sexta-feira, 11 de março de 2016

Cinco anos, hoje. E Fukushima ainda é um acidente nuclear ativo e em andamento...

por Jean-Paul Lagarride
O Japão tem uma forte tradição de isolamento frente à comunidade internacional. Foi apenas em 1853, após dois séculos de fronteiras absolutamente fechadas, que o país recebeu quatro navios americanos. Na décadas seguintes, passou por uma lenta mudança do feudalismo para algo que se aproximasse de uma sociedade capaz de permitir aos seus cidadãos mínimos direitos, como circular livremente.

Tornou-se uma grande nação especialmente após a Segunda Guerra Mundial quando foi beneficiado pela Guerra Fria. Em nome da geopolítica, os americanos deixaram de condenar um criminoso de guerra - o imperador Hiríoto - sob cuja responsabilidade o Japão praticou carnificina, estupros coletivos em cidades invadidas na China e torturas e violências inimagináveis durante o conflito no Pacífico.

Por temer a influência da URSS e da China na região, os Estados Unidos despejaram os bilhões de dólares que impulsionaram a recuperação do antigo inimigo. Em troca, o Japão recebeu bases militares e assumiu o compromisso de tornar-se aliado incondicional de Washington. Mesmo assim, não perdeu algumas características milenares de isolamento. Não mais no plano geográfico, mas agora em relação a muitas demandas internacionais.
O Japão se, recusa, por exemplo, a interromper a caça à baleia. Ao contrário, abre novas frentes de extermínio agora na Antártida, desafiando tratados diplomáticos.
O país também pratica uma política de extermínio de tubarões por acreditar que sua barbatanas têm um poderoso efeito-viagra. Há um lobby no Congresso japonês que reúne deputados da "bancada da baleia", corrompidos pela indústria, e que aprova até subsídios crescentes para os autores da matança de baleias e tubarões.

No caso do acidente nuclear de Fukushima, o Japão reacendeu a velha síndrome do isolamento e tem mostrado desprezo pelas consequências no mundo. Cinco anos depois, o governo continua subestimando os níveis de radioatividade, a usina permanece vazando água contaminada no Pacífico e no lençol freático. Sem falar que a empresa proprietária não sabe o que fazer com 320 mil toneladas de água contaminada armazenada em tanques precários (um deles já vazou para o oceano).

O Greenpeace divulgará em breve um estudo sobre o impacto ambiental do acidente. Mas já se sabe que denunciará elevadas concentrações de radiação, mutação em árvores e animais, alterações no pólen etc.

Apesar disso, o governo japonês pressiona a comunidade internacional para suspender a proibição de exportação de alimentos (agricultura, pecuária e pesca) produzidos nas zonas que foram contaminadas.

Cidade fantasma no Japão. Contaminação pode durar mais de um século. Reprodução Facebook
O mais grave: em 2018, o governo despejará mais de 50 mil evacuados desde o acidente. Isso significa que eles não terão alternativa a não ser voltar para suas casas abandonadas em regiões com altos níveis de radiação. E, a partir daquele ano, o governo deixará de obrigar a empresa Tepco, proprietária da usina, a indenizar vítimas.

O acidente aconteceu em 2011 mas só recentemente três dirigentes da empresa foram indiciados por negligência, sem data para julgamento.

Além dos erros de construção, por minimizar eventuais efeitos de tsunamis comuns na região, são computadas a reação atrapalhada logo após o acidente e as falhas mais graves e continuadas que, segundo especialistas, têm sido cometidas por falta de transparência, por economia de custos e por repetida incompetência técnica.

Para citar apenas uma das maracutaias: a empresa anunciou, não faz muito tempo, que os níveis de radiação em torno dos tanques era de 100 milisierverts (unidade adotada para avaliação do impacto da contaminação em seres humanos). Na verdade, observadores internacionais descobriram depois que era de 2.200 milisieverts. A explicação da empresa: o medidor utilizado só ia até 100.

Desde o desastre nuclear, em 11 de março de 2011, uma rede de vigilantes voluntários - a Radiation Watch (Observadores da Radiação) - passou a fazer o monitoramento do níveis de radiação de Fukushima no planeta e identificou níveis de radiação e alterações ambientais em regiões litorâneas dos Estados Unidos, Austrália, Europa e Ásia.

Por isso, Fukushima já é considerado o mais grave acidente nuclear. Superaria Chernobyl porque o desastre permanece ativo há cinco anos. Ou seja, seus efeitos não foram inteiramente contidos.

2 comentários:

João Pedro disse...

Um acidente "socialista", o de Chernobyl, e outro "capitalista", Fukushima. Não faz diferença, nos dois o meio ambiente saiu perdendo. Regiões inteiras em Chernobyl será inabitáveis por mais de um sécualo. Fukushima também cobra seu preço. Pelo menos, com o sacrificio de muitos operários, a URSS construiu um sarcófago de cimento em Chernobyl isolando o reator. Fukushima e deixa rolar. É válido o argumento do geocentrismo do Japão

Isaurinha disse...

Não me surpreende esse egoismo. E a mulher japonesa ainda é uma das mais oprimidas do mundo