quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Quem foi que plantou a Rua Marcel Proust em Santa Teresa? • Por Roberto Muggiati


No meio da mata em Santa Teresa, RJ, a Rua Marcel Proust.

Eu sei muito bem. Foi um personagem mefistofélico na minha vida, o editor do meu primeiro livro. Depois de dez anos de carreira jornalística vitoriosa, iniciada aos dezesseis anos na Gazeta do Povo de Curitiba e consolidada por um curso de dois anos no Centre de Formation des Journalistes de Paris e por três anos no Serviço Brasileiro da BBC em Londres, eu me vi de volta à estaca zero no Rio de Janeiro. Mais precisamente na velha redação da Manchete em Frei Caneca, no final de 1965. Além de atuar como repórter especial da revista, comecei a abrir novas frentes: editando os Cadernos de Jornalismo da Bloch, escrevendo para a Enciclopédia Bloch e traduzindo livros para as Edições Bloch. 

Um deles foi Sexus, de Henry Miller, um dos livros mais vendidos de todos os tempos no Brasil. Existe um detalhe curioso aí: detentora dos direitos da trilogia Sexus/Plexus/Nexus, a Bloch não a publicou. Um intelectual de plantão, puxa-saco do chefe, avisou a Adolpho Bloch que os livros estavam cheios de palavrões. Exaltado, Adolpho soltou o verbo: “Que merda! Só tem palavrão na porra destes livros!” 

A trilogia de Henry Miller foi repassada para Hermenegildo de Sá Cavalcante, da Gráfica Record Editora. Bacharel de direito nascido em Aurora, no Ceará, Hermenegildo ganhou uma fortuna com a trilogia de Miller, ainda mais porque tinha o hábito incorrigível de nunca pagar direito autoral. Nem sei até se os livros que publicava eram legalmente contratados. A solidão segundo Hemingway, McCullers, Kafka, Bradbury e Borges parecia obviamente pirateado. Naqueles tempos não havia pecado ao sul do Equador

No auge da Revolução Cultural, sugeri à Bloch um livro que fundisse a biografia de Mao Tsé-tung com a história da China comunista. Alberto Dines, consultor editorial, ficou tão entusiasmado com o projeto que me deu um adiantamento de mil dólares e colocou à minha disposição as sucursais internacionais, que me forneceram farto material, em inglês, francês, italiano e espanhol – na época a China era um dos temas favoritos das editoras do mundo inteiro. Nas brechas da reportagem – e num mês de férias que dediquei exclusivamente ao livro – escrevi Mao e a China, um volume robusto de 502 gramas e 374 páginas. 

Naquele momento, o superaquecimento das receitas publicitárias para a mídia impressa em cores, provocou o surgimento de uma quantidade de novas revistas (EleEla, Pais e Filhos e Desfile na Bloch: Quatro Rodas, Cláudia, Realidade e Veja, na Abril.) Os bons profissionais eram disputados a tapa, como os craques de futebol nos tempos mais recentes. Foi assim que recebi uma proposta para assumir, em São Paulo, uma das quatro editorias principais da semanal de texto Veja, comandada por Mino Carta. Com toda a transparência, respeitando as regras do mercado, coloquei a Bloch a par da oferta e manifestei meu desejo de permanecer no Rio, caso a empresa cobrisse a proposta da Abril. Mas nada aconteceu, tudo o que me ofereciam era um hipotético aumento a partir do fim do ano, quando fosse lançada a mensal Pais e Filhos, da qual eu seria o editor, logo eu, que detestava crianças... Pedi demissão e me mudei para São Paulo, onde, por um ano e meio, participaria da grande aventura cultural que foi o lançamento da Veja, naquela época de intensa confrontação política. 

A China continuava nas manchetes, eu esperava que o livro saísse a qualquer instante. Por volta de maio de 1968, fui procurado em São Paulo por Alcídio Mafra, responsável pela edição de livros na Bloch. Avisou-me que Adolpho se recusava a lançar Mao e a China, considerava-me um traidor por ter ido trabalhar na Abril. Alcídio havia convencido Adolpho do prejuízo que representavam aquelas duas toneladas e meia de livros ocupando espaço na gráfica de Parada de Lucas e sugeriu que repassasse Mao e a China para outro editor. O primeiro a se apresentar, lépido de fagueiro, foi o Hermenegildo, embora o livro fizesse a propaganda do comunismo chinês e ele fosse amigo de muitos generais da cúpula da ditadura. Quando Ernesto Geisel foi escolhido para a Presidência em 1974, ele foi apresentado à imprensa num almoço no sítio de Hermenegildo em Itaipava.  

 – O Muggiati me deu sorte com o Sexus, vou publicar o livro dele.

Mao e a China ainda não tinha capa, Hermenegildo topou minha sugestão de que fosse desenhada por minha mulher Lina, artista plástica. Ele mesmo escreveu as orelhas, num tom bombástico, afirmando que eu tinha entrevistado quatro vezes o Grande Timoneiro. Ora, todo mundo sabia que Mao Tsé-tung só deu na vida uma entrevista a um jornalista ocidental, o americano Edgar Snow, por ser redator do órgão oficial do Partido Comunista Norte-americano. 


O crítico Leo Gilson Ribeiro, Roberto Muggiati, Hermenegildo e Nádia de Sá Cavalcante.

Mas o negócio do Hermenegildo era vender livros e isso ele sabia fazer. Resolveu lançar Mao e a China numa noite de autógrafos durante a inauguração da filial da sua editora em São Paulo, localizada justamente na Rua Maria Antônia, o foco das agitações estudantis em 1968. O braço direito de Hermenegildo na filial paulistana da Gráfica Record era o jornalista Walter Fontoura, então o manda-chuva do Jornal do Brasil em São Paulo.

Convidei Deus-e-todo-mundo da Abril para o lançamento. Coleciono até hoje dezenas de PSCs em que  os Civita, pai e filhos, e altos executivos da empresa, se desculpavam pelo não-comparecimento. (PSCs eram os bilhetinhos Para-o-Seu-Conhecimento, impressos pela Abril para estimular a comunicação entre seus profissionais) . A noite de autógrafos foi marcada para 9 de dezembro de 1968, uma segunda-feira. O Brasil vivia o momento crítico da confrontação direita-esquerda e do enfrentamento ao regime. A linha-dura militar resolveu dar um basta a tudo aquilo; na sexta-feira, 13 de dezembro, era decretado o AI-5. 

Yllen Kerr, da sucursal carioca de Veja, me telefonou aflito. O lançamento de Mao e a China no Rio fora cancelado:

– Por favor, Muggiati, nem pense em aparecer por aqui!

Mao e a China passou a figurar menos nas vitrines das livrarias do que nas mostras de material subversivo apreendido pelos órgãos de repressão. A partir daí, comecei a perder o contato com o Hermenegildo. Soube que em 1970 ele pagou, pela primeira vez, direitos autorais, muito a contragosto. O autor francês Jean Genet veio ao Brasil para o lançamento de suas peças produzidas em São Paulo por Rute Escobar. Tinha um dinheiro a receber da editora do Hermenegildo. Genet – um ex-presidiário que se tornou escritor de sucesso – era um homossexual brigão tipo Madame Satã que resolvia muita coisa na porrada. Muniu-se de uma sleeping bag e se instalou no suntuoso hall de entrada do edifício onde morava Hermenegildo. Em menos de duas horas era pago em dinheiro vivo e levantava acampamento.

Não sei como, com todo aquele dinheiro dos livros do Henry Miller, Hermenegildo faliu com a sua editora. Ou melhor, sei. Ele vivia à larga, sob a égide de Marcel Proust. Insinuante e com bons contatos, ainda jovem foi secretário comercial do Brasil em Paris, onde, segundo o Portal da História Cearense, “se aprofundou no estudo da obra de Marcel Proust, tornando-se vice-presidente da Société International des Amis de Proust.” Hermenegildo passou a ostentar esse lábaro com orgulho, publicou os livros Proust e o Brasil (1964); Quem foi e o que fez Marcel Proust (1966) e Marcel Proust - Roteiro Crítico e Sentimental (1972). Sua mania de Proust – e seu talento de lobista -legaram a  Rua Marcel Proust à cidade que por muitos anos adotou como sua. No número 201 funciona a Escola Municipal Juan Antonio Saramanch, considerada uma das mais avançadas do Rio. 

