quinta-feira, 31 de março de 2016

Memórias da redação (porque hoje é 31 de março): o cinismo como prática e as voltas que o golpe dá

Em 1975, a Fatos & Fotos tinha um conhecido colunista, Adirson de Barros, assumidamente alinhado com o governo e fã do regime. Em duas páginas da revista semanal, ele externava o pensamento dos poderosos de então. Na linha "acredite se quiser", a edição  n° 745 registrava reflexões avulsas na baixa umidade do Planalto Central do país, segundo a revista.

* "Jarbas Passarinho, senador da Arena, Pará, diz que a política estudantil nas universidades não está proibida e, ao contrário,. foi estimulada pela 'revolução', porque o compromisso democrático continua a ser parte do ideário revolucionário".
* "Miguel Reale, eminente jurista, afirma que as soluções institucionais dependerão fundamentalmente das condições objetivas de segurança.  E é precisamente sobre segurança que se discute, antes de mais nada, desde que a política liberalizante do governo e o processo de distensão que a ele se seguiu, revelando os melhores propósitos do presidente geisel, foram aproveitados pela camada contra-revolucionária para revigorar a política de contestação ao regime e de infiltração ideológica em setores vitais da sociedade".

O texto em destaque, acima, foi retirado do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". O coronel Jarbas Passarinho exercitava seu conhecido cinismo (ele é o autor da famosa frase, que pronunciou ao assinar o AI-5: "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência"). E Miguel Reale, jurista, submetia, com enfoque subalterno aos generais, as "instituições" à "segurança". Miguel Reale é pai de Miguel Reale Jr, que ontem protocolou no Congresso o pedido de impeachment, o gatilho do golpe. O mundo gira, a Lusitana roda. E volta ao ponto de partida.

Um comentário:

Vado87 disse...

Vai dá merda