quinta-feira, 11 de abril de 2019

Protestos na web condenam prisão do ciberativista Julian Assange. Até Pamela Anderson, ex-Baywatch, diz que "Reino Unido virou a puta da América"


Depois de passar sete anos asilado na embaixada do Equador, em Londres, o fundador do Wikileaks, o ativista e jornalista Julian Assange, australiano com cidadania equatoriana, foi preso em Londres.

A polícia britânica entrou na embaixada após ação coordenada com o atual presidente do Equador,  Lenin Moreno, que se tornou um fiel seguidor de Donald Trump e apoiador da ofensiva política, militar e neoliberal do governo americano sobre a América do Sul.

Assange está sujeito agora a ser extraditado para os Estados Unidos, que o acusam de hackear e divulgar informações sigilosas do governo americano.

A expectativa é que se confirme a dupla submissão de dois países: o Equador ao retirar o status de asilado e a Inglaterra por agir em nome dos Estados Unidos e, em breve, entregá-lo aos órgãos de segurança americanos.

Assange respondeu a um processo na Suécia, que o acusava de suposta agressão sexual. Ele negou envolvimento com o caso, não foram apresentadas provas. A justiça sueca arquivou o processo  por questões legais de prazo. Esse processo era visto como um pretexto para detenção e entrega do ativista à CIA.

O comitê sobre Detenções Arbitrárias da ONU considerou ilegais as várias prisões que o ativista sofreu antes de se refugiar na embaixada.

Para muitos, Julian Assange é um herói do ciberativismo. Ele foi um dos fundadores do Wikileaks, um portal de denúncias e de vazamentos de informações. Em nome da liberdade de expressão e da luta contra censura, recebeu prêmios de veículos como The Economist , revista Time e Le Monde.  Graças a ele, crimes de guerra dos Estados Unidos no Afeganistão e  no Iraque vieram a público. Wikileaks denunciou também a espionagem americana sobre governos aliados.

A prisão de Assange abala um instituto internacional: o do asilo em embaixadas que, a partir de agora, a depender do alvo e da submissão do país que eventualmente abrigue perseguidos, pode ser facilmente revogado, como o Equador e a Inglaterra acabam de demonstrar.

Em dezembro do ano passado, o New York Times revelou que o presidente do Equador negociou com os Estados Unidos a expulsão de Assange em troca de alívio de dívidas. De fato, o Equador assinou recentemente um acordo de mais de 4 bilhões de dólares com o FMI. A reação do presidente do Equador é atribuída a vingança.

O Twitter regista as reação contra a prisão do jornalista. Veja alguns posts:









Fotomemória das enchentes cariocas: a cápsula Gemini V quase naufraga no Rio e jornal compra barco para resgatar jornalistas...

Cenas cariocas durante as chuvas de 1966: no Passeio Público, a enxurrada ameaçou ou cápsula espacial Gemini V  em exposição no Rio , apavorando o engravatado agente americano. 

Na Praça da Bandeira a canoa dos bombeiros virou táxi. A redação do Última Hora ficava nas imediações e as cheias eram tão frequentes que a direção do jornal comprou um barco para transportar os funcionários na zona crítica.
Fotos/Reproduções Manchete 

O Rio vive dias de um caos que se repete ao longo de décadas. Neste 2019, dois elementos que não caíram dos céus - a negligência e falta de iniciativa do prefeito Crivella - foram os agravantes que multiplicaram os efeitos das enchentes. Mas o fato é que no passado e no presente e, pelo jeito, no futuro, as chuvas alagaram, alagam e alagarão a cidade e levaram, levam e levarão para a lama a imagem dos prefeitos e governadores de ocasião. Alguns até mostraram trabalho na contenção de danos - não é o caso de Crivella - mas não foram competentes na ação preventiva.

Em 1966, a redação do Última Hora ficava na Praça da Bandeira, onde durante temporais só se transitava de barco. O transtorno era tão frequente que, segundo matéria da Manchete, a direção do jornal comprou um barco para transportar seus funcionários em dias de enchente e resgatá-los ao fim do expediente.

Também em 1966, a cápsula espacial Gemini V quase naufragou no Rio. A nave que passou sete dias em órbita poucos meses antes, em agosto de 1965, pilotada pelo astronauta Gordon Cooper, estava em exposição no Passeio Público em evento organizado pela embaixada americana. A enxurrada que veio da Lapa e das escarpas de Santa Teresa quase arrastou o veículo da NASA.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Serginho, o sobrevivente - O garoto da Manchete que driblou os 80 balaços

A redação da Manchete em foto para a edição dos 35 anos, em 1987: No canto esquerdo, David Klajmic e Ney Bianchi. Perfilados na mesa em "L", Lorem Falcão, Murilo Mello Filho, Nelson Gonçalves, Raul Giudicelli, George Gurjan, Eduardo F. Alves,, Roberto Muggiati,  José Egberto, Alberto Carvalho, J.A. Barros, Wilson Passos e Sérgio G. Araújo

Para a mídia, ele é "o sogro".

Para quem trabalhou na Manchete, é o Serginho.

Na tarde de domingo, 7, militares do Exército metralharam um carro nas proximidades do Piscinão de Deodoro, em Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro. Soldados teriam confundido o carro que levava uma família com o de bandidos que supostamente circulavam na região. Oitenta tiros, no mínimo, segundo a Polícia Civil, foram disparados; mataram o músico Evaldo dos Santos Rosa e feriram gravemente um homem que se aproximou para socorrer as vítimas da fuzilaria. O Ford Ka levava Luciana, mulher de Evaldo, o filho do casal de sete anos e uma amiga, que não se feriram. No banco do carona estava o padrasto de Luciana, Sérgio Araújo Gonçalves, 51 anos, que foi atingido por dois tiros de fuzil, um deles tendo perfurado o pulmão. Ele está hospitalizado, inspira cuidados, mas não corre risco de morte, segundo boletim médico.

Na manhã de segunda-feira, mensagens no WhatsApp, vindas de colegas da velha Manchete, identificaram "o sogro".

A foto acima, e recortada ao lado, é, provavelmente, de um dia qualquer em 1987. A Manchete preparava a edição especial comemorativa dos 35 anos. Era de lei, nessas ocasiões, incluir uma foto da redação. Nas internas, com sarcasmo, essa foto ficou conhecida como "A Santa Ceia".

Serginho era, na época, um dos auxiliares da equipe, cuidava dos telefones e do"tráfego", como as agências de publicidade denominam a movimentação interna de fotos, material de redação, pastas de pesquisa (no tempo em que não havia Google) etc. Na medida do possível, o prestativo Serginho também era eficiente "assessor especial" para questões bancárias, burocráticas, pagamentos de boletos e, importantíssimo, cuidar da renovação da carteirinha que dava aos privilegiados acesso à tribuna da imprensa do Maracanã, o que, não raro, dependia do seu poder de argumentação.

