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domingo, 15 de outubro de 2023

João Américo Barros (1931-2023): algumas linhas e imagens para a última página

João Américo Barros.
Paraty, 3 de setembro de 2023.
Foto: Arquivo Pessoal

por José Esmeraldo Gonçalves 

Esta última foto do João Américo Barros nos remete a um instante de profunda paz. Ele esteve em Paraty, no primeiro fim de semana de setembro, com a filha, Lúcia, e o genro Fernando e, de lá, enviou uma mensagem no whatsapp contando suas impressões da cidade. Barros gostava muito de História e a "capital" colonial do Ciclo do Ouro inspirou seu comentário. No domingo, dia 3, qundo voltava de Paraty enviou o que seria a derradeira mensagem. Queria saber do resultado do GP de Monza. A Fórmula 1 era outro dos seus interesses além do Flamengo que, naquele domingo, lhe deu a alegria de derrotar o Botafogo. "Em tempo: ganhamos do Bota", assim ele encerrou o papo virtual. Apenas dois dias depois foi atendido em emergência e, em seguida, levado à UTI com sintomas de uma pneumonia que resultou em infecção generalizada. Não foi embora sem luta. Aos 92 anos, resistiu por mais de um mês. 

O faixa preta Barros foi homenageado pelos colegas do aikido. Maio de 2023.
Foto: Arquivo Pessoal

A segunda foto foi feita em maio desse ano. Registra uma homenagem que a turma de aikido fez ao atleta que era faixa preta desde 2011, quando completou 80 anos. A imagem também é simbólica do seu jeito de ser. Barros não se isolou no outono da vida. Mantinha-se ativo no Facebook, voltou a pintar, era bem informado, conversava sobre política, sempre civilizado e ora com esperança ora com decepção. 

Em um dos seus artigos, ele abordou o ataque
à democracia em 8 de janeiro.

Lamentava não ter tempo para ver o Brasil que sonhamos, socialmente justo e desenvolvido, virar enfim uma realidade. Publicou neste blog reflexões políticas, profissionais e pessoais.

Bem no começo dos anos 1980, o então chefe de Arte da Fatos & Fotos, Ezio Speranza, deixou a Bloch. Barros, que entrou na editora como diagramador da revista Tendência e, em seguida, tornou-se diretor de Arte da Manchete Esportiva, foi indicado para o posto. Era o nome certo. Carregava no currículo nada menos do que O Cruzeiro, a mais importante revista ilustrada do Brasil até meados do anos 1960. Após uma temporada na FF, até 1986, ele foi transferido para a principal publicação da Bloch, a Manchete. Brincávamos que se tornara tríplice coroado como chefe de Arte por ter passado pelo O Cruzeiro, Fatos&Fotos e, finalmente, Manchete, as três revistas mais conhecidas no segmento ilustrado de atualidades e variedades. Trabalhei com o Barros por mais de 15 anos. Certamente enfrentamos bons e maus momentos naquelas revistas semanais intensas e desafiadoras. Este blog, para o qual ele criou o logotipo costuma recontar memórias das redações. Vou citar dois momentos que, tenho certeza, foram marcantes nas nossas trajetórias profissionais. Um de frustração e outro de realização. Em 1984, a Fatos & Fotos agonizava em praça pública travada por pouco investimento e baixa circulação em uma época em que a Bloch priorizava a decolagem da Rede Manchete. Carlos Heitor Cony, o diretor, Barros, o diretor de Arte e eu, editor-executivo, não aguentávamos mais carregar aquele fardo. Conversávamos os três sobre o que poderíamos propor à direção da empresa. 

João Américo Barros, José Esmeraldo e Carlos Heitor Cony.
Foto: Jussara Razzé
 

Cony pensou no assunto e, um dia, nos convidou para uma reunião fora da sede da Bloch. A ditadura também agonizava naquele época, talvez até mais do que a FF, embora ainda exibisse força.  Os milicos conseguiram barrar as Diretas-Já e manobravam para eleger Paulo Maluf no famigerado Colégio Eleitoral quando o nome de Tancredo Neves se impôs como uma alternativa. Cony havia sido convidado por Tancredo para dar  consultoria sobre a campanha. Foi várias vezes a Belo Horizonte. A ideia era - apesar de se tratar de uma eleição fechada em um Colégio eleitoral espúrio, criado pela ditadura, tentar falar com a população, procurar captar parte da força que o país demonstrara na épica jornada das Diretas-Já. 

