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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Quer saber o estrago que a destruição acelerada da Amazônia pode provocar? Isso não está na mídia...

 


O ILUMINA é uma respeitada organização não governamental, técnica, que alerta sobre os rumos do setor elétrico brasileiro. O Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico, nome completo da instituição, reúne um corpo de engenheiros experientes. 

Ontem, o ILUMINA divulgou um vídeo que interessa não apenas a todos os brasileiros, mas ao mundo. Uma explicação clara - e preocupante - do que significa a Amazônia para a vida. 

O cientista Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), explica em linguagem acessível o tamanho do problema que o comprometimento da floresta vai gerar. Não apenas no setor de energia elétrica e no bolso dos consumidores, mas para a sobrevivência dos ecossistemas que hoje ardem em chamas.Veja no vídeo o que o fogo tem a ver com a água e com você e o seu futuro.

VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

sábado, 9 de março de 2013

O “BELO MODELO” DO NOSSO SETOR ELÉTRICO

por Eng. José Antonio Feijó de Melo (do Ilumina)
Os mais antigos, para não dizer os mais velhos, certamente lembram-se do filme "O Belo Antonio", produção de grande sucesso da época de ouro do cinema italiano, na qual o personagem do mesmo nome, magnificamente interpretado pelo então jovem ator Marcelo Mastroianni encantava as mulheres com a sua beleza e aparência, mas que, "na hora do vamos ver", não conseguia cumprir a tarefa. Depois daquele filme, a designação de "O Belo Antonio" ficou valendo para tudo aquilo que "não funcionava".
Pois bem, o belo Modelo Mercantil do setor elétrico brasileiro, implantado a partir de 1995 e consolidado em 2003/2004, se enquadra perfeitamente no perfil daquele personagem.
Na aparência, um grande sucesso cantado em prosa e verso por seus criadores e pelos responsáveis pela sua consolidação, por todos aqueles que dele se beneficiam como, por exemplo, os seus "agentes", quer dizer, os grupos empresariais e seus acionistas que dele têm obtido ganhos inimagináveis em qualquer outro país em atividades de serviço público como a energia elétrica, bem como pelos profissionais dos escalões mais elevados da administração das suas respectivas empresas. No entanto, na prática, nos momentos precisos, este belo Modelo Mercantil tem-se mostrado um completo fracasso, uma decepção, simplesmente não funciona.
Assim, foi o que aconteceu logo após sua implantação, quando se esperava que a entrada da iniciativa privada e a força das leis de mercado viessem a viabilizar os tão necessários investimentos para a expansão do sistema. Todavia, os investimentos não apareceram e o "Belo Modelo" fracassou. O resultado, todos recordam: o terrível racionamento de 20% da carga durante exatos nove meses, de 1º de junho/2001 a 28 de fevereiro/ 2002.
Como um princípio básico explicitado em documentos, o "Belo Modelo" tinha, entre outros, "o estabelecimento de competição nos segmentos de geração e comercialização para consumidores livres, com o objetivo de estimular o aumento da eficiência e redução de preços" (grifo nosso). Porém, o que se viu? Um novo fracasso. Em lugar da eficiência, surgiram os "apagões" em níveis regionais e até nacionais (lembram do raio de Bauru?) e o aumento da freqüência dos "apaguinhos" nas cidades e nos bairros, além do início da escalada dos preços, ou seja, da elevação das tarifas. Entre 1995 e 2002 as tarifas nacionais, em média, cresceram 46,5% em termos reais acima do IPCA. Assim, apesar das aparências, o "Belo Modelo" não conseguia cumprir o que prometia e que dele se esperava, isto é, reduzir os preços.
Constatadas as suas fraquezas, uma tentativa de revitalização em 2003/2004. Um pouco de planejamento, correção de alguns absurdos, declarações de ênfase na modicidade tarifária, mas em lugar de sua substituição, optou-se pela manutenção em cena do "Belo Modelo Mercantil". Para viabilizar os investimentos, o BNDES e a participação minoritária da Eletrobras e de suas subsidiárias seriam a solução.
Então, as novas obras decolam, as aparências afiguram-se positivas, mas "na hora do vamos ver" tudo continua no mesmo. Os apagões e apaguinhos aumentam de intensidade e de freqüência, surgem as explosões de bueiros, a qualidade do serviço cai a olhos vistos e as tarifas... bem, as tarifas continuaram crescendo e muito acima da inflação. Entre 2002 e 2012, em média nacional, as tarifas industriais cresceram 55% reais acima do IPCA. Alcançávamos o patamar das maiores tarifas do mundo, quando há cerca de 15 anos tínhamos uma das menores. Era o "Belo Modelo Mercantil" em sua plenitude.
