quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Uma capa, dois momentos
* A tenista Serena William posou para a capa de fevereiro da Vogue americana. Ainda por conta do nascimento de Alexis Olympia, sua filha com Alexis Ohanian, o fundador da Reddit, a campeã desistiu de participar do Australian Open, que está acontecendo agora em Melbourne.
* A capa foi fotografada por Mario Testino. Provavelmente seu último trabalho para a Vogue. O fotógrafo foi afastado desde que, há poucos dias, foi denunciado por assédio sexual nas redes sociais. Os advogados do fotógrafo afirmam que os acusadores "não são fontes confiáveis".
Em entrevista a David Letterman, Obama fala do risco de nova crise global gerada pela especulação financeira
por Flávio Sépia
O talk show "O próximo convidado dispensa apresentação", de David Letterman, no Netflix, é um oportunidade de ouvir Barack Obama novamente.
O ex-apresentador do Late Show, demitido pela NBC, mudou, e não apenas por manter agora uma barba volumosa. O local do programa foi um auditório da Universidade da Cidade de Nova York. Sem cenários, sem música, só luz, som e as câmeras focalizando entrevistador e entrevistado.
Não se falou em Donald Trump, mas esteve implícito em alguns temas levantados o desastre em progresso da administração do empresário.
Obama revelou sua rotina pós-Casa Branca, falou da família, repetiu elogios a Michelle Obama e abordou questões cruciais como o racismo, mídias sociais, polarização política e defendeu uma reforma no sistema eleitoral americano que, segundo ele, cria obstáculos para os eleitores e é desenhado para desestimular a participação popular.
Nas ideias, na maneira de se expressar, na capacidade de aprofundar temas, na visão social da economia, Obama deixou muito claro, sem citar Trump, como é profundo o fosso entre a sua administração e a do seu sucessor.
David Letterman é um admirador de Obama. Isso fica mas do que claro. São amigos. Nem por ser um fã, o entrevistador deu aquele célebre show de horrores e subserviência que um grupo de jornalistas brasileiros proporcionou ao entrevistar Temer em coletiva memorável pelo vexame e pelo ridículo. Não foi subalterno e nem se colocou, como é típico por aqui, como mais importante e mais reluzente estrela do que o entrevistado.
Transcrever aqui os melhores momentos do talk show seria oferecer um spoiler sem alerta, contar fim do filme ou o placar final do jogo. Mas aí vão dois trechos que podem servir ao atual momento do Brasil, cujo governo opta por um neoliberalismo predatório, de repúdio ao social, de obediência a o lobby do mercado, na contramão das lições que vários países aprenderam com a crise econômica gerada pela especulação financeira desenfreada, em 2008.
- Sobre o momento em que assumiu a Presidência: "Eu acho que as pessoas esquecem o quanto as coisas estavam ruins. A economia entrava em colapso mais rápido do que durante a grande depressão. No mês em que assumi o cargo, perdemos 800 mil empregos. Uma das coisas que mais me orgulham é que, em um ano, a economia voltou a crescer. E, em um ano e meio, passamos a criar empregos novamente em vez de perdê-los .
- Sobre a possibilidade de nova crise financeira mundial - "Existem algumas tendências de longo prazo que ainda são um problema. Ainda estamos produzindo uma crescente desigualdade. A combinação de tecnologia e globalização significa que há indústrias inteiras e categorias de empregos que estão sendo eliminados. Se todo o dinheiro for para algumas pessoas, no topo, com elas investindo em todo tipo de coisas porque querem maximizar seus retornos, você obtém bolhas. É assim que você começa a obter um sistema financeiro superaquecido ".
VEJA O UM CLIP DO PROGRAMA AQUI
O talk show "O próximo convidado dispensa apresentação", de David Letterman, no Netflix, é um oportunidade de ouvir Barack Obama novamente.
O ex-apresentador do Late Show, demitido pela NBC, mudou, e não apenas por manter agora uma barba volumosa. O local do programa foi um auditório da Universidade da Cidade de Nova York. Sem cenários, sem música, só luz, som e as câmeras focalizando entrevistador e entrevistado.
Não se falou em Donald Trump, mas esteve implícito em alguns temas levantados o desastre em progresso da administração do empresário.
Obama revelou sua rotina pós-Casa Branca, falou da família, repetiu elogios a Michelle Obama e abordou questões cruciais como o racismo, mídias sociais, polarização política e defendeu uma reforma no sistema eleitoral americano que, segundo ele, cria obstáculos para os eleitores e é desenhado para desestimular a participação popular.
Nas ideias, na maneira de se expressar, na capacidade de aprofundar temas, na visão social da economia, Obama deixou muito claro, sem citar Trump, como é profundo o fosso entre a sua administração e a do seu sucessor.
David Letterman é um admirador de Obama. Isso fica mas do que claro. São amigos. Nem por ser um fã, o entrevistador deu aquele célebre show de horrores e subserviência que um grupo de jornalistas brasileiros proporcionou ao entrevistar Temer em coletiva memorável pelo vexame e pelo ridículo. Não foi subalterno e nem se colocou, como é típico por aqui, como mais importante e mais reluzente estrela do que o entrevistado.
Transcrever aqui os melhores momentos do talk show seria oferecer um spoiler sem alerta, contar fim do filme ou o placar final do jogo. Mas aí vão dois trechos que podem servir ao atual momento do Brasil, cujo governo opta por um neoliberalismo predatório, de repúdio ao social, de obediência a o lobby do mercado, na contramão das lições que vários países aprenderam com a crise econômica gerada pela especulação financeira desenfreada, em 2008.
- Sobre o momento em que assumiu a Presidência: "Eu acho que as pessoas esquecem o quanto as coisas estavam ruins. A economia entrava em colapso mais rápido do que durante a grande depressão. No mês em que assumi o cargo, perdemos 800 mil empregos. Uma das coisas que mais me orgulham é que, em um ano, a economia voltou a crescer. E, em um ano e meio, passamos a criar empregos novamente em vez de perdê-los .
- Sobre a possibilidade de nova crise financeira mundial - "Existem algumas tendências de longo prazo que ainda são um problema. Ainda estamos produzindo uma crescente desigualdade. A combinação de tecnologia e globalização significa que há indústrias inteiras e categorias de empregos que estão sendo eliminados. Se todo o dinheiro for para algumas pessoas, no topo, com elas investindo em todo tipo de coisas porque querem maximizar seus retornos, você obtém bolhas. É assim que você começa a obter um sistema financeiro superaquecido ".
VEJA O UM CLIP DO PROGRAMA AQUI
Foco no assédio: revistas de moda criam códigos de conduta para sessões fotográficas
por Clara S. Britto
As denúncias de assédio sexual envolvendo fotógrafos como Bruce Weber, Terry Richardson e Mario Testino levou as revistas de moda a criar códigos de conduta especiais para sessões de fotos com modelos. Segundo reportagem em The New York Times, a primeira editora a colocar no papel as novas regras, desde fins do ano passado, antes mesmo do novo escândalo, foi a Condé Nast, que edita a Vogue e a Glamour, entre outras revistas. Alguns tópicos do código:
- Não trabalhar com modelos de menos de 18 anos.
- Nada de bebidas alcoólicas no estúdio.
- Haverá um canal de denúncias anônimo à disposição das equipes e modelos.
- Um funcionário da editora acompanhará o trabalho de fotógrafos, produtores, maquiadores, para que a equipe jamais fique sozinha com modelos.
- Figurinos ou poses "sexualmente sugestivas" deverão ser expressamente aprovados pelas modelos envolvidas.
Revista do século 19 já antecipava capas do Governo Temer...
Duas capas de revistas atualíssimas registram as principais realizações do Governo Temer.
Não adianta procurar nas bancas, provavelmente já estão esgotadas.
A Revista Illustrada se antecipa à Veja e à Istoé e mostra o jornalista e político Quintino Bocaiúva pintando um quadro sobre a febre amarela enquanto as autoridades apenas observam.
A febre amarela é uma das realizações mais estratégicas de Temer. Foi planejada desde que a farra do ajuste fiscal a todo custo cortou verbas da Saúde para animar a festa do "mercado".
E a mesma Revista Illustrada destaca outra conquista do governo. Foi divulgado hoje que o número de operações para a erradicação do trabalho escravo caiu 23,5% em 2017 em comparação com 2016. No mesmo período, a fiscalização resgatou menos 61,5% de trabalhadores em regime de escravidão. Empresários que exploram essa mão de obra 0800 estão comprando liteiras importadas para ir ao Planalto agradecer o incentivo.
Nas duas capas, o traço genial de Angelo Agostini, o editor e dono da revista. A da febre amarela é de 1886. A dos trabalhadores escravizados é de 1880.
Mas as datas são meros detalhes.
Não adianta procurar nas bancas, provavelmente já estão esgotadas.
A Revista Illustrada se antecipa à Veja e à Istoé e mostra o jornalista e político Quintino Bocaiúva pintando um quadro sobre a febre amarela enquanto as autoridades apenas observam.
A febre amarela é uma das realizações mais estratégicas de Temer. Foi planejada desde que a farra do ajuste fiscal a todo custo cortou verbas da Saúde para animar a festa do "mercado".
E a mesma Revista Illustrada destaca outra conquista do governo. Foi divulgado hoje que o número de operações para a erradicação do trabalho escravo caiu 23,5% em 2017 em comparação com 2016. No mesmo período, a fiscalização resgatou menos 61,5% de trabalhadores em regime de escravidão. Empresários que exploram essa mão de obra 0800 estão comprando liteiras importadas para ir ao Planalto agradecer o incentivo.
Nas duas capas, o traço genial de Angelo Agostini, o editor e dono da revista. A da febre amarela é de 1886. A dos trabalhadores escravizados é de 1880.
Mas as datas são meros detalhes.
Dolce vita...
A vida é bela para alguns condenados pela Lava Jato. Segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, hoje, a doleira Nelma Kodama, condenada a 14 anos de prisão, mas solta há nove meses pelo juiz Sérgio Moro, pretende comandar um talk show sobre a operação. A ex-amante de Alberto Youseff informa que dois canais de TV demonstram interesse. Estão listados na sua pauta de entrevistas os delatores premiados, acusados, advogados, juízes e promotores.