Serginho trabalhou na Manchete, diretamente com o diretor, Roberto Muggiati, e com o secretário de redação, Alberto Carvalho, durante mais de dez anos.

"O Serginho ainda estava comigo em 1996, quando fui para a "Santa Genoveva" (N.R. a sala do décimo-primeiro andar do prédio do Russell, que abrigava diretores de revistas provisoriamente destituídos da função). Mas não mais quando reassumi a Manchete em novembro de 1997. Acho que foi quando ele partiu para ser motorista autônomo", recorda Muggiati.

Ao Serginho e família, a nossa solidariedade.

Que a Justiça se faça e que esse crime absurdo não permaneça impune como tantos outros.

Jornalista recebe ameaça de morte...



O repórter Carlos de Lannoy, da Rede Globo, denunciou no Instagram ameaça que recebeu logo após cobrir, no Rio, o caso do fuzilamento, por parte de militares do Exército, de um carro que conduzia uma família. O ataque deixou um morto e dois feridos, um deles em estado grave.



O autor da ameaça é Erik Procópio de Moura, que já foi candidato a vereador Nisia Floresta, no Rio Grande do Norte. Nas redes sociais, o sujeito se diz formado em Direito, se mostra apoiador de Jair Bolsonaro e da ditadura militar, além de admirador de Sérgio Moro. Na mensagem em que deixa clara a ameaça, avisa que o jornalista "assinou sua sentença" e promete que a família "vai pagar".
A Federação Nacional dos Jornalistas levou o caso ao Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional. A FENAJ recomenda aos jornalistas que recebam ameaças que procurem suas empresas e o seu sindicato. Além de tentativa de intimidação direta, uma mensagem dessas serve de incentivo a indivíduos igualmente perigosos e no momento disseminados pelo país.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Quando os presidentes comunicam e se trumbicam - "É a sintaxe, estúpido!"

por Ed Sá 

A linguagem dos presidentes já foi bem mais formal. Talvez porque eles se expressassem mais por discursos. Entrevista coletiva nunca foi o forte dos presidentes e ditadores brasileiros. E as exclusivas geralmente eram e são concedidas a jornalistas escolhidos e veículos idem, evitando maiores riscos. Bolsonaro, por exemplo, radicaliza essa seleção e tem promovido um amistoso café da manhã com coleguinhas de "lista amiga" onde ele dá as cartas, além do pão com manteiga, recebe tapinhas nas costas, sorrisos e likes ao vivo.

Mas nada incomoda mais do que as metáforas que os habitantes do Palácio do Planalto incorporam. Parece que há um vírus linguístico entranhado na tapeçaria do gabinete presidencial.

Lula usava e abusava do futebol. "Virar o jogo", "em time que ganha não se mexe", "catimba", "chute na canela" foram expressões usadas por ele ara nomear crises ou os bastidores da política. Em 2010, ao fim do segundo mandato, definiu a situação assim: "Vamos trabalhar para ganhar as eleições. Não é uma eleição fácil. É como time de futebol. Quando o time está ganhando de um a zero, de dois a zero, quando o time está ganhando, recua, não quer mais fazer falta, pênalti, fica só rebatendo a bola. E quem está perdendo vem para cima com tudo, e é com gol de mão, de cabeça, de chute, de canela. Não tem jogo ganho ou fácil"...

Temer era uma espécie de "novo culto", o equivalente de "novo rico", era um ser pronominal, mas tudo nele soava falso. Parecia se homiziar em erudição fast food. Preferia as mesóclises e as citações literárias ou juristas. "Procurarei não errar, mas se o fizer consertá-lo-ei". O capricho na colocação dos pronomes não livrou os problemas: o coronel Lima desconcertou sua biografia cheia de verbas e verbos. No discurso de posse, Temer mandou um "sê-lo-ia" que ecoou no Congresso. Inspirava-se provavelmente em Jânio Quadros, o do famoso "fi-lo porque qui-lo", que, aliás, segundo o professor Sérgio Rodrigues, está errado na segunda ênclise, já que o "porque" deveria atrair o pronome.

Temer também encaixava frases em latim no cipoal de pronomes. Ficou famoso o "verba volant, scripta manent" que ele inseriu em uma carta enviada a Dilma. "As palavras voam, os escritos permanecem", diz a frase. Ironicamente, mensagens escritas e permanecidas no Whatsapp estão entre os elementos do seu indiciamento por corrupção.

Sarney produzia frases rebuscadas. Político escolado, ele elaborava cada declaração como se falasse  à posteridade em busca da absolvição da História. Com uma característica: sempre exaltava sua própria figura. Achava-se o máximo, apesar de ter sido um presidente medíocre. “Consultei um futurólogo e ele previu que o Brasil só terá outro presidente nordestino daqui a 1.900 anos. Então, acho que mereço ficar os seis anos (argumento para prorrogar o mandato);  “Sou apenas um menino do Maranhão que o destino disse: vai José, ser Presidente” (quando se sentiu ungido pelo destino como um César do Maranhão); "Não me perdoam por ter chegado ao poder passando por cima do cadáver de Tancredo Neves" (usando o falecido para lamentar críticas); "Durante o meu mandato a história se contorceu, mas a democracia não murchou na minha mão" (no dia em que o espírito de Lincoln arrepiou seu bigode épico).

Dilma confundia a nação com seus anacolutos. No trono da República, era rainha na prática de desestruturar frases, eliminar o pé,o tronco e a cabeça de sentenças inteiras. "Quero dizer para vocês que, de fato, Roraima é a capital mais distante de Brasília, mas eu garanto para vocês que essa distância, para nós do Governo Federal, só existe no mapa. E aí eu me considero hoje uma roraimada, roraimada, no que prova que eu estou bem perto de vocês"; "Eu acredito que nós teremos uns Jogos Olímpicos que vai ter uma qualidade totalmente diferente e que vai ser capaz de deixar um legado tanto… porque geralmente as pessoas pensam: 'Ah, o legado é só depois'. Não, vai deixar um legado antes, durante e depois"; "Foi muito, houve uma procura imensa, tinham seis empresas que apresentaram suas propostas, houve um deságio de quase… Foi um pouco mais de 38%, mas eu fico em 38% para ninguém dizer: 'Ah, ela disse que era 38′, mas não é não. É 39, 38 e qualquer coisa ou é 36. 38, eu acho que é 39, mas vou dizer 38". Isso foi Dilma sendo Dilma.