Barros no Hotel Novo Mundo em 2005: almoço comemorativo
dos 20 anos do lançamento da revista Fatos: o melhor fracasso das nossas vidas.
Foto: Jussara Razzé  

E foi essa possibilidade de mudança no Brasil que Cony usou como argumento para levar a Adolpho Bloch a sugestão de fechar a Fatos & Fotos e lançar a Fatos, uma revista semanal de informação, análise, cultura, economia, política, reportagens investigativas e um time de colunistas, redatores e repórteres de referência. Em uma segunda reunião, fizemos um projeto detalhado para a Fatos. Barros criou o visual da nova revista. Foi feito um número zero, que Adolpho aprovou apesar da resistência de outros diretores. A primeira edição foi lançada em março de 1985. O que não sabíamos era que aquela resistência logo se transformaria em forte campanha interna liderada por pelo menos um jornalista que havia sido informante da ditadura e que mobilizou outros editores da Bloch em uma espécie de brigada contra a Fatos. Após um ano e quatro meses, a "jihad" formada pelo dedo-duro se transformou em sanção financeira. A empresa passou a atrasar sistematicamente o pagamento dos colaboradores, a maioria freelance. As reclamações da equipe, justas e insuportáveis, levaram Cony a virar literalmente a última página da Fatos, um projeto pelo qual lutamos até onde foi possível. Mais uma vez tivemos uma conversa a três e concluímos que não havia mais condição de tentar por em pé uma revista proscrita na própria editora. E, assim, as luzes da redação foram apagadas e eu e o Barros fomos incorporados à Manchete. Cony manobrou junto à direção da Bloch e parte da equipe foi acomodada em outras publicações da casa. 

Ficou o gosto amargo das noites insones de fechamento, do esforço perdido. A realização só viria cerca de 20 anos depois. A Bloch não existia mais em 2005 quando um grupo remanescente da antiga equipe da Fatos organizou um almoço no Hotel Novo Mundo para marcar os 20 anos do lançamento daquela revista, se viva ainda fosse. Foi durante esse encontro que nasceu a ideia de uma coletânea com as memórias dos bastidores das redações da Bloch. Depois de três anos de trabalho, com base em um projeto gráfico idealizado por J.A.Barros, foi lançado o livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata). Cony chamou a coletânea de "nossa pequena vingança" - e escreveu isso na página de rosto de um exemplar que autografou para mim. A história da Fatos e da "jihad" contra a revista estava lá, exposta e revelada. Naquele dia 3 de novembro de 2008, há 15 anos, com a Livraria da Travessa, no Leblon, lotada de amigos, a frustração foi curada. 

No capítulo que escreveu para a coletânea - "Quarenta e seis anos paginando os fatos e as fotos" - Barros contou sua longa e brilhante trajetória no jornalismo. Em meio às recordações, ele comentou o processo de informatização da Bloch Editores na segunda metade dos anos 1980. Designer formado no lápis, Barros assimilou com rapidez e naturalidade as novas tecnologias. Os analistas de computação mais jovens costumavam duvidar da capacidade das gerações mais rodadas dominarem hard e software. Ele desmoralizou o preconceito. Em poucas semanas tornou-se amigo de infância do Macintosh. Esse era o Barros. Vá bem, irmão.                                          

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Exclusivo - Previsões de Allan Richard Way II. O vidente diz que 2021 será um "2020 com vacina". Melhor, mas nenhuma maravilha.


Foto Istock

Allan Richard Way II,  herdeiro de Allan Richard Way, o famoso vidente que durante anos fez previsões para a Manchete, anuncia que já foi devidamente vacinado pelo National Health Service, o Serviço Nacional de Saúde britânico, e informa que não sofreu quaisquer reações. Suas previsões para 2021 foram concluídas e enviadas ao Brasil, dessa vez através de um ex-aluno em especial cortesia de malote diplomático.


POR ALlAN RICHARD WAY II (By order ARW 2021)


* Virão à tona novos casos de corrupção envolvendo nomes do alto escalão relacionados a transferências de dinheiro de organizações criminosas ligadas ao mercado imobiliário e ao comércio de armas. Apesar da repercussão, o escândalo será abafado.  