Alberto Yousseff, duas vezes delator premiado (Casos Banestado e Lava Jato), já cumpre pena em liberdade, está de volta a apê em bairro da elite paulistana e pode dar entrevista ao programa da futura âncora Kodama, se quiser.
Alberto Yousseff, duas vezes delator premiado (Casos Banestado e Lava Jato), já cumpre pena em liberdade, está de volta a apê em bairro da elite paulistana e pode dar entrevista ao programa da futura âncora Kodama, se quiser.
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
Memórias da redação: quando o assédio não atendia por esse nome
por José Esmeraldo Gonçalves
Assédio sexual está na pauta. Nos jornais, nas revistas, na mídia digital, nas redes sociais, no rádio, na TV, na mesa de jantar, no botequim.
Em meio à onda de denúncias na indústria do entretenimento americano, o manifesto das francesas trouxe à superfície a discussão sobre o suposto tom inquisitorial do movimento e atribuiu o que chamou de "exageros" à cultura puritana da terra do Tio Trump.
O documento pôs mais combustível no incêndio.
As mulheres brasileiras se manifestam nas redes sociais desde que a repercussão do caso do ator José Meyer, denunciado por uma figurinista, quebrou silêncios e provocou milhares de posts na linha do "me too" ("eu também").
Embora o "teste do sofá" seja uma antiga metáfora do poder masculino no mundo do entretenimento nacional, José Meyer parece permanecer até aqui, quase solitário, como o "assediador número 1" do Brasil, pelo menos no ambiente das celebridades. Muitas atrizes deram depoimentos genéricos, tornaram públicas experiências que gostariam de esquecer, mas quase todas preservaram nomes, bem ao contrário do tsunami moral americano que expõe o presente e o passado de Hollywood.
Falta alguém, ou alguéns, ao lado do Zé Meyer?
O fato é que 50 anos depois da renovação de valores que Maio de 68 simbolizou está em curso o maior revisionismo sexual do comportamento desde a chegada da pílula anticoncepcional e do amor livre que as farmácias ajudaram a prosperar. Mas o assunto, aqui, é abordado como uma superficial "memória das redações" e não como tese sociológica, coisa que os especialistas já estão tratando.
Uma mesa de jornalistas em um botequim, na semana passada, levantou a pergunta que ronda a polêmica. E o assédio sexual nas redações? Nesse campo afeito ao blog poucos casos vieram a público. O mais rumoroso talvez tenha sido de um editor do JB que, no fim dos anos 1970, manuseou os seios de uma recepcionista. O jornalista foi apelidado de "o amigo do peito" - e a jovem foi demitida.
Nas revistas, se é lenda ou verdade, sabe-se lá, dizia-se que o caminho de algumas modelos fotográficas iniciantes rumo a matérias de capa passava pela cama do diretor. Conta o folclore que outros, sem poder para determinar capas, faziam testes de produção fotográfica com aspirantes a modelos a pretexto de arquivar material no banco de imagens da Bloch "para uso futuro". Algumas produções até eram aproveitadas pelos editores, outras não tinham chance, se esgotavam no test drive.
Sem o rastilho da rede social, a maioria dos casos era comentada na rádio corredor e ficava por isso mesmo. A tendência das direções das empresas era considerar o assédio, isso quando tomavam conhecimento, uma "questão pessoal" dos envolvidos. Até os anos 1980, a prática de assédios moral e sexual ainda não se transformara em questão trabalhista e as corporações preferiam fingir que não era com elas.
Nos anos 1960, jornalismo do tipo hard news era uma atividade majoritariamente masculina. As mulheres já estavam presentes em revistas femininas e nos suplementos dos jornais, mas eram minoria nas demais editorias. Na virada para os 70, as escolas de comunicação começaram a lançar no mercado as "estagiárias da PUC", como Nelson Rodrigues denominava nas suas crônicas as meninas que quebravam barreiras e conquistavam espaço nas redações. Nelson tentava depreciá-las com o apelido jocoso, mas elas nada tinham de ingênuas, eram talentosas e não pareciam indefesas naquele clube do Bolinha.
Um dia algum comunicólogo vai reconhecer que muitas repórteres daquela geração revigoraram o jornalismo em uma época difícil para a mídia em geral e, na sequência, fizeram carreiras brilhantes e importantes.
E, sim, eram novidades, eram jovens, bonitas e impulsionavam a tensão dos megawatts nos fechamentos.
Havia a paquera, o termo da época, que se fosse insistente importunava quem dizia não. Certamente, aconteciam situações constrangedoras tão mais lamentáveis na mesma proporção da falta de educação do interessado, mas a rádio corredor não registrava ou não chegava a captar situações de uso de violência. E havia os casos de consentimento. Muitas dessas relações legítimas e naturais em um ambiente que, no caso da extinta Bloch, juntava centenas de homens e mulheres até viraram casamentos. Nos anos 70, apenas na Fatos & Fotos e em um espaço de menos de dois anos, aconteceram quatro casamentos. Os filhos e netos desses pares estão aí para confirmar. E a F&F nem tinha assim uma reportagem e uma redação tão numerosas.
Não se trata de analisar aqui o que acontece hoje. Culturas, comportamentos e tempos são outros. Quem viveu aqueles primórdios pode constatar que muitas daquelas meninas assediadas foram capazes de dizer nãos. O que não implica em desqualificar as atuais denúncias e as histórias pessoais de cada mulher.
Um não que aconteceu na Bloch. Uma repórter foi convidada para jantar e, após o encontro, o colega lhe deu carona para casa, No meio do caminho, sem avisar, o cara mudou a rota e subiu a rampa de um motel. Uma típica condução coercitiva. A repórter reagiu, ameaçou fazer um escândalo. Só assim o rapaz percebeu que o motel não estava necessariamente incluído no jantar. E aprendeu que não é não!
Ou o case da repórter que durante uma viagem foi cantada por um fotógrafo que, nessas ocasiões, arriscava um enfoque mais romântico. Ele, que tinha fama de bem dotado, ouviu um não e voltou resignado para o seu quarto. Não sem antes vaticinar: "você não sabe o que está perdendo, garotona". Os dois, aliás, permaneceram amigos a vida inteira.
Em sentido contrário, a Bloch teve uma repórter em meados dos ano 60 que de tão liberada incorporava uma Simone de Beauvoir e assediava os rapazes, geralmente com sucesso. Poucos anos depois, foi para a TV, ficou famosa, mas não perdeu o jeito.
Um episódio mais agressivo, fora da Bloch, foi o de uma repórter assediada por um editor que a empurrou contra uma parede em um final de fechamento e com a redação quase deserta. Mesmo assim, ela conseguiu escapar. Era colaboradora e desligou-se da revista. O editor não sofreu qualquer consequência.
Mulheres que cobrem o Congresso Nacional já revelaram em entrevistas que é preciso muito jogo de cintura para fugir do assédio de algumas das suas excelências. Monica Iozzi, ex-repórter do CQC, relatou o que sofreu. Em geral, o silêncio ainda impera naquele terreno.
Um episódio público recente foi o da repórter Giulia Pereira, que foi assediada pelo cantor MC Biel. Ela levou o caso à Justiça, mas acabou demitida pelo portal IG, onde trabalhava. Já a youtuber Carol Moreira foi assediada ao vivo durante uma entrevista com o ator Vin Diesel. Repórter do Warner Channel, ela registrou seu desconforto na rede social, recebeu apoio e não perdeu o emprego. O ator divulgou depois um pedido de desculpas.
Não há dúvidas de que alguns chefes em posição de poder fizeram estragos, embora fossem exceções. Que não fique a impressão de que as antigas redações eram reduto de canalhas.
A maioria era do bem, estava em outro nível, sabia chegar sem atropelar. E nem teriam qualquer chance se assim não agissem. Intuíam que as mulheres há muito já não eram o "sexo frágil".
"Sexo frágil" não colocaria nas ruas a revolução feminista que elas praticaram no século passado.
O tema aqui foi o assédio, mas é bom não generalizar: havia vida inteligente e não só machismo e predadores nas antigas redações.
Assédio sexual está na pauta. Nos jornais, nas revistas, na mídia digital, nas redes sociais, no rádio, na TV, na mesa de jantar, no botequim.
Em meio à onda de denúncias na indústria do entretenimento americano, o manifesto das francesas trouxe à superfície a discussão sobre o suposto tom inquisitorial do movimento e atribuiu o que chamou de "exageros" à cultura puritana da terra do Tio Trump.
O documento pôs mais combustível no incêndio.
O "teste do sofá"
As mulheres brasileiras se manifestam nas redes sociais desde que a repercussão do caso do ator José Meyer, denunciado por uma figurinista, quebrou silêncios e provocou milhares de posts na linha do "me too" ("eu também").
Embora o "teste do sofá" seja uma antiga metáfora do poder masculino no mundo do entretenimento nacional, José Meyer parece permanecer até aqui, quase solitário, como o "assediador número 1" do Brasil, pelo menos no ambiente das celebridades. Muitas atrizes deram depoimentos genéricos, tornaram públicas experiências que gostariam de esquecer, mas quase todas preservaram nomes, bem ao contrário do tsunami moral americano que expõe o presente e o passado de Hollywood.
Falta alguém, ou alguéns, ao lado do Zé Meyer?
Revisionismo sexual
O fato é que 50 anos depois da renovação de valores que Maio de 68 simbolizou está em curso o maior revisionismo sexual do comportamento desde a chegada da pílula anticoncepcional e do amor livre que as farmácias ajudaram a prosperar. Mas o assunto, aqui, é abordado como uma superficial "memória das redações" e não como tese sociológica, coisa que os especialistas já estão tratando.
Papo de botequim
Uma mesa de jornalistas em um botequim, na semana passada, levantou a pergunta que ronda a polêmica. E o assédio sexual nas redações? Nesse campo afeito ao blog poucos casos vieram a público. O mais rumoroso talvez tenha sido de um editor do JB que, no fim dos anos 1970, manuseou os seios de uma recepcionista. O jornalista foi apelidado de "o amigo do peito" - e a jovem foi demitida.
