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segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Dos arquivos da Manchete: Jean-Paul Belmondo e o Rio de Janeiro...

Jean-Paul Belmondo e Laura Antonelli no Corcovado, em 1974. O ator quis ficar incógnito da cidade. Manchete o localizou. Foto Frederico Mendes/Manchete

 

Em 1963, ele filmava "O Homem do Rio" e posou para Manchete na Praça Maupa. Foto de Antonio Nery/Manchete

Belmondo brincalhão: em frente ao Museu Naval, o ator faz continência para um oficial. Foto de Antonio Nery/Manchete

por Jean-Paul Lagarride

"Ele estava cansado". Foi o comunicado do advogado de Jean-Paul Belmondo quando os repórteres indagaram sobre a causa da morte do ator. Ele morreu hoje, em casa, em Paris, tranquilamente, segundo a família, aos 88 anos. Belmondo fez 80 filmes. Um deles, "O Homem do Rio", de Philippe de Broca, filmado no Brasil. Sua carreira inclui de filmes da nouvelle vague, como "O Acossado" e "Pierrot Le fou", de Goddard, a  "A Sereia do Mississipi", de François Truffaut, "Borsalino, de Jacques Deray, "Os Miseráveis, de Claude Lelouch.  

Cena do último filme de Belmondo, em 2008. Foto Divulgação

Em 2001, um derrame o deixou gravemente incapacidado por sete anos. Só voltou a filmar em 2008 sob  a direção de Francis Huster em "Un homme e son chien", uma refilmagem de "Umberto D", de Vittorio De Sica. Em 2017, ele participou  da comédia "Coup de Chapeau". E em 2019 participou do documentário "Le Fantôme de Laurent Terzieff".

Belmondo veio ao Rio em outras duas ocasiões, além dos dias que passou na cidade para as filmagens de "O Homem do Rio". Em uma das visitas, acompanhado da atriz Laura Antonelli, quis ficar incógnito, mas Manchete o achou. Ficou irritado ao ser fotografado, mas logo recuperou o humor.


quinta-feira, 29 de abril de 2021

Bombas do Riocentro - 40 anos - "É saber da viola, da violência"...

 


por José Esmeraldo Gonçalves 

No dia 30 de abril de 1981 o anúncio acima foi publicado nos jornais do Rio. Convidava os cariocas para o Show de 1° de Maio, "o maior acontecimento musical de todos os anos". De fato, o elenco era excepcional. Estariam no palco do Riocentro 30 atrações. A MPB em peso. Entre outros A Cor do Som, Alceu Valença, Frenéticas, Beth Carvalho, Clara Nunes, Elba, Chico Buarque, Djavan, Francis Hime, Gal Costa, Gonzaguinha e Paulinho da Viola fariam o espetáculo realizado pelo Centro Brasil Democrático, com roteiro de Chico Buarque e direção de Fernando Peixoto. 

Na madrugada anterior, homens não identificados percorreram as vias de acesso ao Riocentro, na Barra da Tijuca, pichando placas de trânsito e muros com a sigla VPR. Dentro do Centro de Convenções também havia paredes pichadas com as três letras. Pouca gente entendeu a referência à Vanguarda Popular Revolucionária, uma organização que lutou contra a ditadura até 1971 quando, após a morte em ação do seu último comandante, optou pelo encerramento das atividades.  Os mais informados podem ter até estranhado o "ressurgimento" da VPR, que naquele começo de década era apenas história.. 

No mesmo momento em que o público  - o show recebeu 28 mil pessoas - se dirigia ao Riocentro pelo menos dois carros, um deles o esportivo Puma, enfrentavam o trânsito na estrada Grajaú-Jacarepaguá rumo á Barra. Ninguém naquele engarrafamento poderia imaginar que os ocupantes daqueles veículos não estavam nem aí para música. Eles transportavam bombas. 

Ao acessar o estacionamento do Riocentro, o pequeno comboio se separou. Um dos carros , o Puma, foi para a área reservada aos veículos dos artistas e da produção do evento  O outro parou perto da casa de força. Posicionados, aguardaram o começo do show. 

Foto de Frederico Mendes publicada pela Manchete na edição que foi para as bancas na quarta-feira seguinte ao atentado.

A bordo do Puma, os dois militares devem ter ouvido Elba Ramalho, uma das primeiras a se apresentar, cantando Banquete dos Signos, de Zé Ramalho. Versos como "discutir o cangaço com liberdade/É saber da viola, da violência/Descobrir nos cabelos inocência/ É saber da fatal fertilidade" foram provavelmente a última coisa que ouviram. Fora do planejamento do atentado, uma das bombas explodiu no colo de um dos ocupantes do Puma, o sargento Guilherme Rosário, que morreu no local. Ao lado, o capitão Wilson Machado foi gravemente ferido, mas sobreviveu. Pouco depois, uma bomba lançada pelos ocupantes do outro carro explodiu próximo à caixa de força, mas sem atingi-la. Outras duas bombas que não explodiram foram encontradas no Puma. Investigações posteriores desvendaram o que seria o desdobramento do atentado que falhou logo nessa etapa inicial. A destruição da casa de força cortaria a energia e, em seguida, a "equipe" do Puma armaria os três petardos para serem detonados no interior do Riocentro. Os terroristas contavam com um número considerável de mortos vítimas das explosões ou do pânico que se instalaria na multidão. Como parte do planejamento,  23 dos 28 portões estavam fechados. O atentado seria atribuído à esquerda. A pichação da sigla VAR deveria induzir à armação burlesca. O país ficaria chocado com a ação dos "comunistas" e condenaria a abertura política, algo que o grupo linha dura, a ultradireita do regime, não aceitava. Uma força-tarefa foi montada pelo Exército para apurar o atentado frustrado. 


A conclusão: o sargento morto e o capitão ferido estavam "a serviço" no local e foram vítimas de um atentado. A mídia censurada não pode avançar na apuração. O caso foi arquivado. Em 1999, a investigação foi reaberta, desvendou todo o mecanismo, fechou pontas soltas e o nomeou o grupo responsável pelo atentado. O capitão Wilson foi condenado por homicídio culposo, outros participantes foram indiciados, mas o caso foi mais uma vez arquivado. Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade concluiu que o ato terrorista foi um ação articulada pelo Estado brasileiro. 

