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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
Da revista Zum, por Jake Romm: "Por que a capa da “Time” sobre Trump é uma obra subversiva de arte política"
por Jake Room
(Artigo reproduzido da revista Zum, originalmente publicado em inglês no site Forward.com em 8/12/2016 e traduzido com permissão).
Ano após ano, o anúncio da “Personalidade do Ano” da revista Time é grosseiramente mal interpretado. A Time é clara quanto a seu único critério de seleção: “a pessoa que exerceu mais influência, para o bem ou para o mal, sobre os acontecimentos do ano”. Mesmo assim, uma simples busca no Twitter revela um sem-número de pessoas que parecem acreditar que a escolha da “Personalidade do Ano” equivale a um endosso. Entre os vencedores até aqui estão Joseph Stalin (1939, 1942), o aiatolá Khomeini (1979), Adolf Hitler (1938) e outras personalidades que acredito poder afirmar com segurança que não contam com o endosso da equipe da Time.
Este ano, não deveria causar nenhuma surpresa o fato de o presidente eleito Donald Trump ser escolhido para agraciar a capa da edição anual da Time (retratado pelo fotógrafo judeu Nadav Kander). “Para o bem ou para o mal”, Trump, durante sua campanha e agora, depois de eleito, sem dúvida foi uma das pessoas que mais influenciaram os acontecimentos do ano. Podemos encontrar algumas pistas sobre as impressões da Time sobre o assunto – “para o bem ou para o mal?” – analisando a imagem escolhida para capa da edição. As determinações da Time com respeito à maneira de fotografar Trump revelam um campo de referências nuançado, com diversas camadas, que fazem da imagem, na opinião deste cronista, uma das grandes capas da revista.
Para desconstruir a imagem, focalizemos três elementos-chave (deixando de lado o posicionamento do “M” de “Time”, que dá a impressão de que Trump tem chifres vermelhos): a cor, a pose e a cadeira.
A cor
Observem como as cores estão ligeiramente lavadas, ligeiramente silenciadas, suaves. A paleta cria o que poderíamos chamar de efeito vintage. A nitidez e o detalhamento da imagem revelam a contemporaneidade da foto, mas a cor sugere um tipo mais antigo de filme, no caso o Kodachrome. O Kodachrome, filme produzido pela Kodak desde o início da década de 1900 e que teve recentemente sua produção descontinuada, tinha a função de operar a reprodução acurada das cores. Alcançou imensa popularidade entre o fim da década de 1930 e a década de 1970, e seu aspecto peculiar define nosso conceito visual comum de nostalgia.
Ao reproduzir uma paleta de cores Kodachrome, a capa da Time nos leva a reimaginar a capa como se ela fosse uma imagem da era em que o Kodachrome era muito popular. (Você é que sabe para onde vai sua mente quando pensa nos líderes da era da Segunda Guerra Mundial, da segregação e da Guerra Fria.) Esse deslocamento visual-temporal espelha, em certo sentido, uma série de tendências que impulsionaram a ascensão de Trump. A campanha de Trump se baseou em políticas e atitudes regressivas – antiproteção do meio ambiente, antiaborto, pró-carbono etc. Foi uma eleição voltada não apenas para políticas regressivas, como também para valores tradicionais (definidos basicamente pela direita cristã), para a nostalgia pela grandeza e pela segurança do país, para a nostalgia por um mundo pré-globalizado.
A pose
A pose de Trump pode ser percebida como uma intervenção subversiva em uma pose tradicional em retratos de poderosos (para outra versão esplendidamente subversiva da pose, veja-se o retrato feito por Delaroche de um Napoleão vencido – embora o tom desse retrato seja elegíaco, por oposição a maquinador).
As pinturas de monarcas sentados podem ser vistas como imbuídas de duas funções estéticas – operar a associação entre o personagem sentado e o trono, dando, desse modo, solidez à metonímia, e reforçar o sentimento de servidão no observador. O observador é forçado a aproximar-se do monarca; o monarca não se levanta com a chegada do observador.
Em nossos tempos pós-monárquicos, o poder do trono está praticamente extinto, mas o poder de um personagem sentado permanece. A cadeira em si é desimportante, o que importa é o ato de sentar. Quando incluímos um retrato nessa tradição, a cadeira assume o papel de trono e o personagem sentado o papel de rei (ou rainha) – o efeito visual é o mesmo.
Considerem esta imagem do Lincoln Memorial (para mais referências, ver imagens de Vladimir Putin e LL Cool J). Assim como as outras duas imagens, ela é uma versão exagerada da pose tradicional. Vemos nosso personagem de frente, porém, o que é mais importante, vemos o personagem de baixo. O ângulo nos obriga a olhar para cima para o personagem, o que, por sua vez, cria a impressão de que o personagem está olhando para baixo ao olhar para nós. Essa pose e ângulo, com o observador aparentemente (e literalmente, no caso do Lincoln Memorial) aos pés do retratado, fazem o personagem parecer dominador, poderoso, julgador.
Mas basta girar a imagem para que de repente tenhamos um conjunto totalmente novo de conotações. Na capa da Time, em vez de ver a cabeça de Trump de frente e de baixo, nós o vemos sentado, de trás e praticamente à altura do olhar. A relação de poder se apresenta de forma inteiramente diferente.
O giro de Trump em direção à câmera cria um tom mais conspiratório que julgador. Há duas imagens em jogo aqui – a imagem de poder imaginada, tomada de frente, e a imagem real, na qual Trump parece dirigir uma piscadela cúmplice ao observador, como se dissesse: olhem só como nós tapeamos aqueles idiotas que estão lá na frente (tanto Trump como o observador olham de cima para baixo para os que estão lá na frente). Ao subverter a dinâmica típica de poder, a Time, em certo sentido, envolve o observador na eleição de Trump, antes de mais nada no fato de ele aparecer na capa da revista.
PARA LER O ARTIGO COMPLETO VÁ AO SITE DA REVISTA ZUM, CLIQUE AQUI
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2 comentários:
Excelente capa, passa o significado do momento político dos Estados Unidos.
Bem, depois de tantas observações e comentários, se não fruedianos, pelo menos tão subjetivos e conjecturais que me forçaram a pergunta: Eleito e empossado esta figura que confunde os nossos psicanalistas de plantão erguerá o tal muro separando fisicamente o México dos EUA?
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