Mas como não poderia deixar de ser, surgem as reclamações, insatisfações de toda ordem e então medidas heroicas, talvez desesperadas, precisam ser adotadas. Uma redução significativa de tarifas se faz absolutamente necessária. Mas como fazê-la sem ferir a aparência da filosofia de "mercado"? É possível, sacrificando-se para isto o grupo Eletrobras. Então, que seja feito o sacrifício, para isto existem as Medidas Provisórias.
A redução tarifária entra em vigor, em média nacional cerca de 20%. Mas logo se verifica que o "Belo Modelo", embora já meio desfigurado qual um Mastroianni envelhecido, continua vivo. E aqui, acolá, mesmo antes dos consumidores sentirem o gosto da redução, lamentavelmente novas elevações tarifárias já são programadas que ameaçam rapidamente a engolirem.
E o que parece pior, a Natureza, sabe-se lá por quais caprichos, veio evidenciar mais uma das grandes fraquezas do "Belo Modelo", justamente nesta hora inconveniente (para ele, o "Belo Modelo"). Referimo-nos à questão do regime hidrológico desfavorável que atingiu as principais bacias do nosso sistema hidrelétrico a partir do segundo semestre de 2012.
Com efeito, já a partir de setembro as usinas térmicas foram sendo despachadas para preservar os reservatórios. E na medida em que o tempo passava e as chuvas não apareciam na intensidade necessária, mais usinas térmicas foram sendo ligadas. Assim, na virada do ano acendia-se um sinal amarelo. Não anunciando um novo racionamento, mas sim que havia risco de alguma forma de crise de abastecimento, caso o problema hidrológico viesse a se agravar.
Os responsáveis pelo setor logo contestaram, procurando eliminar qualquer preocupação. Desta vez não se repetirá 2001, por que hoje temos térmicas suficientes. É só despachá-las e deixá-las operando o tempo que for necessário. Não haverá problema de espécie alguma, afinal o "Belo Modelo" está aí mesmo para garantir a situação. Ops! Parece que mais uma vez na hora "H" ele vai de novo fracassar?
Isto mesmo, mais uma vez fracassou. Ora, para funcionar as térmicas precisam de combustível: gás, diesel, óleo combustível ou carvão mineral. E isto custa dinheiro, muito dinheiro. A energia de origem térmica é muito mais cara do que a hidrelétrica que sustenta o nosso sistema e baliza o nosso nível tarifário. E alguém tem de pagar por isto. Mas esta é uma situação normal, previsível. As térmicas estão aí para isto mesmo, para operarem sempre que for necessário. Em sendo assim, o mínimo que se poderia esperar do "Belo Modelo" seria que ele fosse capaz de reconhecer e absorver esta situação normalmente dentro de suas próprias regras.
Mas eis aí a surpresa. Não é. Mas uma vez não conseguiu cumprir a sua tarefa e fracassou. Embora no final de contas quem tenha de pagar por esta energia mais cara será sempre os consumidores, pelas regras do Modelo vigente este sobre preço somente será incluído nas tarifas dos consumidores quando do próximo reajuste anual de cada distribuidora. Assim, enquanto a operação de térmicas era pouco significativa, não havia problema, o "Belo Modelo" respondia bem. Mas agora, com a conta subindo à casa dos bilhões de reais, o rei ficou nu.
A verdade é que as distribuidoras, tendo de pagar mensalmente às geradoras térmicas por essa energia mais cara, nas condições atuais não dispõem de caixa com valores suficientes para cobrir os elevados montantes devidos, pois pelas regras do "Belo Modelo" só mais adiante receberão dos consumidores. Em outras palavras, estão na iminência de ficarem inadimplentes. Por isso, estão pedindo socorro ao governo, seja por via de empréstimos do BNDES (ah BNDES), seja do próprio Tesouro Nacional.
Por sua vez, não tendo agora como gerar a energia que seria necessária para suprir os seus contratos, porque os reservatórios estão muito baixos em virtude de terem sido deplecionados no período em que as térmicas ficaram paradas, pelas regras vigentes as empresas geradoras hidrelétricas têm de "comprar" no mercado livre a energia que falta a preços muito mais altos do que vendem, incorrendo assim em "prejuízos" elevados, superiores até aos valores envolvidos com as distribuidoras. E nestas condições, também as geradoras desejam o socorro do governo.
Segundo notícias divulgadas pela imprensa, reconhecendo tacitamente a falha do "Belo Modelo", o governo já teria sinalizado positivamente para alguma forma de atendimento a ambos os pleitos. Em resumo, o que se observa é que uma situação normal e perfeitamente previsível no funcionamento do nosso sistema elétrico não tem como ser tratada regularmente pelas próprias regras do seu "Belo Modelo" que, como sempre, tal qual o personagem do filme "O Belo Antonio", na hora do vamos ver não consegue cumprir a tarefa. 
Até quando os responsáveis pelo setor elétrico brasileiro vão apostar neste Modelo Mercantil fracassado? (Eng. José Antonio Feijó de Melo, Recife, 06 de março de 2013)