Fernando Henrique se sentou na cadeira de presidente mas nunca deixou a cátedra. Falava com se desse aula. “A barbárie não é somente a covardia do terrorismo mas também a intolerância ou a imposição de políticas unilaterais em escala planetária”;  “No candomblé, o mal e o bem coexistem. São irreconciliáveis, mas são eternos. Num momento em que há tantos maniqueístas no mundo, em que as pessoas querem simplificar as coisas – o bem está de um lado, o mal está de outro, uns são formidáveis, outros são horríveis -, o candomblé nos ensina que as coisas são um pouquinho mais complexas";  “Os países podem estar em um processo que, ao mesmo tempo, tenha concentração de renda e diminuição da pobreza"; "Os brasileiros são caipiras, desconhecem o outro lado, e, quando conhecem, encantam-se" ; "O mundo nunca é maravilhoso para todos, mas há uma similitude efetiva entre um grande período da expansão do capitalismo comercial, da eclosão do Renascimento e das Descobertas -- naquela altura, em que o homem era a medida de todas as coisas, embora não fosse, na verdade, mas como referência passou a ser e é o que está acontecendo hoje em dia".

Apesar da erudição, FHC também dizia coisas como essa: "Não vamos prometer o que não dá para fazer. Não é para transformar todo mundo em rico. Nem sei se vale a pena, porque a vida de rico, em geral, é muito chata".

Bolsonaro, talvez acometido por algum espírito de quilombola freudiano, relaciona a política a casamentos, namoro, relacionamento, traição etc. Para disseminar seu "bolsonarês, ele tem, como nenhum outro presidente, o alcance das rede social.

Sobre parceria com Paulo Guedes quando ainda candidato"Aîn, estamos namorando"; Sobre desentendimento com Rodrigo Maia, o presidente da Câmara: "Aîn, isso aí foi briguinha de namorado". Sobre o escritório de representação em Jerusalém e a futura transferência da embaixada do Brasil em Israel: "aîn, todo casamento começa com namoro e noivado".

Frequentemente, a linguagem do Bolsonaro é ofensiva. E esse é um diferencial marcante em relação a presidentes anteriores. "Abraço ´hetero" (em Gabeira), frases racistas e homofóbicas e ofensas às mulheres, aos negros, aos índios pontuaram o vocabulário do atual presidente. "Eu fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais"; "eu falei que não ia estuprar você porque você não merece" (para a deputada Mara do Rosário); “Ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu” (para Preta Gil).

Mas aí não é pra rir, é pra chorar.


domingo, 7 de abril de 2019

O oligarca da mídia mundial....


por Flávio Sépia 
A Carta Maior compartilha no Twitter matéria do New York Times sobre os governos que Rupert Murdoch - controlador de uma corporação de mídia global, a News Corp -, ajudou a derrubar no mundo.

À primeira vista, pensa-se no recente golpe que abalou o Brasil. Aparentemente, não mereceu muita atenção do oligarca. A reportagem, embora longa, não cita a terra do pau-brasil. Talvez porque é país mestiço demais para o gosto do Murdoch, que faz parte de uma sociedade que prega a eugenia. O que não o impede de ver com simpatia as ideias do  Jair Bolsonaro. Na recente visita aos Estados Unidos, o brasileiro recebe tratamento privilegiado na Fox News, onde deu entrevista exclusiva e ganhou edição favorável.

O australiano que ajudou a plantar alguns governos de direita no mundo, é dono de 789 empresas em 52 países, nos cinco continentes. The Times, New York Post , The Sun, Fox Network, MySpace, 20th Century Fox, Directv, a editora Harper Collins e The Wall Street Journal, entre outros veículos.

O oligarca australiano fez campanha a favor do Brexit. Ele admite publicamente que "odeia" a União Europeia.

Um objetivo declarado de Murdoch é comprar o New York Times,  jornal que agora revela todo o alcance do seu nefasto poder conspirador.

Murdoch, que acumula conquistas corporativas e assediou tantos governos, esqueceu de cuidar do seu próprio terreiro. Em 2013, ele descobriu que sua esposa, Wendi Deng, botou-lhe um par de chifres reluzentes. E quem enfeitou a cabeça do oligarca foi ninguém menos do que Tony Blair, ex-primeiro ministro do Reino Unido. Murdoch pediu divórcio após o ex-primeiro ministro invadir seu conglomerado mais íntimo.

sábado, 6 de abril de 2019

O Brasil – acreditem – já foi elegante: pelo menos nos cinco anos em que circulou a revista Senhor • Por Roberto Muggiati

Cenas cariocas clicadas pela Senhor: Didu Souza Campos, o apanhador no campo de polo. 
Fotos: Reproduções Senhor


A capital do país mudou para o Planalto, mas os cariocas não tomaram conhecimento. Quando surgiu a sigla da construtora de Brasília, Novacap, eles batizaram sua cidade de Belacap – e capital da beleza nacional o Rio continuou sendo, e também da inteligência.

A beleza se media nos badalados concursos de Miss no Maracanãzinho. Já o talento intelectual passava a desfilar na passarela de uma nova revista, lançada há exatos 60 anos, em março de 1959. Sediada no Rio, ela começou com o logotipo SR. – a palavra SENHOR inserida verticalmente na perna do R, e o lema “Uma revista para o senhor". Seu modelo era mais a intelectualizada Esquire do que a Playboy, que estourava nas bancas dos EUA com suas louraças peladas. Senhor tratava de elegância, etiqueta, política, economia e literatura (publicando contos e crônicas), mas não deixava de ter um olho arregalado também para mulher bonita, embora não exibisse corpos nus como alcatra num açougue, A praia da Senhor (o logotipo passou a aparecer por extenso a partir de abril de 1960) era o bom gosto e a sofisticação. Formulava um estilo de vida para o novo homem brasileiro que emergia do desenvolvimentismo de JK.

Walter e Elisinha Moreira Salles na SR.

O Melhor da SR revisitado em 2012

Eram tempos vibrantes: bossa nova, cinema novo, Sputnik, beats, cool jazz, revolução cubana – e, claro, revolução sexual. Todos esses temas encontravam espaço nas páginas da Senhor. O aquecimento do mercado garantia um respaldo publicitário para manter a Senhor nas bancas todo mês, com anúncios de moda, bebidas, cigarros, automóveis, eletrodomésticos, aparelhos de som, linhas aéreas. Foi uma bela aventura jornalística e cultural que durou até janeiro de 1964, um total de 59 edições, que tiveram sua memória resgatada em 2012 pela antologia facsimilar O Melhor da SR, ideia e coordenação de Maria Amélia Mello, organização de Ruy Castro (520 páginas, incluindo o suplemento SR. Uma senhora revista, Imprensa Oficial de São Paulo).

Revejo com satisfação e – por que não? – orgulho, minha assinatura no ensaio em página dupla “Os Moralistas Corruptores”, que a Senhor publicou em outubro de 1962, quando eu já estava em Londres, trabalhando no Serviço Brasileiro da BBC.

