrafos e alunos de universidades, as coleções das revistas Manchete, Fatos & Fotos, Desfile, ElaEla, Amiga, Geográfica e outras publicações da editora Bloch são atualmente valiosas fontes de pesquisa sobre fatos, personalidades comportamento, eventos esportivos, políticos, culturais, ecológicos, desenvolvimento urbano etc, de várias épocas da vida brasileira e do mundo em mais de meio século. A busca é por textos e referências jornalísticas, entrevistas marcantes, reportagens históricas, publicidade e fotos. Não é fácil a tarefa para quem precisa levantar tais informações e imagens para livros, teses universitárias e documentários. No ano passado, uma pesquisadora de Pernambuco recorreu a entrevistas com jornalistas que atuaram na Bloch, obteve microfilmes da Biblioteca Nacional e percorreu sebos cariocas. Pelo menos dois fotógrafos ainda tentam localizar negativos de suas fotos para a produção de livros sobre suas vidas e trajetórias. Há alguns anos, jornalistas que lançaram o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) tiveram que usar reproduções e acervos pessoais para ilustrar aquela coletânea. O arquivo de fotos da Manchete e demais revistas da Bloch está, pelo que se sabe, desaparecido após ter sido leiloado pela Massa Falida. Junto com o acervo de fotos, o comprador teria levado também coleções encadernadas e preservadas de todas as revistas da extinta editora. Também não se sabe que fim levou, se ele vendeu as tais coleções. Não são conhecidas igualmente as condições em que estão armazenados milhões de cromos, negativos, e ampliações. Também não se sabe se a pessoa que adquiriu o arquivo em leilão já o vendeu, fatiado ou não, e, se vendeu, onde está. Há alguns meses circulou entre fotógrafos um rumor não confirmado de que um grupo de comunicação teria adquirido o arquivo. A fonte seria um curador que tentou viabilizar uma exposição. Pelo que se sabe, ou não se sabe, não passou de boato. Ou não, como diria Caetano. Diante dessa situação crítica que coloca em risco uma importante memória do jornalismo e da própria história do Brasil, é uma boa notícia saber que o Estadão passou a disponibilizar em sua Hemeroteca coleções encadernadas das revistas da Bloch. Assim, nem tudo se perde. Com exceção da Biblioteca Nacional, que, por lei, recebia exemplares de cada periódico e tem coleções em arquivo, é espantosa, no caso, a omissão, especialmente em relação ao Arquivo Fotográfico, de órgãos como o Ministério da Cultura, Arquivo Nacional, Museu da  Imagem e do Som do Rio de Janeiro (cidade que era a sede da Manchete), de instituições como a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), mesmo a Academia Brasileira de Letras, à qual não faltariam recursos para ajudar a preservar um acervo de importância cultural e até literária (grandes escritores brasileiros colaboraram com as revistas da Bloch, alguns publicaram na Manchete crônicas que hoje são clássicos do gênero), ou fundações privadas que tanto recebem recursos públicos e bem poderiam prestar esse serviço à memória nacional, no que seria uma oportuna contrapartida.
Como nada disso aconteceu, a Hemeroteca do Estadão é uma ótima notícia e sua abertura ao público uma demonstração de cidadania.
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domingo, 21 de setembro de 2014

Mais um acervo preservado. Fotos do jornal Última Hora carioca estão disponíveis para pesquisa no Arquivo Público de São Paulo.

por BQVManchete
Memória garantida. Foi finalizada mais uma etapa do processo de digitalização do Fundo Última Hora – sob guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Aproximadamente 800 mil fotografias que pertenceram ao Departamento de Arquivo Fotográfico do jornal Última Hora foram organizadas, digitalizadas e tratadas, além de disponibilizadas para pesquisas. Trata-se de material acumulado pelo jornal Última Hora do Rio de Janeiro entre os anos de 951 e 1971, em negativo flexível e em papel de gelatina e prata. O trabalho de recuperação das fotos teve início em 2006 no Centro de Acervo Iconográfico e Cartográfico (CAIC). Concluída a atual fase, a restauração prossegue até a disponibilização integral do Fundo Última Hora.
CONHEÇA O PROJETO DO ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. CLIQUE AQUI
Para a história do jornalismo brasileiro, o projeto do CAIC é um marco. E uma indicação de que talvez muitas coleções ainda em risco possam ser salvas. Para isso, bastaria que outras instituições como o Ministério da Cultura, Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Associação Brasileira de Imprensa se interessassem pelas coleções que ou permanecem sumidas ou fora do alcance de pesquisadores, escritores e estudantes. Para citar alguns exemplos cariocas: com exceção do arquivo do O Cruzeiro e do O Jornal, ambos dos Diários Associados e hoje sob guarda do jornal Estado de Minas, das fotos que pertenceram ao Correio da Manhã, agora em poder do Arquivo Nacional, do material do Jornal do Brasil digitalizado e preservado pela empresa sucessora, sabe-se pouco dos rumos dos acervos de veículos extintos como a revista Senhor, do Diário de Notícias, Pasquim, da Editora Vecchi, Diário Carioca, Revista da Semana. Desconhece-se também a situação do arquivo da Tribuna da Imprensa. Uma caso grave, já emblemático, é o sumiço do arquivo que pertenceu à falida Bloch Editores, que editava Manchete, Fatos & Fotos. Amiga, Desfile, Mulher de Hoje, Pais & Filhos, Geográfica, EleEla, Jóia, Domingo Ilustrado, Tendência, e dezenas de outros títulos.