* Um importante museu será destruído em incêndio de grandes proporções. 

* Figura da República morrerá em acidente aéreo. 

* A economia do país recuará em 2021. O ministro da Economia será demitido. Para seu lugar será indicado um sargento da Intendência. Haverá reação das entidades financeiras e empresariais. 

* No Brasil, a vacinação acontecerá em meio a desorganização. Manifestantes de seita contrárias à vacinação farão piquetes em postos. Haverá protestos com queima de máscaras. A pandemia se arrastará até o segundo semestre do ano. A nota dramática é que um bolsominion se imolará na Avenida Paulista ateando fogo a uma camisa amarela da CBF em protesto contra a vacina.

* Bandidos de poderosa facção invadirão depósitos e roubarão grande quantidade de vacinas, que serão vendidas no mercado ilegal e em países vizinhos, especialmente o Paraguai. As chamadas milícias entrarão no milionário negócio da vacinação privada.

* Site revelará desvios de vacinas para imunizar com prioridade pessoas com ligações poderosas: políticos e famílias, desde prefeitos passando por vereadores, deputados, ministros, senadores e governadores e cantores sertanejos. Suspeita de que núcleo do Planalto receberá vacinas na calada da noite. Pastores, juízes, donos de clubes de tiro e demais empresários ligados ao governo também serão beneficiados.

* Um dos mais famosos atores brasileiros morrerá subitamente em sua fazenda. 

* Os executores de Marielle Franco e Anderson Silva serão condenados. A Justiça não informará quem foram os mandantes do crime. 

* O ministro do Meio Ambiente anunciará um plano para lotear a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele argumentará que se a mata for ocupada será mais fácil preservá-la. 

* O ministro do Meio Ambiente anunciará que parte da Amazônia será terceirizada para organizações sociais ligadas a igrejas que já atuam na região. 

* Os órgãos responsáveis pelo Patrimônio Nacional finalmente localizarão a goiabeira onde uma ministra do atual governo deparou-se com Jesus, segundo ela. O Ministério do turismo transformará o local em sítio sagrado e os brasileiros serão incentivados a visitar a árvore em peregrinação pelo menos uma vez por ano. Quem comprovar a ida ao local participará do sorteio de uma viagem à Terra Santa. 

* Escândalo na corte. Vazará um vídeo íntimo de importantes autoridades. Cenas terão sido gravadas em apartamento reservado para encontros decorado em verde e amarelo. Os figurões em questão não demonstrarão nas suas performances qualquer preconceito contra gêneros, muito ao contrário. Mulheres aparecerão fantasiadas de generais, portando fuzis. O vídeo será divulgado por uma organização internacional de hackers.

* O São Paulo será campeão mundial em 2021. 

* O Brasil registrará um das suas piores performances na Olimpíada

* O STF terá duas vagas a serem preenchida no próximo ano. 

* Mesmo número de vagas a serem abertas na Academia Brasileira de Letras. O governo tentará emplacar Olavo de Carvalho. 

* Rompimento de barragem causará tragédia em Minas Gerais. A Vale do Rio Doce culpará as vítimas e pedirá indenização.

* Grande derramamento de petróleo atinge litorais de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santos. governo culpará Joe Biden e Nicolás Maduro, nessa ordem

* Apagão atingirá vários estados, incluindo o Rio de Janeiro onde só não faltará luz no Condomínio Vivendas da Barra.  

* Forças Armadas simulam invadir os Estados Unidos. O treinamento acontecerá na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, local que, segundo os estrategistas militares, é muito assemelhado a Miami por onde as tropas brasileiras deverão adentrar no país de Joe Biden. O dia da invasão entrará para a história como o DIA B.

* O Vaticano estudará liberar a maconha

* Donald Trump visitará o Brasil. Pedirá apoio para voltar ao poder alegando que houve fraude nas eleições. Brasília colocará as Forças Armadas à disposição do americano e sugerirá  que Trump seja nomeado presidente autoproclamado dos Estados Unidos.

* Investigação nos Estados Unidos apura suposto pagamento de propina a Trump relaionado a venda de caças para um país do Oriente Médio. O ex-presidente também é acusado de comprar com dinheiro público 5 mil tubos de fixador, máscara capilar, hidratante e tintura de saturação tonalidade mel para cabelos.