Ninguém jamais foi punido. 


Já despontava a madrugada do dia 1° quando show chegou ao fim. A plateia do Riocentro não percebeu o que aconteceu no lado de fora. Só quando Gonzaguinha subiu ao palco e informou ao microfone que  "pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar" o público tomou conhecimento do atendado que, felizmente, havia falhado. 

Nos dias seguintes, com as primeiras revelações que os jornais e revistas publicaram, antes do cerco da censura, aquelas milhares de pessoas souberam que escaparam da morte.  

OUÇA BANQUETE DOS SIGNOS AQUI

Atualização em 30 de abril de 2021
Por sugestão de um leitor, postamos links para vídeos do local e do show Riocentro AQUI

Voz do Gonzaguinha no palco do Riocentro AQUI

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Réveillon de Copacabana segundo os fotógrafos da Manchete: o panorama de uma tradição que faz uma pausa enquanto a vacina não vem


A foto de Armando Borges em página dupla da Manchete, em 2000. Foi a saideira. Naquele mesmo ano, em agosto, a Bloch foi à falência. 

A foto de João Silva, em 1987, mostra o réveillon de Copacabana com luzes, cores e a multidão chegando e que faria a fama do espetáculo em todo o mundo. Ao fundo, a cascata de fogos do Méridien, extinta em 2004.

O fotógrafo Raimundo Costa fez, em 1985, uma panorâmica da virada em Copacabana. Manchete fazia uma prévia ainda básica do que se ampliaria muito mais nos anos seguintes. A cena se tornaria clássica nas páginas da revista.

1984: com fotos do alto, Manchete focalizava pela primeira vez o novo ângulo do réveillon de Copacabana. O crédito era de equipe, não sendo possível identificar com precisão o autor da foto, mas ´provavelmente foi o Nilton Ricardo, que registrou muitas vezes essa cena. Ressalte-se que a reprodução obtida não traduz a qualidade da página dupla de abertura da edição daquele ano.  


Em 1981, com fotos de Frederico Mendes, a edição da Manchete ainda destacava a celebração de Iemanjá em Copacabana e reservava a maior parte das páginas para a cobertura de festas privadas com celebridades e socialites.


por Ed Sá 

Uma tradição carioca sucumbe ao vírus. A prefeitura do Rio de Janeiro cancelou os fogos e a aglomeração em Copacabana na virada do ano. A praia estará em silêncio, não haverá shows e estão proibidos equipamentos de som nos quiosques. Se o povo vai obedecer, é outra história. A noite calma na areia deverá remeter aos anos 19601970, quando os cariocas comemoravam o réveillon em boates, clubes e em reuniões familiares. As areias de Copacabana recebiam umbandistas e candomblecistas. A noite era de Iemanjá. 

Manchete fez, durante anos, ensaios fantásticos dessas cerimônias que atraíam principalmente os adeptos das religiões afro e turistas estrangeiros. 

Foi no final da década de 1970 e começo dos anos 1980 que a Churrascaria Mariu's, no Leme, passou a fazer uma queima de fotos na areia em frente ao restaurante. Na mesma época, alguns hotéis das Av. Atlântica celebravam a virada com espetáculos pirotécnicos, ainda modestos. Em 1987, surgiria a famosa cascata do Hotel Méridien, que logo se tornou uma atração a mais. 

A primeira edição de  réveillon da Manchete a dar maior destaque aos fogos e publicar uma foto panorâmica da celebração, já com a praia atraindo milhares de pessoas, foi a de 1984. A partir daí, a festa só cresceu. Em 1985, o fotógrafo Raimundo Costa repetiu a foto aberta, a partir do terraço de um hotel, ainda com poucas luzes no céu. A cena se tornaria um clássico da Manchete nos anos seguintes. A cada ano, aquela imagem ganhava mais importância, era promovida a capa e página dupla.  Em 1987, o fotógrafo João Silva repetiu a composição já então com maior impacto visual. E os jornais do Rio começavram a explorar a panorâmica nas primeiras páginas, com a praia cada vez mais iluminada e lotada,  a avenida com luzes mais brilhantes, fogos mais poderosos e maior duração de queima. Depois vieram os grandes shows de artistas brasileiros e estrangeiros. Rod Stewart baixou em Copa em 1994, a Manchete registrou. E os Rolling Stones fizeram a praia explodir de gente em 2006, quando a Manchete não estava mais lá. 

Em 2000, o último réveillon da Manchete (a Bloch faliu em agosto daquele ano) coube ao fotógrafo Armando Borges encerrar o ciclo da revista para páginas duplas e capas do réveillon de Copacabana. Naquele ano, os fogos ainda foram lançados da areia, mas um acidente com vítimas transferiu a queima para balsas a partir de 2001. Três anos depois, o Corpo de Bombeiros proibiu a cascata de fogos do Méridien. O réveillon de Copacabana mudou, mas foi em frente, já então como um dos maiores espetáculos do mundo, capaz de atrair cerca de três milhões de pessoas. 

A festa, que passou a concorrer com o Carnaval em número de turistas nacionais e internacionais, só não resistiu à pandemia. 

Fica para o ano que vem. 

terça-feira, 14 de abril de 2020

Fotomemória da redação: Moraes Moreira (1947-2020) encontra Bob Marley (1945-1981)

1980: Moraes Moreira e Bob Marley em dia de pelada no Politheama. Foto de Frederico Mendes/Reproduão Manchete

por Niko Bolontrin

Moraes Moreira, que morreu ontem, no Rio, fará muita falta no atual panorama musical. Sua obra traduziu muitos aspectos do Brasil. O futebol, por exemplo. O baiano de Ituaçu era um apaixonado pelo Flamengo. Por várias vezes uniu seu talento musical à bola. Era também um peladeiro ou gostava de "bater um baba", como se diz na Bahia.

Em 1980, Bob Marley veio ao Brasil para a inauguração da gravadora Ariola.