 Hermenegildo dava grandes festas no sítio de Itaipava, batizado de Combray, em homenagem à cidade fictícia de Em busca do tempo perdido. Promovia excursões aos locais da literatura proustiana, muitas vezes viajava em alto estilo com a mulher, Nádia, e as duas filhas pequenas, acompanhadas de aias (termo mais adequado do que babás ou baby-sitters...) Ele representava todos os valores que eu repudiava  (ou a falta absoluta de valores), principalmente seu compadrio com a ditadura militar. Morreu em 1995 em São Paulo, aos 68 anos. Ignoro os rumos que sua vida tomou depois da década de 1970. Mao e a China morreu com a falência da sua editora. Sexus seguiu vendendo bem ao longo de várias décadas e até hoje é procurado na Estante Virtual. Em 1980 ganhou nova tradução, de Sérgio Flaksman, na editora Schwarcz. 

A passagem do templo suavizou minha opinião sobre Hermenegildo. Até mesmo seus escritos – particularmente o Roteiro crítico e sentimental de Proust, que só procurei recentemente – não deixam de ter aspectos interessantes. Sua foto com a mão sobre meu ombro naquela sessão de autógrafos que se perde na noite dos tempos me faz lembrar hoje apenas o cearense cativante, verdadeiro mestre na arte da sobrevivência. 

Otimismo numa hora dessas? • Por Roberto Muggiati

 “Esperança” foi a palavra da virada de ano, proferida de boca cheia no discurso vazio de comunicadores e influencers. Pareciam todos uma reencarnação do Dr. Pangloss, o mestre de Cândido (1759), o Otimista, a novela filosófica de Voltaire que inspirou as distopias 1984 e Admirável mundo novo e os romances de Machado de Assis Memórias póstumas de Braz Cubas e Quincas Borba.  Pangloss via o mundo com óculos de lentes cor-de-rosa e recitava a eterna ladainha “tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis”, contrariando a brutal evidência dos fatos.  Recrutado à força pelas tropas búlgaras, Cândido testemunha o massacre da Guerra dos Sete Anos. Foge e reencontra Pangloss, envelhecido e sifilítico, que o informa da suposta morte da mulher de Cândido, Cunegundes, estuprada por soldados búlgaros. 

Chegam a Lisboa no dia do terremoto e são vítimas de um auto de fé em que Pangloss é aparentemente enforcado. Cândido reencontra Cunegundes, amante de um Grande Inquisidor e de um judeu rico. Mata os dois homens e foge com a mulher. Depois de incontáveis atribulações que levam o casal aos lugares mais remotos – incluindo Buenos Aires e Paraguai – Cândido finalmente encontra uma paz relativa com a mulher, em ambiente bucólico. “Devemos cultivar o nosso jardim,” foi o lema ele encontrou em contraposição ao “melhor dos mundos” de Pangloss. 

Para se ter uma ideia da universalidade da novela de Voltaire, ela teve uma adaptação para o cinema no Brasil, Candinho – dirigido e estrelado por Mazzaropi, com o sambista do Brás Adoniram Barbosa numa genial interpretação de Pangloss, o Dr. Pancrácio. O filme inspirou em 2016 a telenovela de Walcyr Carrasco Êta mundo bom.

Aproveito essa discussão para transmitir o recado que recebi de uma estudiosa das mulheres da beat generation (Larissa, sergipana. 25 anos). Vejam a mensagem do velho William Burroughs, que considero pontualíssima no momento que vivemos. Nessa altura do campeonato, só posso recomendar: “Guenta aí, parça!”

“Você vai ter de aprender a existir sem religião, sem país, sem aliados. Você vai ter de aprender a viver sozinho em silêncio.”

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Chico César: "Não sou seu entretenimento, sou o fio da espada da história no pescoço dos fascistas"

por Clara S. Britto

As redes sociais adoraram reproduzir, ontem, uma mensagem do cantor e compositor Chico César. Um fã pediu que ele evitasse canções de cunho político-ideológico. 

Chico não gostou. 

Pode ter perdido o fá, mas não perdeu a postagem.


Domingo Ilustrado: fragmentos do tabloide perdido de Samuel Wainer




Reprodução Domingo Ilustrado



por José Esmeraldo Gonçalves

O semanário Domingo Ilustrado talvez tenha sido a publicação de vida mais curta da história da Bloch. Durou de 1971 a fins de 1973. Samuel Wainer era o diretor. 

 "Samuel Wainer, o homem que estava lá', de Karla Monteiro" lançado em setembro passado - aliás um ótimo livro - tem um capítulo sobre essa aventura jornalística. A redação reunia Maria Lúcia Rangel, Tato Taborda, Luís Carlos Maciel, Martha Alencar, entre outros, além de colaboradores de prestígio levados por Samuel, como Bruno Pedroso e Arthur da Távola.. 

Domingo Ilustrado vinha com o slogan "o jornal-revista do fim de semana". Era um tabloide colorido, excessivamente colorido, popularzão, estilo France Dimanche, sem grampos, impresso no mesmo couchê das revistas. 

O livro conta que Adolpho detestava Samuel e Samuel detestava Adolpho. Quem ousou juntar os dois em um mesmo projeto, supremo risco, foi João Pinheiro Neto, que quis ajudar o amigo então desempregado e apelou para Adolpho. Samuel desprezava o patrão. Com licença do título da Karla, era o homem que não devia estar lá, mas engolia sapos para não perder o emprego. "Samuel se submeteu a muita coisa humilhante. Ele (Adolpho Bloch) era tão grosso que virava piada. Se a gente apertava o botão do elevador duas vezes, batia na sua mão", recorda Martha Alencar em um dos depoimentos colhidos para o livro. 

Domingo Ilustrado acabou como começou, de repente. Adolpho cansou do prejuízo. Uma das expectativas, imaginem, era que os cariocas levassem o tabloide para ler na praia, junto com a cadeira, a esteira e a barraca, os apetrechos da época. Talvez um ou outro desafiasse os ventos e levasse mesmo o Domingo à areia, mas não virou moda e não garantiu as vendas.

Tente encontrar o Domingo Ilustrado em sebos de revistas. É impossível ou difícil. Vá ao Google, há poucas referências, algumas indexadas justamente do livro da Karla Monteiro. 

Refinando buscas, variando comandos na barra de pesquisa, encontrei dois sites que reproduzem matérias do jornal-revista: os blogs http://caetanoendetalle.blogspot.com/http://antiguinho.blogspot.com/2016/06/jornal-domingo-ilustrado-wanderleia.html

E só.

Domingo Ilustrado é o Percy Fawcett do jornalismo. A Atlântida da mídia impressa.

O magnata aloprado

O "grito" do magnata. Reprodução

Pelo menos dois livros recentes - "Medo: Trump na Casa Branca", de Bob Woodward; e "Fogo e Fúria: por dentro da Casa Branca" - trazem detalhes chocantes sobre o modo DT de governar. Mesmo assim, o magnata conseguiu baixar ainda mais o nível e atropelar a ética e a lei durante um telefonema no qual pressiona o Secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, para roubar votos. Durante uma hora, ele pede pata "encontrar" 11.780 votos, um a mais do que a vantagem de Biden no estado, implora ajuda e, por fim, dispara ameaças. O secretário rechaçou o "convite" para o assalto eleitoral. 

O jornal Washington Post obteve a gravação do longo telefonema e expôs o meliante. 

Carl Bernstein, o repórter parceiro de Woodward  na série de matérias em que o mesmo Washington Post revelou o Caso Watergate,  disse, em entrevista à CNN, que Trump fez "muito pior"  do que a participação de Nixon no escândalo da invasão do escritório do Partido Democrata, nos anos 1970, que levou à sua renúncia. "É a a evidência do que este presidente está disposto a fazer para minar o sistema eleitoral e tentar instigar de forma ilegal, indevida e imoral um golpe". Bernstein avalia que em qualquer outro momento da história dos Estados Unidos, a gravação provocaria a exigência de renúncia imediata do presidente. 

O inacreditável telefonema de Donald Trump mostra que ele é capaz de fazer qualquer coisa para impedir até a data da posse de Joe Biden, o vitorioso, em 20 de janeiro..

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Cinememória: "Encurralado" foi lançado há 50 anos. O primeiro filme de Steven Spielberg é puro terror sobre rodas. Reveja uma cena inesquecível


A espetacular cena final do duelo na estrada

Dennis Weaver (David Mann) é o vendedor que vira caça em uma estrada da Califórnia.


Do caminhoneiro que aterroriza o motorista do carro só aparecem as mãos.

por José Esmeraldo Gonçalves 

Quem assistiu às elaboradas e caríssimas produções de Steven Spielberg ao longo da sua brilhante carreira pode não reconhecer nesse filme de estreia do diretor o estilo que o consagrou. 