Rebolado segundo José Ramos Tinhorão

Senhor, agosto de 1961

Vinicius fala de poesia com Antonio Maria

Garrincha no ultimo número, janeiro de 1964. A foto de Alberto Ferreira foi Prêmio Esso. 
Meu trampolim para a Senhor foi o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, que saía aos sábados. Graças a Nelson Coelho, minha “conexão zen" em São Paulo, publiquei meus primeiros artigos no sdjb. (Um deles, sobre Jack Kerouac, me valeu um cartão postal do “rei dos beats”, datilografado na mesma máquina em que ele escreveu On the Road, a única correspondência de Kerouac com um brasileiro.) Em 1960, numa promoção da Esso, fui indicado pela Gazeta do Povo de Curitiba para fazer um estágio no Diário Carioca. Aproveitando a estada no Rio, visitei a redação da Senhor em Copacabana, na Rua Santa Clara, 344. Passaria por lá de novo em 1962, entre uma bolsa de estudos em Paris e o emprego na BBC de Londres. Entreguei a Paulo Francis a tradução que eu tinha feito do conto de J.D. Salinger, “Um Dia Perfeito para Peixebanana”. Francis publicou o conto de Salinger em julho de 1962, mas omitiu o crédito da tradução. Reclamei horrores, é claro. Quanto ao Salinger, imaginem só, fomos espoliar logo o mais ferrenho defensor dos direitos autorais. Eu simplesmente li o conto, adorei e traduzi. E o Francis, sem maiores burocracias, encaminhou à diagramação para publicar. Naquele tempo, realmente, não havia pecado abaixo do Equador... Só mais recentemente me dei conta de que, embora anônimo, fui o primeiro brasileiro a publicar uma tradução do Salinger.

Lembro meu primeiro contato com a equipe – estelar, mas simpática e acessível. Reynaldo Jardim, mestre da diagramação que criou os revolucionários espaços em branco no Jornal do Brasil; a sofisticada Bea Feitler, na flor dos seus 21 anos, que depois iria brilhar em Nova York como chefe de arte nas revistas Harper’s Bazaar, Vanity Fair e Rolling Stone; Nahum Sirotsky, um dos primeiros diretores da Manchete; Cláudio Mello e Souza, poeta neoconcreto, recém-batizado por Nelson Rodrigues de “o remador do Ben-Hur” (o filme fora lançado naquele mesmo ano da Senhor); Luiz Lobo, um dos melhores textos de nossa imprensa; Ana Arruda, sua contrapartida feminina. Cito aqueles que frequentavam a redação e que conheci pessoalmente. Os colaboradores eram uma plêiade que fez história na cultura brasileira: Manuel Bandeira (O biquíni é casto), Drummond, Clarice Lispector, os Antônios (Callado e Maria), os Ottos (Lara Resende e Maria Carpeaux), Ferreira Gullar, Millôr Fernandes, Rubem Braga, Tom, Vinicius e por aí vai. Foi na Senhor que Jorge Amado publicou em primeira mão a novela “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Agua”; e Guimarães Rosa o conto "Meu Tio, o Iauaretê”.

O aspecto visual da revista marcou época, criado com ousadia por artistas plásticos como Carlos Scliar, Darel e Glauco Rodrigues, pelos cartunistas Claudius e Jaguar e por fotógrafos como Armando Rozario, Flávio Damm e Fulvio Roiter.

Eu estava no Rio em 1960 quando Jorge Amado organizou o Festival do Escritor. Jean-Paul Sartre lançou o livro Furacão sobre Cuba e passei horas agradáveis na fila quilométrica dos autógrafos em companhia dos novos amigos da Senhor. Um ingênuo perguntou a Sartre quando ele escreveria sobre o Brasil. “Façam primeiro sua revolução” – disparou o escritor. O Festival Sartre & Simone no Brasil durou mais de dois meses. Meu professor de filosofia em Curitiba, Fausto Castilho, conseguiu convencer Sartre – que proclamara em 1955 “Não pode haver mais filósofos neste momento” – a falar especificamente sobre filosofia na famosa Conferência de Araraquara.

Na palestra do autor de A Náusea, na Faculdade Nacional de Filosofia e Letras, no Rio, quem roubou o show foi um colaborador da Senhor (e depois da Manchete), o romancista Carlos Heitor Cony, que provocou Sartre com a pergunta: “Por que o senhor não se suicidou aos 35 anos?” Referia-se a um conceito que o escritor defendera em seus romances. Sartre fuzilou Cony com seu olhar zarolho, mas deu uma resposta ponderada e filosófica. Pouco antes de morrer, falando sobre a revista, Cony lembrou: “Eu trabalhava no Correio da Manhã, um jornal sério. Na Senhor tinha mais liberdade para escrever.  Foi uma época que me deixou muita saudade."

Não só você, Cony: a Senhor deixou saudades nas dezenas de jornalistas que passaram por suas páginas brilhantes.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Gervásio Baptista (1923-2019): uma vida dedicada à fotografia

Foto José Cruz/Agência Brasil

A Agência Brasil acaba de noticiar a morte de Gervásio Baptista, aos 95 anos, em Brasília. Nos últimos anos, Gervásio morava no Espaço Sênior, no Bairro de Vicente Pires, no Distrito Federal. Frequentemente era visitado pelos amigos fotógrafos Hermínio Oliveira, Sérgio Lima, André Dusek, Eugênio Novaes, Marcello Casal, entre outros. A informação foi confirmada pelo filho Júlio Baptista. Ícone do fotojornalismo brasileiro, Gervásio captou com suas lentes, para a Manchete, a famosa foto de Juscelino Kubitschek acenando com a cartola para o povo na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960. A família aguarda a chegada da filha de Gervásio, Selma Baptista, que estava em Madri, para definir detalhes sobre o velório. A cerimônia deve ocorrer na capital federal, no Cemitério Campo da Esperança. Em seguida, o corpo será cremado e as cinzas serão levadas ao Rio de Janeiro para serem espalhadas na Baía de Guanabara.“Ele manifestou em vida que fizéssemos os mesmos procedimentos que fizemos com minha mãe”, contou o filho. “A ficha ainda não caiu. Mesmo que eu já viesse me preparando há tanto, tanto tempo. Ouvia ele dizer que já estava cansado, que queria muito partir. A gente acha que está preparado, mas, quando a coisa acontece, a gente vê que não estava.” (por Agência Brasil)

Fotografia: ensaio mostra o sufoco dos passageiros do metrô de Tóquio. Não é por nada não, mas os japoneses compraram a Supervia...

Reprodução BBC/Brasil (link abaixo)
São famosas as imagens do metrô de Tóquio na hora do rush.

Há até batalhões de funcionários destacados para empurrar os usuários trem adentro.