Manchete cobriu os passos do astro jamaicano do reggae e do movimento rastafári. Fora da agenda oficial, o fotógrafo Frederico Mendes registrou uma pelada no campo do compositor Chico Buarque, o Politheama, que contou, entre outros astros, com Marley, Junior Marvin (do The Wailers), Paulo César Caju, Toquinho, Chico Buarque, Alceu Valença e Moraes Moreira.

O jogo não acabou para Moraes Moreira. Seu talento é eterno.

Dois anos depois daquela pelada do Politheama, Moraes Moreira lançou 'Sangue, Suingue e Cintura", música que homenageava Zico e uma das maiores seleções que o Brasil já montou, a da Copa de 1982. Sim, aquele time fabuloso, que não foi campeão mas virou lenda do futebol mundial, ganhou do baiano genial uma trilha sonora à altura. Ouça a música AQUI

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Fotomemória da redação: Frederico Mendes entrevista um homem das cavernas. No caso, o ex-beatle Ringo...



Em 1980, Manchete enviou o repórter fotográfico Frederico Mendes ao México para encontrar um ex-beatle barbudo e maltrapilho. Era Ringo Starr, que filmava "Caveman - o homem das cavernas".

Depois das primeiras experiências cinematográficas - "Hard Day's Night, Help!, Magical Mystery Tour e Let It Be -, o baterista tentou engrenar uma carreira de ator. Atuou em "Candy', "O filho de Drácula" e outras irrelevâncias.

Não decolou.

Quando Manchete foi encontrá-lo, ele fazia o papel de um troglodita na  comédia pré-histórica que foi lançada em 1981.

Na entrevista, o ex-beatle corrigiu uma frase histórica de John Lennon publicada originalmente no London Evening Standard ("Somos mais populares do que Jesus").

"Não fomos mais importantes do que Jesus", disse Ringo a Frederico Mendes.

Finalmente, Jesus deve ter respirado aliviado.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Programa carioca - 20ª Feira do Vinil - O som dos LPs e a arte das capas.

A Feira de Vinil do Rio comemora sua 20º edição no próximo domingo, dia 8 de abril. No campus da Univeritas, antigo Bennett, no Flamengo, acontecerão shows, uma homenagem ao compositor, pianista e arranjador João Donado, exposição e o painel "Vinil - Mercado, Memória e Mídia".

O revival do vinil - que surgiu há alguns anos e, hoje, está consolidado em todo o mundo -, também despertou, além da questão musical, a arte dos designers e fotógrafos que elaboravam as capas do LPs. Com 30x30 cm, o espaço era um veículo em si. Há capas simples, às vezes duplas e até triplas, que são memoráveis.

Durante a 20° Feira do Vinil, 60 expositores de todo o Brasil mostrarão seus acervos de LPs e CDs.

Na antiga Manchete, em diferentes épocas, eram vários os fotógrafos que se especializaram nesse segmento. Nilton Ricardo, Frederico Mendes, Orlando Abrunhosa, Dario Zalis e Walter Firmo deixavam o fotojornalismo por algumas horas para traduzir em imagens os artistas e suas obras.
Foto de Nilton Ricardo.Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas"

Foto de Walter Firmo. Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas"

Foto de Dario Zalis. Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas". 

Foto de Orlando Abrunhosa. Reprodução do livro "Bambas do Samba, a arte das capas"


Foto de Frederico Mendes.Reprodução do livro "bambas do Samba, a arte das capas"

A Feira de Vinil do Rio de Janeiro

O jornalista Fábio Cezzane envia ao blog informações sobre a Feira, que reproduzimos a seguir.

João Donato. Fotos de Marcos Hermes
Durante o evento, João Donato vai receber o Troféu Feira de Vinil do Rio de Janeiro, já entregue ao longo das últimas edições ao grupo Azymuth, a Marcos Valle, ao compositor e arranjador Arthur Verocai, ao cantor e compositor Carlos Dafé e ao sambista Wilson das Neves. Haverá haverá apresentações das bandas Monoplano, Cajubeats e Digga Digga Duo, estreando, no Flamengo, uma programação que incentiva também as bandas independentes.
Às 15h, acontecerá o painel “Vinil – Mercado, Memória e Mídia”, com a participação dos palestrantes Silvio Essinger (jornalista do jornal O Globo), Arnaldo De Souteiro (jornalista, produtor e colecionador de vinis) e Marcelo Fróes (pesquisador e produtor musical), com a medição do produtor e DJ Marcello MBGroove.

Foto de Marcio Graffiti
A Feira de Vinil do Rio é produzida por Marcello Maldonado e pelo produtor artístico Marcello MBGroove (coletivo Vinil É Arte), com realização da Espelho D’Água Produções e da UNIVERITAS, e apoio do CNA, da Rádio Alpha FM e da Satisfaction Discos. Assim como nas edições anteriores, será cobrada como entrada simbólica 1 kg de alimento, a ser entregue à instituição de caridade Solar Meninos de Luz. Ao longo do dia, vários DJs apresentarão seus sets em vinil, especialistas nos mais variados estilos; MPB, Black Music, Rock, Eletronic. Pela primeira vez em sua história, a Feira do Vinil terá um expositor internacional, a Human Head, diretamente do bairro do Brooklyn, Nova York.

Cerca de 60 expositores de todo o Brasil estarão presentes com discos e CDs. Do Rio, participarão, dentre outros, a Tropicália Discos e a Arquivo Musical, além da Livraria Baratos da Ribeiro e da Satisfaction. Os paulistas serão representados pela Locomotiva, Mafer Discos e Vinil SP, só para citar algumas. A feira terá também estandes de venda de CDs, equipamentos de áudio, marcas de roupas e acessórios com esta temática.

 SERVIÇO: 20° Feira de Discos de Vinil do Rio de Janeiro

Dia: 08 de abril, domingo

Horário: 10h às 18h

Local: UNIVERITAS

Endereço: Rua Marques de Abrantes, 55, Flamengo

Entrada: 1 kg de alimento não perecível

Classificação: livre


Fonte: Fábio Cezanne - Cezanne Comunicação - Assessoria de Imprensa em Cultura e Arte
www.cezannecomunicacao.com.br

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A Melhor da Galáxia era uma fábrica de apelidos. . .