Conheça o Ilumina (Instituto de Desenvolvimento do Setor Energético).  Trata-se de uma organização não governamental, apartidária, especializada no setor elétrico. O sitie da Ilumina informa que seus integrantes, a maioria técnicos com larga experiência, sentem-se no dever de denunciar ações que impliquem em perdas para o consumidor de energia elétrica e para a sociedade brasileira.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O apagão, o governo e a oposição


Nota do Paniscumovum - Na cobertura da imprensa sobre o recente apagão, predominou o foco político, a ótica marcadamente eleitoral. Este blog abordou o assunto através de vários posts e comentários de leigos no assunto, naturalmente, onde, e aí se justifica, o ângulo foi igualmente político. Por isso, agradecemos e publicamos a seguir dois artigos do engenheiro José Antonio Feijó de Melo. Sai o curto-circuito político e entra uma análise técnica. Está aí o que faltou dizer.


Eng. José Antonio Feijó de Melo
Recife,16 de Novembro de 2009

Curioso o nosso País, onde importantes acontecimentos dos quais se poderiam retirar conclusões e ensinamentos valiosos tornam-se apenas campo de disputa entre “os a favor e os contra”, no mais puro estilo de debate “perde-ganha”, onde na verdade todos acabam perdendo.
O saudoso Noel Rosa já cantava que “O samba, a prontidão e outras bossas são nossas coisas, são coisas nossas”. Pois é, esta é uma das “outras bossas” tão caracteristicamente autênticas da nossa cultura, o arraigado maniqueísmo.
No Brasil, tudo tem de se ajustar a esta regra. “Ou se é a favor ou se é do contra”, não importando o verdadeiro mérito da questão que estiver em jogo.
Como não poderia deixar de ser, este maniqueísmo encontra o seu mais fértil campo de reprodução nas relações entre governo e oposição, sejam eles quais forem, em qualquer época que for, qualquer que seja o tema em discussão. Se o governo propõe, a oposição é contra. Se a oposição propõe, o governo é contra. Em geral, em nenhum momento, oposição ou governo admitem que o outro lado pode estar propondo, ou realizando, algo positivo para o País, que seja para o benefício de todos e que assim devesse merecer apoio, até mesmo contribuição para o seu aperfeiçoamento. Não, a regra é ser contra e tentar desmontar o que o outro lado pretende fazer. É claro que esta atitude está espalhada por toda sociedade: imprensa, organizações sociais, empresariado, enfim todos, até os cidadãos individualmente.
O apagão ocorrido no último dia 10 constitui um exemplo perfeito desta “nossa bossa” maniqueísta. Com efeito, de imediato a grande imprensa procurou definir o culpado e logo postulou que este é o governo. Então, os líderes da oposição seguiram na mesma linha, atribuindo ao governo todas as responsabilidades pelo ocorrido, inclusive procurando tirar vantagem eleitoral com a tentativa de “fulanizar” tais responsabilidades.
E como sempre acontece nesses casos, logo surgiram técnicos e pseudo-técnicos que, por meio de declarações à imprensa partiram para condenar os supostos responsáveis pelo setor elétrico, naturalmente o governo, afirmando que o apagão ocorreu por falta de investimentos e/ou pela falta de modernização das instalações, com a introdução de sistemas informatizados, entre outras propostas sem fundamento.
Até mesmo o governo assumiu posição precipitada através do Sr. Ministro das Minas e Energia que, parecendo querer se colocar na defensiva, resolveu diagnosticar como causa do apagão a queda de um raio. Uma coisa que de fato ele não podia saber, mesmo porque não lhe cabia saber, pois o governo não tem responsabilidade direta sobre a operação do sistema elétrico brasileiro e nem dispõe de informações em tempo real sobre o assunto. Isto sem se falar na complexidade técnica intrínseca que envolve o caso.
Portanto, pode parecer incrível, mas ninguém, nem os políticos, nem a imprensa, aí incluídos os chamados formadores de opinião, nem as organizações sociais, nem os técnicos que opinaram e, por absurdo que possa parecer, nem mesmo o próprio governo resolveu parar um instante para pensar um pouco sobre a verdadeira realidade da ocorrência e, assim, poderem contribuir para a apuração do que de fato aconteceu. Não, todos preferiram seguir a “velha bossa” muito nossa do mais puro maniqueísmo.
De parte do governo, a atitude correta, sim, seria mesmo vir a público rapidamente, mas não para dizer o que disse o Sr. Ministro Edison Lobão. O que o governo deveria dizer seria mais ou menos o seguinte: “que considerava a ocorrência de suma gravidade e que estava exigindo do Operador Nacional do Sistema – ONS uma rápida e detalhada investigação técnica para o completo esclarecimento dos fatos”. Naturalmente, o resultado da investigação indicaria as providências a serem eventualmente adotadas.