O sistema transporta 6,2 milhões de pessoas por dia. A empresa proprietária admite que toda a capacidade é utilizada. Alguns passageiros diriam que a superlotação dos trens indica que essa capacidade é ultrapassada além dos níveis civilizados. Para a empresa, a regra tradicional é extrapolar a capacidade em nome do lucro.

O fotógrafo alemão Michael Wolf registrou em um ensaio chamado Tokio Compression o sufoco dos japoneses na ida e volta para o trabalho, espremidos e contorcidos contra janelas. Em algumas fotos, uma condensação acrescenta dramatismo às imagens. É produto da respiração e do suor dos passageiros.

Reprodução BBC Barsil (link ao lado)
Alguns fecham os olhos, "como se entrassem em transe", segundo o fotógrafo, outros meditam como recurso para suportar uma hora esmagados como massa de pizza.

A BBC Brasil publicou há algum tempo uma boa matéria com as fotos e as impressões de Michael Wolf.

A propósito, os japoneses acabam de comprar a Supervia, a empresa que opera os trens suburbanos no Rio de Janeiro.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA E VEJA FOTOS MICHAEL WOLF NA BBC BRASIL, AQUI

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Do Jornalistas & Cia: Roberto Canázio estreia dia 15/4 na Rádio SulAmérica Paradiso

Reprodução Jornalistas & Cia

O comunicador Roberto Canázio deixa a Rádio Globo, depois de 12 anos, e se prepara para estrear o programa "Manhã Paradiso" na Paradiso FM. A notícia está no Jornalistas & Cia.
Quando trabalhava na Rádio Manchete, o boa praça Canázio era a voz oficial dos comerciais da revista Manchete, que semanalmente divulgavam o conteúdo da edição. Foi ele quem popularizou o famoso e exclusivo slogan da revista "Aconteceu, virou Manchete". Para ouvir Canázio, sintonize 95,7 FM a partir do dia 15 de abril, das 8h às 10h.

Memória da redação: quando a fotógrafa Annie Leibovitz fez um frila para a capa da Manchete

Jerry Hall na capa da Manchete, fotografada por Annie Leibovitz



Nas páginas internas, entrevistada por Daisy Prétola, com fotos de Carlos Humberto TDC. Reproduções. 


Ao chegar à suíte do Copacabana Palace, no Rio, em 1984, para uma entrevista com a modelo Jerry Hall, a jornalista Daisy Prétola, da Manchete, admirou-se ao ser recebida pelo próprio Mick Jagger, sorridente, falando português.

Quando o fotógrafo Carlos Humberto TDC concluiu a sessão, eis que chega uma outra equipe, comandada por uma mulher, dando ordens em inglês para todo o seu grupo. Ia também fotografar Jerry Hall.

Enquanto a modelo se preparava para posar, a fotógrafa se dirigiu a Daisy Prétola e perguntou se a Manchete não gostaria que ela mesma fizesse as fotos de capa. Prontificava-se também a fazer a produção das fotos e não cobraria nada.

Foi feita a proposta ao diretor da revista, Roberto Muggiati, que quis saber quem era a tão "prestimosa" fotógrafa.

Era Annie Leibovitz, já famosa mundialmente, foram dela as últimas fotos de John Lennon, em 1980, pouco antes do assassinato do beatle. Ela estava no Brasil exclusivamente para trabalhos com Jerry Hall, para as revistas Vogue e Vanity Fair, e com Mick Jagger para a Rolling Stone.

Annie Leibovitz pedia apenas que a revista pagasse a revelação de todo o material em um laboratório especificado por ela.

E assim foi feito. E a capa está lá na edição 1.706 da Manchete.

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata). 

Leitura Dinâmica - Tchutchucas, Neymar fecha com Debi e Loide, vovó sentou, Temer e Moreira (não deu match na madruga)...

por Ed Sá 

* Queimou o filme -  A imagem de Neymar na França e Espanha já não é lá essas coisas. E não vai melhorar com o último episódio em que se envolveu gratuitamente. Ao trocar mensagens com Debi e Loide (Netanyahu, atualmente processado por corrupção, e com Bolsonaro, visto na Europa como fascista), o brasileiro importou para as arquibancadas do PSG, onde não raro é vaiado, mais uma animosidade.

* "Tô fora" - A propósito, é fake news o rumor de que o Jesus ou o Messias evitaram baixar à Terra Santa no começo dessa semana para não sofrer o vexame de ser recebido pela dupla Bolsonaro-Netanyahu.

* República das tchutchucas - O deputado Zeca Dirceu foi injusto ao dizer que Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, é "tigrão" com aposentados, agricultores e professores e"tchutchuca" com os privilegiados e"amigos banqueiros'. Injusto porque não é só o Guedes. O governo todo é "tchutchuca" carinhosa dos banqueiros, dos madeireiros, dos latifundiários, dos olavistas, dos militares, dos grandes empresários, dos fabricantes de armas, de Trump, de Netanyahu, da CIA, do Queiroz, dos terraplanistas, dos criacionistas, do Steve Bannon...

O Posto Ipiranga virou tchutchuca - Irritado por ser chamado de 'tchutchuca", o "tchutchuca' Paulo Guedes xingou a mãe do deputado em rede nacional. Até aí, normal, sempre sobra para as mães nessa hora, mas o ministro resolveu incluir na praga a "vó". "Tchutchuca é a mãe, é a vó". Avós também são mães, claro, mas costumam ser poupadas no destempero popular, tanto que existe a expressão "filho da puta", mas não o xingamento "neto da puta".

* "Senta aqui vovó" - Já que a palavra "tchutchuca" entrou nos trend topics, vale relembrar a letra do "Bonde do Tigrão": "Vem tchutchuca linda/Senta aqui com seu pretinho/Vou te pegar no colo/E fazer muito carinho/Eu quero um rala quente/Para te satisfazer/Escute o refrão/É do jeitinho q eu vou fazer/Vem, vem/Tchutchuca/Vem aqui pro seu Tigrão/Vou te jogar na cama/E te dá muita pressão!"

*"Conje" na rede - Moro acaba de abrir uma conta própria no Twitter (@SF_Moro). Antes, só a mulher dele, a "conje", como ele prefere denominar, atuava nas redes sociais.

* Não deu match na madrugada - Segundo a Veja, a Operação Lava Jato entregou ao Tribunal Regional Federal da 2ª (TRF2) transcrição de rápido diálogo que Michel Temer e Moreira Franco tiveram via WhatsApp, em plena madrugada, horas antes de serem presos.  Temer digitou: "Estás acordado?". Moreira prefere telefonar de volta. Temer não atende e o parça digita: “Sim. Liguei, mas vc não atendeu". A PF avalia que a conversinha é indício de que Temer foi informado da ordem de prisão. Talvez não, vai ver Temer queria comentar o filme que estava vendo no Netflix.