sábado, 26 de outubro de 2013

Mauricio Azedo: a paixão pelo Flamengo na “Crônica da Leonor”

por Eli Halfoun
Mauricio Azedo partiu e muito já se disse sobre seu brilhantismo humano e profissional desde que seu coração perdeu o ritmo da vida. Durante muitos anos trabalhei lado a lado com Azedo na redação da Ultima Hora e uma das coisas que mais me chamava atenção nele era a paixão e o entusiasmo com que exercia sua função como jornalista - um jornalista brilhante e dono de um texto magnífico e impecável. Azedo era um apaixonado pela vida e por tudo que a cercava. Uma de suas maiores paixões era o futebol, mais precisamente o Flamengo time pelo qual torcia com entusiasmo não fosse ele o entusiasmo em pessoa. A paixão pelo Flamengo o fez criar na UH a “Crônica da Leonor" (era como chamava a bola) espaço no qual só escrevia sobre o rubro-negro e o fazia com tanto amor e dedicação que contagiava todos, não para também torcer pelo Flamengo, mas sim pra torcer pelo futebol encantador do país da bola, da "Crônica da Leonor". Não conheci nenhum torcedor tão apaixonado pelo Flamengo quanto Mauricio azedo. O Flamengo perdeu um torcedor, mas a história do clube pode ganhar através dele mais um capítulo importante na paixão que desperta em sua torcida. (Eli Halfoun) 

LEIA MAIS SOBRE MAURÍCIO AZEDO. CLIQUE AQUI PARA IR AO SITE DA ABI (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Livro-reportagem "Memória Leiloada, bastidores da Bloch Editores"

No começo do ano, as jornalistas paulistas Gleissieli Souza e Daniela Arbex estivem no Rio entrevistando fotógrafos e editores que trabalharam nas revistas da Bloch. O objetivo da dupla foi reunir material para um livro-reportagem intitulado "Memória Leiloada, bastidores da Bloch Editores". Missão cumprida, elas acabam de enviar a seguinte mensagem: 
"Olá! Agradecemos a ajuda que nos deram para a realização do nosso  trabalho  de conclusão de curso da faculdade (livro-reportagem). Apresentamos para a  banca e fomos aprovadas, com louvor, e esse sucesso foi fruto do apoio e paciência que vocês tiveram conosco. No momento, estamos analisando a melhor forma de imprimir novos exemplares  para entregar uma cópia a cada um de vocês. O nome do livro é "Memória Leiloada: Bastidores da Bloch Editores". Nele reunimos as histórias contadas nas entrevistas e temos como pano de fundo o sumiço do acervo. Esperamos entregá-los no primeiro semestre do ano que vem. Mais uma vez obrigada por tudo. Boas Festas".
É bom saber que novas gerações de jornalistas demonstram preocupação com o desaparecimento de cerca de 12 milhões de imagens que compunham o valioso acervo da extinta Bloch. Mas é preocupante constatar que, ao mesmo tempo, instituições públicas que deveriam cuidar da memória nacional se omitem em relação a essa grave situação. No momento, apenas um grupo de ex-empregados da Bloch, o SJPMRJ (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a ARFOC (Associação dos Repórteres Fotográficos), que movem ação judicial para tentar localizar o arquivo (ação até agora sem qualquer resultado prático), demonstram preocupação com a possível perda e deterioração de milhares de fotos de valor histórico e jornalístico. Orgãos como o Ministério da Cultura, Arquivo Nacional, Associação Brasileira de Imprensa, Museu da Imagem e do Som, Biblioteca Nacional e outras instituições receberam, em vão, apelos dos jornalistas que ajudaram, ao longo de décadas, a construir o acervo. Até agora, a burocracia assiste inerte ao desaparecimento de parte da memória nacional. 
    

domingo, 9 de janeiro de 2011

ABI conta 60 anos de história da TV

A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) acaba de lançar uma edição especial do seu jornal sobre a história da TV no Brasil. Impressa em papel couchê, com 60 páginas em cores, depoimentos e entrevistas, a edição relata a trajetória de emissoras existentes e as que sairam do ar, como Rede Manchete, Excelsior, Continental, TV Rio. A ABI informa que pedidos de envio de exemplares da publicação, com custos por conta do solicitante, podem ser feitos pelo email presidencia@abi.org.br