* Donald Trump será detido por agentes do serviço secreto por ser flagrado perambulando nos jardins da Casa Branca portando um cartaz em que pede a anulação das últimas eleições. Ele baterá panelas e acordará o presidente Joe Biden. 

* Importante grupo de comunicação entrará em regime de recuperação fiscal.

* Morre atleta muito famoso.

* Um casal importante se separará. O motivo envolverá uma conjugação do verbo na terceira pessoa do singular.

* Brasil viverá drama social com índices de desemprego que não recuarão da casa dos 15 milhões de pessoas. O ministro da Economia e os jornalistas de mercado culparão os desalentados, os deprimidos, os desanimados, os esmorecidos, os prostrados e os acabrunhados. 

* Mídia denunciará formação de grupos paramilitares clandestinos no Brasil voltados para ações políticas. 

* Atuação das milícias do Rio de Janeiro chegará a trechos de bairros da Zona Sul após conquista de territórios que pertenciam ao tráfico..

* Desabamento de prédio comove o país.

* Direita perde terreno no Leste Europeu, mas avança na França. 

* Reino Unido sofre efeitos do Brexit, apesar de acordo, e recorrerá aos Estados Unidos para criação de de zona especial de comércio privilegiado com os Estados Unidos. Joe Biden resiste à ideia.

* China fará exercícios militares e estocará toneladas de removedor de tinta depois do ministro das Relações Exteriores do Brasil declarar que esgotada a diplomacia terá chegado a hora de enviar uma tropa de assalto das Forças Armadas para pintar de branco as árvores e o meio fio das ruas de Pequim. . 

* Deputado pede investigação sobre a milionária compra de Cloroquina feita pelo governo brasileiro. O objetivo será saber quem ganhou dinheiro na transação.

* O Brasil sofrerá aceleração das queimadas no segundo semestre do ano. Mas dessa vez a reação internacional será mais forte. Ecologistas exigirão extradição de Bolsonaro e Ricardo Salles.

* Famosos cantor sertanejo morrerá vitima de acidente automobilístico em estrada do Centro-Oeste.

Novo escândalo de assédio abalará a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Dessa vez um deputado se defenderá afirmando que "ouvia vozes do diabo" mandando passar a mão em funcionárias. O deputado acusado, considerado um "homem de bem", receberá a solidariedade dos colegas.

* 2021 será considerado um ano pré-eleitoral. No segundo semestre, aparecerão vários pré-candidatos. Obterão legendas um general, um delegado da PF, um bombeiro, um guarda civil, um PM, um escoteiro, um segurança, um miliciano, um templário, um pastor, um apresentador de TV, um produtor de fake news, um ex-Lava Jato e um ex-doleiro.

Democracia continuará ameaçada no Brasil.


sexta-feira, 11 de maio de 2018

Documento da CIA revela mecanismo de assassinatos montado por Médici, Geisel e Figueiredo

O Globo foi o único grande jornal que estampou a denúncia com destaque na primeira página.

A Folha foi discreta. E coerente: o jornal defende que a ditadura foi "ditabranda". E preferiu usar
"avalizar" em vez de "autorizar"


Estadão também minimizou a notícia e sublinha o "aval' de Geisel. Só na pequena chamada usou o verbo "autorizar"

O Zero Hora deu minúscula chamada e preferiu dizer que Geisel "tinha controle".
por José Esmeraldo Gonçalves 

O passado ressurge, hoje, nas primeiras páginas dos jornais brasileiros. Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas, revela o dramático conteúdo de um memorando da CIA, parte de um acervo que perdeu desde 2015, nos Estados Unidos, a classificação de "reservado".

No memorando de 11 de abril de 1974 o ex-diretor da CIA William Colby comunica ao Secretário de Estado Henry Kissinger que Ernesto Geisel - que tomou posse em março do mesmo ano -  foi informado da execução de 104 opositores do regime militar como ação rotineira do governo de Garrastazu Médici e autorizou a continuação do mecanismo oficial de extermínio de "subversivos".

