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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Em entrevista a David Letterman, Obama fala do risco de nova crise global gerada pela especulação financeira

por Flávio Sépia

O talk show "O próximo convidado dispensa apresentação", de David Letterman, no Netflix, é um oportunidade de ouvir Barack Obama novamente.

O ex-apresentador do Late Show, demitido pela NBC, mudou, e não apenas por manter agora uma barba volumosa. O local do programa foi um auditório da Universidade da Cidade de Nova York. Sem cenários, sem música, só luz, som e as câmeras focalizando entrevistador e entrevistado.

Não se falou em Donald Trump, mas esteve implícito em alguns temas levantados o desastre em progresso da administração do empresário.

Obama revelou sua rotina pós-Casa Branca, falou da família, repetiu elogios a Michelle Obama e abordou questões cruciais como o racismo, mídias sociais, polarização política e defendeu uma reforma no sistema eleitoral americano que, segundo ele, cria obstáculos para os eleitores e é desenhado para desestimular a participação popular.

Nas ideias, na maneira de se expressar, na capacidade de aprofundar temas, na visão social da economia, Obama deixou muito claro, sem citar Trump, como é profundo o fosso entre a sua administração e a do seu sucessor.

David Letterman é um admirador de Obama. Isso fica mas do que claro. São amigos. Nem por ser um fã, o entrevistador deu aquele célebre show de horrores e subserviência que um grupo de jornalistas brasileiros proporcionou ao entrevistar Temer em coletiva memorável pelo vexame e pelo ridículo. Não foi subalterno e nem se colocou, como é típico por aqui, como mais importante e mais reluzente estrela do que o entrevistado.

Transcrever aqui os melhores momentos do talk show seria oferecer um spoiler sem alerta, contar  fim do filme ou o placar final do jogo. Mas aí vão dois trechos que podem servir ao atual momento do Brasil, cujo governo opta por um neoliberalismo predatório, de repúdio ao social, de obediência a o lobby do mercado, na contramão das lições que vários países aprenderam com a crise econômica gerada pela especulação financeira desenfreada, em 2008.

- Sobre o momento em que assumiu a Presidência: "Eu acho que as pessoas esquecem o quanto as coisas estavam ruins. A economia entrava em colapso mais rápido do que durante a grande depressão. No mês em que assumi o cargo, perdemos 800 mil empregos. Uma das coisas que mais me orgulham é que, em um ano, a economia voltou a crescer. E, em um ano e meio, passamos a criar empregos novamente em vez de perdê-los .

- Sobre a possibilidade de nova crise financeira mundial - "Existem algumas tendências de longo prazo que ainda são um problema. Ainda estamos produzindo uma crescente desigualdade. A combinação de tecnologia e globalização significa que há indústrias inteiras e categorias de empregos que estão sendo eliminados. Se todo o dinheiro for para algumas pessoas, no topo, com elas investindo em todo tipo de coisas porque querem maximizar seus retornos, você obtém bolhas. É assim que você começa a obter um sistema financeiro superaquecido ".

 VEJA O UM CLIP DO PROGRAMA AQUI

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Para Francisco critica na ONU traficantes de capitais financeiros...

por Flávio Sépia
O Papa Francisco criticou, na ONU, os especuladores. "Os organismos financeiros internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países e não promover a submissão asfixiantes destes por sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência", disse o papa. Para ele, nenhum individuo ou grupo tem o direito de passar por cima dos outros. A suposta má gestão da economia global só é má para a economia pública de muitos países, mas para os traficantes de capitais, a situação é a ideal. Depois da crise de 2008, houve movimentos para regulamentar o mercado, impor limites. As tentativas ou naufragaram ou não passaram de um simples maquiagem no funcionamento dos carteis financeiros.
Operadores internacionais já avaliam que o Brasil está sob ataque especulativo. O país hoje dispõe de reservas - um resultado positivo da política econômica raramente destacado, é a sexta maior reserva do mundo - para enfrentar o risco. Mas não é imune. A especulação atua em um sistema infernal, globalizado, do qual as corporações de comunicação são instrumentos fundamentais. Cabe à mídia apertar o botão de pânico que leva muita gente a perder dinheiro enquanto os operadores do caos anunciado faturam milhões. O Brasil ainda vive a particularidade de uma crise política da qual os grandes grupos de comunicação são parte interessada, com clara filiação partidária. Só complica. Daí, a pressão é grande. Todo e qualquer abalo, rapidamente disseminado pela grande mídia, ou superdimensionado pelas análises feitas sob ótica política, impulsionam a especulação. Ou seja: existem os erros do governo, existe a submissão de um governo fraco às pressões neoliberais, existe a crise doméstica, a crise global é evidente e existe a retroalimentação midiática da crise. Quer um exemplo? Há quase dois anos, analistas e colunistas, em coreografia, alardeiam a alta de juros nos Estados Unidos. Invariavelmente, bolsas reagem, dólar sobe, em seguida. Dias depois,fica claro que o FED não mexerá na taxa e os indicadores sofrem queda. Para os "otários" que perderam dinheiro, tarde demais; para os 'tubarões" que emplacaram mais uma, champanhe e caviar. Dois ou três meses depois, tais comentaristas garantem que "dessa vez" os juros subirão nos Estados Unidos e o Brasil afundará mais uns metros. A alta não vem,  o que vem é mamão com abóbora na boquinha dos traficantes de capitais. Hoje, matéria informam sobre sinais de recuperação da economia americana. Pode apostar que amanhã você lerá, mais uma vez, que agora a alta de juros do FED vem aí. Claro que uma hora, consolidando-se a recuperação dos Estados Unidos, o alta de juros virá. Mas é com o chute e com a falsa previsão dos "especialistas", não com os fatos, que os especuladores riem dos manés.