sábado, 12 de dezembro de 2009

Memórias da redação: aconteceu na revista Amiga...


por Eli Halfoun
As revistas (Manchete na cabeça) da Bloch Editores escreveram uma das mais importantes páginas da história do moderno jornalismo brasileiro e a Bloch escreveu, nos bastidores, sua própria história (como você já viu – se não viu, veja – no livro Aconteceu na Manchete- As histórias que ninguém contou - da Editora Desiderata). Adolpho Bloch com seu jeitão bonachão foi o protagonista de muitos casos. Eu dirigia a revista Amiga (o que fiz por mais de 10 anos) quando explodiu a notícia do assassinato de Daniella Perez, em 28 de dezembro de 1992, há quase17 anos. Imediatamente sugeri ao 'seu' Adolpho lançar uma edição especial da Amiga em homenagem à atriz, e ele, de saída, como sempre, reagiu de forma estranha: “Quer gastar o meu papel?” Argumentei, garanti que uma especial venderia muito e ele disse: “Se não vender você paga o papel”. O crime ainda era um mistério e como ainda não havia muitos detalhes, optei por reunir, fotos da carreira da jovem e talentosa atriz e relatar as primeiras versões sobre o crime, com Daniella, linda e jovem (tinha 22 anos quando foi brutalmente assassinada) na capa. No dia seguinte, depois de um trabalho que consumiu a tarde e a noite, a revista foi para as bancas junto com o meu medo e a minha torcida: se não desse certo certamente eu nunca mais poderia sugerir nenhuma edição especial.
A revista tinha começado a circular e 'seu' Adolpho não parava de me chamar para cobrar a venda. O clima tenso só relaxou no final da tarde quando chegou, afinal, a notícia: “a revista está vendendo feito água”. No dia seguinte, a edição se esgotou e recebi um bilhete (felizmente não o azul) da diretoria: “Parabéns, você pagou a folha da Bloch esse mês”.
O assassinato de Daniella Perez me rendeu muitas “convocações"  - parecia até que eu era o culpado- por parte do 'seu' Adolpho. Guilherme de Pádua já estava preso e não falava com ninguém, mas a excelente repórter Cláudia Lopes conseguiu uma entrevista exclusiva com o acusado. Não tive dúvidas: coloquei o Guilherme de Pádua na capa. Quando 'seu' Adolpho viu me chamou e foi logo dizendo: “ Ficou louco? Quem é esse desconhecido que você botou na capa?”. Expliquei o fato jornalístico e ele se convenceu de que podia dar certo. A entrevista exclusiva também esgotou a revista, mas criou problemas: Glória Perez, a mãe Daniela, ficou danada comigo porque a revista estaria dando guarida a um assassino e reclamou com 'seu' Adolpho, que também me encheu de broncas. No dia seguinte, o Raul Gazola, na época noivo da Daniela, foi até à Bloch e pediu que 'seu' Adolpho lhe desse a fita com a entrevista. Fui convocado à sala da diretoria e, lá, me pediram o tape. Pensei entregar uma fita virgem, mas refleti e levei o original ao 'seu' Adolpho que passou a gravação imediatamente para as mãos do Raul Gazola. Para mim, já não fazia diferença: a revista estava impressa, mais uma vez vendeu toda a tiragem (e mais um pouco que rodou depois). 'Seu' Adolpho, então, me convocou outra vez e disse: “Não fica aborrecido, não. Não podem fazer nada com a fita e nós já vendemos revista”. (Nas reproduções abaixo, a capa com entrevista de Guilherme de Pádua e a repercussão do caso em outras publicações após a Amiga chegar às bancas dois dias depois da tragédia)





3 comentários:

Denise disse...

Adorei essa história, tive muitos amigos que trablaharam na Bloch

Ana Paula Machado Velho disse...

Eu fui uma das repórteres que trabalharam na Bloch e na Amiga, especificamente, com o Eli. Nossa, meu caro, quantas broncas eu recebi. Naquela época eu não era foca, era protótipo de foca. E teve um camarada que me botou na linha de frente da redação, apostou em mim: foi o Eli Halfoun. Nas minhas aulas de jornalismo (hoje sou professora), falo muito de você. Falo bem, pode deixar. Aprendi de monte na Amiga, na Manchete, na Carinho, na Mulher de Hoje... na Bloch. Beijos Eli.

Anônimo disse...

ATÉ HOJE AINDA ME IRRITA VER A FALTA DE IMPUNIDADE COM ESSE E MUITOS OUTROS CASOS DE ASSASSINATO QUE OS ASSASSINOS SEQUER CUMPREM A PENA APLICADA NA SUA INTEGRALIDADE, ENQUANTO O BRASIL NÃO REVER O CUMPRIMENTO DE SUAS PENAS, MAIS E MAIS CANALHAS SE SENTIRÃO ENCORAJADOS A MATAR, ROUBAR, VIOLENTAR, PORQUE TEM CERTEZA QUE SAIRAM IMPUNES, COM PENAS QUE NUNCA IRÃO CUMPRIR.......