Da reunião que validou o Estado como assassino participaram, além do próprio Geisel, João Figueiredo, que assumia a chefia do SNI, e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Dantas de Paula Avelino. Figueredo, como se sabe, sucedeu Geisel e sob o seu governo aconteceu o atentado a bomba no Riocentro. Mas essa é outra história que algum memorando a ser retirado, no futuro próximo, de uma gaveta qualquer da CIA ou do Departamento de Estado americano revelará.

Aqui, como o Exército informa, hoje, documentos desse tipo foram destruídos.

Pesquisador há vinte anos, Spektor declara que o memorando do agente Colby é "perturbador". De fato, é uma folha de papel que tem o poder de demolir o castelo de cartas que alguns escritores, parte da mídia, muitos cientistas políticos, apoiadores da ditadura, filhotes e descendentes dos seus beneficiários ajudaram a construir. Um grande jornal foi até mais direto na elaboração do mito. A Folha de São Paulo - que muito além do apoio ao regime foi participante, contribuindo até com viaturas cedidas para a repressão - instituiu o conceito de "Ditabranda" para classificar o suave espectro cor-de-rosa que seus editores desenharam sobre uma das mais trágicas eras da história política do Brasil. Seria a tese de que nada existiu: a tortura era cordial, a censura foi amiga, o exílio era turístico e os assassinatos cenográficos.

O documento da CIA cita Geisel e os três generais fardados. Mas caberia muito mais gente nas salas do Planalto quando o assassinato político foi admitido como estratégia de governo. Gente civil, de paletó e gravata. Desde a década anterior os governos militares vinham erguendo conjunto de leis, como o Ato Institucional n° 5 e a própria instituição da pena de morte para crimes políticos (esta nunca aplicada oficialmente, mas, vê-se agora, imposta em segredo), como respaldo ao endurecimento do regime. O método que a CIA descreve tem muitos coadjuvantes. Basta ler a lista de ministros, governadores nomeados, altos funcionários, embaixadores, juízes, chefes de agências de segurança, comandantes, executivos de corporações que colaboraram com a repressão etc.

Muitos, desgraçadamente, permaneceram influentes na vida política do Brasil.

Não há inocentes no organograma de um regime capaz de fazer um macabro workshop para decidir mortes em massa. Seus sobrenomes estão aí em nomes de cidades, de ruas, de viadutos... E seus legados sobrevivem em artigos de jornais, nas redes sociais e até no programa de governo de certos candidatos a presidente neste sombrio 2018.

EM 1985, MATÉRIA DA REVISTA FATOS RELATAVA MÉTODOS 
DE EXTERMÍNIO DA DITADURA

Reprodução Fatos, 1985. 
É surpreendente que documentos como esse sejam revelados em toda sua extensão apenas 44 anos depois. Ao longo desse tempo, muitos jornalistas, escritores e pesquisadores enfrentaram barreiras para expor o passado. Mesmo assim, dezenas de reportagens aqui e ali montaram parte do mapa da violência política. O jornalismo investigativo se esforçou - e conseguiu - localizar centros de tortura e testemunhas dos efeitos da "política de governo" que o memorando da CIA oficializa. Se mais não conseguiu foi pela quase impossibilidade de encontrar documentos. A maioria das reportagens se baseava em depoimentos de ex-participantes dos órgãos de segurança e de sobreviventes. Os documentos, como a Fatos afirmou em 1985 e o Exército repete agora, foram destruídos. É preciso constatar também que a Anistia, assim como perdoou crimes como esse que a CIA conta, instaurou em muitos setores uma espécie de pauta do esquecimento. Mesmo assim, repito, embora pontas tenham ficado soltas, o método que o memorando revela foi exposto por vários repórteres em vários veículos em um jornalismo de resistência que levou à instauração da Comissão da Verdade.

 O Brasil é que, aparentemente, não quis puxar esse fio desencapado.

PARA SABER MAIS SOBRE A MATÉRIA DA FATOS, CLIQUE AQUI

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Turbulência a bordo... e o que o bom jornalismo tem a ver com isso

Ao lado de diversas instituições de classe, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro Rio se solidarizou com a jornalista Miriam Leitão pelo constrangimento sofrido no dia 3 de junho, em um voo de Brasília ao Rio.