Filmado em 16 dias, em 1971, com verba de poucos zeros, "Encurralado" ("Duel" no original) é um road movie que foi feito para a TV. Sem muitas pretensões, uma pequena distribuidora resolveu lançá-lo nos cinemas da Austrália. Ao constatar a receptividade do público naquele país, a Universal Studios repensou o marketing e distribuiu o filme nos cinemas dos Estados Unidos. Como telefilme, "Encurralado" tinha apenas 70 minutos. Antes de levá-lo ao circuito, os produtores chamaram Spielberg e equipe de volta à mesa de edição para adicionarem mais 20 minutos de cenas da caça que o gigantesco caminhão-tanque Mack  empreende ao pequeno Plymouth vermelho. O longa assim anabolizado eletrizou plateias. 

"Encurralado" é inspirado em uma situação real vivida pelo roteirista Richard Matheson. Na trama, o motorista do carro, um pacato vendedor, faz duas ultrapassagens sobre um caminhão em uma estrada do deserto da Califórnia. O caminhoneiro, que ao longo do filme se revela um psicopata, vê a manobra como uma provocação e passa a perseguir o Plymouth. A partir daí, é suspense sobre rodas até o fim espetacular (que é a cena inesquecível que destacamos nessa série de memórias do cinema que temos publicado no blog). 

O protagonista é o ator Dennis Weaver. O caminhoneiro, cujo rosto não aparece no filme, apenas as mãos, é interpretado por Carey Loftin (foto ao lado), um dos mais famosos dublês de Hollywood.

Mas, para muitos críticos, os verdadeiros astros do duelo na estrada são os ""cowboys" Plymouth e Mack.

 REVEJA A CENA FINAL DE "ENCURRALADO" AQUI

Já viu? Clipe "Boca Suja" resume a podridão que sai da fossa cerebral do inominável




Fabiano Nasi, músico e compositor da banda gaúcha Os Flutuantes, resumiu no clipe que acaba de lançar todo o deboche de Jair do Caixão durante a pandemia. 

Ao longo da trilha, ele exibe cartazes com as frases que o imundo pronunciou ofendendo o país, os quase 200 mil mortos e as sofridas famílias brasileiras.

VEJA O CLIPE BOCA SUJA AQUI

 

domingo, 3 de janeiro de 2021

Editora Abril vende prédio e fecha gráfica. Impressão das revistas que ainda resistem nas bancas será terceirizada

 

Reprodução Brasil 247

No alto do prédio da Marginal Tietê, o logo da Abril. Referência na paisagem de São Paulo vai desaparecer. Foto Reprodução Twitter



O busto do "Seu" Victor, que ficava no saguão do prédio da redação na Marginal Pinheiros. Com a crise da Abril, o fundador virou nômade. Onde andará?

por José Esmeraldo Gonçalves

A Abril cultuava dois símbolos. O famoso letreiro da árvore plantado nas capas das revistas e no alto do prédio da gráfica - durante décadas uma referência orgulhosa na paisagem de São Paulo, mais precisamente na Marginal Tietê. E o busto do fundador, Victor Civita, imponente, no saguão do  NEA (Novo Edifício Abril), na Marginal Pinheiros. 

Em uma madrugada de janeiro de 2015, o busto foi retirado. A editora resolvera entregar o prédio que ocupara sob arrendamento à Previ e o fundador foi primeiro a ser despejado, como ocorre com os líderes em tempo de mudanças. O Civita de bronze teve a sorte de não ser uma estátua, cuja queda seria mais espetacular.  Saddam, Kadafi, Lênin, Franco, Salazar que o digam. "Seu" Victor foi embora discretamente, coberto por uma manta de juta. Onde estará? 

O segundo grande símbolo da Abril, o letreiro da árvore, será podado em breve do prédio da gráfica, que voltou a abrigar também as redações. Estas, por sua vez, deverão sair da Marginal Tietê para novo endereço. 

Matéria do Brasil 247  informa hoje que a Editora Abril fechará nos próximos dias sua gráfica na marginal do Tietê. O prédio será vendido. A decisão estava tomada desde o ano passado. Os títulos que a editora ainda mantém passarão a ser impressas em gráficas terceirizadas. "As revistas sobreviventes Veja, Veja São Paulo, Exame, Claudia, 4 Rodas, Saúde, Superinteressante, Você S/A e Você RH continuarão a ter versões impressas e digitais. Outras, a exemplo de Viagem & Turismo, VIP e Placar podem ter conteúdo apenas na web, como já ocorre com títulos como Capricho e o portal MdeMulher", acrescenta o 247. 

Leia a matéria completa, do Brasil 247, AQUI

A logística da morte - "No caso das seringas, Bolsonaro e Pazuello deixaram o tempo passar por decisão". É o que analisa Jânio de Freitas na Folha.

 

Da Folha de São Paulo, 03/1/2021. Clique na imagem para ampliar.

50 países já estão vacinando. E a terra de Jair do Caixão não tem sequer seringas

Folha levou quase um ano para ligar, em editorial, uma coisa à outra. Como os fatos demonstram no noticiário do jornal, a incompetência de Jair do Caixão na pandemia mata milhares de brasileiros. E é crime continuado.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Retrospectivas são entediantes. Já deu. Mas o jornal USA Today inovou. Fez uma brilhante Introspectiva do Ano. Cada dia uma foto que faz pensar


por José Esmeraldo Gonçalves

Retrospectivas são chatas. Em geral.  A fórmula se desgastou. Talvez faça sentido ainda para desmemoriados. Ou para quem foi tão atolado por informações que precisa catalogar o que aconteceu. 

Só que a mídia ainda considera uma obrigação repassar os acontecimentos do ano. 

Acho que os leitores, não mais. 

O USA Today conseguiu escapar do lugar comum e fez uma retrospectiva dinâmica, talvez mais adaptada aos hábitos dos leitores já formados na era digital.  Montou um agregador de fotos sensacional. Uma imagem por dia. Cada foto conta um fato. E traduziu o que foi esse inacreditável 2020. Algumas fotos são tão expressivas que vão além do retrospecto. 

O USA Today fez a primeira Introspectiva do Ano. 

VEJA NO USA TODAY, AQUI 

Cariocas esperam que o Rio renasça. Um bom sinal foi o arco-íris da virada



Reprodução O Globo 

por Ed Sá 

O Globo on line publicou ontem a foto de um arco-íris que sublinha o Cristo Redentor. Uma bela sinalização para 2021. O mundo inteiro sofreu com a Covid-19, mas só o Rio teve pestes extras. As pragas Witzel e Crivella para os quais a única vacina é o xadrez. Que a faixa de cores não apenas indique a recuperação da cidade destroçada por esses maus elementos, mas e leve os cariocas ao posto de vacinação mais próximo. 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

The Sun: as capas mais sonhadas para 2021

 



The Sun publica hoje uma série de capas que os editores gostariam de estampar em 2021. Destacamos as duas acima: 100 dias sem casos de Covid na Inglaterra; e o dia em que Boris Johnson anuncia a vitória final contra o coronavírus.  

Deu no Post: Quem precisa de realidade? O mercado tem vida própria...


Reprodução Washington Post

por Flávio Sépia 

A edição do Washington Post, hoje, aborda um fenômeno dos novos tempos. O mercado de ações dos EUA encerrou 2020 em níveis históricos de retorno de investimento, apesar de uma pandemia que matou mais de 340.000 americanos, deixou 20 milhões sem empregos e uma parcela da população faminta e derrubou o PIB da maioria dos países. 

O índice de ações S&P 500, o indicador mais confiável, terminou 2020 com alta de mais de 16%. Dow Jones e o Nasdaq indicaram ganhos de 7,25% e 43,6%, apesar da devastação sanitária. Hospitais lotados, funerárias idem, nada disso impactou o mercado financeiro. As maiores empresas cresceram durante a pandemia ao mesmo tempo em que colocavam milhares de trabalhadores no olho da rua. 

Entrevistado pelo Washington Post, Michael Farr, presidente da Farr, Miller & Washington, empresa de gestão de dinheiro, definiu:   “2020 foi impressionante. Que uma paralisação econômica induzida por uma pandemia de proporções épicas tenha sido digerida com ações encerrando o ano 15 por cento mais altas é alucinante". Guardadas as proporções, com o Brasil pegando de volta o selo de país subdesenvolvido, a B3, a bolsa de valores brasileira, também pouco espelhou a devastação de empregos e as crises dos setores industrial e de serviços: o mercado registrou ganho anual de 3%. Economistas com visão social, os poucos que ainda existem, certamente vão se debruçar sobre esse fenômeno. Tentar entender porque uma fábrica de parafusos passou oito meses sem vender uma só unidade e teve suas ações valorizadas no período. O exemplo é hipotético, mas aconteceu algo semelhante com várias corporações. Uma tese é que o mercado usa os fatos apenas como gatilhos para a especulação diária, o sobe e desce que faz vencedores ou perdedores, mas, como 2020 mostrou, não é afetado pela realidade em torno. 