Nas revistas, se é lenda ou verdade, sabe-se lá, dizia-se que o caminho de algumas modelos fotográficas iniciantes rumo a matérias de capa passava pela cama do diretor. Conta o folclore que outros, sem poder para determinar capas, faziam testes de produção fotográfica com aspirantes a modelos a pretexto de arquivar material no banco de imagens da Bloch "para uso futuro". Algumas produções até eram aproveitadas pelos editores, outras não tinham chance, se esgotavam no test drive.
Sem o rastilho da rede social, a maioria dos casos era comentada na rádio corredor e ficava por isso mesmo. A tendência das direções das empresas era considerar o assédio, isso quando tomavam conhecimento, uma "questão pessoal" dos envolvidos. Até os anos 1980, a prática de assédios moral e sexual ainda não se transformara em questão trabalhista e as corporações preferiam fingir que não era com elas.
"Estagiárias da PUC"
Nos anos 1960, jornalismo do tipo hard news era uma atividade majoritariamente masculina. As mulheres já estavam presentes em revistas femininas e nos suplementos dos jornais, mas eram minoria nas demais editorias. Na virada para os 70, as escolas de comunicação começaram a lançar no mercado as "estagiárias da PUC", como Nelson Rodrigues denominava nas suas crônicas as meninas que quebravam barreiras e conquistavam espaço nas redações. Nelson tentava depreciá-las com o apelido jocoso, mas elas nada tinham de ingênuas, eram talentosas e não pareciam indefesas naquele clube do Bolinha.
Meninas poderosas
Um dia algum comunicólogo vai reconhecer que muitas repórteres daquela geração revigoraram o jornalismo em uma época difícil para a mídia em geral e, na sequência, fizeram carreiras brilhantes e importantes.
E, sim, eram novidades, eram jovens, bonitas e impulsionavam a tensão dos megawatts nos fechamentos.
Havia a paquera, o termo da época, que se fosse insistente importunava quem dizia não. Certamente, aconteciam situações constrangedoras tão mais lamentáveis na mesma proporção da falta de educação do interessado, mas a rádio corredor não registrava ou não chegava a captar situações de uso de violência. E havia os casos de consentimento. Muitas dessas relações legítimas e naturais em um ambiente que, no caso da extinta Bloch, juntava centenas de homens e mulheres até viraram casamentos. Nos anos 70, apenas na Fatos & Fotos e em um espaço de menos de dois anos, aconteceram quatro casamentos. Os filhos e netos desses pares estão aí para confirmar. E a F&F nem tinha assim uma reportagem e uma redação tão numerosas.
Condução coercitiva
Não se trata de analisar aqui o que acontece hoje. Culturas, comportamentos e tempos são outros. Quem viveu aqueles primórdios pode constatar que muitas daquelas meninas assediadas foram capazes de dizer nãos. O que não implica em desqualificar as atuais denúncias e as histórias pessoais de cada mulher.
Um não que aconteceu na Bloch. Uma repórter foi convidada para jantar e, após o encontro, o colega lhe deu carona para casa, No meio do caminho, sem avisar, o cara mudou a rota e subiu a rampa de um motel. Uma típica condução coercitiva. A repórter reagiu, ameaçou fazer um escândalo. Só assim o rapaz percebeu que o motel não estava necessariamente incluído no jantar. E aprendeu que não é não!
Ou o case da repórter que durante uma viagem foi cantada por um fotógrafo que, nessas ocasiões, arriscava um enfoque mais romântico. Ele, que tinha fama de bem dotado, ouviu um não e voltou resignado para o seu quarto. Não sem antes vaticinar: "você não sabe o que está perdendo, garotona". Os dois, aliás, permaneceram amigos a vida inteira.
Em sentido contrário, a Bloch teve uma repórter em meados dos ano 60 que de tão liberada incorporava uma Simone de Beauvoir e assediava os rapazes, geralmente com sucesso. Poucos anos depois, foi para a TV, ficou famosa, mas não perdeu o jeito.
Paredão
Mulheres que cobrem o Congresso Nacional já revelaram em entrevistas que é preciso muito jogo de cintura para fugir do assédio de algumas das suas excelências. Monica Iozzi, ex-repórter do CQC, relatou o que sofreu. Em geral, o silêncio ainda impera naquele terreno.
Um episódio público recente foi o da repórter Giulia Pereira, que foi assediada pelo cantor MC Biel. Ela levou o caso à Justiça, mas acabou demitida pelo portal IG, onde trabalhava. Já a youtuber Carol Moreira foi assediada ao vivo durante uma entrevista com o ator Vin Diesel. Repórter do Warner Channel, ela registrou seu desconforto na rede social, recebeu apoio e não perdeu o emprego. O ator divulgou depois um pedido de desculpas.
Predadores existiam, mas eram minoria
Não há dúvidas de que alguns chefes em posição de poder fizeram estragos, embora fossem exceções. Que não fique a impressão de que as antigas redações eram reduto de canalhas.
A maioria era do bem, estava em outro nível, sabia chegar sem atropelar. E nem teriam qualquer chance se assim não agissem. Intuíam que as mulheres há muito já não eram o "sexo frágil".
"Sexo frágil" não colocaria nas ruas a revolução feminista que elas praticaram no século passado.
O tema aqui foi o assédio, mas é bom não generalizar: havia vida inteligente e não só machismo e predadores nas antigas redações.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
É isso mesmo? Zuckerberg tira a escada do Face e deixa a mídia tradicional pendurada na broxa
Mark Zuckerberg anuncia que a partir dessa semana o Facebook privilegiará gradualmente posts de amigos, familiares e grupos.
Na prática, é como reservar uma autoestrada para o tráfego de pessoas e mandar as páginas de empresas de mídia, de celebridades que usam a rede como business e as demais postagens de marcas para uma estradinha vicinal.
Em suma: os computadores determinarão que no fluxo de informações conteúdos pessoais entrarão antes das notícias.
A nova política do preocupa jornais e revistas que, nos últimos anos, abriram páginas no Face e investiram em equipes especializadas em redes sociais em busca de seguidores, cliques e likes. Empresas de entretenimento que se instalaram na rede social ,que ostenta mais de 2 bilhões de usuários, também sairão perdendo.
Zuckerberg argumenta que pretende levar o Facebook de volta às origens como a página de relacionamento que aproxima pessoas. E diz que uma ampla pesquisa lhe dá razão. Claro que, além disso, as novas regras trazem uma alta dose de pragmatismo. O Face, assim como o Google, tem sido pressionado a adotar medidas que contenham a circulação de notícias falsas que geralmente não são aleatórias e embutem um propósito, seja político ou comercial. Reduzir a exposição da rede social às fake news, ao uso de vetores de manipulação política, de comprometimento de reputações e ao impulsionamento de postagens mentirosas de fundo político-eleitoral pode ser o verdadeiro motivo da mudança radical de regras.
Provavelmente, Zuckerberg tenta se antecipar a problemas maiores: vários países, inclusive o Brasil, estudam legislação restritiva específica para "enquadrar" o Facebook. E aí são muitos e poderosos os interesses em jogo. Se a nova fórmula vai dar resultados financeiros para a empresa, uma das mais valiosas do planeta, só os acionistas dirão ou reclamarão.
Quanto à mídia, provavelmente não poderá dispensar a visibilidade que a rede social lhe dá e terá que se adaptar ao novo manual. O Face já foi responsabilizado por impor seu próprio sistema de publicidade a preços de ocasião, eficiente, direcionado, focado no comprador em potencial, o que demoliu o modelo de negócios de corporações que antes eram sólidas e não ameaçadas nos seus feudos. Talvez por isso, Zuckerberg tenha, há alguns anos, incentivando a mídia tradicional a participar do jogo. O que ele faz agora quase equivale a levar a bola pra casa e dizer que a brincadeira acabou.
Na prática, é como reservar uma autoestrada para o tráfego de pessoas e mandar as páginas de empresas de mídia, de celebridades que usam a rede como business e as demais postagens de marcas para uma estradinha vicinal.
Em suma: os computadores determinarão que no fluxo de informações conteúdos pessoais entrarão antes das notícias.
A nova política do preocupa jornais e revistas que, nos últimos anos, abriram páginas no Face e investiram em equipes especializadas em redes sociais em busca de seguidores, cliques e likes. Empresas de entretenimento que se instalaram na rede social ,que ostenta mais de 2 bilhões de usuários, também sairão perdendo.
Zuckerberg argumenta que pretende levar o Facebook de volta às origens como a página de relacionamento que aproxima pessoas. E diz que uma ampla pesquisa lhe dá razão. Claro que, além disso, as novas regras trazem uma alta dose de pragmatismo. O Face, assim como o Google, tem sido pressionado a adotar medidas que contenham a circulação de notícias falsas que geralmente não são aleatórias e embutem um propósito, seja político ou comercial. Reduzir a exposição da rede social às fake news, ao uso de vetores de manipulação política, de comprometimento de reputações e ao impulsionamento de postagens mentirosas de fundo político-eleitoral pode ser o verdadeiro motivo da mudança radical de regras.
Provavelmente, Zuckerberg tenta se antecipar a problemas maiores: vários países, inclusive o Brasil, estudam legislação restritiva específica para "enquadrar" o Facebook. E aí são muitos e poderosos os interesses em jogo. Se a nova fórmula vai dar resultados financeiros para a empresa, uma das mais valiosas do planeta, só os acionistas dirão ou reclamarão.
Quanto à mídia, provavelmente não poderá dispensar a visibilidade que a rede social lhe dá e terá que se adaptar ao novo manual. O Face já foi responsabilizado por impor seu próprio sistema de publicidade a preços de ocasião, eficiente, direcionado, focado no comprador em potencial, o que demoliu o modelo de negócios de corporações que antes eram sólidas e não ameaçadas nos seus feudos. Talvez por isso, Zuckerberg tenha, há alguns anos, incentivando a mídia tradicional a participar do jogo. O que ele faz agora quase equivale a levar a bola pra casa e dizer que a brincadeira acabou.