*Dentro, Temer - Temer, aliás, que nunca foi bom de voto, continua péssimo em pesquisas de opinião. Depois de deixar o governo com 2% de aprovação, agora vê que, de acordo com enquete do Atlas Político, 87% dos brasileiros o querem atrás das grades.

* Com os cumprimentos de Ghiggia - O Flamengo perdeu do Peñarol, do Uruguai, por 1x0. O jogo foi no Maracanã. O detalhe é que o gol dos uruguaios foi na chamada "trave de Barbosa" ou "gol do Barbosa", onde Giggia decretou o fatídico 2x1 que tirou do Brasil a Copa de 50. Ghiggia, aliás, foi jogador do Peñarol. Ontem Viatri, autor do gol, foi o carrasco do Flamengo. Maracanã é terreno paranormal do vizinho do Sul.

* Deu ruim - No mais, como diz o escritor moçambicano Mia Couto sobre a expansão da ciranda financeira e o aumento da concentração de renda, "em vez de riquezas estamos produzindo ricos".

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Vale faz "barragem" suíça para não pagar impostos...

Você já sabe que a Vale faz mal à saúde, provoca mortes e emporcalha o meio ambiente. O que você não sabia e o Instituto de Justiça Fiscal descobriu é que a empresa usou uma manobra comercial para deixar de pagar R$ 23 bilhões em impostos nas exportações de minério entre 2009 e 2015. É o que mostra matéria do repórter Eduardo Militão, do UOL.
LEIA AQUI 

Juliana Paes é o meio e a mensagem...


por Ed Sá 
Juliana Paes publicou essa foto no Instagram, ontem.  O post promove a linha de lingerie da atriz na marca Triumph. Em poucas horas recebeu quase 450 mil curtidas. Um impacto desse, imenso e imediato, explica porque veículos tradicionais há muito já perderam publicidade para as redes sociais.
Dá para encarar? Além das curvas, Juliana tem 17,5 milhões de seguidores.

The Face impressa volta para combater a síndrome da ansiedade provocada por redes sociais

por Jean-Paul Lagarride 

Fechamento de revista tem sido uma rotina. Por isso, salve, chegou a vez de noticiar a ressurreição de uma publicação.

The Face, que foi inicialmente especializada em música, tornou-se veículo de interesse geral, cultura, comportamento, política e moda e marcou gerações. Circulou de maio de 1980 a maio de 2004.

Ela volta aos poucos. Inicialmente, terá uma conta no Instagram. Em duas semanas, o website será ativado. Em julho sairá a primeira edição impressa, agora com periodicidade trimestral.

A ideia é ser uma boia de salvação contra a extrema ansiedade do tempo real digital. “Queremos formar um espaço em que as pessoas possam desacelerar e ter perspectiva sobre o que está acontecendo", diz o editor Stuart Brumfitt.

Na capa da Cláudia de abril, Maju Coutinho


A guerra que revolucionou o fotojornalismo de combate

Guerra Civil Espanhola - Em apoio aos fascistas, aviação alemã e italiana bombardeia Bilbao.
Foto de Robert Capa/International Center of Photography. 

A Guerra Civil Espanhola terminou oficialmente no dia 1° de abril de 1939. Com a derrota dos Republicanos, e com o último tiro disparado em Madri, o ambiente político da Europa não mudou muito. Mas o fotojornalismo jamais seria o mesmo. Na linha de frente, Robert Capa revolucionou a fotografia de guerra. É  o que diz o site da Magnum - agência que ele fundou ao lado de Cartier Bresson e outros fotógrafos - a propósito dos 80 anos do fim do conflito na Espanha. Aquela aliança vitoriosa entre fascistas e nazistas fez da Espanha o laboratório para ensaio totalitário que gestou a Segunda Guerra Mundial, que começou cinco meses depois e logo levaria Capa de volta ao front.
E, sim, fascistas e nazistas eram de direita. No caso, a História é a agência de checagem que desmascara Bolsonaro, o militar aposentado que caiu no ridículo mundial ao afirmar em Israel que o nazismo é ideologia de esquerda.

VEJA AS FOTOS DE ROBERT CAPA NO SITE DA AGÊNCIA MAGNUM, AQUI

terça-feira, 2 de abril de 2019

Publimemória: quando ser sócio de vídeo clube era sinal de status...


por Ed Sá

O streaming era futuro, a Netflix nem ficção era.

A Sharp lançou em 1982 o primeiro vídeo cassete brasileiro.  Não estava ao alcance de muitos: custava cerca de 390 mil cruzeiros, moeda da época. Uma fita virgem, Basf ou Maxell custava entre 7 mil e 10 mil cruzeiros (em maio de 1982, o salário mínimo foi reajustado para Cr$ 16.608,00).

A campanha da Sharp, acima - anúncio publicado na Manchete três anos depois, em 1985 -, oferecia algo mais. Quem comprasse um aparelho podia ser tornar sócio do Vídeo Clube do Brasil que tinha lojas em 50 cidades. Esse tipo de clube emitia até carteirinha de associado. Dava um certo status. Adquirir um vídeo cassete implicava em adotar um rotina que as novas gerações nem imaginam: ir a uma locadora escolher os filmes para ver no fim de semana. Esse programa era mais obrigatório do que ir à missa. O feliz proprietário da nova mídia gastava alguns minutos percorrendo estantes repletas de filmes, invariavelmente ouvia sugestões e dicas do freguês ao lado. Escolhia alguns, comprava pipoca e cerveja e garantia um novo lazer. Quem esquecesse de rebobinar a fita ao fim da sessão doméstica pagava uma multa ao devolver o filme.

Todo esse ritual agora se resume a um clique. Gastava-se uma hora nesse brincadeira. Hoje, só o tempo de carregamento do filme. Se a conexão for boa, menos de um segundo.

Na capa da Piauí: ô lôco...


10 perguntas sem respostas...

por O. V. Pochê

1) Quem mandou matar Marielle?

2) Onde estudaram os engenheiros que fazem as barragens da Vale?

3) Quem mandou fazer o vídeo pró-golpe divulgado pelo Palácio do Planalto?

4) Contra o disse-e-não-disse de Bolsonaro não está na hora de instalar o VAR para tira-teima?

5) Um bom nome para dirigir o "escritório comercial" do Brasil em Jerusalém não seria o Queiroz? Ele entende de negócios.

6) O Ibope já pode fechar? O ministro Barroso, do STF, diz que sabe ouvir os "anseios da sociedade". O homem é um instituto de pesquisas ambulante.

7) Corromper a língua portuguesa é crime? Falar "conje" é motivo de demissão de um ministro da "Justissa"?

8) Católicos da Polônia queimam livros de Harry Potter. Revistas pornôs de padres pedófilos escaparam da fogueira?