Pandemia, desemprego, fome, países em lockdown, quem liga? 

Em abril/maio do ano passado, jornalistas de mercado chegaram a falar em "momentos de pânico" nas bolsas preocupadas com a desaceleração do consumo. Se isso foi verdade, não só passou rápido como, diz o Washington Post, se transformou em euforia no mercado financeiro mais poderoso do mundo.


quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

As 10 melhores notícias do ano

 1 - A descoberta das vacinas

2 - Derrota de Trump na eleições americanas

3 - As manifestações chilenas que derrubaram a Constituição fascista de Pinochet

4 - Golpe boliviano derrotado nas urnas 

5 - Uma conquista das mulheres argentinas: a legalização do aborto

6 - Todas as derrotas de Bolsonaro no STF e no Congresso

7 - Crivella desmascarado

8 - As lives de Caetano e Paulinho da Viola

9 - Livro: República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro. Bruno Paes Manso. Todavia.

10 - Filme: 1917

Os 10 mais ridículos do ano

 1 - Bolsonaro

2 - Neymar 

3 - Damares 

4 - Pazuello  

5 - Anvisa 

6 - Ernesto Araújo

7 - Olavo de Carvalho s 

8 - Marcello Crivella

9 - Carla Zambelli

10 - Ricardo Salles

Hors-concours: todos os envolvidos na inacreditável reunião ministerial de 22 de abril no Palácio do Planalto. 


A Secom faz mea culpa...

Em mensagem de Ano Novo, a SECOM tem surto de sinceridade e admite que não se inclui entre os brasileiros honestos. Veja um trecho:

“FELIZ ANO NOVO. Num ano em que muitas dificuldades surgiram; e muitas dificuldades foram criadas e impostas, os brasileiros honestos e trabalhadores levaram este país adiante e mostraram seu monumental valor”.

A SECOM não mostrou valor algum, não trabalhou e não levou o país adiante, logo...

Votos para 2021: que as equipes do Ministério da Saúde e da Anvisa pensem, pelo menos, nos seus próprios pais, avôs e amigos idosos. Que desafiem o chefe e comecem a vacinação já...

por Flávio Sépia 

O ano da Covid-19 termina com a campanha de vacinação em curso em 50 países, oito vacinas liberadas, das quais seis com eficiência comprovada. A maioria dos países com estoques de seringas e agulhas adquiridos há quatro e seis meses. 

Não vou dizer que o Brasil está uma zona, porque zonas não são tão desorganizadas assim. A questão que não quer calar: a catatonia do Ministério da Saúde e a inoperância da Anvisa, o show de explicam o caos. O negativismo e o desprezo militante do sociopata maior explicam tudo isso. Ninguém quer desagradar o chefe. Mas será que Bolsonaro chegou a proibir a compra de vacinas e seringas com antecedência ou foi apenas incompetência e desleixo? Os funcionários dessas instituições não poderiam ser mais afirmativos, questionar os gabinetes da raiva e do ódio, o que seja? Será que não têm famílias, não pensam nos pais idosos, nos avós, no risco que correm, na angústia que vivem? 

Esses funcionários bem que poderiam aproveitar a virada do ano, se não estiverem em alguma balada bolsonarista,  para refletir sobre isso. 

Na década em que patrocinou mais um golpe de Estado, a Folha agradece aos leitores por "campanha pela democracia".


A Folha aproveita uma revisão da década e faz, hoje, um balanço da sua campanha em defesa da democracia ameaçada por parte de Bolsonaro e suas milícias. É campanha louvável, claro. E, talvez, quem sabe, ensine à própria Folha, mais uma vez, o risco que é atacar as instituições. O jornal tem um histórico antidemocrático. Não só encampou o autoritarismo e a violência que o golpe de 1964 implantou no país, foi colaborador ativo, através da cessão de carros e sabe-se lá o que mais, para ações de repressão da ditadura nos anos 1970. 

A Folha se orgulha de ter apoiado a campanha das Diretas, nascida nas ruas, nos sindicatos, nos diretórios estudantis, em alguns partidos, e em órgãos progressistas de classe. Mas quando se pensava que o jornal tinha aprendido algumas coisa naquela jornada, vem a campanha demolidora e novamente o apoio a um golpe, o  de 2016, que derrubou uma presidente legitimamente eleita. Golpe, sabe-se como começa, como 64 ensinou, e não se faz ideia de como termina. O resultado está aí: o odioso governo de Jair Bolsonaro que tem, na sua origem, as digitais da Folha e dos demais veículos das oligarquias conservadoras da mídia. esclareça-se. 

Uma boa resolução de Ano Novo seria a Folha admitir que ser democrático não se resume a um título no alto de uma página

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Do Twitter: que hora elas voltam?

 

Reprodução Twitter

Em 2013, no embalo do golpe, atrizes da Globo se vestiram de preto. Dramático. A foto foi distribuída nas redes sociais. Eram, em mão invertida, as pasionarias  do Projac. Juliana Paes, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Susana Vieira e Bárbara Paz.  Juliana Paes provocou recente polêmica nas redes sociais ao defender Bolsonaro, mesmo após a atuação do sociopata negando a Covid. Rosamaria, Nathalia e Susana, aparentemente, não se manifestaram ultimamente. Bárbara Paz acaba de ter seu filme indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil no Oscar. A atriz já criticou a atuação do governo na pandemia. A peça política para a qual elas posaram voltou às redes sociais nessa semana. O pessoal ironiza. O Brasil precisa que essas senhoras voltem a mostrar indignação contra a situação para a qual, de alguma forma, deram uma contribuição patriótica. Será que estão felizes com as consequências da ruptura constitucional?  
Estão de parabéns as envolvidas. Deu nisso. 

Gonzagão canta Mangaratiba (para compensar a má fama da festa de Neymar)

A bela Mangaratiba frequenta o noticiário pelo lado negativo. Não por culpa dos moradores, mas de um forasteiro. Neymar escolheu o local para fazer uma festa de arromba em plena pandemia. A cidade se revolta, mas pouco pode fazer. A balada vai rolar. O risco para Mangaratiba é que a maioria do pessoal que vai trabalhar para a diversão do jogador e sua curriola é local. O risco de contaminação por se estender aos moradores. 

Melhor ficar com Gonzagão, que cantou Mangaratiba em tempos menos revoltos e de maior respeito e solidariedade.  E a letra é apropriada

Mangaratiba

Luiz Gonzaga

Ôi, lá vem o trem rodando estrada arriba

Pronde é que ele vai?

Mangaratiba! Mangaratiba! Mangaratiba!

Adeus Pati, Araruama e Guaratiba

Vou pra Ibacanhema, vou até Mangaratiba!

Adeus Alegre, Paquetá, adeus Guaíba

Meu fim de semana vai ser em Mangaratiba!

Oh! Mangarati, Mangarati, Mangaratiba!

Mangaratiba!

Lá tem banana, tem palmito e tem caqui

E quando faz luar, tem violão e parati

O mar é belo, lembra o seio de Ceci

Arfando com ternura, junto a praia de Anguiti

Oh!…

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Minha parceria com Lady Day • Por Roberto Muggiati


O sistema de som do supermercado Pão de Açúcar de Botafogo sempre me recebeu com Billie Holiday cantando uma das 230 faixas que gravou na Columbia entre 1933 e 1944, geralmente um Lado A com o sax tenor de Lester Young, tipo All of Me ou This Year’s Kisses. Agora, morando em Laranjeiras, vejo a banca de vinis do Miranda perpetuar Lay Day com umas trinta capas de seus LPs no mostruário de cinquenta. E ainda outro dia entreouvi na veterinária: “Como é mesmo o nome da gatinha? Billie?” “Sim, da cantora, Billie Holiday.” São amostras cariocas que se repetem mundo afora, fixando Lady Day como uma das maiores figuras cult do nosso tempo.


