quinta-feira, 24 de março de 2016

Vai vazar nos próximos dias nova planilha de apelidos de políticos. "Faz um Ted", "Fundo Falso", "Deixa o Meu", entre outros,

Anotações aparentemente feitas às pressas
por Omelete
Mãe põe nome e sobrenome. A vida coloca os apelidos. Bandidos geralmente se tornam mais conhecidos pelos apelidos que, quase sempre, destacam uma característica física, de comportamento ou geográfica.

Cara de Cavalo, Mineirinho, Beira Mar, Orelhinha, Xaropinho, Praga de Mãe, Meia Rosa, Marquinhos Sem Cérebro, Anal, Beira Mar, Bandido da Luz Vermelha, Debochado, Drogadão, entre vivos e mortos, a história registra alcunhas de bandidos que ganharam alguma notoriedade.

As redes sociais também popularizam o uso do auto-apelido por quem prefere o anonimato. Estão lá, muitos perfis denominados Lôra, Demolidor, Vizinho Falador, Dadeira etc.

Não se sabe se a Odebrecht tinha um setor de criação de apelidos, mas a maioria dos codinomes da superplanilha vazada parece bem encaixada. Avião (a musa), Bruto (o grosso), Viagra (o mais velho que gosta de novinhas), Escritor (o que se acha literato), Nervosinho (o de pavio curto), Caranguejo (o que anda de lado mas sabe o rumo do pote) e Mineirinho (o próprio), entre outros.

A mídia está tratando a planilha como novidade porque quer, mas a prática já se revelou no começo do ano passado e foi aparentemente desconsiderada por envolver nomes de todos os partidos. O que surgiu agora foi apenas o PDF da caravana. O "sistema" pluripartidário já havia sido informado por delatores premiados em 2015. A grande imprensa já defende alguns do listão alegando que são doações legais para campanhas políticas. Mas ninguém explica porque doação legal precisa de alcunha.

Esses apelidos, aliás, vão se juntar a muitos outros que estão nos autos da Lava Jato: Leitoso, Bebê Johnson, Véio, Brahma, Mercedão, Batman, My Way, Primo, Bob, Sabrina e AnGelina Jolie.

Brizola era um que acreditava que os apelidos eram mais reveladores do que os nomes nas certidões de nascimento. Para ele, Paulo Brossard e sua empáfia eram o Ruy Barbosa em Compotas. Moreira Franco era o Gato Angorá. Lula, o Sapo Barbudo. Anthony Garotinho, o Queijo Palmira. Collor era o Filhote da Ditadura e Alckmin, o Picolé de Chuchu. A polarização entre Lula e FHC era, para ele, a escolha entre o Diabo e o Coisa Ruim.

Talvez alguns políticos e certos empresários do futuro próximo tenham que aperfeiçoar códigos e diálogos para escapar de gravações. A tendência deverá ser criar todo um vocabulário. Algo, por exemplo, que os traficantes já descobriram há muito tempo. Eles têm uma linguagem própria e mutante que até a polícia tem dificuldade de traduzir ao transcrever escutas. "Fita forte" é o produto do roubo; "Ficou pequeno" é ficar mal falado; "Rasga", sair correndo; "Dar área" , ir embora; "Dar uns galeto" , passear. Obviamente, suas excelências ao criar o glossário vão ter que se inspirar nos seus próprios ecossistemas. "Salão Verde" vai nomear o local de entrega de dólares; "Medida Provisória" pode ser o adiantamento de parte da propina; "Calcinha da vovó", a conta secreta bem escondida; "Tramitou?" será a palavra usada para checar se a propina foi depositada; "Quero coligar" é o pedido para entrar no esquema; "Tô de camisa amarela" significará "tô de boa" e vai servir para confirmar que o depósito bateu.  

É possível que apareçam novos apelidos em novos vazamentos nas próximas semanas. Brasília está inquieta. O que se diz na capital é que os assim chamados Rola Compressora (um pegador), Mona Lisa (um vaidoso), GI Joe (ameaça botar pra quebrar se não receber no prazo), Seu Madruga (pede para a entrega ser sempre altas horas), Área Vip (cobra até o táxi onde manda buscar a entrega), Deixa o Meu (na portaria, esse nunca aparece para receber, tem medo de ser filmado), Sem Recibo, Faz um Ted, Doleta (só quer receber em dólar), Genebra (direto na conta secreta), Fundo Falso (quer ao vivo, numa mala), Não Me Erra (não me esquece), Dá pra Melhorar? (sempre acha pouca a propina), Na Mão da Patroa (entrega é feita à amante) Tosco (aceita até cheque), Apaga o HD (o desconfiado), Pedágio (quer receber todo dia) e Dízimo Pingado (esse sempre pede semanada e agradece em nome de Jesus) estão loucos atrás de um programa de computador remoto que delete PDF.    

Um comentário:

Corrêa disse...

Esse caso que envolve muitos políticos vai ser rapidinho congelado como todos os outors. Quem acredita que a corrupção está sendo combatida no Brasil é otário