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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Hoje é dia de São Roque, bebê • Por Roberto Muggiati


Meu pai nasceu em 16 de agosto de 1906, por isso foi batizado como Gavino Roque Dalledonne Muggiati. Na Itália, Rocco, é um dos santos mais importantes, Luchino Visconti o homenageou com o filme Rocco e seus irmãos. Roque de Montpellier é um santo da Igreja Católica Romana, protetor contra a peste e padroeiro dos inválidos, cirurgiões, e dos cães. É também considerado por algumas comunidades católicas como protetor do gado contra doenças contagiosas. Sua popularidade maior, devido à intercessão contra a peste, fez dele padroeiro de muitas cidades por todo o mundo e muitos já o adotaram como padroeiro na luta contra a Covid-19.

Diz a lenda que Roque teria nascido com um sinal no peito em forma de cruz avermelhada que o predestinava à santidade. Herdeiro de importante família de Montpellier, seria o herdeiro de considerável fortuna. Órfão de pai e mãe muito jovem, foi criado por um tio. Teria estudado medicina na sua cidade natal, não concluindo os estudos. Desde muito cedo optou uma vida ascética, praticando a caridade. Ao chegar à maioridade, distribuiu todos os seus bens aos pobres. Deixando uma pequena parte confiada ao tio, partiu em peregrinação a Roma. Ao chegar às proximidades de Viterbo, encontrou-a assediada pela grande epidemia da Peste Negra. Ofereceu-se prontamente como voluntário na ajuda aos doentes, fazendo as primeiras curas milagrosas, usando apenas um bisturi e o sinal da cruz. Onde surgia um foco de peste, lá estava Roque ajudando e curando, revelando-se cada vez mais um místico e taumaturgo. Depois de visitar Roma, onde rezava diariamente sobre o túmulo de São Pedro e onde também curou vítimas da peste, voltou para Montpellier. No meio da viagem, foi ele próprio tomado pela doença. Para não contagiar ninguém, isolou-se na floresta, onde teria morrido de fome se um cão não lhe trouxesse diariamente um pão e se da terra não tivesse nascido uma fonte de água com a qual matava a sede. O cão pertenceria a um homem rico que, percebendo miraculosamente a presença de Roque, o ajudou.

Curado milagrosamente, ao voltar a Montpellier foi acusado de espionagem e encarcerado por cinco anos, até morrer, abandonado e esquecido por todos. Só então foi reconhecido, pela cruz que tinha marcada no peito.


São Roque é geralmente representado em trajes de peregrino, por vezes com a vieira típica dos peregrinos de Santiago de Compostela, e com um longo bordão do qual pende uma cabaça. Um das pernas é geralmente desnudada, mostrando no joelho uma ferida (o bubão da peste). Por vezes é acompanhado por um cão, que aparece ao seu lado trazendo-lhe na boca um pão. Os peregrinos do Caminho de São Tiago de Compostela chamam a atenção para a carta “O Louco”, do Tarô de Marselha, que lembra muito São Roque, com seu ar de viajante, o bordão e um cachorro que lhe sobe pela perna.

No Brasil, a cidade de São Roque (“Terra do Vinho”), na região de Sorocaba, festeja o padroeiro do primeiro domingo de agosto até o dia 16. de agosto. Fundada na segunda metade do século XVII pelo bandeirante Pedro Vaz de Barros, a aldeia surgiu de uma enorme fazenda e uma capela que ele e dedicou a São Roque. Essa área foi comprada em 1936 pelo escritor Mário de Andrade, que queria erguer ali um retiro para artistas e intelectuais. Por vontade expressa de Mário, morto em 1945, o local foi doado à municipalidade e é hoje um centro cultural.

As Festas de Agosto em São Roque abrem com a entrada dos carros de lenha e vão até o dia 16 de agosto com uma monumental procissão dedicada ao Santo. Os shows incluem todo tipo de música, até pagode: é bom lembrar que, nas religiões afro-brasileiras, São Roque (com São Lázaro) é sincretizado como o orixá Omolu/Obaluaiê. 

Este ano, a Paróquia de São Roque “cancelou os shows, a entrada dos carros de lenhas, as alvoradas e procissões da Festa devido aos números da pandemia que ainda persiste na cidade.  As celebrações litúrgicas e missas, porém, vão acontecer com a presença de fiéis conforme os protocolos de saúde recomendados pela e pelo Ministério da Saúde do Brasil.”

Faz sentido. O Santo que protege contra as pandemias está sempre atento e forte, como vem fazendo ao longo dos últimos oito séculos.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Réveillon de Copacabana segundo os fotógrafos da Manchete: o panorama de uma tradição que faz uma pausa enquanto a vacina não vem


A foto de Armando Borges em página dupla da Manchete, em 2000. Foi a saideira. Naquele mesmo ano, em agosto, a Bloch foi à falência. 