Por Roberto Muggiati
Fotos Acervo RM

A arte de brincar com as palavras sempre foi uma verdadeira obsessão nas redações de Bloch Editores, em particular na Manchete (que sobrevive, 65 anos depois de sua criação, nesse apetitoso blog Panis Cum Ovum). Não saciados em escrever suas matérias e jogar conversa fora nos corredores, redatores e repórteres se aplicavam em criar apelidos, numa atividade tão espontânea e natural como o próprio ato de respirar.

Primeiro, preciso explicar a origem do apelido “a melhor da galáxia” para designar a Manchete.
Adolpho Bloch não suportava o sucesso de Justino Martins, embora Justino, um dos maiores
“revisteiros” do Brasil, tivesse tirado a Manchete do limbo em que ela viveu em seus primeiros oito anos e a transformado na maior revista do país. No final da década de 1960, Adolpho tirou o “Índio” – como chamava o Justino – da direção da revista, mas a manobra não deu certo. Justino voltou à direção da Manchete em alto estilo no início dos 1970. Em 1975, Adolpho defenestrou Justino de novo e colocou este que vos escreve na direção da revista. Para botar panos quentes na história, prometeu ao Justino uma tarefa maior – a direção de uma revista de decoração e jardinagem – e ofereceu-lhe uma megafeijoada de despedida no restaurante do terceiro andar, um evento para quatrocentos talheres. Entre os convidados de honra estava JK – o ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – que ganhara de Adolpho um escritório nobre no prédio da Manchete e ocasionalmente assinava resenhas de livros na revista. JK tomou a palavra e decolou: “És um homem feliz, Bloch. Tens a melhor revista do Brasil. Indisputavelmente da América Latina; tens a melhor revista do mundo – quiçá da galáxia!” O regabofe foi na terça-feira, um dia menos tenso: a Manchete fechava na segunda-feira e ia às bancas na quarta. Nas manhãs de quarta aguardávamos ansiosamente os exemplares da revista que vinham da gráfica em Parada de Lucas. No dia seguinte à feijoada, Alberto de Carvalho, nosso assistente de redação – título que não queria dizer nada e dizia tudo – adentrou a sala com aquela ginga de carioca do Estácio e perguntou: “Já chegou a melhor da galáxia?” A partir daí a Manchete ganhou um de seus codinomes mais nobres, cunhado por um ex-Presidente da República.

Alberto chamava a todos afetuosamente de Professor de Astúcia. Os apelidos eram incontáveis. Entre os contínuos, conhecidos como “siris”, havia o Sammy Davis Jr. – era até caolho como seu sósia – e o Tim Lopes, com seus cabelões à moda do famoso cantor Tim Maia. O rapaz saiu da Manchete, estudou jornalismo e, como Tim Lopes, se tornou o mártir da reportagem que todos conhecem.

Ainda outro contínuo foi apelidado de Pablito Cubano pelo chefe de reportagem João Luiz de Albuquerque. O João desconfiou que conhecia a cara do rapaz de algum lugar, fuçou umas revistas antigas e descobriu que ele era o menino que viajou clandestino no trem de aterrissagem de um avião do Galeão para Havana, por admiração a Fidel Castro, que tinha acabado de fazer sua revolução em Cuba.

A fotografia também tinha seus apelidos. Frederico Mendes – nosso Woody Allen de plantão – passou a ser O Encucadinho. Dois “retratistas” reconhecidamente bem dotados se tornaram Tromba e Tripé (apelido que se referia também a uma das ferramentas de trabalho). Jovenzinho, Ayrton Camargo Jr foi seduzido pela Márcia Ramalho e passou a ser chamado de Ayrton Ramalho; o mais incrível na sua trajetória e que tempos depois ele se juntou com uma mineira de Rio Casca que faria sucesso em Los Angeles como Rainha do Anal no cinema pornô com o nome de guerra de Elle Rio. E o laboratorista Claybom? Detestava margarina, mas era de origem francesa e se chamava Clement... O primeiro fotógrafo a fazer um selfie voando de asa delta, nos anos 70, tinha um sobrenome complicado: Paulo Scheuenstuhl virou Paulo Chuchu – aliás, era alto, atlético e agradava às moças. Voltando ao Tripé: ele viveu um episódio que acabaria em apelido, também. Foi designado para fotografar o ator e diretor teatral Ziembinski. A empregada o encaminhou para a biblioteca, imensa, onde Ziembinski estava pendurado no alto de uma escada à beira de um ataque de nervos. Viu o Tripé chegar e desabafou: “Meu filho, quando procuro um livro e não consigo encontrar, isso me dá uma vontade louca de dar o rabo...” O Tripé encontrou uma desculpa qualquer e se mandou. E essa versão masculina de TPM foi batizada por um intelectual da Manchete de Síndrome do Ziembinski. Outra grande figura era o Sérgio de Souza, o Serjão, um dos melhores fotógrafos de futebol. Certa vez recebeu duas ordens de serviço para o mesmo horário, 14 horas; uma em Niterói, outra na Barra. Indignado, Serjão correu para o chefe de reportagem com as ordens na mão: “Cara, olha só aqui, eu não sou onipotente, não!”

Depois da Revolução dos Cravos em Portugal, Adolpho acolheu na empresa vários lusitanos desgarrados, entre eles um fotógrafo de origem aristocrática, Antônio D‘Atoughia, que ficaria conhecido como o Conde; e Lúcio Macedo, apelidado de Salazar por ter sido o fotógrafo oficial do ditador deposto. Um destes era um senhor gordote e pedante que cuidava da portaria e, por sua semelhança física com o ratinho famoso, ganhou o apelido de Topo Giggio. Tempos depois, a Bloch contratou um plano de saúde barato para os funcionários do baixo escalão, praticamente inaugurado com a morte do Topo Giggio.

Alguns redatores já vinham com apelido: desconheço a origem do Jacaré do Irineu Guimarães; já o Pato Rouco do Ivan Alves era mais fácil de detectar.

Eremita, Cony e Tia Zeffa. 

