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domingo, 14 de janeiro de 2018

Do álbum da Manchete - A arte (e o tédio) de receber Presidentes

1978 - José Rodolpho Câmara, Zevi Ghivelder, Murilo Melo Filho, João Baptista Figueiredo,
Arnaldo Niskier, Roberto Muggiati

1989 - Pedro Collor, Mauro Costa, Oscar Bloch Sigelmann, Fernando Collor de Mello, Pedro Jack Kapeller, Arnaldo Niskier, Daniel Tourinho, Roberto Muggiati. 
1989 - Adolpho Bloch, Luís Inácio Lula da  Silva, Osias Wurman, Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Jacó Bittar.
Anna Bentes acolhe Lula calorosamente. 

1988 - Janir Hollanda, Hélio Carneiro, Roberto Muggiati, Eduardo Francisco Alves, Fernando Henrique Cardoso.
Fotos: Acervo RM

Por Roberto Muggiati 

Jornalista desde 1954, colecionei meu retrato em branco e preto com cada Chefe Supremo da Nação. Em 1942, quando meu tio Achilles Muggiati organizou a Grande Exposição de Curitiba, eu tinha quatro anos e o Getúlio Vargas apertou minha mão. Infelizmente, não houve foto. Tenho flagrantes meus entrevistando o JK, o Jango e o Marechal Lott. Encarei um tête à tête com Jânio Quadros na mansão dos Camargo em Curitiba: conferi as partículas de caspa meticulosamente espalhadas pela ombreira do terno, mas não havia fotógrafo a postos. Dos presidentes militares, mantive distância, até o Figueiredo visitar a Manchete, já indicado para a Presidência da República, em 1978.
Um caso curioso se deu na disputa do segundo turno presidencial em 1989. Fernando Collor de Mello jantou na Bloch numa noite de segunda-feira depois do fechamento da revista. Adolpho Bloch deu uma desculpa esfarrapada e não compareceu, Jaquito e Oscar recepcionaram o futuro presidente. A Bloch teve uma mãozinha nesta história toda. Collor concorreu por uma legenda menor, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), antes Partido da Juventude, fundado por Daniel Tourinho, que trabalhou na área de recursos humanos da Bloch Editores entre 1974 e 1985, quando saiu para fundar o PJ. 
Num gesto insólito, na véspera do segundo turno, sábado, 16 de dezembro, Adolpho ofereceu no Russell um almoço a Luís Inácio Lula da Silva. Lula e comitiva vieram naquela manhã de São Paulo num jatinho. Adolpho tratou o líder sindicalista com toda a sua hospitalidade, levou-o a visitar o escritório do ex-Presidente Juscelino Kubitschek no prédio do Russell, que havia se tornado uma peça de museu depois da morte de JK em 1976. Lembro de um episódio durante o almoço, o Adolpho desconcertou Lula a certa altura por seu linguajar críptico (e típico) que só os mais próximos conseguiam captar:
– E ele é mais moço que eu, o senhor é capaz de imaginar uma coisa dessas?
E Lula, atônito: – Mas ele quem, seu Adolpho?
Adolpho se referia ao sogro, o general Abraham Ramiro Bentes, pai de Anna Bentes, que era realmente quatro anos mais moço do que Adolpho.
Itamar Franco não teve tempo de visitar a Manchete, mas Adolpho Bloch e Anna Bentes estavam ao seu lado no camarote presidencial durante o desfile das escolas de samba em que se deu o escândalo da acompanhante de Itamar, Lilian “Sem Calcinha” Ramos. Para encerrar, recebemos em 1988 a visita de Fernando Henrique Cardoso, que já então despontava como futuro presidenciável. Quem se colocou sob os refletores foi o redator Eduardo Francisco Alves, cuja mulher tinha um parentesco remoto com FHC. Quando Fernando Henrique se efetivou na Presidência, seu filho, Paulo Henrique Cardoso, não só ganhou um emprego na Rede Manchete de Televisão, mas foi agraciado com um banheiro privado, construído ao lado do seu escritório.
E mais não houve porque a Manchete – Bloch Editores – acabaria tendo seu mandato cassado em 1º de agosto de 2000.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Do álbum da Manchete - Lembranças de Churchill em Londres

Churchill fotografado em 1941, aos 67 anos, por Yousuf Karsh, que batizou o retrato de
"Ther Roaring Lion" - o leão que ruge. 

O ator Gary Olden, o Churchill do filme O destino de uma nação,
em cartaz no Rio. Foto: Divulgação

Por Roberto Muggiati

Trabalhei no Serviço Brasileiro da British Broadcasting Corporation (BBC), em Londres, de agosto de 1962 a junho de 1965. O filme O destino de uma nação, com Gary Olden fazendo um Churchill – dizem os fãs cinema – mais parecido com Sir Winston do que o próprio, me fez lembrar o velho líder, ainda vivo quando cheguei à Inglaterra. Embora estivesse trancado em casa à espera da morte, Sir Winston Leonard Spencer-Churchill ainda era uma presença forte no país. Até o mais saliente dos Beatles, que despontavam no cenário pop, levava um pedaço do seu nome: John Winston Lennon.