5 pautas para o jornalismo investigativo...
por O.V. Pochê
Janeiro é mês de poucas notícias. Com parte do Brasil em recesso, não custa sugerir algumas pautas investigativas
* Apurar se outros deputados, além de Bolsonaro, "comem gente" com verba pública.
* Checar se é verdade que uma OS (Organização Social) de garotas de programa fornece nota fiscal de posto de gasolina para suas excelências declararem o valor do michê na verba de representação.
* Tentar localizar uma das jovens que foi "comida" e obter depoimento de "conteúdo humano", saber se tem perfil profissional ou se vai aos apês funcionais por amor à causa política, como sinal de "patriotismo", se sonha com a volta da linha dura, se é "Fora Temer" ou "Dentro Temer". Redes sociais pedem que os jornalistas preencham as muitas lacunas de informação nesse assunto...
* O Banco Mundial é uma espécie de entidade à qual economistas e colunistas neoliberais brasileiros prestam reverência diária, como se fosse a Pedra Negra de Meca. Segundo denúncia de um dos seus diretores, o Banco Mundial manipulou relatórios com objetivos políticos. Fez isso para comprometer a gestão da presidente socialista Michelle Bachelet e favorecer o conservador Sebastián Piñera. Após a denúncia, crescem as suspeitas de contaminação política em diagnósticos relativos a outros países da América do Sul. No caso dos relatórios sobre o Brasil, um caso a investigar.
* Como não há verba para concluir a obra, a futura estação do metrô na Gávea será inundada. O mega poço é anunciado como medida de segurança para evitar desabamentos. Não se sabe se os aedes aegypti do Rio de Janeiro já marcaram encontro para lotear a nova moradia no que poderá ser o maior mosquitódromo do mundo. Os moradores da Gávea agradecem se o assunto virar uma pauta.
Janeiro é mês de poucas notícias. Com parte do Brasil em recesso, não custa sugerir algumas pautas investigativas
* Apurar se outros deputados, além de Bolsonaro, "comem gente" com verba pública.
* Checar se é verdade que uma OS (Organização Social) de garotas de programa fornece nota fiscal de posto de gasolina para suas excelências declararem o valor do michê na verba de representação.
* Tentar localizar uma das jovens que foi "comida" e obter depoimento de "conteúdo humano", saber se tem perfil profissional ou se vai aos apês funcionais por amor à causa política, como sinal de "patriotismo", se sonha com a volta da linha dura, se é "Fora Temer" ou "Dentro Temer". Redes sociais pedem que os jornalistas preencham as muitas lacunas de informação nesse assunto...
* O Banco Mundial é uma espécie de entidade à qual economistas e colunistas neoliberais brasileiros prestam reverência diária, como se fosse a Pedra Negra de Meca. Segundo denúncia de um dos seus diretores, o Banco Mundial manipulou relatórios com objetivos políticos. Fez isso para comprometer a gestão da presidente socialista Michelle Bachelet e favorecer o conservador Sebastián Piñera. Após a denúncia, crescem as suspeitas de contaminação política em diagnósticos relativos a outros países da América do Sul. No caso dos relatórios sobre o Brasil, um caso a investigar.
* Como não há verba para concluir a obra, a futura estação do metrô na Gávea será inundada. O mega poço é anunciado como medida de segurança para evitar desabamentos. Não se sabe se os aedes aegypti do Rio de Janeiro já marcaram encontro para lotear a nova moradia no que poderá ser o maior mosquitódromo do mundo. Os moradores da Gávea agradecem se o assunto virar uma pauta.
domingo, 14 de janeiro de 2018
Do álbum da Manchete - A arte (e o tédio) de receber Presidentes
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1978 - José Rodolpho Câmara, Zevi Ghivelder, Murilo Melo Filho, João Baptista Figueiredo, Arnaldo Niskier, Roberto Muggiati |
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1989 - Pedro Collor, Mauro Costa, Oscar Bloch Sigelmann, Fernando Collor de Mello, Pedro Jack Kapeller, Arnaldo Niskier, Daniel Tourinho, Roberto Muggiati. |
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1989 - Adolpho Bloch, Luís Inácio Lula da Silva, Osias Wurman, Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Jacó Bittar. |
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Anna Bentes acolhe Lula calorosamente. |
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1988 - Janir Hollanda, Hélio Carneiro, Roberto Muggiati, Eduardo Francisco Alves, Fernando Henrique Cardoso. Fotos: Acervo RM |
Jornalista desde 1954,
colecionei meu retrato em branco e preto com cada Chefe Supremo da Nação. Em
1942, quando meu tio Achilles Muggiati organizou a Grande Exposição de
Curitiba, eu tinha quatro anos e o Getúlio Vargas apertou minha mão. Infelizmente,
não houve foto. Tenho flagrantes meus entrevistando o JK, o Jango e o Marechal
Lott. Encarei um tête à tête com
Jânio Quadros na mansão dos Camargo em Curitiba: conferi as partículas de caspa
meticulosamente espalhadas pela ombreira do terno, mas não havia fotógrafo a
postos. Dos presidentes militares, mantive distância, até o Figueiredo visitar
a Manchete, já indicado para a
Presidência da República, em 1978.
Um caso curioso se deu
na disputa do segundo turno presidencial em 1989. Fernando Collor de Mello
jantou na Bloch numa noite de segunda-feira depois do fechamento da revista.
Adolpho Bloch deu uma desculpa esfarrapada e não compareceu, Jaquito e Oscar
recepcionaram o futuro presidente. A Bloch teve uma mãozinha nesta história
toda. Collor concorreu por uma legenda menor, o Partido da Reconstrução
Nacional (PRN), antes Partido da Juventude, fundado por Daniel Tourinho, que trabalhou na área de recursos humanos da Bloch Editores entre 1974 e 1985, quando saiu para fundar o PJ.
Num gesto insólito, na
véspera do segundo turno, sábado, 16 de dezembro, Adolpho ofereceu no Russell
um almoço a Luís Inácio Lula da Silva. Lula e comitiva vieram naquela manhã de
São Paulo num jatinho. Adolpho tratou o líder sindicalista com toda a sua
hospitalidade, levou-o a visitar o escritório do ex-Presidente Juscelino Kubitschek
no prédio do Russell, que havia se tornado uma peça de museu depois da morte de
JK em 1976. Lembro de um episódio durante o almoço, o Adolpho desconcertou Lula
a certa altura por seu linguajar críptico (e típico) que só os mais próximos
conseguiam captar:
– E ele é mais moço que
eu, o senhor é capaz de imaginar uma coisa dessas?
E Lula, atônito: – Mas
ele quem, seu Adolpho?
Adolpho se referia ao
sogro, o general Abraham Ramiro Bentes, pai de Anna Bentes, que era realmente
quatro anos mais moço do que Adolpho.
Itamar Franco não teve
tempo de visitar a Manchete, mas
Adolpho Bloch e Anna Bentes estavam ao seu lado no camarote presidencial
durante o desfile das escolas de samba em que se deu o escândalo da
acompanhante de Itamar, Lilian “Sem Calcinha” Ramos. Para encerrar, recebemos
em 1988 a visita de Fernando Henrique Cardoso, que já então despontava como
futuro presidenciável. Quem se colocou sob os refletores foi o redator Eduardo
Francisco Alves, cuja mulher tinha um parentesco remoto com FHC. Quando Fernando
Henrique se efetivou na Presidência, seu filho, Paulo Henrique Cardoso, não só
ganhou um emprego na Rede Manchete de Televisão, mas foi agraciado com um
banheiro privado, construído ao lado do seu escritório.
E mais não houve porque
a Manchete – Bloch Editores – acabaria
tendo seu mandato cassado em 1º de agosto de 2000.
Kim Jong-un é o" Dr. Evil" que assusta o Havaí
Kim Jong-un, mesmo quando faz nada, provoca pânico no Pacífico. O alerta acima assustou o havaianos. Autoridades avisavam que um míssil estava a caminho do arquipélago. Milhares de pessoas se abrigaram em porões e estacionamentos subterrâneos. Só 15 minutos depois, constatou-se que a informação era falsa, embora a fonte do alerta fosse oficial.
Passaram-se mais 30 minutos até que a mesma fonte enviou nova mensagem aos celulares do havaianos desmentindo o ataque. AS TVs divulgaram a ameaça. Depois do incidente, a mídia local foi criticada por ter veiculado o alerta sem comprová-lo. Editores alegaram que o site da Agência de Gerenciamento de Emergência do Havaí estava sobrecarregado e não respondeu.
Erros semelhantes quase levaram o mundo à guerra nuclear.
Em 1971, um operador de silo de míssil disparou um alarme denunciando que a então União Soviética havia disparado foguetes rumo aos Estados Unidos. A resposta atômica foi preparada, mas o erro foi constatado a tempo.
Em 1983, foi a vez de uma base soviética observar nos radares um míssil americano em direção à URSS. Os oficiais de plantão apontarem ogivas para a Europa Ocidental. Um dos militares desconfiou de um defeito nos computadores e retardou o aviso de retaliação nuclear. Quando Moscou foi avisada, a falha já estava comprovada.
Em 1995, cientistas norueguesas lançaram um míssil para estudar a aurora boreal. Os russos captaram o lançamento nos seus sistemas e alertaram a frota de submarinos nucleares. Boris Yeltsin já estava com o dedo no botão quando o incidente foi esclarecido.
Como a União Soviética, a Rússia tem linha direta, - o famosos telefone vermelho - com a Casa Branca.
Para o inconsciente coletivo dos havaianos em pânico, o suposto míssil que ameaçou o Havaí vinha da Coréia do Norte.
Ao contrário de Estados Undos e Rússia, Trump e Kim Jong-un não têm uma linha especial para evitar incidentes nucleares.
O que, tratando-se de Trump e Kim Jong, é mais perigoso ainda.
Um é o Dr.Evil o outro é o Coringa.
sábado, 13 de janeiro de 2018
Ninguém tira as calças da família brasileira...
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Reprodução Twitter |
No dia 8 de janeiro aconteceu em vários metrôs do mundo The No Pants Subway Ride. É apenas um flash mob bem-humorado que agita a cada ano algumas capitais, isso desde 2005.