E por que o ONS? Porque é o ONS quem comanda o sistema interligado nacional (SIN) e detém todas as informações em tempo real de como o sistema esta operando e de tudo que acontece, inclusive com os respectivos registros. Este comando se faz automaticamente a partir do Centro Nacional localizado em Brasília e de quatro Centros Regionais situados em Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília e Recife
Normalmente a operação de todo o SIN é prévia e integralmente programada pelo ONS, tudo operando automaticamente de forma computadorizada, com o mínimo de interferência humana. Na hipótese de necessidade, são os operadores do ONS que tomam as decisões do que deve ou não ser feito. Os operadores das usinas, linhas e subestações das empresas proprietárias dessas instalações obedecem às ordens do ONS e não têm autonomia para intervir nas condições de operação de qualquer dispositivo do sistema sem a prévia e expressa autorização dos centros operacionais do ONS, salvo em condições especiais de emergência.
Os complexos sistemas de comando, controle e, em especial, de proteção de todas as instalações do SIN (usinas, linhas, subestações e seus diversos dispositivos componentes) são previamente ajustados segundo cálculos realizados pelo próprio ONS de acordo com as características dos equipamentos e do sistema nas suas diferentes configurações.
Portanto, é o ONS quem pode saber o que de fato ocorreu e quem tem de prestar informações ao governo e à sociedade. O seu Diretor-Geral, Dr. Hermes Chipp, deveria ter sido o primeiro a falar oficialmente para o público sobre as possíveis causas do apagão e não o Sr. Ministro Edison Lobão. Mas, estranhamente, o Dr. H. Chipp não apareceu e o outro Diretor do ONS, Dr. Luiz Barata, quando apareceu não parecia estar na condição de quem na verdade representava a entidade responsável pela operação do sistema elétrico nacional.
A desastrada intervenção do Sr. Ministro, acabou puxando para o governo e para o poder público em geral uma responsabilidade que de fato não lhes cabe. O ONS é uma organização privada, da qual fazem parte todas as empresas e entidades que atuam institucionalmente no setor elétrico nacional, privadas e estatais, onde as empresas privadas são absoluta maioria. O ONS é custeado por um dos encargos específicos cobrados nas tarifas a todos os consumidores e os seus dirigentes não são designados pelo governo, mas escolhidos pelos seus próprios integrantes.
Em sendo assim, a oposição e a imprensa erraram grosseiramente ao atribuir responsabilidade ao governo. No caso, ao governo, em nome do poder concedente, cabe de fato cobrar responsabilidades do ONS e, eventualmente, dos agentes (empresas) que venham a ser envolvidos com alguma participação no episódio.
Também erraram aqueles que se apressaram em afirmar que o problema fora causado pela falta de investimentos, particularmente para a modernização das instalações com a introdução de computação etc. Bobagem pura de quem não conhece o setor elétrico. O sistema interligado nacional opera com a tecnologia mais avançada do mundo e está sempre sendo atualizado. Os recursos de informática são empregados em larga escala, desde quando nem se falava em Internet. A informatização do sistema começou ainda nos anos 70 do século passado e foi efetivamente implantada nos anos 80, com a entrada em operação do chamado Sistema de Controle Supervisório que, somente para salientar o seu grau de sofisticação tecnológica para a época, um colega engenheiro costumava designá-lo como “Sistema de Controle Supervisionário”. E de lá para cá tudo avançou ainda mais, sempre incorporando os novos recursos tecnológicos mais modernos. Para se ter uma melhor idéia, os sistemas não são apenas informatizados, mas, além disso, possuem computadores redundantes, onde se um falhar o outro que está ao seu lado, supervisionando, automaticamente assume as suas funções. A propósito dispensam-se maiores comentários.
Do mesmo modo, não se pode falar na falta de investimento. As instalações existentes e os seus sistemas de comando, controle e proteção estão de acordo com as necessidades atuais e para os próximos anos, enquanto a expansão para atender ao crescimento do consumo está programada.