Orgulho-me de ter participado da sua história. E isso só aconteceu graças à experiência adquirida na Manchete. Quando a editora Zahar me convidou em 2003 para fazer uma nova tradução da autobiografia de Billie, Lady Sings the Blues, sugeri acrescentar um epílogo. A edição original, publicada em 1956, não cobria os três anos e meio derradeiros da cantora, que morreu em 17 de julho de 1959. O livro não foi daqueles trabalhos convencionais de ghost writer. Amigos de longa data – ela era madrinha do único filho dele – Billie e o jornalista William Dufty compartilhavam ideias progressistas e lutavam por justiça social. Ele já conhecia a maior parte da história de Lady Day quando se sentaram para fazer o livro. O modo descontraído de ser e de falar de Billie foi admiravelmente captado pelo escritor de ouvido musical. A primeira frase do livro é exemplar; “Mamãe e papai eram só duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela dezesseis e eu três.” Os 24 capítulos do livro receberam títulos de canções de Billie. O último se chamava God Bless the Child. Completei a trágica história de Billie com um epílogo intitulado Please Don’t Talk About Me When I’m Gone, uma de suas canções favoritas. Raros artistas construíram seu repertório com tanto rigor. Ela preferia cantar várias vezes o mesmo standard, a fazer concessões às chamadas novelties, como Mack the Knife ou La Vie en Rose. 

Pesquisando nas muitas biografias da cantora que continuavam – e continuam – saindo, encontrei fatos ignorados sobre seu intenso final de vida. Numa de suas últimas turnês à Europa, ela se apresentou em uma sala do teatro La Scala de Milão – imaginem só, Lady Day invadindo o sacrossanto espaço da divina Callas! Foi o marido Louis McKay, que vivia às suas custas, quem insistiu na ideia da autobiografia, visando a um filme: estavam em moda as biografias de cantoras como Jane Froman (interpretada por Susan Hayward) e Ruth Etting (Doris Day). A primeira estrela cogitada para o papel de Billie foi Dorothy Dandridge, uma morena light que fizera sucesso em Carmen Jones. Depois se falou em Ava Gardner e – pasmem! – na loura gelada Lana Turner... Só em 1972 o filme, Ocaso de uma estrela, chegaria às telas, numa versão equivocada, com Diana Ross, uma negra de alma branca, no papel de Billie e – pior – destroçando suas canções. 

Em novembro de 1956, numa volta triunfal aos palcos, Billie apresenta-se no Carnegie Hall. No intervalo de cada canção, o jornalista Gilbert Millstein lê trechos da autobiografia. No final de 1957, ela é documentada admiravelmente em vídeo em “The Sound of Jazz”, da CBS, cantando Fine and Mellow com os três grandes do sax tenor – Lester Young, Coleman Hawkins e Ben Webster – nove minutos preciosos da cantora em close num preto-e-branco intimista.

A morte de Lester Young em março de 1959, aos 49 anos, foi um choque brutal para Billie. Por um quarto de século os dois viveram a grande love story musical do jazz. Foi ele quem a apelidou de Lady Day. E ela retribuiu, apelidando-o de Prez. Billie ridicularizava a quantidade de realeza entre os jazzistas – Counts, Dukes, Kings. Earls... “Porra, quem manda mesmo neste país é o Presidente!” E Lester tornou-se The President, ou simplesmente Prez.  A partir dessa grande perda, Billie começou a definhar. Depois de um colapso em 31 de maio, acabou numa tenda de oxigênio. Mal saiu, voltou a fumar. Seu problema principal era a cirrose hepática, mas o coração, os rins e outros órgãos estavam comprometidos por sua péssima condição física. Hospitalizada, foi flagrada por posse de heroína – possivelmente “plantada” por uma enfermeira. 

O teatrólogo Edward Albee escandalizou o mundo em 1960 com sua peça A morte de Bessie Smith, baseada na história real da cantora que sangrou até morrer num hospital de Memphis que se recusou a atender uma paciente negra. O que aconteceu com Billie foi ainda mais brutal. Cito do epilogo:

“No dia 12 de junho ela foi presa e acusada da posse de narcóticos. Tiraram-lhe tudo: o rádio, o toca-discos, as flores, as revistas de fofocas e de quadrinhos, uma caixa de chocolates, um sorvete italiano, o telefone, e dois guardas foram postados diante da sua porta. Dizem até que levaram graxa preta e almofada de carimbo para tirar suas impressões digitais. Billie foi algemada à cama de hospital por dois detetives.”

Um depoimento à revista de fofocas Confidential, escritor por William Dufty, rendeu a Billie 750 dólares. Ela ocultou na sua vagina as quinze notas de cinquenta dólares presas num rolo com fita adesiva. No livro de 2002 Jazz and Death, o médico Frederick J. Spencer argumenta: “O esconderijo secreto de Billie Holiday pode ter contribuído para sua morte. Provavelmente tinha um cateter urinário inserido como parte do tratamento, uma avenida potencial para que a infecção alcançasse a bexiga. Esconder qualquer substância na vagina aumentaria esse risco. Se uma infecção subisse pelo trato urinário até a bexiga ou os rins, qualquer complicação seria fatal. Isso ocorreu sob a forma de ‘edema dos pulmões’, uma consequência comum do repouso prolongado numa cama. A aeração inadequada das bases dos pulmões leva ao edema, o que aumenta a carga de esforço sobre o coração. A condição de Billie já era séria demais sem esta tensão.”

Das dezenas de reedições americanas e traduções nos mais variados idiomas, a que eu fiz para a Zahar em 2003 é a única que conta a história completa de Billie Holiday. Verifiquei pela Estante Virtual que ainda existem exemplares da tradução de 1985 da Brasiliense, mas a edição da Zahar está praticamente esgotada – o que mostra a sua boa aceitação. Sinto-me gratificado por ter acrescido, às 204 páginas da autobiografia original, onze páginas de novas informações. Entre elas a antevisão que Billie teve do seu destino ao afirmar: “Você não é ninguém nos Estados Unidos antes de morrer. A partir daí, você é a maior.”

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Réveillon de Copacabana segundo os fotógrafos da Manchete: o panorama de uma tradição que faz uma pausa enquanto a vacina não vem


A foto de Armando Borges em página dupla da Manchete, em 2000. Foi a saideira. Naquele mesmo ano, em agosto, a Bloch foi à falência. 

A foto de João Silva, em 1987, mostra o réveillon de Copacabana com luzes, cores e a multidão chegando e que faria a fama do espetáculo em todo o mundo. Ao fundo, a cascata de fogos do Méridien, extinta em 2004.

O fotógrafo Raimundo Costa fez, em 1985, uma panorâmica da virada em Copacabana. Manchete fazia uma prévia ainda básica do que se ampliaria muito mais nos anos seguintes. A cena se tornaria clássica nas páginas da revista.

1984: com fotos do alto, Manchete focalizava pela primeira vez o novo ângulo do réveillon de Copacabana. O crédito era de equipe, não sendo possível identificar com precisão o autor da foto, mas ´provavelmente foi o Nilton Ricardo, que registrou muitas vezes essa cena. Ressalte-se que a reprodução obtida não traduz a qualidade da página dupla de abertura da edição daquele ano.  


Em 1981, com fotos de Frederico Mendes, a edição da Manchete ainda destacava a celebração de Iemanjá em Copacabana e reservava a maior parte das páginas para a cobertura de festas privadas com celebridades e socialites.


por Ed Sá 

Uma tradição carioca sucumbe ao vírus. A prefeitura do Rio de Janeiro cancelou os fogos e a aglomeração em Copacabana na virada do ano. A praia estará em silêncio, não haverá shows e estão proibidos equipamentos de som nos quiosques. Se o povo vai obedecer, é outra história. A noite calma na areia deverá remeter aos anos 19601970, quando os cariocas comemoravam o réveillon em boates, clubes e em reuniões familiares. As areias de Copacabana recebiam umbandistas e candomblecistas. A noite era de Iemanjá. 

Manchete fez, durante anos, ensaios fantásticos dessas cerimônias que atraíam principalmente os adeptos das religiões afro e turistas estrangeiros. 

Foi no final da década de 1970 e começo dos anos 1980 que a Churrascaria Mariu's, no Leme, passou a fazer uma queima de fotos na areia em frente ao restaurante. Na mesma época, alguns hotéis das Av. Atlântica celebravam a virada com espetáculos pirotécnicos, ainda modestos. Em 1987, surgiria a famosa cascata do Hotel Méridien, que logo se tornou uma atração a mais. 

