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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Otimismo numa hora dessas? • Por Roberto Muggiati

 “Esperança” foi a palavra da virada de ano, proferida de boca cheia no discurso vazio de comunicadores e influencers. Pareciam todos uma reencarnação do Dr. Pangloss, o mestre de Cândido (1759), o Otimista, a novela filosófica de Voltaire que inspirou as distopias 1984 e Admirável mundo novo e os romances de Machado de Assis Memórias póstumas de Braz Cubas e Quincas Borba.  Pangloss via o mundo com óculos de lentes cor-de-rosa e recitava a eterna ladainha “tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis”, contrariando a brutal evidência dos fatos.  Recrutado à força pelas tropas búlgaras, Cândido testemunha o massacre da Guerra dos Sete Anos. Foge e reencontra Pangloss, envelhecido e sifilítico, que o informa da suposta morte da mulher de Cândido, Cunegundes, estuprada por soldados búlgaros. 

Chegam a Lisboa no dia do terremoto e são vítimas de um auto de fé em que Pangloss é aparentemente enforcado. Cândido reencontra Cunegundes, amante de um Grande Inquisidor e de um judeu rico. Mata os dois homens e foge com a mulher. Depois de incontáveis atribulações que levam o casal aos lugares mais remotos – incluindo Buenos Aires e Paraguai – Cândido finalmente encontra uma paz relativa com a mulher, em ambiente bucólico. “Devemos cultivar o nosso jardim,” foi o lema ele encontrou em contraposição ao “melhor dos mundos” de Pangloss. 

Para se ter uma ideia da universalidade da novela de Voltaire, ela teve uma adaptação para o cinema no Brasil, Candinho – dirigido e estrelado por Mazzaropi, com o sambista do Brás Adoniram Barbosa numa genial interpretação de Pangloss, o Dr. Pancrácio. O filme inspirou em 2016 a telenovela de Walcyr Carrasco Êta mundo bom.

Aproveito essa discussão para transmitir o recado que recebi de uma estudiosa das mulheres da beat generation (Larissa, sergipana. 25 anos). Vejam a mensagem do velho William Burroughs, que considero pontualíssima no momento que vivemos. Nessa altura do campeonato, só posso recomendar: “Guenta aí, parça!”

“Você vai ter de aprender a existir sem religião, sem país, sem aliados. Você vai ter de aprender a viver sozinho em silêncio.”

sábado, 4 de maio de 2019

Mídia - Dr. Pangloss e Hardy Har Har - um jornal sonha com trilhões de reais e o outro avisa que a indústria está despencando...

A EXPECTATIVA...


Carlos Heitor Cony escreveu na Folha de São Paulo, muitas vezes, que o otimista é apenas um sujeito mal informado. Parece ser  caso do Globo. Desde a ascensão de Michel Temer, o jornal se embriaga de otimismo. Compraram o discurso da reforma trabalhista como aceleradora - praticamente um Lewis Hamilton - da volta do crescimento. Não rolou. Agora estão fissurados na cifra de 1 trilhão de reais da reforma da Previdência, uma das razões explícitas da adesão do jornal à política econômica de Bolsonaro. Sonham que  a reforma trará piscinas cheias do dinheiro com que Paulo Guedes, o Tio Patinhas da "nova era", promete irrigar os bolsos já nutridos da turma do topo da pirâmide.

Na primeira página de hoje, o onírico 1 trilhão de reais, quase um fetiche, volta a inebriar os editores. Só que, aparentemente, cansado do otimismo que anuncia e que teima em não se realizar, O Globo toma a precaução de avisar que o novo 1 trilhão, dessa vez da área que o Brasil está passando o ponto, a do pré-sal, levará 30 anos para se materializar.

A Folha, embora vista a mesma camisa ideológica do concorrente, ou pensa como Cony - que dizia não abrir mão do pessimismo - ou respeita um pouco mais a inteligência de uma parcela, que seja, dos seus leitores. De qualquer forma, o jornal não esconde que a indústria recua mais 1,3% e avisa que "o pessimismo dos investidores desaquece o mercado".

Um parece a expectativa, outro a realidade. Ideologias e interesse à parte, digamos que a primeira página do Globo foi editada pelo Dr. Pangloss, o personagem "tudo beleza" de Voltaire, e a Folha por Hardy Har Har, a sábia hiena da Hanna Barbera, que tinha dois bordões imbatíveis: "eu sei que não vai dar certo" e "miséria, não sairemos vivos daqui".



... E A REALIDADE.