A representação dos jornalistas cariocas, segundo a nota, "repudia toda e qualquer forma de violência contra jornalistas", e alerta que profissionais de imprensa não podem ser confundidos com as empresas onde trabalham – no caso, as Organizações Globo, e que as discordâncias políticas em uma democracia "devem ser tratadas com respeito aos interlocutores, em um debate saudável, e não por meio de silenciamento e atos violentos".

"Lamentavelmente" - continua a nota do SJPMRJ - "o acirramento da polarização política no país – em muito alimentado por setores da mídia – tem multiplicado graves casos de constrangimento e violência como o sofrido por Miriam Leitão; nas ruas, em restaurantes e até em hospitais. Cabe a nós, jornalistas, denunciar violações aos direitos humanos e zelar pelo pleno exercício da liberdade de expressão".

A jornalista Miriam Leitão usou o espaço da sua coluna, no Globo, no dia 13 de junho, para denunciar o episódio.
CLIQUE NO TEXTO PARA AMPLIAR

Ao lado das manifestações de solidariedade, sites e redes sociais levantaram outros aspectos do acontecimento que a jornalista, nas suas palavras, descreveu como "duas horas de gritos, xingamentos palavras de ordem contra mim e a TV Globo".

Alguns portais jornalísticos apuraram detalhes que foram omitidos no relato da jornalista e pessoas que estavam no voo da Avianca desmentiram nas suas páginas pessoais. Manda uma regra básica que o jornalismo não se limite a uma única e primeira versão da notícia. Confira a seguir alguns links que remetem à repercussão do caso.


REAÇÃO



FALTOU APURAÇÃO ?

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O RELATO DE UM TESTEMUNHA


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OUTRA VISÃO
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DÚVIDAS



MAIS UMA TESTEMUNHA


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...E O ÚNICO VÍDEO QUE APARECEU ATÉ AGORA

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Pão com ovo, patrimônio imaterial do jornalismo, muda de nome e de receita pra ficar mais caro. Corta essa!



por Omelete
Inflacionou. A coluna Gente Boa, do Globo, noticiou no último domingo a cotação da uma iguaria com a qual este blog tem afinidade histórica. Enquanto o petróleo desce, o pão com ovo sobe. Está "gourmetizado". Assim como "enochatos", existem os "gourmetchatos": um descreve vinho como "alma de folha de outono revestido de caramelo'; outro inventa de fazer pão com ovo com "pão de campanha", um tipo de pão rústico italiano. E o ovo é mexido, nada a ver. Tudo brega, deve ser receita de Miami. Pra ficar no clima, estão viajando na maionese. Não passarão. Pão com ovo - sendo o pão, o francês de crosta dourada e miolo branco e o ovo, frito, com o cozimento da gema entre mole e duro para não emporcalhar a beca domingueira do freguês -, é patrimônio imaterial do jornalismo, chegou ao Brasil no fim do século 19, é servido nos melhores botequins cariocas e era oferecido nas melhores redações de antigamente.
Para conhecer a história do pão com ovo que deu nome a este despretensioso blog - que Carlos Heitor Cony chamou de "panis cum ovum" - leia o texto "O poder do pão com ovo", de Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, no campo direito deste sítio, rolando a página. 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A posse que não houve: "Um mistério na Redação", segundo Cony

Reproduzido da Folha de São Paulo
por José Esmeraldo Gonçalves
Em artigo na página 2 da Folha, ontem, Cony revela um desses curiosos episódios de redação. No caso, curioso e surpreendente. Aconteceu na revista Fatos, em março de 1985. Ao lado de J.A. Barros e de Roberto Muggiati, fui testemunha do "mistério". Quando o Brasil esperava a posse de Tancredo Neves - nós, inclusive, em pleno trabalho de edição de cerca de 40 páginas sobre a vida e a trajetória política do presidente, um caderno especial que deveria acompanhar a cobertura da posse - Cony nos chama em um canto da sala no oitavo andar do prédio do Russell e joga a bomba: "Vamos mudar toda a edição, Tancredo não toma posse". O petardo jornalístico, que, depois, abalaria o país, ainda era notícia guardada em silêncio mineiro pela família do político. Naquele momento, TVs, rádios, jornais e revistas já antecipavam a festa da posse. Era tão impensável a notícia que, por um momento, achamos que fosse uma brincadeira do Cony. Não era. Era a História acontecendo.
Clique na imagem acima para ampliar e leia a reprodução da coluna do Cony