A foto de João Silva, em 1987, mostra o réveillon de Copacabana com luzes, cores e a multidão chegando e que faria a fama do espetáculo em todo o mundo. Ao fundo, a cascata de fogos do Méridien, extinta em 2004.

O fotógrafo Raimundo Costa fez, em 1985, uma panorâmica da virada em Copacabana. Manchete fazia uma prévia ainda básica do que se ampliaria muito mais nos anos seguintes. A cena se tornaria clássica nas páginas da revista.

1984: com fotos do alto, Manchete focalizava pela primeira vez o novo ângulo do réveillon de Copacabana. O crédito era de equipe, não sendo possível identificar com precisão o autor da foto, mas ´provavelmente foi o Nilton Ricardo, que registrou muitas vezes essa cena. Ressalte-se que a reprodução obtida não traduz a qualidade da página dupla de abertura da edição daquele ano.  


Em 1981, com fotos de Frederico Mendes, a edição da Manchete ainda destacava a celebração de Iemanjá em Copacabana e reservava a maior parte das páginas para a cobertura de festas privadas com celebridades e socialites.


por Ed Sá 

Uma tradição carioca sucumbe ao vírus. A prefeitura do Rio de Janeiro cancelou os fogos e a aglomeração em Copacabana na virada do ano. A praia estará em silêncio, não haverá shows e estão proibidos equipamentos de som nos quiosques. Se o povo vai obedecer, é outra história. A noite calma na areia deverá remeter aos anos 19601970, quando os cariocas comemoravam o réveillon em boates, clubes e em reuniões familiares. As areias de Copacabana recebiam umbandistas e candomblecistas. A noite era de Iemanjá. 

Manchete fez, durante anos, ensaios fantásticos dessas cerimônias que atraíam principalmente os adeptos das religiões afro e turistas estrangeiros. 

Foi no final da década de 1970 e começo dos anos 1980 que a Churrascaria Mariu's, no Leme, passou a fazer uma queima de fotos na areia em frente ao restaurante. Na mesma época, alguns hotéis das Av. Atlântica celebravam a virada com espetáculos pirotécnicos, ainda modestos. Em 1987, surgiria a famosa cascata do Hotel Méridien, que logo se tornou uma atração a mais. 

A primeira edição de  réveillon da Manchete a dar maior destaque aos fogos e publicar uma foto panorâmica da celebração, já com a praia atraindo milhares de pessoas, foi a de 1984. A partir daí, a festa só cresceu. Em 1985, o fotógrafo Raimundo Costa repetiu a foto aberta, a partir do terraço de um hotel, ainda com poucas luzes no céu. A cena se tornaria um clássico da Manchete nos anos seguintes. A cada ano, aquela imagem ganhava mais importância, era promovida a capa e página dupla.  Em 1987, o fotógrafo João Silva repetiu a composição já então com maior impacto visual. E os jornais do Rio começavram a explorar a panorâmica nas primeiras páginas, com a praia cada vez mais iluminada e lotada,  a avenida com luzes mais brilhantes, fogos mais poderosos e maior duração de queima. Depois vieram os grandes shows de artistas brasileiros e estrangeiros. Rod Stewart baixou em Copa em 1994, a Manchete registrou. E os Rolling Stones fizeram a praia explodir de gente em 2006, quando a Manchete não estava mais lá. 

Em 2000, o último réveillon da Manchete (a Bloch faliu em agosto daquele ano) coube ao fotógrafo Armando Borges encerrar o ciclo da revista para páginas duplas e capas do réveillon de Copacabana. Naquele ano, os fogos ainda foram lançados da areia, mas um acidente com vítimas transferiu a queima para balsas a partir de 2001. Três anos depois, o Corpo de Bombeiros proibiu a cascata de fogos do Méridien. O réveillon de Copacabana mudou, mas foi em frente, já então como um dos maiores espetáculos do mundo, capaz de atrair cerca de três milhões de pessoas. 

A festa, que passou a concorrer com o Carnaval em número de turistas nacionais e internacionais, só não resistiu à pandemia. 

Fica para o ano que vem. 

sábado, 4 de abril de 2020

Como canta Gilberto Gil, "a fé também tá pra morrer"

Por pressão do lobby católico e evangélico, Bolsonaro incluiu igrejas como atividades essenciais. Os resultados já se fazem notar. Na pequena cidade de Aquiraz, no Ceará, dos 14 casos de Covid-19, 12 são originados em ambientes comunitários de uma seita católica chamada Shalom.  Há mais cerca de 40 casos suspeitos na cidade. Ouça Gil AQUI