Aí, erraram mais uma vez a oposição, a imprensa e os técnicos, que seguindo o tradicional maniqueísmo de culpar o governo, o acusaram pela falta de investimentos no setor. Se realmente estivesse faltando investimento, a culpa não poderia ser atribuída simplesmente ao governo, mas sim também ao setor privado. Esqueceram que no modelo vigente no setor elétrico brasileiro, não cabe ao governo fazer investimentos na implantação de novas instalações. Ao contrário, o governo não pode fazer tais investimentos por vontade própria. Todas as novas instalações, sejam usinas, linhas ou subestações, têm que ser implantadas mediante processo licitatório em que os investidores privados assumem a obrigação de construir e explorá-las comercialmente. As empresas estatais também podem participar das licitações, mas até agora somente têm podido fazê-lo em sociedade com empresas privadas e obrigatoriamente em posição minoritária.
Ao governo, de fato, através da EPE, cabe apenas a responsabilidade pelo planejamento indicativo da expansão do sistema, para que se possam promover as correspondentes licitações. E isto tem sido feito.
Para concluir, cabem ainda alguns comentários específicos sobre o apagão em si mesmo. Conforme já foi mencionado, o ONS tem condições de levantar toda a sequência de eventos que levou ao apagão, pois o sistema dispõe de todos os registros, tornando possível saber com precisão como tudo ocorreu.
Porém, apenas a título de especulação, é fora de dúvida que alguma coisa anormal aconteceu em algum ponto do sistema, tudo indica em Itaberá, que desencadeou todo o ocorrido. Como nenhum equipamento, ao final, mostrou-se danificado, é lícito supor que este acontecimento foi de pequena monta. Assim, embora seja possível, não é o mais provável que a primeira atuação de algum dispositivo de proteção tenha ordenado o desligamento simultâneo das três linhas de 750 kV de corrente alternada Itaipu-Itaberá, mas apenas de uma das linhas. E então, a partir daí, alguma coisa não funcionou adequadamente, desligando também as outras duas linhas. O Operador pode saber exatamente como isto aconteceu, se as atuações da proteção foram corretas ou indevidas e se alguma falha existiu, humana ou de instrumentos.
Do mesmo modo, precisa-se verificar se as duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua Itaipu-Ibiuna também foram desligadas simultaneamente com as linhas de 750 kV acima citadas, ou não. Na verdade, isto não é provável, pois em principio não haveria razão específica para tal. Elas devem ter sido desligadas com algum retardo em relação às três outras e é preciso verificar como e por que isto ocorreu. Com certeza, os registros do ONS mostrarão as razões.
Além de tudo, tanto as linhas de 750 kV como as de 600 kV possuem dispositivos de religamento automático rápido. Ao que tudo indica esses dispositivos não atuaram. Por quê? O fato é que com o desligamento das cinco linhas, provocando o que se chama uma rejeição de carga enorme, a usina de Itaipu ficou completamente isolada do sistema brasileiro, apenas com a pequena carga do Paraguai. Nestas condições, teve de ser totalmente paralisada. Porem, a recomposição de Itaipu não deve ter demorado mais do que 30 minutos, razão por que a carga do Paraguai pôde ser religada com certa rapidez. Enquanto isto, o sistema brasileiro, muito mais complexo, enfrentava outros problemas.
Por outro lado, algo também não funcionou como devia no “esquema de alívio de carga”, que deveria promover o rápido e seletivo desligamento de cargas de menor relevância para compensar a falta de geração decorrente da saída total de Itaipu. Sabe-se que em outras ocasiões este esquema funcionou a contento, mas desta vez, embora algumas cargas tenham sido desligadas no Nordeste, no Sul e em alguns outros pontos, ao que parece não foram em volume nem em rapidez suficientes, de modo que o sistema acabou perdendo outras usinas, como as nucleares de Angra dos Reis. Em outras palavras, os limites de estabilidade foram ultrapassados, resultando no colapso total das áreas de maior carga do sistema interligado.
Mas, em tudo isto uma coisa parece certa. O problema foi estritamente de natureza técnica e o governo, não explicitamente por sua atuação, nada teve a ver com este apagão. Se houve alguma falha, e estou inclinado a crer que houve, ou foi um erro humano na operação, ou foi o mau funcionamento ocasional de algum dispositivo do sofisticado sistema de proteção.
E para que não se diga que este trabalho não constitui uma ação independente, e que teria por finalidade apenas defender o governo, aqui vai o registro de que o autor discorda profundamente da opção que este governo adotou para o modelo do setor, mantendo a filosofia mercantil implantada no governo anterior, a qual, em pouco mais de dez anos, fez as tarifas brasileiras pularem do grupo das mais baixas do mundo, para o lado das mais altas, superiores até a valores cobrados em países ricos do chamado G-7, além de adotar critérios operacionais que conduzem à permanente ameaça de crise na hipótese de que o regime anual de chuvas nas principais bacias não seja favorável. (Na foto, ou antifoto, Ipanema às escuras)