Nos primeiros dias londrinos, fiquei no apartamento de um amigo enquanto procurava um endereço fixo. Era em Queen’s Gate Terrace, uma área nobre. A primeira coisa que vi da janela dos fundos foi a casa de Churchill, no 28 de Hyde Park Gate, protegida 24 horas por um bobby. Ele iria completar 88 anos em 30 de novembro. Mais recentemente, especulou-se que Churchill sofreria de Alzheimer nos últimos anos, embora a maioria dos médicos acredite que sua capacidade mental reduzida nos últimos anos foi devida ao resultado cumulativo dos dez AVCs e da surdez crescente que sofreu no período de 1949 a 1963.

Assim que comecei a trabalhar na BBC fiquei sabendo que tínhamos um obituário completo do grande líder já gravado, em quase uma hora de fita (uma hora era o tempo que durava na época a transmissão em português para o Brasil). Nos últimos anos, só era atualizada na fita a idade, Churchill já havia encerrado sua biografia há algum tempo. A notícia da morte seria dada ao vivo, pelo Programme Assistant que fazia a transmissão. Em 15 de janeiro de 1965, Churchill sofreu um derrame severo e morreu na casa de Hyde Park Gate, aos 90 anos, na manhã de 24 de janeiro, um domingo. Coube a mim, que fazia a transmissão para o Brasil naquela noite, traduzir e ler a notícia preparada pela redação da BBC e fazer rodar a fita do obituário.

Reprodução/Edição Especial Manchete 45 anos

Àquela altura, Manchete já estava no meu caminho – embora eu não soubesse – devido a minha amizade com Narceu de Almeida e Fernando Sabino. Narceu fez a cobertura dos funerais e quem fotografou foi o Jader Neves, vindo especialmente do Rio. Jader encontrou uma barreira inexpugnável que nunca conhecera no seu trabalho: durante três dias, o esquife, exposto com pompa e circunstância à visitação pública em Westminster Hall, era cercado por policiais – homens e mulheres – que proibiam qualquer tentativa de fotografia. Mas os ingleses desconheciam a tenacidade de um pé-de-boi como o Jáder. Durante três dias, ele entrava na fila, mal podendo esconder a câmera grandona e, ao chegar perto do catafalco, preparava-se para o clique, mas era impedido delicadamente por um batalhão de policiais. Pôs-se então a repetir pacientemente a operação, enfrentando a fila quilométrica daqueles que iam pagar seus últimos respeitos ao grande homem. E foi assim que, no terceiro dia, no apagar das luzes, valendo-se de um instante de distração dos guardas, Jáder Neves fez a foto salvadora.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

ÁLBUM DA MANCHETE • Dez anos separam as duas Santas Ceias


Por Roberto Muggiati



• 1977 – Da esquerda: Alberto de Carvalho, Ivan Alves (o Pato Rouco), Wilson Cunha, Flávio de Aquino, Sammy Davis Jr (papagaio-de-pirata, ao fundo), Roberto Muggiati (a caráter), Heloneida Studart, R. Magalhães Jr., Wilson Passos, Argemiro Ferreira, Pedro Guimarães, Ney Bianchi de Almeida, Carlos Heitor Cony, Irineu Guimarães.


• 1987 – Da esquerda: Lorem Falcão, Murilo Melo Filho, Nelson Gonçalves, Raul Giudicelli, George Gurjan, Eduardo Francisco Alves, Roberto Muggiati, José Egberto, Alberto de Carvalho, João Américo Barros, Wilson Passos, Sérgio Gonçalves. Na extrema esquerda, ao fundo, David Klajmic e Ney Bianchi em altos conchavos. Atrás do Wilson Passos, na divisória de vidro da redação, dá para ver o nome da Manchete em letras de ouro a que me referi em matéria recente, 1968-2000 – A Manchete no Russell.


Algumas analogias e contrastes. A primeira foto foi feita no 804, a segunda no prédio novo, o 766. Da primeira, restam quatro sobreviventes: Wilson Cunha, eu, Argemiro e Cony; o Sammy, talvez. Da segunda sobraram o Murilo, eu, o Egberto, o Barros e o Serginho.

Na primeira foto, eram treze à frente da mesa, mas não havia nenhum Judas. Já na segunda havia um Judas, vocês sabem a quem me refiro, e o seu assecla, acumpliciados talvez pelo fato de não terem coragem de sair do armário. Ambos já pegaram a barca do Estige e foram direto para o canto mais aquecido do Hades.

Em 1997, quando editei o número comemorativo dos 45 anos da Manchete, não houve foto da Santa Ceia, provavelmente porque não existia mais uma figura central na direção da revista. O que havia era uma troika paulista, que não deixou saudades. 

E, àquela altura, a Bloch já havia iniciado sua descida sem retorno, que culminaria no pedido de falência em 1º de agosto de 2000.