Quando Adolpho Bloch presidiu a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, promoveu a apresentação de uma série de óperas famosas, coroada pela Traviata dirigida por Franco Zeffirelli, que gostava de frequentar a redação. Já nos primeiros dias, ganhou a alcunha afetuosa de Tia Zeffa. Eu mesmo, como editor da revista e mergulhado em problemas de venda, gestão e jornalismo, passei a ser o Muggi das Crises (a cidade de Mogi das Cruzes, não lembro por que, estava em evidência na época). Nos tempos da longa barba, o Alberto me chamava também de Eremita. Já o Justino era o Lafra – de “lafranhudo”, xingamento do arco da velha com que foi brindado, sob golpes de guarda-chuva, pela crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, por não ter publicado um texto dela.

Alberto tinha uma sensibilidade especial para a música das palavras. Quando o Durval Ferreira, repórter de São Paulo, trouxe uma matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, pontificou o nome do coronel Palimércio de Rezende, um dos primeiros oficiais negros do exército brasileiro. Meu filho estava para nascer, ainda não tinha um nome escolhido, e o Alberto perguntou: “Quando é que chega o Palimércio?” A partir daí, todo bebê da redação passou a ser Palimércio ou Palimércia.

Outro apelido, altamente sofisticado, que saiu para fazer sucesso fora da Manchete, foi o do senador Marco Maciel: Mapa do Chile.

O Adolpho vivia às turras com um funcionário dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Da noite para o dia, ele virou Pseudônimo. Na época, as notas mais descontraídas e curtas da seção Leitura Dinâmica eram assinadas por pseudônimos, para evitar repetição de assinatura do mesmo redator. Lembro de alguns desses codinomes, que na verdade eram verdadeiros autoapelidos: Niko Bolontrim (Ney Bianchi), José Bálsamo (Cony), Jean-Paul Lagarride (Justino Martins), Acácio Varejão e, o mais curto de todos, Ed Sá (Ruy Castro). [O Ruy foi justamente interpelado por uma redatora nova, Marilda Varejão, sobre a escolha daquele codinome. “E existe algum Acácio Varejão?”, retrucou ele na defensiva. E Marilda, indignada: “Existe, sim! É o nome do meu pai.”] Um dia, um delator premiado (a Bloch foi pioneira também nessa instituição do momento) emprenhou o Adolpho pelo ouvido, alegando que pseudônimo não era jornalismo. O capo investiu então com toda fúria na redação: “Quero que parem imediatamente com esses possidônios!...”

Festa de meus 40 anos com Moët-Chandon: Layrton Cabral (Lalá), Antonio Rudge,
o Eremita, Justino, Wilson Cunha, ao fundo Murilinho. 

Adolpho dizia para o Alberto: “Você é inteligente, porra! Se tivesse diploma seria diretor da Manchete...” De meados dos anos 60 até o amargo fim da revista, em agosto de 2000, Alberto foi sempre a sombra (benfazeja) do diretor da Manchete, fosse quem fosse. (Eu fui o que mais tempo se sustentou no pau de sebo, para lá de vinte anos.). Ele sugeria títulos de matérias instantâneos e
vencedores. Para uma reportagem científica sobre bebês que eram botados para nadar assim que saíam do ventre materno: QUEM NÃO NADA, NÃO MAMA. No auge da fama do Rei da Canção e do Rei do Futebol, reunimos os dois numa capa. Desta vez, o título do Alberto não foi publicado, por ser politicamente incorretíssimo: O REI E O PERNA-DE-PAU.

No Santa Genoveva, com direito a escultura de Krajcberg, 1997.
A arte do Alberto não se restringia a apelidar só pessoas. Em 1996, fui destituído da direção da Manchete e ganhei um novo cargo com o nome pomposo de Editor de Projetos Jornalísticos. O afastamento também foi geográfico: me exilaram para uma sala imensa, um andar inteiro, a cobertura da terceira fatia do prédio do Russell, à qual se tinha acesso através de uma escada em caracol (que, felizmente, impedia a visita da chatos idosos ou lesados...). Mauro Costa, também destituído da chefia de reportagem da TV, foi ocupar um espaço daquele latifúndio. Pois o Alberto apelidou o local imediatamente de Santa Genoveva – alusão ao asilo de idosos que praticava maus tratos contra os pacientes, fato que chocou o Brasil e só foi descoberto por acaso no rastro de uma daquelas grandes enchentes cariocas.

eresópolis, 8-10-1977, sábado, aniversário do Adolpho: Machadinho,
Wilson Cunha, Heloneida Studart, o Eremita, Flávio de Aquino,
Ceres Feijó, Célio Lyra.

O próprio Adolpho Bloch dava a sua contribuição aos apelidos, às vezes de forma indireta ou
involuntária. Uma dia chegou da gráfica em Parada de Lucas e plantou um jovenzinho franzino na sala de redação: “Ele é um gênio. Vai trabalhar com vocês. Como escreve!” E, exagerando nos elogios: “É um verdadeiro Machado de Assis!” Antônio Roberto é conhecido até hoje como “Machadinho” e colegas da época ainda não esqueceram sua estreia literária. Fã ardoroso de Carlinhos de Oliveira, ele escreveu uma crônica sobre um operário que vinha todo dia cedo para trabalhar na cidade. Logo no início do texto, mencionou a “hedionda marmita”. Até hoje não perdoaram a Machadinho o hediondo adjetivo. Em pouco tempo, ele passou a competir com o maître Severino Ananias Dias fazendo discursos nas grandes ocasiões da casa – discursos que o Cony, com sua ironia de sempre, dizia que eram comissionados “em nome da redação da Manchete”. Foi num destes, um aniversário do Adolpho, que o Severino cunhou um adjetivo inolvidável, referindo-se à “figura inevolúvel de Adolpho Bloqui”. . .

Ruy Castro (Ed Sá) e Narceu de Almeida (Capelinha) em 19-12-72.
Pedro Bloch, que na verdade apelidou a própria revista – sugeriu a Adolpho que a chamasse de
Manchete, lembrava uma manchete de jornal e também imitava a sonoridade de Paris-Match, a maior revista da época. Teatrólogo e fonoaudiólogo, Pedro cuidou de um fotógrafo com problemas de fala que Adolpho mandou para se tratar com ele – e, de saída, o apelidou de João Farofa.