9) Você fica mais rico quando a Bolsa sobe? Você é liberado de pagar boletos quando a Bolsa cai? O banco alivia seus juros do cartão quando o mercado financeiro ultrapassa o recorde dos 100 pontos? Então por que bater palmas para a Globo News quando a comentarista anuncia feliz que a Bolsa tá de boa?

10) O que é mais bizarro? Ser Olavo de Carvalho ou ser aluno de Olavo de Carvalho?

Futebol celebra a Democracia. Diretoria do Flamengo faz gol contra

No jogo da Democracia, alguns clubes de futebol do Brasil e da Argentina bateram um bolão na última semana 



Aqui, foram poucos mas representativos. Apenas Corinthians, Bahia e Vasco da Gama postaram em suas redes no dia 31 de março - data que marcou os 55 anos do golpe de 1964 e da ditadura que se seguiu perseguindo, sequestrando, torturando e assassinando brasileiros - mensagens contra o autoritarismo e pelas liberdades democráticas.


A Argentina celebrou o Dia Nacional Pela Memórias, Liberdade e Justiça. No país que também sofreu ditadura sangrenta, muitos clubes fizeram manifestações alusivas à Democracia. "Nunca mais", assinalaram os torcedores, condenando a opressão.

Nota oficial do Flamengo

No Rio, o Flamengo foi a dissidência anti-democrática. A diretoria, não uma parte da sua torcida. No último domingo, rubro-negros fizeram na sede de remo uma homenagem a Stuart Angel, ex-remador do clube. Filho da estilista Zuzu Angel, Stuart foi preso, torturado e assassinado no Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica, em 1971. O jovem, então com 25 anos, foi amarrado a um veículo, com a boca colada ao cano de escapamento e arrastado até à morte no pátio do quartel. Anos depois, outros presos, além de ex-soldados que testemunharam a sessão de tortura, denunciaram a crueldade. Incomodada com a homenagem a Stuart Angel, a diretoria do Flamengo divulgou nota condenando o gesto dos torcedores. Nas redes, os internautas, incluindo rubro-negros reagiram contra o posicionamento dos cartolas. O mais curioso é que a nota oficial publicada no site do Flamengo tem na página os logotipos de patrocinadores. As marcas também assinam a nota? Estão incluídos entre os apoiadores a estatal Eletrobras, o Governo do Rio de Janeiro, Lei do Incentivo ao Esporte, Ministério da Cidadania, e o "Patria amada Brasil" do governo Bolsonaro. Ah, bom.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

"Furacão Anitta": biografia não autorizada nem desautorizada...


por Ed Sá

Leo Dias, do jornal O Dia, colunista de celebridades e apresentador do programa "Fofocalizando", do SBT, acaba de lançar a biografia "Furacão Anitta" (Agir), apresentada como "não autorizada".

O livro amplia a frente do reporting-book para figuras famosas e populares e também inaugura um gênero que seria o da "biografia não autorizada mas aprovada". Segundo o próprio autor, "Furacão Anitta" é "uma homenagem" à cantora. "Não estou aqui para deturpar a imagem da protagonista do livro. Ela é a heroína da própria história", disse ele em entrevista ao UOL.

O autor e a cantora são amigos - os muitos elogios deixam isso bem claro -  e é bem possível que trechos tidos como polêmicos tenham recebido o OK da musa do autor.

Com a crise das revistas impressas especializadas em celebridades, livros como esse atendem a um público que não tem em sites e redes sociais tanto volume de dados sobre a vida dos seus ídolos.

O gênero de biografias não autorizadas surgiu no Estados Unidos e tem como característica o tratamento literário-jornalístico de informações exaustivamente levantadas sobre o biografado.

Geralmente, quando bem feitas, vendem mais do que aquelas escritas pelos próprios personagens exatamente porque contam tudo aquilo o que a celebridade gostaria de esconder. Não necessariamente difamam - até porque o risco de processos nos Estados Unidos, país que tem mais advogados do que leitores, é alto -, mas levantam fatos preferencialmente comprovados que nem sempre afagam egos dos biografados.

No caso do "Furacão Anitta, os fãs, publico-alvo, podem ficar tranquilos: o livro é de admirador para admiradores da cantora.

domingo, 31 de março de 2019

Fotomemória: quando repórteres da Manchete levaram o Cristo Redentor para o Polo Sul....

Foto de Sergio Jorge/Reprodução Manchete


Em março de 1969, Manchete publicou um suplemento especial sobre o Polo Sul. Durante 15 dias, o repórter Durval Ferreira e o fotógrafo Sérgio Jorge percorreram o Sexto Continente e registraram a vida na imensidão da Antártida.

Para marcar presença, como exploradores que fincam bandeiras no objetivo conquistado, eles depositaram sobre o gelo um exemplar de outra edição especial da Manchete, esta sobre o Brasil e com o Cristo Redentor na capa.

Deve estar lá até hoje, soterrada em geleiras que o aquecimento global começa a derreter.

Fotojornalismo: com essa imagem, o português Mário Cruz concorre ao World Press Photo 2019. O que isso tem a ver com o Brasil?

Garoto que coleta material aproveitável descansa no colchão que navega sobre o lixo flutuante do Rio Pasig,
em Manila. A foto de Mário Cruz é finalista do World Press Photo 2019.

No próximo dia 11 de abril, o World Press Photo 2019 anunciará os vencedores de um dos mais prestigiados prêmios de fotografia do mundo. Um dos finalistas, o português Mário Cruz concorre com uma imagem que expõe a dramática poluição do Rio Pasig,  hoje uma veia de lixo e veneno que corta Manila, a capital das Filipinas. O Pasig está morto desde os anos 1990. A imagem de uma criança deitada sobre um colchão no berço da imundície concorre ao WPP e já ganhou repercussão mundial. O lixo que mata e adoece é o mesmo que se tornou fonte de renda para a população miserável que sobrevive dos dejetos.

Filipinas faz parte do Eixo da Direita, é governada pelo tosco e autoritário Rodrigo Duterte, líder moralista e populista que domina o país. O programa de Duterte tem pontos de contato com Jair Bolsonaro, que o elogia frequentemente. "Nova política", militarização do governo, perseguição a ativistas, criminalização dos movimentos sociais, imposição dos "valores da família", proximidade com milícias etc.

O país é a vitrine de um paradoxo: ao mesmo tempo em que o Banco Mundial celebra o cresciemento financeiro e as contas das Filipinas, o desemprego e a pobreza alcançam níveis dramáticos. Isso só mostra o abismo entre o mercado especulativo e suas prioridades financeiras, que não têm a ver com os interesses da população e suas necessidades básicas.

Walden Bello, um sociólogo e ativista filipino que conhece o Brasil, escreveu recentemente um artigo onde mostra o risco de o Brasil se transformar nas Filipinas de amanhã. Aqui também o mercado financeiro vai bem, fatura bilhões, e o país vai mal.