A primeira edição de  réveillon da Manchete a dar maior destaque aos fogos e publicar uma foto panorâmica da celebração, já com a praia atraindo milhares de pessoas, foi a de 1984. A partir daí, a festa só cresceu. Em 1985, o fotógrafo Raimundo Costa repetiu a foto aberta, a partir do terraço de um hotel, ainda com poucas luzes no céu. A cena se tornaria um clássico da Manchete nos anos seguintes. A cada ano, aquela imagem ganhava mais importância, era promovida a capa e página dupla.  Em 1987, o fotógrafo João Silva repetiu a composição já então com maior impacto visual. E os jornais do Rio começavram a explorar a panorâmica nas primeiras páginas, com a praia cada vez mais iluminada e lotada,  a avenida com luzes mais brilhantes, fogos mais poderosos e maior duração de queima. Depois vieram os grandes shows de artistas brasileiros e estrangeiros. Rod Stewart baixou em Copa em 1994, a Manchete registrou. E os Rolling Stones fizeram a praia explodir de gente em 2006, quando a Manchete não estava mais lá. 

Em 2000, o último réveillon da Manchete (a Bloch faliu em agosto daquele ano) coube ao fotógrafo Armando Borges encerrar o ciclo da revista para páginas duplas e capas do réveillon de Copacabana. Naquele ano, os fogos ainda foram lançados da areia, mas um acidente com vítimas transferiu a queima para balsas a partir de 2001. Três anos depois, o Corpo de Bombeiros proibiu a cascata de fogos do Méridien. O réveillon de Copacabana mudou, mas foi em frente, já então como um dos maiores espetáculos do mundo, capaz de atrair cerca de três milhões de pessoas. 

A festa, que passou a concorrer com o Carnaval em número de turistas nacionais e internacionais, só não resistiu à pandemia. 

Fica para o ano que vem. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Terrorista de Nashville achava que a 5G mata pessoas. O pessoal que acredita em teorias da conspiração começa a ficar perigoso...

Depois de identificar o terrorista de Nashville, a polícia americana começa a  desvendar os mistérios que cercam o motorhome-bomba. Antony Warner, o homem que planejou o atentado e morreu na explosão, queria atingir a AT&T. Ainda falta muito a apurar, segundo os investigadores, mas os primeiros indícios levam à conclusão de que o terrorista acreditava que a tecnologia 5G está matando pessoas. A morte recente do pai o levou a desenvolver essa teoria. E daí o plano para atingir um centro de dados da empresa telefônica. Se confirmada a motivação, é bom ter cuidado com os malucos terraplanistas, antivacinas, antimáscara, 5G e outros. Podem deixar de ser apenas ridículos e se transformarem em hordas perigosas. 

Fora do campo, a imagem do Neymar é de pereba

 


Neymar assume publicamente que é bolsonarista, visita o sociopata no palácio e, deduz-se, concorda com a insanidade e o comportamento do parça. Recentemente, quando do episódio de racismo durante o jogo do PSG contra o Istambul, a mídia destacou a participação de Neymar, aderindo à decisão de abandonar o campo em protesto contra a agressão racial ao auxiliar técnico do time turco. Aparentemente, aquilo foi um ponto fora da curva. Ao promover uma festão em Mangaratiba, em pleno avanço da pandemia no Rio de Janeiro, o jogador volta a mostrar um lado nada solidário e compromete um pouco da sua imagem no Brasil e no mundo. As redes sociais condenam a atitude de quem despreza milhares de vítimas da Covid e, lá fora, os jornais também destacam a irresponsabilidade do anfitrião desse pagode viral. Alguém reparou que Neymar começa a sumir das campanhas publicitárias? Será por acaso? Provavelmente não. É normal marcas pesarem dez vezes antes de se ligarem a figuras polêmicas. Claro que isso afeta pontualmente o bolso do jogador, mas não a fortuna que acumulou até aqui. 

Por tudo isso, a imagem do brasileiro fora de campo não é lá essas coisas. 

Dentro no campo, ele viverá em 2021 um ano decisivo. O PSG levou Neymar com um único objetivo: ganhar um título continental. Até agora não recebeu esse retorno. 

Para ser apenas campeão francês não terá valido a pena gastar tanto.  É como se o Flamengo comprasse o Messi para ser campeão da Libertadores e levasse apenas o título carioca.     

domingo, 27 de dezembro de 2020

Brasil na rabeira da vacinação. E não existe imunização para incompetência, má fé e fanatismo ideológico

por Flávio Sépia

Mais de 40 países estão fazendo campanhas de vacinação neste domingo.  E cerca de quatro milhões de pessoas já foram vacinadas no mundo. 

O Brasil  não faz ideia de quando começará  a imunizar a população em campanha nacional. Não que falte tudo: o governo só não tem a vacina, a seringa, a competência, a vontade e a condição moral para enfrentar a tarefa.  

O Globo de hoje publica matéria sobre a "Geopolítica da Covid" onde informa que "países de alta renda dão as cartas no acesso às vacinas e os mais pobres ficam para trás". Em parte é verdade, segundo o Duke Global Health Innovation Center, da Carolina do Norte (EUA). Mas vários países fora do G-7 mostram que a eventual barreira não é intransponível. O Chile, por exemplo, aparece em sétimo lugar, tendo encomendado vacinas suficientes para o dobro da sua população. O México já tem contratos para compra de doses suficientes para mais da metade da população. Em vacinas encomendadas, o Brasil aparece atrás da Argentina e supera os hermanos apenas no vago quesito de "doses em negociação". 

A verdade é que vacina efetivamente comprada só a Coronavac adquirida por São Paulo. O governo federal tem, por enquanto, um memorando de compra, uma espécie de promessa, assinado com a Pfizer no tardio dia 10 de dezembro.  E um acordo de parceria da Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para fabricação da Astrazênica. E espera receber doses do consórcio Covax Facility, da OMS, criado para contornar a ameaça de monopólio dos países ricos  e levar a vacina aos pobres. A maioria das nações adquire vacinas de várias procedências porque uma ou duas marcas não vão alcançar produção suficiente para atender aos mercados globais em 2021. Aqui, o governo federal segue a cartilha de Bolsonaro que renega a pressa, torce contra por motivos políticos, tem surtos ideológicos e não comprou, até agora, as vacinas desenvolvidas pelo chineses (Coronavac) e pelos russos (Sputnik V). Também não se habilitou a comprar a Moderna. Os governadores dos estados do Paraná, Bahia e Maranhão têm negociações em andamento para compra da Sputnik. Ceará assinou acordo com o Butantã para compra da Coronavac.

Fora o esforço de alguns governadores e prefeitos, o Brasil está catatônico e na rabeira.

O dia em que Betty Friedan encurralou Adolpho Bloch • Por Roberto Muggiati

Tiroteio no "Bloch Corral": no centro da foto, Betty Friedan e Adolpho Bloch. A imagem é uma reprodução precária de uma edição da Manchete (de 1° maio de 1971), mas vê-se, de camisa branca, Renato Sérgio; Heloneida Studart, de óculos;  Tânia Quintilhiano, sentada, de cabelos curtos; e, à esquerda da foto, em primeiro plano e de mão erguida, Vera Gertel. Em torno da entrevistada, reuniam-se, ainda, outros jornalistas das revistas da Bloch. A foto é de Sebastião Barbosa.

A primeira vez em que o salão do décimo andar do prédio do Russell ficou lotado para uma entrevista coletiva foi durante a visita da feminista Betty Friedan à Manchete em 1971. 

Já em 1792 a inglesa Mary Wollstonecraft publicava Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher. Em O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir introduzia em 1949 a discussão do tema entre a intelectualidade. Mas foi Betty Friedan – lidando com fatos concretos ao invés de teses filosóficas – quem jogou no ventilador a ideia do feminismo para a mulher da classe média americana, ao publicar A Mística Feminina em 1963. A luta pela igualdade dos sexos caiu como uma bomba no caldeirão dos movimentos radicais que agitavam os sixties. O movimento assumiu a designação genérica de Women’s Lib(eration), com facções radicais dispostas até a pegar em armas pela causa, como a SCUM, da radical Valerie Solanas, autora de um atentado a tiros contra o célebre artista pop art Andy Warhol, considerado o símbolo do “machão porco-chovinista”. Filha de judeus russo e húngara, Bettye Naomi Goldstein desde cedo militou em movimentos marxistas e judaicos. Em 1966, fundou e foi eleita presidente da NOW (National Organization for Women), que visava a integrar as mulheres “à corrente principal da sociedade americana, com participação total e igual à dos homens.” 

No Brasil, o movimento feminista confundiu-se com a resistência contra a ditadura militar. Após a decretação do AI-5 no final de 1968, muitas mulheres pegaram em armas e enfrentaram ações arrojadas – como o sequestro de embaixadores – durante os Anos de Chumbo. Uma destas – participou do “confisco” do mitológico cofre de Adhemar de Barros – se elegeria Presidente do Brasil quarenta anos depois: Dilma Rousseff.