Quando o redator Narceu de Almeida resolveu largar tudo e partir para a vida alternativa na Região dos Lagos, sob a égide dos colegas Cabral e Maciel, ambos Luís Carlos, Jaquito sabia que não ia dar certo e comentava conosco: “O Narceu foi jogar pingue-pongue contra o vento...” Depois de um tempo, Narceu voltou e Jaquito o colocou em regime de free-lancer: o pagamento por matéria redigida, em vez do trabalho assalariado, tornava o redator mais produtivo e mais ágil. Orgulhoso da sua artimanha, Jaquito dizia: “Agora sim, o Narceu está correndo atrás!” E o apelidou de Capelinha, em alusão à marca dos taxímetros da época.

Havia uma recomendação aos novatos que fazia sucesso na redação da Manchete e devia ser escandida, com ênfase nos trocadilhos, em ligeiro sotaque iídiche:  "Se você desobedecer a ordem que Adolpho deu, e aquela que Jaquito havia dado, o Oscar ralha.”

Entre os autores de chistes mais antigos da Manchete, o repórter Ronaldo Bôscoli, que Nelson Motta chamou de “a língua mais rápida de Ipanema, um gênio da maledicência”, notabilizou-se pelos apelidos corrosivos que dava aos seus desafetos. Alguns exemplos: Sérgio Mendes (“compota de monstro”), Antônio Maria (“eminência parda da MPB”), Maysa (La Gorda), Elis Regina (“Vesguinha”). O apelido do próprio Bôscoli era Veneno. É bom lembrar também o fabuloso Nelson Rodrigues, que escrevia na Manchete Esportiva e criava apelidos os mais exóticos. Chamou Cláudio Mello e Souza, editor de Fatos&Fotos, de O Remador de Ben-Hur. Um dia eu vejo o Nelson adentrando a redação e saudando Adolpho Bloch como “Como vai este Cecil B. DeMille das revistas!” (pronunciando o DeMille como DeMaille). Sérgio Porto, colunista da Manchete, que apelidou a si mesmo de Stanislau Ponte Preta, fez do redator Raymundo Magalhães Jr um alvo predileto. O escritor e acadêmico fazia questão de assinar seus escritos como R. Magalhães Jr. Sempre que Sérgio entrava na redação e via o Magalhães batucando com dois dedos na Remington, gritava: “Erre, Magalhães Jr!” Ou gozava da sua baixa estatura: “Toda vez que o Magalhães pega uma caixa de fósforo as pessoas pensam que ele vai
viajar...”

Raul Giudiccelli, outra das línguas mais ferinas da Bloch, fez toda uma catilinária em cima do Ledo Ivo, poeta e redator. Só lembro esta: “O professor deu zero para o Ledo Ivo e ele foi se queixar que a nota não era justa. O mestre explicou-se com o Ledo: – Desculpe, meu filho, mas não tinha nota mais baixa do que o zero...” Ainda em relação ao Ledo Ivo, o Cony retificou o clichê “ledo engano” para “ledo e ivo engano”, usado até hoje por Cony e outros escribas.

A Santa Ceia em cor: Alberto, Ivan, Cunha, Flávio, ao fundo Sammy Davis Jr,
Eremita, Heloneida, Magalhães, Passos, Argemiro, Pedrão, Ney, Cony, Irineu.

Voltando ao Alberto: lendo agora o livro de contos inéditos de Scott Fitzgerald, I’d Die For You,
publicado 77 anos após a morte do autor, encontrei uma personagem – típica serelepe dos anos 30 – chamada Trouble, que só se poderia traduzir, é claro, por Encrenca. Pois sempre que aparecia na redação uma daquelas que a gíria do malandro chamava de “chave de cadeia”, o Alberto se referia a ela como Encrenca.

Almoço para Lula no Russell na véspera da votação do 2º turno, sábado 16-12-89.
Teria sido na Manchete que Brizola pela primeira vez chamou Lula de "sapo barbudo". 

Não faltaram encrencas na história da Manchete. Uma que mais fez jus ao apelido foi a produtora de moda de sobrenome Guerra que deu um tiro no recém-chegado diretor de arte Serge Elmalan. O
coitado do Serge acabara de chegar da França com mulher e cachorro e se instalara num
apartamento no Lido. Sofreu o imediato assédio e atração fatal da Guerra e levou um balaço.
A bala ficou alojada num ponto melindroso da região do ombro e teimava em não sair. Adolpho não hesitou: mandou o Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra, levando o atendimento para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira que acompanhará o Serge em suas andanças pelo mundo até o fim dos seus dias. Um parêntese para dar uma ideia de quem era Serge Elmalan. Convidou-me uma noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento. Quando adentrei a sala, lá estavam a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em La Piscine) e Gilberto Tumscitz e sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Outra Encrenca que fez nome na Manchete foi Marisa Raja Gabaglia (1942-2003). Fomos colegas na reportagem de Frei Caneca em 1966. Inteligente, neurótica, sedutora, fez sucesso como cronista, seu livro Milho Para a Galinha Mariquinha virou best seller. Foi repórter da TV Globo por dezoito anos, fez novela com Tônia Carrero. Marisa teve uma paixão fulminante pelo cirurgião plástico Hosmany Ramos, ex-assistente de Ivo Pitanguy, que de repente partiu para uma surpreendente carreira criminosa e, depois de várias fugas, está preso até hoje. Marisa foi pioneira do Amor bandido, título do livro que publicou em 1982 sobre sua relação com Hosmany.

Vou parando por aqui, porque “a melhor da galáxia” é como aqueles vampiros velhos que – mesmo com bala de prata e estaca no peito – se recusam a morrer.
 

domingo, 27 de agosto de 2017

Memória da redação: quando uma foto-bomba da EleEla abalou a moral e os costumes da ditadura...

