domingo, 31 de março de 2019

Fotojornalismo: com essa imagem, o português Mário Cruz concorre ao World Press Photo 2019. O que isso tem a ver com o Brasil?

Garoto que coleta material aproveitável descansa no colchão que navega sobre o lixo flutuante do Rio Pasig,
em Manila. A foto de Mário Cruz é finalista do World Press Photo 2019.

No próximo dia 11 de abril, o World Press Photo 2019 anunciará os vencedores de um dos mais prestigiados prêmios de fotografia do mundo. Um dos finalistas, o português Mário Cruz concorre com uma imagem que expõe a dramática poluição do Rio Pasig,  hoje uma veia de lixo e veneno que corta Manila, a capital das Filipinas. O Pasig está morto desde os anos 1990. A imagem de uma criança deitada sobre um colchão no berço da imundície concorre ao WPP e já ganhou repercussão mundial. O lixo que mata e adoece é o mesmo que se tornou fonte de renda para a população miserável que sobrevive dos dejetos.

Filipinas faz parte do Eixo da Direita, é governada pelo tosco e autoritário Rodrigo Duterte, líder moralista e populista que domina o país. O programa de Duterte tem pontos de contato com Jair Bolsonaro, que o elogia frequentemente. "Nova política", militarização do governo, perseguição a ativistas, criminalização dos movimentos sociais, imposição dos "valores da família", proximidade com milícias etc.

O país é a vitrine de um paradoxo: ao mesmo tempo em que o Banco Mundial celebra o cresciemento financeiro e as contas das Filipinas, o desemprego e a pobreza alcançam níveis dramáticos. Isso só mostra o abismo entre o mercado especulativo e suas prioridades financeiras, que não têm a ver com os interesses da população e suas necessidades básicas.

Walden Bello, um sociólogo e ativista filipino que conhece o Brasil, escreveu recentemente um artigo onde mostra o risco de o Brasil se transformar nas Filipinas de amanhã. Aqui também o mercado financeiro vai bem, fatura bilhões, e o país vai mal.

A foto de Mário Cruz espelha a desigualdade e a injusta concentração da riqueza que o mercado impõe. Esta é a cena que o Banco Mundial não vê ao colocar o jogo financeiro acima da vida.

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