Foi nesse clima que Betty Friedan encontrou o Rio em 1971. Redatores(as) e repórteres de todas as revistas da Bloch – àquela altura eram mais de uns dez títulos – comprimiram-se no salão do décimo andar do primeiro prédio do Russell, que até 1980 receberia celebridades do mundo inteiro – do Dr, Christiaan Barnard a Mtislav Rostropovich, da Princesa Alexandra de Kent ao cineasta Franco Zeffirelli, do criador da aeróbica Kenneth Cooper ao best seller Sidney Sheldon. 

Claro que Adolpho Bloch não poderia perder aquela oportunidade de brilhar em público. Gostava de comparecer como penetra de luxo aos eventos jornalísticos da sua empresa, mas daquela vez se deu mal. A palavra ainda não existia, mas Adolpho padecia de um incurável “machismo estrutural”. E Betty Friedan conhecia todos os cacoetes da cultura judaica. Rebatendo os chistes antifeministas baratos de Adolpho, ela arrancou dele informações pontuais que o caracterizavam como um típico “filhinho de íidiche mame.” 

Caçula, Adolpho tornou-se aos 50 anos – com a morte súbita dos irmãos Arnaldo e Boris – o filho varão único, reinando sobre as mulheres da família. Revelou ainda, inadvertidamente, que só tinha casado depois dos trinta anos. Betty o tripudiou por ter vivido tempo demais debaixo das saias da mãe.

Além disso, casou com uma Miss – Lucy Mendes, Miss Rio Grande – engraçado, os dois principais artífices da Manchete, a revista das Misses, casaram com uma Miss, Justino Martins com a primeira Miss Brasília, Martha Garcia. 

Adolpho tinha então 62 anos, Betty 50. Castigado pelos negócios e pela idade, ele morreria em 1995, aos 87. Betty morreu em 2006 no dia em que completava 85 anos. 

Voltando à coletiva do décimo andar: sentindo-se em inferiorizado no debate, Adolpho bateu em retirada e, pretextando uma reunião de negócios, deixou Betty Friedan com os jornalistas, livres para fazerem o seu trabalho. A matéria publicada na Manchete, assinada por Heloneida Studart, intitulou-se “Betty Friedan: ‘O segundo sexo quer ser igual ao primeiro.’” Entre outras coisas, foi lembrada a frase do livro que justificava seu título: “Toda mulher é criada como tendo sua própria cruz para carregar caso não consiga ser o clone perfeito do macho super-homem e o clone perfeito da mística feminina.” 

sábado, 26 de dezembro de 2020

O espião que foi para o frio - Morre em Moscou, aos 98 anos, George Blake, o agente duplo que era uma lenda da Guerra Fria



George Blake era um mito da espionagem na Guerra Fria. Manchete publicou várias matérias sobre ele. Acima, o espião em foto dos anos 1950 e... 

já em Moscou, na década de 1960, depois de uma fuga espetacular de uma prisão britânica. Reprodução Manchete

por Jean-Paul Lagarride 

Morreu hoje em Moscou, ao 98 anos, uma lenda da espionagem. O holandês George Blake, que entrou para a inteligência britânica durante a Segunda Guerra, era um dos mais ativos espiões da Guerra Fria. Tornou-se agente duplo para a União Soviética no começo dos anos 1950, quando se revoltou ao testemunhar o massacre das populações civis da Coreia do Norte pelos bombardeios da aviação americana. Declarava-se marxista-leninista e não se considerava um traidor. Preso, foi condenado a 42 anos, mas logo fugiu de uma prisão londrina e se exilou em Moscou, onde recebia aposentadoria da KGB. A morte de Blake foi informada por Serguei Ivanov, porta-voz da inteligência russa. "Ele amava sinceramente nosso país, admirava as façanhas do nosso povo durante a Segunda Guerra Mundial", disse. O presidente Vladimir Putin expressou condolências à família. É provável que Blake seja enterrado em Moscou como honras militares. Em vida, ele já era celebrado como herói pela URSS, que lhe deu o posto de coronel.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O ano da Covid também foi marcado por duas doenças sociais: o racismo e o feminicídio

A Revista Família Tupi incluiu o Feminicídio e o Racismo entre os temas do ano. Roberto Muggiati abordou a violência contra a mulher, a partir do assassinato de Ângela Diniz... 



...e a repórter Dani Maia registrou a reação da sociedade contra o avanço do preconceito. 


Feita por revisteiros (*) ex-Manchete  para a Rádio Tupi FM, a Revista Família Tupi Especial de Natal e Ano Novo apontou como Temas do Ano o racismo e o feminicídio. 

A publicação, que foi para a gráfica no dia 7/12 e está nas bancas desde o fim de semana seguinte, chama a atenção para a incidência de crimes com essas características ao longo de 2020. 

Infelizmente, na saideira do ano, novos fatos referendam as pautas. 

No dia 9/12, durante jogo do PSG contra o Istambul Basaksehir, pela Liga dos Campeões, o quarto árbitro Sebastião Coltescu proferiu ofensa racista contra Pierre Webo, ex-jogador e atualmente auxiliar técnico do time turco. Os demais jogadores se revoltaram, interpelaram o árbitro e se retiraram de campo. Pela primeira vez na história, um jogo de futebol foi suspenso em protesto contra o racismo. A partida só foi retomada no dia seguinte. E no dia 20/12, em jogo no Maracanã,o Brasil assistiu à indignação do jogador Gerson, do Flamengo, que denunciou em campo ter sofrido ofensa racial por parte de Ramirez, jogador do Bahia. Os dois acontecimentos reacenderam na mídia a discussão sobre o racismo e o feminicídio, crimes em alta no Brasil. 

A repórter Dani Maia, ex-Contigo! e colaboradora da Família Tupi, abordou o racismo a partir dos casos George Floyd, assassinado pela polícia nos Estados Unidos, e João Alberto, o soldador morto por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre. A matéria registra a opinião de militantes do movimento negro que pedem união contra o racismo. 

O outro tema do ano apontado pela Família Tupi - o feminicídio - se evidenciou ontem de forma cruel. A juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi foi morta a facadas na frente das três filhas, na véspera do Natal. O suspeito, o ex-marido dela, o engenheiro Paulo José Arronenzi, foi preso em flagrante. Viviane estava antes sob proteção policial por ter sofrido lesão corporal e ameaças do ex-marido. A pedido de uma das filhas, que teria dito que o pai não era bandido, ela havia dispensado a escolta. 

Na noite de Natal, Thalia Ferraz, 23 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro, que está foragido.. O crime aconteceu em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. O assassino enviou mensagem pouco antes avisando a Thalia que faria uma "surpresa".

Em Recife, o sargento Ademir Tavares de Oliveira matou a tiros, também na noite de Natal, a esposa Ana Paula dos Santos. O assassino foi preso em flagrante.

A revista registra o aumento dos casos de feminicídio em 2020, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública,  e pontua o tema através de matéria sobre um caso marcante: o assassinato de Ângela Diniz, em dezembro de 1976, em Búzios, alvo de tiros desfechados no rosto pelo empresário Doca Street. O texto, assinado por Roberto Muggiati, conta que no primeiro julgamento do assassino, o seu advogado, Evandro Lins e Silva, conseguiu livrá-lo da cadeia usando o odioso argumento de "legítima defesa da honra". Na época houve protestos. Só em segundo julgamento, Doca Street, que morreu no último dia 18, foi condenado a 15 anos de prisão. 

O Brasil vive dias em que a ultradireita se manifesta nas redes sociais invariavelmente tentando minimizar esses dois tipos de crimes, às vezes até depreciando as vítimas. Neste crítico 2020, a mídia em geral teve um papel importante ao aprofundar o debate sobre racismo e feminicídio, ao dar espaço aos protestos, denunciar os crimes e expor essas graves questões. Que 2021 se mostre mais civilizado.

(*) José Esmeraldo Gonçalves, Dirley Fernandes, Sidney Ferreira, Alex Ferro, David Júnior, Tânia Athayde e Roberto Muggiati.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Exclusivo - Previsões de Allan Richard Way II. O vidente diz que 2021 será um "2020 com vacina". Melhor, mas nenhuma maravilha.


Foto Istock

Allan Richard Way II,  herdeiro de Allan Richard Way, o famoso vidente que durante anos fez previsões para a Manchete, anuncia que já foi devidamente vacinado pelo National Health Service, o Serviço Nacional de Saúde britânico, e informa que não sofreu quaisquer reações. Suas previsões para 2021 foram concluídas e enviadas ao Brasil, dessa vez através de um ex-aluno em especial cortesia de malote diplomático.