As redes sociais bombaram essa semana com fotos do No Pants em Praga, Nova York, Londres, Washington, Berlim, até Jerusalém ensaiou uma rápida indisciplina.
O Brasil, especialmente São Paulo, já aderiu a esse movimento.
Este ano, parece que broxou por aqui.
O país anda tão mal-humorado que a transgressão-relâmpago não obteve adesões. É famosa a frase do político mineiro registrada pelo Febeapá (Festival das Besteiras que Assola o País) quando a minissaia chegou a Belo Horizonte: "Ninguém vai levantar a saia da mulher mineira". Pois é, o clima não está para flahs mob. Só de for com o terço ou a bíblia na mão.
Já o Carnaval parece resistir. Por enquanto.
Imprensa - Donald Trump deixou os jornais com um shithole na mesa de edição
Donald Trump demorou, mas conseguiu com uma palavra encurralar o moralismo da mídia mundial. E fez isso ao usar a expressão shithole em um dos seus ataques hidrófobos de racismo.
Shit é merda e hole é buraco. Ponto. Não há como disfarçar. O Haiti e todo o continente africano são, para ele, "buracos de merda". E o Brasil só não entrou no time como titular porque a questão que motivou a ofensa não incluía, naquele momento, esse lado de baixo do equador.
No Brasil, O Globo de ontem pediu os sais, calçou luvas, espartilho e polainas e optou por traduzir o xingamento de Trump por um suave "pocilga". O Houaiss diz que "pocilga" é "curral de porcos", no máximo admite a variação "lugar sujo". Mas imagino a reunião de cúpula que shithole exigiu até que a palavra mais famíliar fosse encontrada e desidratada para consumo da família brasileira.
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No Globo de hoje, shithole foi traduzido como "países de merda" |
Na capa de hoje, suitando a declaração, a Folha escolheu "país de merda", O Globo de hoje mudou de ideia e adotou a mesma tradução: "país de merda", bem mais fiel do que o delicado "pocilga" da edição anterior..
O site da Veja também chamou a "criada", pediu o chá-das-cinco e foi de "pocilga". O Estadão conseguiu publicar um artigo inteiro, hoje, onde fala de "linguagem vulgar" e de "países fracassados" sem botar a mão na shit.
Ao gourmetizar a tradução, os jornalões apenas aliviam a barra de Trump fazendo com que ele pareça menos grosseiro. Praticam uma modalidade de fale news.
Sasha Lekach, do Mashable, achou interessante pesquisar mundo afora como os grandes jornais enfrentaram o shithole de Trump. Veja algumas tentativas de tradução para disfarçar o óbvio e a curiosa variação adotada pela Finlândia:
A Croácia traduziu por "vukojebina", segundo Lekach algo como "lugar onde ursos trepam"
A Tailândia por "lugar onde os pássaros não põem ovos"
O Japão: "países sujos como privadas"
Itália "países-toilette
México: "países de merda"
França -"países de merda".
Canadá - "buraco de rato"
Haiti - "buraco de merda"
Finlândia "países cus"
Alemanha - "sumidouro" ou "buraco do vaso"
Irã - "países "buraco de toilette"
Atualização -
No Globo deste domingo, 14/01, a jornalista Dorrit Harazim evita o "tucanês" (como se denomina a tradicional linguagem liofilizada do PSDB) e, no seu artigo, sem copidescar Trump, assume que shit é merda.
Atualização -
No Globo deste domingo, 14/01, a jornalista Dorrit Harazim evita o "tucanês" (como se denomina a tradicional linguagem liofilizada do PSDB) e, no seu artigo, sem copidescar Trump, assume que shit é merda.
Notícias da Europa, atualizadas, a custo 0800? Conheça esse site... Apesar do Brasil ser má notícia
As agências AFP, ANSA e DPA se uniram para lançar um agregador de notícias, o European Data News Hub (EDNH), em inglês, alemão, francês, espanhol e italiano, com conteúdo gratuito dos seus serviços.
O Brasil não é pauta direta. Mas por tabela, literalmente, é citado em uma notícia que é ao mesmo tempo boa e má. Daqui a cerca de 80 anos, políticos corruptos e seus descendentes não serão mais problema. A maioria será fritada em sucessivas ondas de calor. A notícia ruim é que parte da população também entrará no microondas da natureza.
Segundo a AFP,. o autor de um estudo sobre ondas de calor assassinas em todo o mundo - Camilo Mora, da Universidade do Havaí - conclui que medidas de controle do clima estão atrasadas e a tendência de aquecimento será irreversível em 2100.
Em torno de 50% da população mundial será exposta à churrasqueira solar. Pra variar, o hemisfério sul será mais atingido. E esse é o nosso CEP,, certo? Mas isso não significa que o hemisfério norte fica imune. Nada disso. A Europa Ocidental já sofreu uma onda de calor há pouco mais de dez anos, que resultou em 70 mil mortes e esses fenômenos se tornarão mais frequentes.
A Universidade do Havaí montou um infográfico que prevê o número de "dias mortais". Os trópicos, principalmente, serão bem passados. Parte do Brasil, especialmente o norte e o nordeste enfrentarão 300 dias de calor letal por ano.
Já lá em cima, em Miami, perto de Mar-a-lago - onde Trump, que é contrário a acordos climáticos, tem casa - haverá 150 e 200 dias de "mortais" por ano.
A vantagem é que parte da população poderá conhecer o cenário de Mad Max, Estrada da Fúria, sem precisar ir à Namíbia ou ao deserto do Utah, onde foi filmado.
Público e meios de comunicação podem acessar gratuitamente o EDNH, nem sempre com más notícías, AQUI
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Do álbum da Manchete - Lembranças de Churchill em Londres
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Churchill fotografado em 1941, aos 67 anos, por Yousuf Karsh, que batizou o retrato de "Ther Roaring Lion" - o leão que ruge. |
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O ator Gary Olden, o Churchill do filme O destino de uma nação, em cartaz no Rio. Foto: Divulgação |
Por Roberto Muggiati
Trabalhei no Serviço Brasileiro da British Broadcasting Corporation (BBC), em Londres, de agosto de 1962 a junho de 1965. O filme O destino de uma nação, com Gary Olden fazendo um Churchill – dizem os fãs cinema – mais parecido com Sir Winston do que o próprio, me fez lembrar o velho líder, ainda vivo quando cheguei à Inglaterra. Embora estivesse trancado em casa à espera da morte, Sir Winston Leonard Spencer-Churchill ainda era uma presença forte no país. Até o mais saliente dos Beatles, que despontavam no cenário pop, levava um pedaço do seu nome: John Winston Lennon.
Nos primeiros dias londrinos, fiquei no apartamento de um amigo enquanto procurava um endereço fixo. Era em Queen’s Gate Terrace, uma área nobre. A primeira coisa que vi da janela dos fundos foi a casa de Churchill, no 28 de Hyde Park Gate, protegida 24 horas por um bobby. Ele iria completar 88 anos em 30 de novembro. Mais recentemente, especulou-se que Churchill sofreria de Alzheimer nos últimos anos, embora a maioria dos médicos acredite que sua capacidade mental reduzida nos últimos anos foi devida ao resultado cumulativo dos dez AVCs e da surdez crescente que sofreu no período de 1949 a 1963.
Assim que comecei a trabalhar na BBC fiquei sabendo que tínhamos um obituário completo do grande líder já gravado, em quase uma hora de fita (uma hora era o tempo que durava na época a transmissão em português para o Brasil). Nos últimos anos, só era atualizada na fita a idade, Churchill já havia encerrado sua biografia há algum tempo. A notícia da morte seria dada ao vivo, pelo Programme Assistant que fazia a transmissão. Em 15 de janeiro de 1965, Churchill sofreu um derrame severo e morreu na casa de Hyde Park Gate, aos 90 anos, na manhã de 24 de janeiro, um domingo. Coube a mim, que fazia a transmissão para o Brasil naquela noite, traduzir e ler a notícia preparada pela redação da BBC e fazer rodar a fita do obituário.
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Reprodução/Edição Especial Manchete 45 anos |
Àquela altura, Manchete já estava no meu caminho – embora eu não soubesse – devido a minha amizade com Narceu de Almeida e Fernando Sabino. Narceu fez a cobertura dos funerais e quem fotografou foi o Jader Neves, vindo especialmente do Rio. Jader encontrou uma barreira inexpugnável que nunca conhecera no seu trabalho: durante três dias, o esquife, exposto com pompa e circunstância à visitação pública em Westminster Hall, era cercado por policiais – homens e mulheres – que proibiam qualquer tentativa de fotografia. Mas os ingleses desconheciam a tenacidade de um pé-de-boi como o Jáder. Durante três dias, ele entrava na fila, mal podendo esconder a câmera grandona e, ao chegar perto do catafalco, preparava-se para o clique, mas era impedido delicadamente por um batalhão de policiais. Pôs-se então a repetir pacientemente a operação, enfrentando a fila quilométrica daqueles que iam pagar seus últimos respeitos ao grande homem. E foi assim que, no terceiro dia, no apagar das luzes, valendo-se de um instante de distração dos guardas, Jáder Neves fez a foto salvadora.
Comunicação do governo Temer adota memes em busca de popularidade. Deu ruim!
Segundo anunciou ontem, o governo decidiu utilizar memes e gifs na comunicação das ações oficiais. A brigada digital do Planalto acredita que assim aumentará a popularidade de Michel Temer. A primeira investida nesse campo foi um desastre "mimeal" e as redes sociais estão caindo de pau na "criatividade" da escolinha do professor Temer.
Pintado em 1928, o Abaporu de Tarsila do Amaral está comemorando 90 anos. Daí a turma do Planalto resolveu homenagear a mais valorizada pintura brasileira que, aliás, foi levada em 1995 pelos hermanos e hoje pertence à coleção do milionário argentino Eduardo Constantini.
Deu ruim.
A "recriação" é péssima, como arte gráfica é indigente e a frase "amamos Abaporu" é um idiotice, só faltou o coraçãozinho pregado no cacto. Além disso, a mensagem que acompanha a meme mostra que o governo conjuga melhor verbas do que verbo.
