quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Propina no futebol: escândalo atinge empresas de mídia e de marketing esportivo. Na Argentina, um executivo é encontrado morto horas após ser acusado

Escândalo repercute na mídia internacional. Bloomberg e...


... e The Guardian publicam a denúncia feita em Nova York. 

Enquanto a seleção brasileira fazia sua partida morna e decepcionante contra a Inglaterra, no 0X0 do Wembley, ontem, em Londres, um jogo muito mais pesado se desenrolava em Nova York: as autoridades locais, onde o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, com um histórico de serviços prestados à ditadura militar, é acusado de extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro, ouviam  uma das testemunhas de acusação.

Coube ao argentino Alejandro Buzarco ligar um enorme ventilador sobre detritos acumulados há décadas. E o vendaval por ele detonado chegou à Rede Globo. Buzarco, ex-executivo da empresa de marketing argentina Torneos y Competencias S.A também é réu no processo e acusou Globo, Fox, a empresa brasileira Traffic e a Televisa de pagarem propinas a dirigentes para assegurar direitos de transmissão de torneios internacionais.

Um breve histórico: a Globo mantinha um dos seus executivos, Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esporte, como o encarregado de fazer a ponte entre a poderosa rede, a CBF, a Comenbol e a Fifa. Nos bastidores, durante anos, Marcelo ficou conhecido o "cartola da Globo", tão semelhantes eram suas táticas com os movimentos subterrâneos da maioria dos dirigentes do futebol brasileiro.

Sempre defendendo os interesses da Globo, Pinto impunha horários de jogos, modificava tabelas, garantia a eterna exclusividade de transmissões e adiantava dinheiro de cotas para grandes clubes em aperto financeiro. A bola estava com ele, tinha poderes e cacife. Em novembro de 2015, poucos meses depois da prisão de José Maria Marin, na Suiça, a Globo anunciou que Marcelo se aposentaria no fim daquele mesmo ano.

Entre outras bombas, Buzarco contou que participou de uma reunião com Marin, Del Nero e Marcelo Campos Pinto, quando avisou ao grupo sobre uma "sobra" de propina. "Informei a eles que tinha mais 2 milhões de dólares de propina, dinheiro que Teixeira não havia coletado. Com a benção de Campos Pinto, ficou decidido que os 2 milhões seriam divididos entre Del Nero e Marin", disse Buzarco.

Em nota, a Globo afirmou que "não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina". Segundo a emissora, investigações internas apontam que jamais houve "pagamentos que não os previstos nos contratos". A empresa afirma que Marcelo Campos Pinto, em apuração interna, "assegurou que jamais negociou ou pagou propinas a quaisquer pessoas".

Tudo indica que Marcelo Campos Pinto vai segurar esse rabo de foguete. O julgamento prosseguirá em Nova York, mas dificilmente a Justiça brasileira vai se ocupar desse assunto. Corrupção privada no Brasil não é crime. E a CBF, ao contrário do Comitê Olímpico Brasileiro, daí a prisão de Carlos Arthur Nuzman, é uma entidade privada que não mexe com verbas públicas.

Do ponto de vista jornalístico, há um ponto curioso: acusações contra grandes empresas de mídia além de não prosperarem não costumavam ser divulgadas nos veículos do acusado e, muito menos, nos veículos concorrentes. Um pacto de silêncio protegia as corporações. Hoje, com as redes sociais e os sites independentes o silêncio torna-se impossível. O assunto está em todos os jornais. Ainda bem.

A Globo divulgou uma nota sobre o novo escândalo e promete noticiar todos os desdobramentos.

"Sobre o depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso FIFA pela justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina.

Esclarece que, após mais de dois anos de investigação, não é parte nos processos que correm na justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos.

O Grupo Globo se surpreende com o relato envolvendo o ex-diretor da Globo Marcelo Campos Pinto. O Grupo Globo deseja esclarecer que Marcelo Campos Pinto, em apuração interna, assegurou que jamais negociou ou pagou propinas a quaisquer pessoas. O Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido.

Para a Globo, isso é uma questão de honra. Os nossos princípios editoriais nem permitiriam que seja diferente. Mas o Grupo Globo considera fundamental garantir aos leitores, aos ouvintes e aos espectadores que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige."

Como se pode ler na nota, a Globo fez "investigação interna" para apurar se a Globo pagou propina".

E isso mesmo, não é piada.

A emissora acaba de renovar com o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também acusado na denúncia de Buzarco, os direitos exclusivos de transmissão dos jogos da Seleção Brasileira até 2022.

Sinal de que a bola deve continuar rolando, sem maiores tropeços. Ricardo Teixeira, ex-presidente, e Marco Polo del Nero, o atual mandante da CBF, dificilmente serão incomodados.

Por enquanto, apenas evitam viajar para o exterior espelhados no vacilo de Marin, preso em Zurique.

Vai que o longo braço do FBI os alcança.

Em matéria de CBF, Nova York não é aqui.

ATUALIZAÇÃO 
Jornais argentinos acabam de divulgar que Alejandro Delhon, um dos executivos denunciados por Alejandro Burzaco como envolvido em casos de propina no futebol, foi encontrado morto, ontem, nas proximidades de Buenos Aires. Segundo a polícia local, Delhon se atirou na frente de um trem na cidade de Lanús. As autoridade ainda apuram se foi suicídio ou assassinato. 

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