POR ALlAN RICHARD WAY II (By order ARW 2021)


* Virão à tona novos casos de corrupção envolvendo nomes do alto escalão relacionados a transferências de dinheiro de organizações criminosas ligadas ao mercado imobiliário e ao comércio de armas. Apesar da repercussão, o escândalo será abafado.  

* Um importante museu será destruído em incêndio de grandes proporções. 

* Figura da República morrerá em acidente aéreo. 

* A economia do país recuará em 2021. O ministro da Economia será demitido. Para seu lugar será indicado um sargento da Intendência. Haverá reação das entidades financeiras e empresariais. 

* No Brasil, a vacinação acontecerá em meio a desorganização. Manifestantes de seita contrárias à vacinação farão piquetes em postos. Haverá protestos com queima de máscaras. A pandemia se arrastará até o segundo semestre do ano. A nota dramática é que um bolsominion se imolará na Avenida Paulista ateando fogo a uma camisa amarela da CBF em protesto contra a vacina.

* Bandidos de poderosa facção invadirão depósitos e roubarão grande quantidade de vacinas, que serão vendidas no mercado ilegal e em países vizinhos, especialmente o Paraguai. As chamadas milícias entrarão no milionário negócio da vacinação privada.

* Site revelará desvios de vacinas para imunizar com prioridade pessoas com ligações poderosas: políticos e famílias, desde prefeitos passando por vereadores, deputados, ministros, senadores e governadores e cantores sertanejos. Suspeita de que núcleo do Planalto receberá vacinas na calada da noite. Pastores, juízes, donos de clubes de tiro e demais empresários ligados ao governo também serão beneficiados.

* Um dos mais famosos atores brasileiros morrerá subitamente em sua fazenda. 

* Os executores de Marielle Franco e Anderson Silva serão condenados. A Justiça não informará quem foram os mandantes do crime. 

* O ministro do Meio Ambiente anunciará um plano para lotear a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele argumentará que se a mata for ocupada será mais fácil preservá-la. 

* O ministro do Meio Ambiente anunciará que parte da Amazônia será terceirizada para organizações sociais ligadas a igrejas que já atuam na região. 

* Os órgãos responsáveis pelo Patrimônio Nacional finalmente localizarão a goiabeira onde uma ministra do atual governo deparou-se com Jesus, segundo ela. O Ministério do turismo transformará o local em sítio sagrado e os brasileiros serão incentivados a visitar a árvore em peregrinação pelo menos uma vez por ano. Quem comprovar a ida ao local participará do sorteio de uma viagem à Terra Santa. 

* Escândalo na corte. Vazará um vídeo íntimo de importantes autoridades. Cenas terão sido gravadas em apartamento reservado para encontros decorado em verde e amarelo. Os figurões em questão não demonstrarão nas suas performances qualquer preconceito contra gêneros, muito ao contrário. Mulheres aparecerão fantasiadas de generais, portando fuzis. O vídeo será divulgado por uma organização internacional de hackers.

* O São Paulo será campeão mundial em 2021. 

* O Brasil registrará um das suas piores performances na Olimpíada

* O STF terá duas vagas a serem preenchida no próximo ano. 

* Mesmo número de vagas a serem abertas na Academia Brasileira de Letras. O governo tentará emplacar Olavo de Carvalho. 

* Rompimento de barragem causará tragédia em Minas Gerais. A Vale do Rio Doce culpará as vítimas e pedirá indenização.

* Grande derramamento de petróleo atinge litorais de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santos. governo culpará Joe Biden e Nicolás Maduro, nessa ordem

* Apagão atingirá vários estados, incluindo o Rio de Janeiro onde só não faltará luz no Condomínio Vivendas da Barra.  

* Forças Armadas simulam invadir os Estados Unidos. O treinamento acontecerá na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, local que, segundo os estrategistas militares, é muito assemelhado a Miami por onde as tropas brasileiras deverão adentrar no país de Joe Biden. O dia da invasão entrará para a história como o DIA B.

* O Vaticano estudará liberar a maconha

* Donald Trump visitará o Brasil. Pedirá apoio para voltar ao poder alegando que houve fraude nas eleições. Brasília colocará as Forças Armadas à disposição do americano e sugerirá  que Trump seja nomeado presidente autoproclamado dos Estados Unidos.

* Investigação nos Estados Unidos apura suposto pagamento de propina a Trump relaionado a venda de caças para um país do Oriente Médio. O ex-presidente também é acusado de comprar com dinheiro público 5 mil tubos de fixador, máscara capilar, hidratante e tintura de saturação tonalidade mel para cabelos.

* Donald Trump será detido por agentes do serviço secreto por ser flagrado perambulando nos jardins da Casa Branca portando um cartaz em que pede a anulação das últimas eleições. Ele baterá panelas e acordará o presidente Joe Biden. 

* Importante grupo de comunicação entrará em regime de recuperação fiscal.

* Morre atleta muito famoso.

* Um casal importante se separará. O motivo envolverá uma conjugação do verbo na terceira pessoa do singular.

* Brasil viverá drama social com índices de desemprego que não recuarão da casa dos 15 milhões de pessoas. O ministro da Economia e os jornalistas de mercado culparão os desalentados, os deprimidos, os desanimados, os esmorecidos, os prostrados e os acabrunhados. 

* Mídia denunciará formação de grupos paramilitares clandestinos no Brasil voltados para ações políticas. 

* Atuação das milícias do Rio de Janeiro chegará a trechos de bairros da Zona Sul após conquista de territórios que pertenciam ao tráfico..

* Desabamento de prédio comove o país.

* Direita perde terreno no Leste Europeu, mas avança na França. 

* Reino Unido sofre efeitos do Brexit, apesar de acordo, e recorrerá aos Estados Unidos para criação de de zona especial de comércio privilegiado com os Estados Unidos. Joe Biden resiste à ideia.

* China fará exercícios militares e estocará toneladas de removedor de tinta depois do ministro das Relações Exteriores do Brasil declarar que esgotada a diplomacia terá chegado a hora de enviar uma tropa de assalto das Forças Armadas para pintar de branco as árvores e o meio fio das ruas de Pequim. . 

* Deputado pede investigação sobre a milionária compra de Cloroquina feita pelo governo brasileiro. O objetivo será saber quem ganhou dinheiro na transação.

* O Brasil sofrerá aceleração das queimadas no segundo semestre do ano. Mas dessa vez a reação internacional será mais forte. Ecologistas exigirão extradição de Bolsonaro e Ricardo Salles.

* Famosos cantor sertanejo morrerá vitima de acidente automobilístico em estrada do Centro-Oeste.

Novo escândalo de assédio abalará a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Dessa vez um deputado se defenderá afirmando que "ouvia vozes do diabo" mandando passar a mão em funcionárias. O deputado acusado, considerado um "homem de bem", receberá a solidariedade dos colegas.

* 2021 será considerado um ano pré-eleitoral. No segundo semestre, aparecerão vários pré-candidatos. Obterão legendas um general, um delegado da PF, um bombeiro, um guarda civil, um PM, um escoteiro, um segurança, um miliciano, um templário, um pastor, um apresentador de TV, um produtor de fake news, um ex-Lava Jato e um ex-doleiro.

Democracia continuará ameaçada no Brasil.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Crivella foi preso, virou piada e memes. Mas riu por último. Vai ficar de boa, em casa, no QG, tranquilão.

 

O problema é que Crivella, que tem preconceito contra símbolos das religiões afro, debochou de Zé Pilintra ao associar a entidade com o chapéu usado por Eduardo Paes. Sem passagem pela polícia como o elemento que o ofendeu, Zé deu o troco no prefeito suspeito de presidir o QG da Propina. 

O clã Bolsonaro fechou com Crivella na eleição. Não ajudou e ainda sai respingado pelo lamaçal.

Não foi dessa vez. Com costas largas, Crivella passou apenas algumas horas preso. Nem bem foi preso, ganhou uma "saidinha de Natal" antecipada. E deve voltar para o conforto do lar. 

O jornalismo da Record é famoso por seguir o manual de redação dos pastores. Para a emissora do "bispo", Crivella não foi preso, apenas convidado para dar um passeio com os tiras. 


Márcia era a quebra-galho do Crivella. A do famoso "fala com a Marcia". Ontem, a assessora não ajudou: Crivella foi acordado às 6 da manhã como meliante suspeito. 
A adaptação musical do compositor Edu Krieger bombou nas redes sociais, apesar de Crivella rir por último. Veja AQUI