As redes sociais acham que o autor é o Michelzinho, mas pode ser uma injustiça. Parece mais obra do próprio Temer com a ajuda de Moreira Franco, Eliseu Padilha, Geddel, José Yunes e Dilson Funaro, com a aprovação de Sarney e Roberto Jefferson.
Algumas reações, entre centenas de gozações que podem ser vistas no @planalto:
Confirma ou corrige? No segundo turno das eleições 2018, saia justa pode ser traje obrigatório para "formadores de opinião"
por O.V.Pochê
Dizem os estatísticos que deve ser alto o índice de abstenção nas próximas eleições se considerados os candidatos avaliados pelas pesquisas até aqui.
Quem resolver não votar, bota chinelo e vai pra praia. O pepino maior poderá estar nas mãos de quem comparecer à urna no caso de uma difícil escolha, seja lá quais forem as preferências e ideologias.
O jogo político está aberto, Lula pode sair de cena, novos nomes podem aparecer e figuras que já anunciaram desistência podem voltar à disputa. Levando em conta Lula, Bolsonaro, Huck, Alckimin, Ciro, Marina, João Dória, Álvaro Dias, Cristovam Buarque, Guilherme Boulos, Henrique Meireles, Joaquim Barbosa, Manuela D'Ávila, Paulo Rabelo de Castro, Arthur Virgílio, Jacques Wagner, Valéria Monteiro, Bernardinho, Fernando Haddad e até Michel Temer dá para prever que alguns confrontos no segundo turno que exigiriam da mídia e dos eleitores muito jogo de cintura. "Formadores de opinião" teriam que recorrer a muita cara de pau à direita, esquerda e até no tal do centro político.
E se, além desses, aparecerem outros postulantes? Entre os nomes que as redes sociais gostariam que se lançassem estão os do general Antonio Mourão, do "bispo" Macedo, do Ratinho, da Carmen Lúcia, do Pabblo Vittar, da Anitta, do Alexandre Frota, do Sérgio Moro, que não viriam para explicar, mas para complicar ainda mais o panorama. Mas nem precisa, algumas hipóteses de escolhas já colocadas deixariam muita gente em saia justa.
Muitas dessas possibilidades são obviamente remotas, mas vai que...
Lembrem-se de que em tempo de redes sociais, os algoritmos podem surpreender. Trump é uma prova disso.
Lula X Bolsonaro - Quem o Jornal Nacional apoiaria em um eventual segundo turno? Em quem votaria um eleitor com o perfil, digamos, de um Aguinaldo Silva ou FHC? A Veja apoiaria Bolsonaro? A Folha declararia abstenção? O mercado fica com Bolsonaro. E o jogral de colunistas de economia que seguem os poderes financeiros?
Lula X Temer - Carmen Lúcia votaria em quem? No condenado ou no investigado? O MP votaria no autor da frase "tem que manter isso, viu?"
Huck X Manuela D'Ávila - Qual seria a escolha do "bispo" Macedo? O voto evangélico em geral iria para quem? Os anti-Globo da direita, que existem, vão preferir ficar em casa?
Guilherme Boulos X Ciro Gomes - A mídia em peso apoiaria Ciro?
Guilherme Boulos X Manuela D'Ávila - A esquerda teria duas escolhas, mas e a direita? Daria um golpe?
Bolsonaro X Ciro Gomes - Em quem votar nesse MMA eleitoral? Qual dos dois ganhará a capa da Veja às vésperas da votação final?
João Dória X Temer - A Band sonharia com um empate impossível...
Henrique Meireles X Huck - Os Jardins de SP ficam com quem? E o "mercado"? A mídia racha?
Huck X Bernadinho - Aécio vota em quem? E a mídia mineira?
Huck X João Dória - Essa hipótese também pode provocar um racha inédito na velha mídia
Henrique Meireles X Alckmin - entre o picolé de chuchu e o sacolé de água da bica com quem a
Folha e o Estadão vão se refrescar?
Lula X Manuela D'Ávila - O MBL e o Globo e a IstoÉ vão pra Miami? Como a Globo News vai sair dessa? O eleito toma posse?
Bolsonaro X Temer - A esquerda vai pra
Dizem os estatísticos que deve ser alto o índice de abstenção nas próximas eleições se considerados os candidatos avaliados pelas pesquisas até aqui.
Quem resolver não votar, bota chinelo e vai pra praia. O pepino maior poderá estar nas mãos de quem comparecer à urna no caso de uma difícil escolha, seja lá quais forem as preferências e ideologias.
O jogo político está aberto, Lula pode sair de cena, novos nomes podem aparecer e figuras que já anunciaram desistência podem voltar à disputa. Levando em conta Lula, Bolsonaro, Huck, Alckimin, Ciro, Marina, João Dória, Álvaro Dias, Cristovam Buarque, Guilherme Boulos, Henrique Meireles, Joaquim Barbosa, Manuela D'Ávila, Paulo Rabelo de Castro, Arthur Virgílio, Jacques Wagner, Valéria Monteiro, Bernardinho, Fernando Haddad e até Michel Temer dá para prever que alguns confrontos no segundo turno que exigiriam da mídia e dos eleitores muito jogo de cintura. "Formadores de opinião" teriam que recorrer a muita cara de pau à direita, esquerda e até no tal do centro político.
E se, além desses, aparecerem outros postulantes? Entre os nomes que as redes sociais gostariam que se lançassem estão os do general Antonio Mourão, do "bispo" Macedo, do Ratinho, da Carmen Lúcia, do Pabblo Vittar, da Anitta, do Alexandre Frota, do Sérgio Moro, que não viriam para explicar, mas para complicar ainda mais o panorama. Mas nem precisa, algumas hipóteses de escolhas já colocadas deixariam muita gente em saia justa.
Muitas dessas possibilidades são obviamente remotas, mas vai que...
Lembrem-se de que em tempo de redes sociais, os algoritmos podem surpreender. Trump é uma prova disso.
Lula X Bolsonaro - Quem o Jornal Nacional apoiaria em um eventual segundo turno? Em quem votaria um eleitor com o perfil, digamos, de um Aguinaldo Silva ou FHC? A Veja apoiaria Bolsonaro? A Folha declararia abstenção? O mercado fica com Bolsonaro. E o jogral de colunistas de economia que seguem os poderes financeiros?
Lula X Temer - Carmen Lúcia votaria em quem? No condenado ou no investigado? O MP votaria no autor da frase "tem que manter isso, viu?"
Huck X Manuela D'Ávila - Qual seria a escolha do "bispo" Macedo? O voto evangélico em geral iria para quem? Os anti-Globo da direita, que existem, vão preferir ficar em casa?
Guilherme Boulos X Ciro Gomes - A mídia em peso apoiaria Ciro?
Guilherme Boulos X Manuela D'Ávila - A esquerda teria duas escolhas, mas e a direita? Daria um golpe?
Bolsonaro X Ciro Gomes - Em quem votar nesse MMA eleitoral? Qual dos dois ganhará a capa da Veja às vésperas da votação final?
João Dória X Temer - A Band sonharia com um empate impossível...
Henrique Meireles X Huck - Os Jardins de SP ficam com quem? E o "mercado"? A mídia racha?
Huck X Bernadinho - Aécio vota em quem? E a mídia mineira?
Huck X João Dória - Essa hipótese também pode provocar um racha inédito na velha mídia
Henrique Meireles X Alckmin - entre o picolé de chuchu e o sacolé de água da bica com quem a
Folha e o Estadão vão se refrescar?
Lula X Manuela D'Ávila - O MBL e o Globo e a IstoÉ vão pra Miami? Como a Globo News vai sair dessa? O eleito toma posse?
Bolsonaro X Temer - A esquerda vai pra
por Onotonio Baldruegas
Abriram o armário do Bolsonaro e os esqueletos estão na fila pegando senha pra sair. Alguma coisa ele já está confessando. Canibalismo, no mínimo. Em entrevista à Folha, a pretexto de se defender da acusação de uso de verba de auxílio-moradia, durante anos, embora tenha apartamento em Brasília, o presidenciável revelou que usava o apê para "comer gente". Se Bolsonaro deu uma de índio caeté e devorou seus "bispos Sardinha" em pleno Planalto, é crime. E caso tenha usado o verbo "comer" no sentido sexual, transformou o auxílio-moradia em adicional para fudelanças com dinheiro público o que até o momento não está previsto no regulamento do Congresso Nacional.
quinta-feira, 11 de janeiro de 2018
Aplicativo de consentimento pode acabar com riscos de assédio sexual
por Ed Sá
Inspirada em um episódio do seriado Black Mirror, a empresa holandesa LegalThings está desenvolvendo um aplicativo que vai facilitar o contato entre eventuais futuros parceiros, ou não, sem que um dos dois corra o risco de ser acusado de assédio sexual.
Em teoria, o recurso tornará mais claro o jogo de sinais de Ok ou de Não.
Com um simples toque, as coisas se esclarecem em torno do consentimento ou da negação sexual validando manifestações que, no quadro atual das relações, podem ser sutis demais. Um contato visual, uma mão no ombro, um elogio casual, um 'não' acompanhado de um leve sorriso abrem ou fecham o sinal?
O aplicativo pode ser usado no trabalho ou no lazer e permite aos usuários avançarem por fases. Além disso, funciona como uma espécie de contrato. E fica tudo registrado na nuvem como uma garantia contra falsas acusações. A qualquer momento qualquer um dos parceiros pode retirar seu consentimento, até mesmo durante o ato sexual.
O celular tem que ficar por perto, o app funciona como uma espécie de Whatsapp.
O projeto é polêmico e recebe críticas. Especialistas em comportamento afirmam que, a julgar pelo momento, o futuro do sexo seguro vai exigir esse tipo de tecnologia.
Pois é, sexo vai depender de uma boa conexão. Não aquela que você está pensando. A da internet mesmo.
Inspirada em um episódio do seriado Black Mirror, a empresa holandesa LegalThings está desenvolvendo um aplicativo que vai facilitar o contato entre eventuais futuros parceiros, ou não, sem que um dos dois corra o risco de ser acusado de assédio sexual.
