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terça-feira, 9 de abril de 2019

Serginho, o sobrevivente - O garoto da Manchete que driblou os 80 balaços

A redação da Manchete em foto para a edição dos 35 anos, em 1987: No canto esquerdo, David Klajmic e Ney Bianchi. Perfilados na mesa em "L", Lorem Falcão, Murilo Mello Filho, Nelson Gonçalves, Raul Giudicelli, George Gurjan, Eduardo F. Alves,, Roberto Muggiati,  José Egberto, Alberto Carvalho, J.A. Barros, Wilson Passos e Sérgio G. Araújo

Para a mídia, ele é "o sogro".

Para quem trabalhou na Manchete, é o Serginho.

Na tarde de domingo, 7, militares do Exército metralharam um carro nas proximidades do Piscinão de Deodoro, em Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro. Soldados teriam confundido o carro que levava uma família com o de bandidos que supostamente circulavam na região. Oitenta tiros, no mínimo, segundo a Polícia Civil, foram disparados; mataram o músico Evaldo dos Santos Rosa e feriram gravemente um homem que se aproximou para socorrer as vítimas da fuzilaria. O Ford Ka levava Luciana, mulher de Evaldo, o filho do casal de sete anos e uma amiga, que não se feriram. No banco do carona estava o padrasto de Luciana, Sérgio Araújo Gonçalves, 51 anos, que foi atingido por dois tiros de fuzil, um deles tendo perfurado o pulmão. Ele está hospitalizado, inspira cuidados, mas não corre risco de morte, segundo boletim médico.

Na manhã de segunda-feira, mensagens no WhatsApp, vindas de colegas da velha Manchete, identificaram "o sogro".

A foto acima, e recortada ao lado, é, provavelmente, de um dia qualquer em 1987. A Manchete preparava a edição especial comemorativa dos 35 anos. Era de lei, nessas ocasiões, incluir uma foto da redação. Nas internas, com sarcasmo, essa foto ficou conhecida como "A Santa Ceia".

Serginho era, na época, um dos auxiliares da equipe, cuidava dos telefones e do"tráfego", como as agências de publicidade denominam a movimentação interna de fotos, material de redação, pastas de pesquisa (no tempo em que não havia Google) etc. Na medida do possível, o prestativo Serginho também era eficiente "assessor especial" para questões bancárias, burocráticas, pagamentos de boletos e, importantíssimo, cuidar da renovação da carteirinha que dava aos privilegiados acesso à tribuna da imprensa do Maracanã, o que, não raro, dependia do seu poder de argumentação.

Serginho trabalhou na Manchete, diretamente com o diretor, Roberto Muggiati, e com o secretário de redação, Alberto Carvalho, durante mais de dez anos.

"O Serginho ainda estava comigo em 1996, quando fui para a "Santa Genoveva" (N.R. a sala do décimo-primeiro andar do prédio do Russell, que abrigava diretores de revistas provisoriamente destituídos da função). Mas não mais quando reassumi a Manchete em novembro de 1997. Acho que foi quando ele partiu para ser motorista autônomo", recorda Muggiati.

Ao Serginho e família, a nossa solidariedade.

Que a Justiça se faça e que esse crime absurdo não permaneça impune como tantos outros.