Alexandre Garcia: Reprodução da foto principal da matéria "O porta-voz da Abertura"
publicada na EleEla, em novembro de 1980. A foto de Frederico Mendes provocou
a demissão do jornalista, na época assessor de imprensa do general João Figueiredo.

Em fins outubro de 1980, Alexandre Garcia, então porta-voz do general João Figueiredo, foi entrevistado pela EleEla. A foto de abertura da matéria incomodou a ditadura. Garcia foi fotografado por Frederico Mendes para uma entrevista sob o título: "O porta-voz da Abertura". A EleEla foi para as bancas no começo de novembro daquele ano. Em seguida, a Veja publicou na seção de política a nota "Vulgaridade Palaciana", onde criticava a matéria. As senhoras da República militar sofreram tremores morais noturnos e a alta cúpula do Planalto reagiu. O porta-voz foi demitido.

Gervásio Baptista e Alexandre Garcia.
Foto publicada no Facebook de Dalva Tosta, que atuou
nos setores administrativos e financeiros da Bloch
dos tempos áureos e assessorou Adolpho Bloch.
Na mesma época, Adolpho Bloch começava a equipe e a estrutura da Rede Manchete em Brasília e contratou Alexandre Garcia como diretor de jornalismo da sucursal de Bloch Editores e da futura Rede Manchete, que entrou no ar em 1983.

Foi lá que o jornalista conheceu Gervásio Baptista, o fotógrafo da Manchete, com quem acabou convivendo em Brasília durante quase quatro décadas (Alexandre Garcia transferiu-se para a Globo no fim dos anos 1980 e Gervásio foi fotógrafo oficial de Tancredo Neves e da Presidência no governo Sarney, a partir de 1985).

Na semana passada, Alexandre Garcia, 76, visitou Gervásio, hoje com 95 anos, em Brasília.

Quanto ao episódio da entrevista à EleEla, foi narrado pelo próprio Alexandre Garcia no seu livro de memórias "Nos bastidores da notícia", nos trechos abaixo. Em meio ao relato, uma informação curiosa: Figueiredo era leitor da seção Forum, da EleEla, um espaço da revista que selecionava depoimentos e fantasias sexuais nada constitucionais.

"Entreguei  um (exemplar) para  o  presidente,  pedindo  que  lesse  a entrevista,  e  outro  para  Heitor (N.R. Heitor de Aquino,secretário particular de Figueiredo)  O  presidente  leu.  Foi  o  que demonstrou  no  dia  7  de  novembro,  uma  sexta-feira.  "Tínhamos trocado de avião no aeroporto Santos Dumont. Saímos do Boeing e tomamos um Buffalo, que nos levaria a Pindamonhangaba, para a inauguração  de  uma  aciaria  da  Villares.  Na  cabeceira  da  pista, estourou  um  conduto  hidráulico  dentro  da  fuselagem  e  o  fluido molhou toda a roupa do presidente. Eu estava sentado  diante  dele, do outro  lado,  pois era um avião de pára-quedistas. Ele começou a tirar a roupa e me olhou com um jeito maroto: "Será que estou seguro, tirando as calças na tua frente?" Eu  ri  e  ele  continuou,  contando  uma  história  que  o impressionara  e  estava  no  "Fórum"  daquela  edição  de  Ele  &  Ela. Naqueles dias, a revista já estava nas bancas." (...)

"Na  segunda-feira,  10 de  novembro,  o Kraemer (N.R. Marco Antonio Kraemer, assessor de Figueiredo) veio avisar-me  de  que  Farhat (N.R. Said Farhat,  ministro da Comunicação Social do governo Figueiredo)  desejava  falar  comigo.  Eram  umas  quatro  da tarde, e  o  ministro estava  saindo  para  tomar um  jatinho da  FAB na  base  aérea.  Iríamos  conversar  no  Galaxie  ministerial,  no caminho para  o aeroporto. Mal deixamos  o  palácio,  Farhat pôs a mão no meu joelho e disse: 

—  Nós dois sabemos que o nosso relacionamento nunca foi bom.  Eu  falei  com  o  presidente,  e  achamos  que,  depois  daquela entrevista, é melhor você pedir demissão. 

—    Meu  presente  de  quarenta  anos  —  respondi.  E  pedi tempo para pensar. Queria confirmar se o presidente havia mesmo autorizado a demissão. Mas Farhat não queria esperar. 

—    Aqui  está  a  minha  carta  aceitando  o  seu  pedido  de demissão.  

—  A  carta  tinha  a  data  de  meu  aniversário,  11  de novembro. 

terça-feira, 23 de maio de 2017

Fotomemória da redação: o Rio na linha do tempo...



O Rio em 1864, segundo o pintor americano Martin Johnson Heade. Reprodução Manchete

Em 1979, o fotógrafo Frederico Mendes localizou em Niterói o ponto de vista do paisagista americano e fez a foto acima. Reprodução Manchete


Em 1864, o pintor americano Martin Johnson Heade colocou seu cavalete em Niterói e criou uma bela paisagem do Rio. O resultado foi o quadro "O Panorama do Rio de Janeiro ao por-do-sol com o Corcovado ao fundo, visto de Niterói", reproduzido no alto do post.

Heade atravessou a baía e gravou uma placidez que contrastava com o clima político do Rio da época: naqueles dias, muitos jovens moradores da cidade haviam sido enviados para os campos de batalha da Guerra do Paraguai.

Em dezembro de 1979, cento e quinze anos depois, o pequeno quadro, de 50cm por 88cm, foi a leilão na Galeria Phillips, em Londres. Na época, foi arrematado por 152 mil dólares em um lance que surpreendeu os especialistas, entre os quais o jornalista e crítico de Arte Flávio de Aquino, que fez uma matéria sobre o assunto.

Manchete foi além e enviou a Niterói o fotojornalista Frederico Mendes, a quem coube a missão de localizar o ponto mais exato possível em que o pintor Heade criou a sua visão do Rio. A urbanização de Niterói e a ocupação da orla por instalações industrias e estaleiros não facilitaram a missão do fotógrafo. Mas o ponto de vista foi encontrado e o Panorama do Rio  de Janeiro recriado.