Em teoria, o recurso tornará mais claro o jogo de sinais de Ok ou de Não.
Com um simples toque, as coisas se esclarecem em torno do consentimento ou da negação sexual validando manifestações que, no quadro atual das relações, podem ser sutis demais. Um contato visual, uma mão no ombro, um elogio casual, um 'não' acompanhado de um leve sorriso abrem ou fecham o sinal?
O aplicativo pode ser usado no trabalho ou no lazer e permite aos usuários avançarem por fases. Além disso, funciona como uma espécie de contrato. E fica tudo registrado na nuvem como uma garantia contra falsas acusações. A qualquer momento qualquer um dos parceiros pode retirar seu consentimento, até mesmo durante o ato sexual.
O celular tem que ficar por perto, o app funciona como uma espécie de Whatsapp.
O projeto é polêmico e recebe críticas. Especialistas em comportamento afirmam que, a julgar pelo momento, o futuro do sexo seguro vai exigir esse tipo de tecnologia.
Pois é, sexo vai depender de uma boa conexão. Não aquela que você está pensando. A da internet mesmo.
David Letterman se desaposenta...
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Obama e Letterman: da aposentadoria o apresentador trouxe a barba. Reprodução |
por Ed Sá
Depois falam de Silvio Caldas e Felipe Massa. Três anos depois de aposentar seu The Late Show, David Letterman está de volta. Agora em uma série de talk show na Netflix. Seu primeiro convidado é Barack Obama. Veja o trailer AQUI
Olha o patrão! Fique de olho...
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Reprodução SJSP |
Confira as principais orientações do SJSP:
a) diante de qualquer alteração nas relações de trabalho a ser feita por escrito, com anuência do jornalista, não assinar nada. Tire uma cópia da proposta, peça um tempo para pensar e entre em contato o Sindicato.
b) se a empresa o obrigar a assinar alguma alteração no contrato de trabalho, e o jornalista não conseguir se opor, escrever "ciente", assinar, levar uma cópia e entrar em contato com o Sindicato.
c) se houver qualquer comunicado interno de mudança nas relações de trabalho -- relativo a jornada de trabalho, férias, escalas etc. – entre imediatamente em contato com o Sindicato.
d) se o jornalista for demitido pela empresa, assinar apenas o "comunicado simples de demissão", escrevendo "ciente”. Qualquer outro documento estabelecendo condições para a demissão não deve ser assinado! Em caso de demissão, o jornalista deve imediatamente avisar o Sindicato e buscar orientação para o seu caso.
e) se a empresa efetuar qualquer demissão de vários jornalistas, pedir imediatamente apoio do Sindicato.
Fonte: SJSP
Depois do passaralho, a queda de audiência...
Nos últimos meses, a CBN e a Rádio Globo mandaram embora dezenas de profissionais experientes. Os números constatam que a audiência também foi despachada junto. Segundo o site SRZD, citando dados do Kantar Ibope Media do último trimestre de 2017, no Rio de Janeiro, "a CBN não figura nem entre as 10 mais importantes emissoras do estado". Veja, abaixo, as emissoras preferias dos ouvintes cariocas e fluminenses.
1) Melodia;
2) FM O Dia
3) Super Rádio Tupi FM;
4) JB FM 99.9
5) FM 93.3;
6) MIx;
7) Rádio Globo;
8) Rádio Mania FM;
9) SulAmérica Paradiso;
10)BandNews.
1) Melodia;
2) FM O Dia
3) Super Rádio Tupi FM;
4) JB FM 99.9
5) FM 93.3;
6) MIx;
7) Rádio Globo;
8) Rádio Mania FM;
9) SulAmérica Paradiso;
10)BandNews.
O filme que Trump não vai ver...
por Ed Sá
A Marvel nunca foi sinônimo de diversidade. Agora está correndo atrás da imagem. "Black Panther" é o primeiro filme do estúdio em que o super-herói não é branco. Apesar do título, o filme nada tem a ver com o movimento negro doa anos 1968. Príncipe T'Challa, o mocinho, é interpretado por Chadwick Boseman, líder de uma nação africana fictícia. A direção é de Ryan Coogler e no elenco estão, Lupita Nyong's, Danai Gurira e Michael B Jordan. Será lançado mês que vem nos Estados Unidos. Donald Trump e a Supremacia Branca ainda não pediram ingressos.
Leitura Dinâmica: de Oprah a controle de natalidade para políticos...
por Pedro Juan Bettencourt
* Oprah Winfrey, Dwayne Johnson (The Rock), Arnold Schwarzenegger ensaiam candidaturas a presidente dos Estados Unidos. Em comum com Trump, o fato de serem celebridades do entretenimento. O ator Ronald Reagan já abriu esse caminho. A diferença é que as redes sociais vão potencializar muitas outras candidaturas, se não agora, logo ali na próxima esquina do tempo. No Brasil, Luciano Huck se apresenta, Roberto Justus anuncia pretensões políticas, João Dória já é prefeito de São Paulo e faz campanha para presidenciável. Em breve, os youtubers entrarão nessa briga. O Brasil já tem uns meninos e3 meninas com mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais. Como cidadãos, têm direito a tentar subir a rampa. Por que não? O os BBB vencedores que arrastam mais de 50 milhões de votos? E o "bispo" Macedo? É nome forte do entretenimento religioso. Pabblo Vittar? Seria a diversidade no poder. Bernardinho, uma celebridade da áreas esportiva. Madame Valéria, a que "traz seu amor de volta em três dias"? É famosa em Ipanema, e Ipanema é formadora de opinião. Não duvidem, no futuro, voto vai se likes no Face.
* Política é tão bom negócio que o prefeito Crivella tentou de qualquer maneira dar um cargo de "visibilidade" ao filho Marcelo. A Justiça impediu. Agora, segundo o Globo, Crivella pai botou o rebento para apresentar um programa na Rádio Rede Aleluia. Sejamos justos, o prefeito não está sozinho, a maioria dos políticos infelizmente se reproduz e reboca os filhos para o paraíso da política profissional. Falta um controle de natalidade nessa parcela da população.
* A imaginação de George Orwell não chegou a tanto em "1984". Cientistas da Universidade de Michigan, aliás chefiados por um imigrante, para desgosto de Trump, criaram um sistema de computação neural que consegue prever a palavra que você vai escrever. Atenção, não é um simples corretor ortográfico que oferece a palavra completa após a digitação das primeiras letras. O novo sistema prevê as frases e os números que você ainda vai digitar. A evolução do aplicativo já está em desenvolvimento: ele antecipará palavras que você dirá em uma conversa antes que você as pronuncie. Significa que somos todos previsíveis.
* Quando tomou a cadeira de Dilma, Temer disse que seu ministério seria de "notáveis". Acertou. Ele não disse que notoriedade teriam seus ministros. Cristiane Brasil, filha do delator e condenada pelo mensalão Roberto Jefferson e ela mesma condenada em ação trabalhista e que já foi detida por fazer boca de urna para Aécio Neves, é "notável". Muito "notável".
* Augusto Nunes sobe nas botas campeiras e sacode as bombachas para defender Bolsonaro na Jovem Pan. Madame Salamanca do Jarau desconfia que o jornalista poderá ser convidado para ser o assessor de imprensa do líder dos BolsoMinions.
* Maria denuncia: foi assediada por um anjo desconhecido em Belém.
* Oprah Winfrey, Dwayne Johnson (The Rock), Arnold Schwarzenegger ensaiam candidaturas a presidente dos Estados Unidos. Em comum com Trump, o fato de serem celebridades do entretenimento. O ator Ronald Reagan já abriu esse caminho. A diferença é que as redes sociais vão potencializar muitas outras candidaturas, se não agora, logo ali na próxima esquina do tempo. No Brasil, Luciano Huck se apresenta, Roberto Justus anuncia pretensões políticas, João Dória já é prefeito de São Paulo e faz campanha para presidenciável. Em breve, os youtubers entrarão nessa briga. O Brasil já tem uns meninos e3 meninas com mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais. Como cidadãos, têm direito a tentar subir a rampa. Por que não? O os BBB vencedores que arrastam mais de 50 milhões de votos? E o "bispo" Macedo? É nome forte do entretenimento religioso. Pabblo Vittar? Seria a diversidade no poder. Bernardinho, uma celebridade da áreas esportiva. Madame Valéria, a que "traz seu amor de volta em três dias"? É famosa em Ipanema, e Ipanema é formadora de opinião. Não duvidem, no futuro, voto vai se likes no Face.
* Política é tão bom negócio que o prefeito Crivella tentou de qualquer maneira dar um cargo de "visibilidade" ao filho Marcelo. A Justiça impediu. Agora, segundo o Globo, Crivella pai botou o rebento para apresentar um programa na Rádio Rede Aleluia. Sejamos justos, o prefeito não está sozinho, a maioria dos políticos infelizmente se reproduz e reboca os filhos para o paraíso da política profissional. Falta um controle de natalidade nessa parcela da população.
* A imaginação de George Orwell não chegou a tanto em "1984". Cientistas da Universidade de Michigan, aliás chefiados por um imigrante, para desgosto de Trump, criaram um sistema de computação neural que consegue prever a palavra que você vai escrever. Atenção, não é um simples corretor ortográfico que oferece a palavra completa após a digitação das primeiras letras. O novo sistema prevê as frases e os números que você ainda vai digitar. A evolução do aplicativo já está em desenvolvimento: ele antecipará palavras que você dirá em uma conversa antes que você as pronuncie. Significa que somos todos previsíveis.
* Quando tomou a cadeira de Dilma, Temer disse que seu ministério seria de "notáveis". Acertou. Ele não disse que notoriedade teriam seus ministros. Cristiane Brasil, filha do delator e condenada pelo mensalão Roberto Jefferson e ela mesma condenada em ação trabalhista e que já foi detida por fazer boca de urna para Aécio Neves, é "notável". Muito "notável".
* Augusto Nunes sobe nas botas campeiras e sacode as bombachas para defender Bolsonaro na Jovem Pan. Madame Salamanca do Jarau desconfia que o jornalista poderá ser convidado para ser o assessor de imprensa do líder dos BolsoMinions.
