Sem entrar no mérito do que aconteceu ou não.
Está na hora do Brasil reconhecer o talento dramático de Anthony Garotinho. O infante de Campos dos Goytacazes acumula interpretações magistrais na sua tortuosa trajetória política dublada de uma House of Cards campista. É o Sir Laurence Olivier da política.
Charge de Latuff publicada em 2006. Reprodução CMI Brasil |
Em 2016, em uma das mais dramáticas sequências do telejornalismo, Garotinho foi visto gritando e esperneando em uma maca por recusar transferência de um hospital para o presídio em Bangu. A cena foi de terrir. Ele é transportado e uma maca, aparentemente calmo, talvez sob efeito de medicamentos, mas acesos os refletores subitamente se ergue e se debate até ser contido, com dificuldade, diga-se, tamanha sua energia de convalescente, por policiais e enfermeiros.
Em outra das suas prisões, já neste 2017, a PF foi buscá-lo em pleno estúdio de rádio onde o infante fazia seu programa. Garotinho foi levado aos costumes, mas a preocupação com a imagem não foi deixada de lado. Sua equipe informou no ar que o chefe parou de falar por "recomendação médica". "Nosso Garotinho até tentou, você viu, ele até tentou fazer o programa hoje, mas a voz foi embora. Orientação médica é que ele pare de falar" — disse no ar o locutor substituto. Garotinho realmente sofria de um problema de voz: "voz de prisão", foi o que a cidade inteira comentou.
Preso mais uma vez, nessa semana, Garotinho protagoniza um episódio supostamente teatral. Em plena madrugada, como em um filme de terror em Alcatraz, um sujeito invade a cela do ex-governador e dá-lhe um corretivo à base de um cacete. Garotinho diz que adormeceu e foi acordado por "um homem de 1,70m, branco, alourado, de calça jeans, sapato e blusa azul claro, com um bastão parecido com um taco de beisebol. Garotinho afirma que pode fornecer dados para um retrato falado. Não precisa. Qualquer filme americano que mostre um jogo de beisebol tem um cara com esse perfil.
Apesar de estar com um porrete esportivo, o algoz não o usou muito. Segundo a própria vítima, o invasor deu-lhe uma pisão no pé e uma pancada que teria ferido mas não avariado o joelho. As câmeras do presídio não registraram a chegada do suposto jagunço no corredor de acesso à cela de Garotinho. A polícia está apurando o caso, há suspeitas de falsa comunicação de crime, e uma autoridade levanta a hipótese de que Garotinho teve um pesadelo ou um surto de delírio.
Talvez seja necessário apurar se o ex-governador assistiu recentemente ao filme "Campo dos Sonhos". É a história, lembra?, de um fazendeiro do Iowa que ouve, em sonho, uma voz que manda construir um campo de beisebol. Ele atende à intimação do Além e constrói o campo onde recebe para jogar antigos ídolos já mortos. Alguns deles alourados, de jeans, blusa azul e taco de beisebol.
Ou, vai ver, alguma comida fez mal e Garotinho teve pesadelos. Coincidentemente, o Ministério Público do Estado do Rio encontrou no presídio de Benfica uma remessa de alimentos proibidos. E que menu: queijo francês, presunto importado. bolinhos de bacalhau, iogurte, castanhas, camarão e bebidas. Segundo o MP-RJ, iguarias desse bufê irregular foram encontradas nas celas de Sérgio Cabral, Garotinho, Rosinha Garotinho, Adriana Ancelmo e Jacob Barata.
A turnê vai ganhar novo palco, quero dizer, nova cela: Depois do episódio do taco de beisebol, a Justiça transferiu Garotinho de Benfica, onde ele se sentia ameaçado, para o complexo penitenciário de Bangu.
2 comentários:
Ele é bem rico em imaginação.
Garotinho é um artista. Isto é inegável, alem de político artista. E dramático, por sinal.
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