A foto de Mário Cruz espelha a desigualdade e a injusta concentração da riqueza que o mercado impõe. Esta é a cena que o Banco Mundial não vê ao colocar o jogo financeiro acima da vida.

Na Time: o oligarca canta na chuva


A alegoria da capa é perfeita. Depois de 22 meses de investigação, Donald Trump obteve uma das maiores vitórias de sua presidência. É o tema da reportagem da Time. O procurador especial Robert Mueller promoveu 2.800 intimações e 500 mandatos de busca e ouviu cerca de 500 testemunhas e não conseguiu provar que Trump e seu staff conspiraram com a Rússia durante a campanha eleitoral.  /na Casa Branca, segundo a Time houve brindes com espumante. Segurem essa: a campanha para reeleição do atual residente americano no ano que vem ganhou impulso. O Partido Democrata, que ainda se divide entre vários postulantes, vai ter que rebolar.

sábado, 30 de março de 2019

Na capa da Carta Capital, a pergunta que não quer calar...


por Flávio Sépia 

A história mostra com fartura que a esquerda nunca teve força para derrubar presidentes no Brasil. E, claro, não vai ser dessa vez. A bola está com a direita.

Até prova em contrário Bolsonaro foi legitimamente eleito, embora ele mesmo tenha levantado hipótese de fraude antes da reta final, é responsabilidade de quem o elegeu e carma geral do país até 2022.

O que analistas políticos levantam, diante da catatonia administrativa em um país paralisado que multiplica seus desempregado e da enorme capacidade de produzir crises, é que o próprio suporte do atrapalhado capitão - mercado, liberais, empresários, exportadores, ruralistas  etc, com os militares na aba - conclua que a parentada que domina o Planalto e suas ameaças insanas podem gerar graves prejuízos para o país.

Se doer no bolso, essa turma pode tirar a escada.

Outra hipótese também levantada seria a desidratação informal dos poderes do presidente que passaria a "chamar o Guedes, o Mourão, os militares"..., com o aumento da influência dos militares, do staff econômico e do Congresso. Nesse caso, Bolsonaro vai até o fim, não perde o crachá mas sua segurança pessoal terá trocar o código. Em vez de chamá-lo de "Águia",passa a apelidá-lo de "Queen". Ela mesma, a Elizabeth.

E aguardar os próximos capítulos ou a série da Netflix que desvendará mais esse "mecanismo" daqui a algumas temporadas.

A mídia em 31 de março: vergonha alheia


Em 1964, a mídia brasileira apoiou o golpe. E não negou suporte à ditadura que se seguiu. O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário de Notícias, o Jornal, Tribuna da Imprensa, Folha de São Paulo, Estadão, O Cruzeiro, Manchete, Fatos & Fotos, TV Tupi, TV Rio, TV Record (a TV Globo só entraria no ar em 1965) e, nos estados, a imprensa regional praticamente em peso saudou os militares. Os líderes golpistas passaram a ser tradados como heróis e celebridades. No Rio, o Última Hora foi uma exceção e pagou caro por se opor ao golpe. O jornal foi destruído sem receber qualquer solidariedade dos demais veículos engajados na histeria antidemocrática. O Correio da Manhã, embora conservador e tendo apoiado a "revolução", abriu espaço para as primeiras críticas ao regime militar. Poucas e isoladas vozes de jornalistas tiveram alguns espaço para críticas antes da decretação do AI5 que radicalizou ainda mais o regime. Nos anos seguintes, mesmo com as primeiras evidências de torturas e assassinatos, a grande mídia permaneceu firme lustrando coturnos. Vários editores e repórteres chegaram a desafiar o cerco da censura, mas as corporações que controlavam jornais, revistas, rádios e TV se alinharam à ditadura. Não é só a Democracia, a mídia brasileira não tem o que comemorar no 31 de março. Foi o seu Dia da Vergonha, o marco zero de uma longa noite.

Fotomemória da redação,1961: em torno da mesa de edição da Manchete


Em maio de 1961, a redação da Manchete funcionava na Rua Frei Caneca.  Pouco antes de embarcar para cobrir o Festival de Cinema de Cannes, Justino Martins reúne a redação e deixa instruções para as suas duas semanas de ausência. Entre outros, aparecem na foto em torno do diretor da revista Murilo Melo Filho e Raimundo Magalhães Jr.

Na capa da Veja: o mensageiro do apocalipse da Educação


sexta-feira, 29 de março de 2019

Nossos comerciais...


A pátria desbocada

por José Bálsamo 

Freud classificou o Superego com a instância que guarda os valores morais e culturais de um indivíduo. É aquele setor que cochicha no ouvido da pessoa: "Cara, 'manera', isso não pega bem". O Id é o "bicho solto", o banco de desejos e dos impulsos primitivos.  Não tá nem aí: "Vai fundo", ordena.
Pelo jeito, quando alguns políticos, autoridades e gurus atuais se conectam à internet apertam a tecla do Id e liberam geral.
E pensar que um dia os livros de Henry Miller foram apreendidos no Brasil "por inadequação à juventude auriverde", os palavrões de Dercy Gonçalves já foram reprimidos por "ameaçar a família e os bons costumes" e na famosa entrevista de Leila Diniz ao Pasquim os asteriscos substituíam até palavras triviais como "tesão".

Liguem os fato:

O juiz e o cantor. Reprodução
* Mandado de apreensão - O desembargado Jaime Machado Júnior, de Santa Catarina, em modo deslumbrado ao lado de uma celebridade, o cantor Leonardo, mandou uma mensagem de vídeo para um grupo de juízas e, data vênia, despachou: "Nós vamos aí comer vocês. Ele segura e eu como". O vídeo viralizou na web. AQUI

* Sopradores - Também circulam na rede trechos da entrevista de Nana Caymi à Folha. A pretexto de defender Bolsonaro, em quem votou e apoiou, a cantora ataca Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque: "Tudo chupador de pau do Lula", disse "La Pasionaria" do regime.

* Olha a chuva! -Bolsonaro abalou o carnaval ao chancelar no seu Twitter um vídeo 'pornô onde um rapaz pratica "chuva dourada" em outro. O filme repercutiu e a expressão golden shower foi para os trend topics mundiais. Parece que o tema não saiu da cabeça presidencial. Ele definiu o entrevero que teve com Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, como uma "chuva de verão. A palavra em inglês para o fenômeno climático (que virou sexual) é... "shower".

* Filosofia do brioco - Já o guru do governo, o astrólogo Olavo de Carvalho, deve achar que o cu é uma espécie de sistema planetário que preenche todas as situações. Tem especial apreço verbal pelo orifício, que é seu xingamento preferido. Duvida? Basta acessar as mensagens do Twitter da sumidade bolsonariana.