Eng. José Antonio Feijó de Melo
Recife, 16 de Novembro de 2009
Enquanto certos setores continuam tentando culpar o governo pelo apagão do último dia 10, o Operador Nacional do Sistema (ONS), entidade privada que comanda o funcionamento do sistema elétrico brasileiro, tergiversa. O pronunciamento oficial do seu Diretor-Geral, Dr. Hermes Chipp, ontem à noite, foi decepcionante. Em termos técnicos, as razões por ele apresentadas não são suficientes para explicar o apagão.
Assim, em princípio, admita-se que, como afirmou o Dr. Chipp, as três linhas de 750 kV em corrente alternada que partem de Itaipu em direção a São Paulo, seja lá por que motivo, foram submetidas a curtos-circuitos quase que simultaneamente, em pontos próximos à subestação de Itaberá e, em conseqüência, tenham sido desligadas automaticamente..
Ora, em condições normais, estes desligamentos não seriam capazes de provocar o apagão, porque deveriam desligar apenas as três linhas no trecho Ivaiporã-Itaberá. Isto é, as três linhas continuariam a operar normalmente no trecho Itaipu-Ivaiporã e, a partir daí, continuariam conectadas ao subsistema Sul, em 500 kV, que por sinal também interliga-se através de outro ponto com o subsistema Sudeste, igualmente em 500 kV, conforme foi comentado em Análise do ILUMINA divulgada ontem.
Nestas circunstâncias, o sistema elétrico interligado certamente sofreria o que nós técnicos chamamos de “um pequeno balanço”, mas deveria permanecer operando de forma estável. Talvez em Itaipu, na metade brasileira da usina que é conectada às linhas de 750 kV e opera em 60 c/s, houvesse necessidade da atuação automática da proteção rápida para reduzir um pouco o total da geração. Enquanto isto, em princípio, a metade Paraguaia da usina de Itaipu, que opera em 50 c/s, e envia a maior parte da sua energia para o Brasil através das duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua, nem sequer deveria sentir qualquer reflexo da ocorrência de Itaberá.
Entretanto, as coisas não aconteceram assim. Primeiro, as linhas de 750 kV foram desconectadas também no trecho Itaipu-Ivaiporã (por quê?) e isto, ao que tudo indica, configura-se numa operação indevida, que teria resultado na “rejeição de carga” total para a metade brasileira de Itaipu, obrigando a sua completa paralisação. Este desligamento das três linhas Itaipu-Ivaiporã não pode ser explicado como uma conseqüência direta e natural dos “curtos-circuitos próximos a Itaberá”.
Por outro lado, as duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua também foram desligadas automaticamente na sua totalidade, ou seja, entre Itaipu e Ibiuna, provocando a “rejeição da carga” total do sistema brasileiro para a metade Paraguaia de Itaipu e, assim, acarretando também a necessidade da sua paralisação (para evitar o disparo das máquinas, como no lado brasileiro) e, em conseqüência, provocando o apagão também no Paraguai.
Se a ocorrência dos curtos-circuitos em Itaberá não é capaz de justificar a abertura do trecho Itaipu-Ivaiporâ das linhas de 750 kV, muito menos poderá justificar a abertura das linhas de corrente contínua de +/- 600 kV e, consequentemente, também não poderá justificar o apagão.
Muita coisa, portanto, resta sem a devida explicação. O ONS deve satisfação ao povo brasileiro e as autoridades têm de cobrar os esclarecimentos devidos. O sistema elétrico brasileiro é robusto e, embora não possa ser 100% imune, dispõe de estrutura para suportar as perturbações naturais sem sofrer as conseqüências que sofreu na noite do último dia 10. Algo não funcionou como devia e deve ser tecnicamente apurado em sua total profundidade.
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Um comentário:
Caro eng. José Antônio Feijó de Melo, se alguma coisa não funcionou como afirma na sua exposição sobre o Apagão, alguma coisa está errada nessa montagem complexa e interligada do fornecimento de energia para todo o país. Na minha opinião,se está errada essa montagem de energia, o primeiro passo do governo seria a de corrigir esses erros para ter uma distribução de energia mais confiável para o futuro. O que não pode é passarmos a viver na expectativa de que outros Apagões venham a se repetir, como a Imprensa vem noticiando seguidamente.
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