por
Roberto Muggiati
Aconteceu hoje: receando uma negativa da ministra Carmen
Lúcia, presidente do STF, sobre o pedido do governo para empossar a deputada
Cristiane Brasil no cargo de Ministra do Trabalho, Temer resolveu esperar a
nova decisão do TRF-2 e suspender, por enquanto, o recurso ao STF. Nas palavras
de um auxiliar, o presidente não quer "queimar etapas".
Curioso: a expressão “queimar etapas” surgiu como jargão
da esquerda brasileira nos tempos tormentosos que antecederam a deposição do
Presidente Jango Goulart e o golpe militar. Segundo nossos comunistas – e
socialistas em geral – a Revolução (a verdadeira, que libertaria as classes
oprimidas do país) era uma espécie de escada a ser galgada degrau por degrau,
com muito cuidado e atenção. “Queimar etapas” poderia botar tudo a perder.
Reprodução da obra "Retrato do Cony", de Paulo Monteiro, feita sobre foto de André Marenco |
– Vamos andando, Cony?
– Vão vocês, acho que vou ficar por aqui mesmo.
– Mas que é isso, rapaz, está maluco?
E o Cony, com a maior cara de decisão tomada:
– Já que vou ter de morrer um dia, vou ficando por aqui:
vou queimar etapas...
A morte sempre foi um grande motivo de piada para o
nosso querido Carlos Heitor.
Outra história daquela época que o Cony gostava de
contar. Certa noite, também em Botafogo, numa reunião do ISEB – Instituto
Superior de Estudos Brasileiros – várias facções da esquerda se engalfinhavam
num debate sanguinolento. Cony vê um senhorzinho de aparência pacata ao seu
lado comentar como que para si mesmo: “Não sei, está tudo muito confuso. Temo
que não dê certo...”