terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Réveillon de Copacabana segundo os fotógrafos da Manchete: o panorama de uma tradição que faz uma pausa enquanto a vacina não vem


A foto de Armando Borges em página dupla da Manchete, em 2000. Foi a saideira. Naquele mesmo ano, em agosto, a Bloch foi à falência. 

A foto de João Silva, em 1987, mostra o réveillon de Copacabana com luzes, cores e a multidão chegando e que faria a fama do espetáculo em todo o mundo. Ao fundo, a cascata de fogos do Méridien, extinta em 2004.

O fotógrafo Raimundo Costa fez, em 1985, uma panorâmica da virada em Copacabana. Manchete fazia uma prévia ainda básica do que se ampliaria muito mais nos anos seguintes. A cena se tornaria clássica nas páginas da revista.

1984: com fotos do alto, Manchete focalizava pela primeira vez o novo ângulo do réveillon de Copacabana. O crédito era de equipe, não sendo possível identificar com precisão o autor da foto, mas ´provavelmente foi o Nilton Ricardo, que registrou muitas vezes essa cena. Ressalte-se que a reprodução obtida não traduz a qualidade da página dupla de abertura da edição daquele ano.  


Em 1981, com fotos de Frederico Mendes, a edição da Manchete ainda destacava a celebração de Iemanjá em Copacabana e reservava a maior parte das páginas para a cobertura de festas privadas com celebridades e socialites.


por Ed Sá 

Uma tradição carioca sucumbe ao vírus. A prefeitura do Rio de Janeiro cancelou os fogos e a aglomeração em Copacabana na virada do ano. A praia estará em silêncio, não haverá shows e estão proibidos equipamentos de som nos quiosques. Se o povo vai obedecer, é outra história. A noite calma na areia deverá remeter aos anos 19601970, quando os cariocas comemoravam o réveillon em boates, clubes e em reuniões familiares. As areias de Copacabana recebiam umbandistas e candomblecistas. A noite era de Iemanjá. 

Manchete fez, durante anos, ensaios fantásticos dessas cerimônias que atraíam principalmente os adeptos das religiões afro e turistas estrangeiros. 

Foi no final da década de 1970 e começo dos anos 1980 que a Churrascaria Mariu's, no Leme, passou a fazer uma queima de fotos na areia em frente ao restaurante. Na mesma época, alguns hotéis das Av. Atlântica celebravam a virada com espetáculos pirotécnicos, ainda modestos. Em 1987, surgiria a famosa cascata do Hotel Méridien, que logo se tornou uma atração a mais. 

A primeira edição de  réveillon da Manchete a dar maior destaque aos fogos e publicar uma foto panorâmica da celebração, já com a praia atraindo milhares de pessoas, foi a de 1984. A partir daí, a festa só cresceu. Em 1985, o fotógrafo Raimundo Costa repetiu a foto aberta, a partir do terraço de um hotel, ainda com poucas luzes no céu. A cena se tornaria um clássico da Manchete nos anos seguintes. A cada ano, aquela imagem ganhava mais importância, era promovida a capa e página dupla.  Em 1987, o fotógrafo João Silva repetiu a composição já então com maior impacto visual. E os jornais do Rio começavram a explorar a panorâmica nas primeiras páginas, com a praia cada vez mais iluminada e lotada,  a avenida com luzes mais brilhantes, fogos mais poderosos e maior duração de queima. Depois vieram os grandes shows de artistas brasileiros e estrangeiros. Rod Stewart baixou em Copa em 1994, a Manchete registrou. E os Rolling Stones fizeram a praia explodir de gente em 2006, quando a Manchete não estava mais lá. 

Em 2000, o último réveillon da Manchete (a Bloch faliu em agosto daquele ano) coube ao fotógrafo Armando Borges encerrar o ciclo da revista para páginas duplas e capas do réveillon de Copacabana. Naquele ano, os fogos ainda foram lançados da areia, mas um acidente com vítimas transferiu a queima para balsas a partir de 2001. Três anos depois, o Corpo de Bombeiros proibiu a cascata de fogos do Méridien. O réveillon de Copacabana mudou, mas foi em frente, já então como um dos maiores espetáculos do mundo, capaz de atrair cerca de três milhões de pessoas. 

A festa, que passou a concorrer com o Carnaval em número de turistas nacionais e internacionais, só não resistiu à pandemia. 

Fica para o ano que vem. 

2 comentários:

Erik disse...

Vai fazer falta o réveillon na praia. Mas acho que vai lotar. Se o povo tá indo pra praia sem mascara e juntando um monte de gente, vai ao réveillon. Infelizmente, o povo nãoptem consciência.

João Carlos disse...

Isso dá saudade de outros tempos para o Rio e para o jornalismo. Trabalhei no Rio. Hoje estou no interior, vida tranquila, feliz, mas nunca esquecerei esse tempo aí. Grande abraço.