O tempo e a foto de Frederico Mendes tornaram irreal o Rio que Heade pôs na tela em um fim de tarde desde Niterói.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Fotógrafos do Rio e de Lisboa traduzem em imagens a relação das duas cidades com a água. Um dos fotógrafos-autores do livro "Rio Mar Lisboa Rio" é Frederico Mendes, ex-integrante da equipe da revista Manchete



Como parte do Ano Oficial de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal, o livro "Rio Mar Lisboa Rio" reúne fotos de doze profissionais, seis de cada país, que buscaram captar a relação de cariocas e lisboetas com a água, uma característica que banha as duas cidades. O mar, no Rio, e o rio Tejo, em Lisboa, são o traço poético que une os habitantes das duas belas cidades, expresso nas fotos dos brasileiros Bruno Veiga, Claudia Jaguaribe, Frederico Mendes (fotógrafo que atuou na Manchete), Kitty Paranaguá, Leonardo Ramadinha e Rogério Reis; e dos portugueses Ana Brígida, Clara Azevedo, Luisa Ferreira, Rodrigo Cabrita, Tomaz Curvo e Valter Vinagre. O lançamento está marcado para terça-feira, 10 de novembro, às 18h, no Palácio São Clemente (Consulado de Portugal).

domingo, 28 de dezembro de 2014

Deu no site NOO: Profeta Allan Richard Way, vidente da revista Manchete, faz suas previsões para 2015, dessa vez em email remetido para o fotojornalista Frederico Mendes.

Reprodução NOO

Reprodução NOO
por Frederico Mendes (para o site NOO)
Como é de praxe nas televisões e revistas, em dezembro vários esotéricos fazem suas previsões para o ano novo. É um tal de babalorixás fajutos, astrólogos especializados em celebridades, ciganas nascidas na Zona Sul dizendo como será o amanhã porque conseguem ver o futuro. Mas não existe no mundo vidente mais eficiente que o cego Allan Richard Way.
Ele é simplesmente o maior profeta vivo. Comparado sempre com Nostradamus, o inglês de origem indiana de 97 anos, previu com detalhes as mortes da princesa Diana, do presidente Kennedy, do filósofo Sartre e de Carmem Miranda, a conversão ao comunismo da China, a eleição de um presidente negro nos Estados Unidos, a Guerra do Iraque e outros tantos furos do além, muitos anos antes que acontecessem — ele publica suas previsões no jornal inglês Times sempre sob a forma de classificados, com um estranho código alfabético e numeral que só ele e seu fiel secretário boliviano entendem.
LEIA MAIS NO SITE NOO, CLIQUE AQUI

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Frederico Mendes, fotógrafo que atuou na Manchete, lança livro de fotos que mostram as belezas e a alma do Arpoador. Com texto de Gilberto Braga

por BQVManchete
O Globo de hoje publica matéria aqui reproduzida sobre o livro "Arpoador" (Barléu Edições), com fotos de Frederico Mendes e textos de Gilberto Braga. Um, Fred, é frequentador da praia mais democrática do Rio desde criança; o outro, Gilberto Braga, que também trabalhou na revista Manchete, mora em frente. O livro, que reúne 104 fotos, será lançado nesta quarta-feira, 20, no Arnaldo Danemberg Antiquário, em Copacabana, das 17h às 22h.
Leia a matéria do Globo, abaixo.


quarta-feira, 4 de junho de 2014

sábado, 21 de dezembro de 2013

Manifestação em Ipanema a favor do topless atraiu mais fotógrafos e câmeras do que mulheres de peito aberto









Fotos Gonça
por Gonça
Rede social tem um grande poder de mobilização, certo? Taí a praça Tahrir que não nos deixa mentir. Mas nem sempre. O Facebook anunciou o Toplessaço, em Ipanema, com mais de 5 mil adesões. Ou seja, dez mil seios eram aguardados no Posto 9.  Não apareceram, pelo menos não em massa. Mas fotógrafos havia uns 50, câmeras, uns dez, ou mais, curiosos, centenas. O toque carioca de um vendedor de sutiãs tentando aproveitar oportunidades, outro de mate oferecendo o "mate do peitinho". Faixas. Uma de "Fora, Cabral", que agora parece obrigatória em qualquer reunião pública de mais de duas pessoas, com um detalhe: o mesmo cartaz que protestava contra o governador tinha no verso o slogan "Reginaldo vá com Deus". Pode até ser que hoje, abrindo o Verão, ao longo do dia nublado, o Posto 9 receba outras manifestantes do grupo que pede o fim da criminalização do topless na praia. Mas até por volta de meio-dia apenas uma ou duas "passionárias" enfrentavam de peito aberto o batalhão de fotógrafos e câmeras.
Agora um pouco de bastidores de redação: em 1972, Frederico Mendes, da Manchete fotografou por acaso um topless em Ipanema na imediações das "Dunas do Barato". Era uma desconhecida. Foi o primeiro flagrante do gênero. O diretor da revista, Justino Martins, publicou as fotos na Manchete. No dia seguinte, baixou polícia na portaria perguntando pelo Fred. Alegavam que ele havia dado dinheiro à jovem para tirar o sutiã, o que, segundo a polícia, caracterizaria incitação ao atentado ao pudor. O flagrante era autêntico, mas estávamos em plena ditadura e a Manchete preferiu tirar o fotógrafo da área e mandá-lo para uma viagem até que a onda passasse. Já perto do fim do anos 70, algumas meninas fizeram topless no Arpoador. Também era gesto autêntico, no início. Fez tanto sucesso que alguns jornais e revistas passaram a usar modelos profissionais e simular flagrantes de topless nas praias. Nessa época, o repórter Tarlis Batista emplacou várias capas em Manchete em Fatos & Fotos e acabou virando uma espécie de setorista de topless. As matérias vendiam tantas revistas em bancas que Tarlis ampliou o campo de ação e passou a fazer grandes reportagens sobre os primeiros campos oficiais de nudismo no Brasil. Tais "ousadias" criaram polêmicas nos anos 70. Curioso é que quarenta anos depois, o moralismo resiste e o topless ainda é motivo de manifestação. O tempo não passou nas areias do verão carioca...