terça-feira, 22 de março de 2016

Acidente aéreo em São Paulo mostra que o céu pode ser terra de ninguém.

Casas atingingidas pelos avião "experimemtala". Foto CBPMESP/ PMESP

por Niko Bolontrin
Uma tragédia em São Paulo - o acidente que matou o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli e mais seis pessoas a bordo - revela que além dos perigos em terra, os brasileiros devem se preocupar com o que pode despencar das nuvens. O acidente acabou revelando um série de possíveis descasos.

O avião do empresário era "experimental". Isso significa que estava autorizado a voar sem determinados equipamentos e com procedimentos menos rigorosos. O risco, diz a Anac, é por conta dos donos, pilotos e passageiros. Só que o risco não é apenas dos autorizados a assumirem o risco. Aviões podem cair sobre casas, como demonstrou o último voo de Agnelli, e atingir pessoas que não foram informadas de que deveriam "assumir riscos".

Comparando: avião "experimental" livre para voar é como se um carro "experimental" fosse autorizado a circular sem cinto de segurança, sem luzes de freio, sem air bag, sem extintor, sem seta e sem vergonha.

A Anac é uma das agências de (des) regulamentação criadas pelo neoliberalismo dos anos noventa, e intocadas pelos governos seguintes, para aliviar obrigações corporativas e deixar usuários e consumidores sem pai nem mãe diante do "deus" mercado. Pois bem, a Anac informa que aviões "experimentais" não estão sujeitos às mesmas regras de segurança, controle e impostos exigidos para as demais aeronaves. Falou.

Infelizmente, aviões "experimentais" não escapam à lei da gravidade e também caem, o que deve ser um tipo de surpresa para a Anac. A agência comunica, também, que há 5.158 "experimentais" voando sobre as nossas cabeças, o que equivale a 24% da frota brasileira. Não é pouca coisa. O avião "experimental" de Agnelli foi fabricado pela Comp Air, uma empresa americana. Mas há muitos em voo por aí que foram montados por amadores e avaliados por um engenheiro da Anac antes de conseguirem a licença para decolar.

Ficou preocupado? Tem mais: depois que recebem a autorização para voar, os "experimentais" tem manutenção feita sob a responsabilidade do proprietários e não há um controle sobre isso. Seriam proibidas de voar sobre áreas densamento povoadas. Mas - vê-se na tragédia dos Agnelli - que isso pode ser ficção.

Do ponto de vista burocrático, a autorização para a operação de aviões não homologados é justificada como importante para o desenvolvimento de tecnologias, demonstração de inovação etc.

Mas fica claro que virou um brecha para para funcionarem como aviões executivos, com vantagens em impostos e, principalmente, em custos de manutenção e desobrigação de determinados equipamentos.

O problema é que podem cair na cabeça das pessoas aqui em baixo.

E são pessoas que costumam ser não experimentais, sem nada a ver com o "risco assumido" em nome delas por quem quer que seja.

5 comentários:

Benassi disse...

Não dá pra acreditar. Ainda mais em São Paulo que já teve vários acidentes aéreos na ruas e casas

Glória disse...

Essa Anac agora está preocupada com o que acha que é excesso de processos judiciais contra empresas aéreas que cancela voos e fazem passageiros perderem negócios e reuniões ou dias de férias ou feriadoss em viagem de lazer . E abriu uma consulta publica para novas regras que vão prejudicar os passageiros. Nenhuma novidade na função deles

Telma disse...

Aeroportos em centro de cidade é bom para quem usa mas perigoso para quem mora perto.

J.A.Barros disse...

Por que o governo não acaba de uma vez com essas Agências? Afinal por 12 anos esse governo teve o poder nas mãos com total apoio do Congresso podendo fazer as reformas que esse país tanto precisa. Agora a Agência da Aviação é culpada pela queda desse avião "experimental "? Acaba com elas porque no entender de muitos elas são culpadas de todos os erros ou "malfeitos" deste governo. Esse governo nem assinou aprovando a Constituição de 88, vem agora tentando se proteger usando a Carta Magna com seu escudo? O que tá errado não são as Agências mas o brasileiro de um modo geral que quer sempre se aproveitar do ilicito para sobreviver sem gastar seu rico dinheirinho. Que me desculpem, mas o senhor Agnelli, proprietário do avião e nele veio a falecer com a sua família, não sabia que o avião era experimental e para ele voar existem regras a serem obedecidas até ser autorizado a voar? Mas a tragédia já ocorreu e essa não tem mais volta, mas que sirva de exemplo para os brasileiros que possuem seus jatinhos particulares e persistem em não obedecer as normas que regulam esses aviões particulares e experimentais.

prof. Honor disse...

Exatamente, senhor j. A., Lula e Dilma com as alianças com oligarquias políticas e políticos-empresários ou de bancadas propineiras foram incapazes de derrubar esse entulho neo liberal que só prejudica a população. FHC inventou essa empulhação que só criou empregos e favores empresas. Os consumidores e usuários de serviços que se danem.