* Maria denuncia: foi assediada por um anjo desconhecido em Belém.
Do Jornalistas & Cia: Ex-repórter da Manchete recorda "confronto" entre Justino Martins e Cony
UM DUELO DE TITÃS
A recente despedida de Carlos Heitor Cony me fez vir à memória um divertido confronto entre ele e
Justino Martins, do qual fui privilegiado espectador.
Os fatos se deram na redação da revista Manchete, no sexto andar do célebre edifício do Russel, no Rio. Foi, salvo engano, por volta de 1974. Cony era editor e Justino, mítico diretor de Redação. De minha parte, era repórter da sucursal paulista, que lá estava para acompanhar o fechamento de uma reportagem sobre o Trópico de Capricórnio. Resumo em duas palavras: eu e Vic Parisi, fotógrafo, havíamos percorrido o traçado do trópico desde sua entrada no Brasil, numa vila de pescadores em Ubatuba (SP), até a localidade de Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai, para mostrar o que havia em sua volta. Era algo para 12 ou 16 páginas, não me recordo, e, no caso de extensas matérias desse tipo, o repórter ia ao Rio a fim de subsidiar a edição com esclarecimentos a dúvidas de momento.
Justino, um indiaço, como dizem no Rio Grande dos gaúchos típicos do campo, gritou-me da sua mesa luminosa na qual examinava as fotografias a serem escolhidas. [NdaR: essa mesa formava uma imensa letra L, portanto, à altura de uma revista que privilegiava a paginação e imagens de bom gosto. Como ficou constatado posteriormente, estava pensando num título.]
– Ô paulista! Para que serve o Trópico de Capricórnio? Eu gazeteei a aula de Geografia no dia desse assunto.
Eu estava sentado junto à mesa de Cony, que era responsável pelo fechamento. Ele fez um sinal,
apontando na direção de Justino, como se dissesse: vai lá. Era uma espécie de sinal verde necessário, pois todos os repórteres ganhavam timidez diante daquele monumento jornalístico. Travou-se o seguinte diálogo.
– Olha, Justino. Por convenção geográfica, o trópico separa a zona tórrida da zona temperada. (Atenção: parece que essa definição está absolutamente ultrapassada).
E Justino:
– Essa faixa de terra é muito rica?
E eu:
– É. Corta o interior de São Paulo, entra por campos de soja do Paraná que não acabam mais, invade o Mato Grosso, onde tem pasto e boi que também não acabam mais. De quebra, tem uma Torre de Babel pelo caminho. Japonês, italiano, holandês e suíço em São Paulo; mais japonês e russo no Paraná e índio pra caramba no Mato Grosso.
Justino, como sempre fazia, pôs-se a desenhar diligentemente a página dupla de abertura. No alto, à esquerda, reservou uma janela onde se destacaria a latitude do trópico em números vazados, com fio branco. A fotografia de fundo era um magnifico campo de soja verde-louro – no qual se distribuíam três máquinas agrícolas vermelhas cujo posicionamento tinha tal simetria que sugeria ter sido montada – recortado contra o céu azul. O título estava composto em duas linhas; a segunda, em letras garrafais.
"Entre o quente e o frio A FAIXA DO PROGRESSO"
Justino apressou-se, satisfeito, em apresentá-lo a Cony. Como se costuma dizer nessas circunstâncias, recebeu uma ducha de água fria sobre o calor do seu entusiasmo.
– Porra, Justino! Você pensa que o trópico está pintado no chão e que o sujeito pula do frio para o calor, pra lá e pra cá?
Justino foi buscar outra inspiração. O título fazia jus à sua intensa criatividade, mas não à Geografia. Curiosa e ironicamente, lembro-me do título rejeitado, mas não faço a menor ideia daquele que o substituiu.
(*) José Maria dos Santos, ex-Diários Associados, Manchete, Abril e Diário do Comércio, de São Paulo, entre outros, trabalhou na Manchete na mesma época que Carlos Heitor Cony.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
O fotógrafo que teve um caso de amor com o Brasil...
Durante muitos carnavais, a Manchete manteve a tradição de convidar para a cobertura das escolas de samba um fotógrafo da Magnum. Entre muitos, vieram Bruno Barbei e René Burri.
O suíço Burri veio mais de uma vez. A Mangueira passou por suas lentes, assim como as guerras da Coreia (quando tinha apenas 20 anos), do Vietnã, a construção de Brasília, os terraços de São Paulo, a Amazônia, as igrejas de Salvador, Pablo Picasso, Che Guevara, a Guerra dos Seis Dias, a crise do Canal de Suez, os protestos da Praça da Paz Celestial... Uma trajetória que o levou ao Hall da Fama da Leica.
René Burri morreu em Zurique, aos 81 anos, no dia 20 de outubro, uma segunda-feira, de 2014. Sua arte resiste. No ano passado, a exposição "René Burri-Utopia" percorreu várias capitais. Entre as fotos exibidas,
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Filmagem de Terra em Transe, Copacabana, 1966. Foto de René Burri |
algumas retratavam a arquitetura brasileira. Amigo de Oscar Niemeyer, era apaixonado por Brasília e pelo Brasil. Em 1966, Burri fotografou em Copacabana um cena de "Terra em Transe". Na imagem, aparecem o diretor Glauber Rocha, o câmera Dib Lufti e Danuza Leão nos braços de Jardel Filho.
Memória da Manchete: mais uma do Cony, ou duas
por
Roberto Muggiati
Aconteceu hoje: receando uma negativa da ministra Carmen
Lúcia, presidente do STF, sobre o pedido do governo para empossar a deputada
Cristiane Brasil no cargo de Ministra do Trabalho, Temer resolveu esperar a
nova decisão do TRF-2 e suspender, por enquanto, o recurso ao STF. Nas palavras
de um auxiliar, o presidente não quer "queimar etapas".
Curioso: a expressão “queimar etapas” surgiu como jargão
da esquerda brasileira nos tempos tormentosos que antecederam a deposição do
Presidente Jango Goulart e o golpe militar. Segundo nossos comunistas – e
socialistas em geral – a Revolução (a verdadeira, que libertaria as classes
oprimidas do país) era uma espécie de escada a ser galgada degrau por degrau,
com muito cuidado e atenção. “Queimar etapas” poderia botar tudo a perder.
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Reprodução da obra "Retrato do Cony", de Paulo Monteiro, feita sobre foto de André Marenco |
– Vamos andando, Cony?
– Vão vocês, acho que vou ficar por aqui mesmo.
– Mas que é isso, rapaz, está maluco?
E o Cony, com a maior cara de decisão tomada:
– Já que vou ter de morrer um dia, vou ficando por aqui:
vou queimar etapas...
A morte sempre foi um grande motivo de piada para o
nosso querido Carlos Heitor.
Outra história daquela época que o Cony gostava de
contar. Certa noite, também em Botafogo, numa reunião do ISEB – Instituto
Superior de Estudos Brasileiros – várias facções da esquerda se engalfinhavam
num debate sanguinolento. Cony vê um senhorzinho de aparência pacata ao seu
lado comentar como que para si mesmo: “Não sei, está tudo muito confuso. Temo
que não dê certo...”
Álbum de redação: Katherine Graham na Manchete
Por Roberto Muggiati
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Em 1986, com Adolpho Bloch e Katherine Graham, no 10° andar do prédio da Manchete. Foto Acervo RM |
Com seu jornalismo combativo, The Washington Post se celebrizou em 1974 ao provocar a renúncia do Presidente Richard Nixon na megacobertura do Caso Watergate, que durou dois anos. O episódio valeu o superfilme Todos os homens do Presidente (1976), em que os repórteres-estrelas Bob Woodward e Carl Bernstein foram interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman, e Jason Robards ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante no papel do editor Ben Bradlee.
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Tom Hanks (Ben Bradley) e Meryl Streep (Katherine Graham) em cena do filme The Post: a guerra secreta. Foto Divulgação |
No filme, dirigido por Alan J. Pakula, a dona do jornal, Katherine Graham, não aparece. Agora, no novo filme de Steven Spielberg, The Post: a Guerra Secreta ela tem um papel-chave, interpretada por Meryl Streep. O conflito da história gira em torno da dona do Washington Post e do editor Ben Bradlee, interpretado por Tom Hanks, o ator-fetiche de Spielberg. Trata dos danos que poderia causar ao jornal a publicação de documentos confidenciais sobre a Guerra do Vietnã, os famosos “Pentagon papers”.
Em 1986, editor da revista Manchete, ajudei Adolpho Bloch a receber a dona do Washington Post, que visitava o Brasil. Ms. Katherine Graham se mostrou dócil e simpática, mas senti uma firmeza formidável por trás daquela aparência (enganosa) de avozinha do Meio-Oeste americano. O encontro foi na espaçosa sala de visitas do décimo andar do 804, com sucos e biscoitos – era verão e fazia muito calor no Rio, um chá seria totalmente fora de questão. Katherine Graham (1917-2001) tinha 69 anos. Conversamos generalidades, o mundo tinha mudado muito. Era o segundo mandato de Ronald Reagan, a Guerra Fria vivia seus estertores, Gorbachev preparava o fim do Império Soviético com a Glasnost e a Grã-Bretanha era comandada por um Reagan de saias, Margaret Thatcher (outro papel de Meryl Streep). Em Pindorama, reinava Sarney, iniciando o segundo ano do seu desastroso governo.
Voltando à Manchete: para nosso vexame supremo – era fim de tarde de uma sexta-feira – o bairro do Flamengo sofreu um apagão geral. Foi uma experiência insólita: à luz de velas, prontamente providenciadas por Dona Arminda e seu batalhão de serviçais, – Adolpho a dois anos de completar seus “quatre-vingt ans” – e a dona do Washington Post robusta, mas à beira dos setenta anos, tivemos de descer os dez andares até o majestoso saguão abençoado pela escultura gigantesca do Krajcberg.
Agora, trinta e dois anos depois, só me resta rever Ms. Graham encenada por Meryl Streep, no filme de Spielberg.
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