Ainda Apagão -2 - Pronunciamento do ONS não satisfaz

Eng. José Antonio Feijó de Melo
Recife, 16 de Novembro de 2009

Enquanto certos setores continuam tentando culpar o governo pelo apagão do último dia 10, o Operador Nacional do Sistema (ONS), entidade privada que comanda o funcionamento do sistema elétrico brasileiro, tergiversa. O pronunciamento oficial do seu Diretor-Geral, Dr. Hermes Chipp, ontem à noite, foi decepcionante. Em termos técnicos, as razões por ele apresentadas não são suficientes para explicar o apagão.
Assim, em princípio, admita-se que, como afirmou o Dr. Chipp, as três linhas de 750 kV em corrente alternada que partem de Itaipu em direção a São Paulo, seja lá por que motivo, foram submetidas a curtos-circuitos quase que simultaneamente, em pontos próximos à subestação de Itaberá e, em conseqüência, tenham sido desligadas automaticamente..
Ora, em condições normais, estes desligamentos não seriam capazes de provocar o apagão, porque deveriam desligar apenas as três linhas no trecho Ivaiporã-Itaberá. Isto é, as três linhas continuariam a operar normalmente no trecho Itaipu-Ivaiporã e, a partir daí, continuariam conectadas ao subsistema Sul, em 500 kV, que por sinal também interliga-se através de outro ponto com o subsistema Sudeste, igualmente em 500 kV, conforme foi comentado em Análise do ILUMINA divulgada ontem.
Nestas circunstâncias, o sistema elétrico interligado certamente sofreria o que nós técnicos chamamos de “um pequeno balanço”, mas deveria permanecer operando de forma estável. Talvez em Itaipu, na metade brasileira da usina que é conectada às linhas de 750 kV e opera em 60 c/s, houvesse necessidade da atuação automática da proteção rápida para reduzir um pouco o total da geração. Enquanto isto, em princípio, a metade Paraguaia da usina de Itaipu, que opera em 50 c/s, e envia a maior parte da sua energia para o Brasil através das duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua, nem sequer deveria sentir qualquer reflexo da ocorrência de Itaberá.
Entretanto, as coisas não aconteceram assim. Primeiro, as linhas de 750 kV foram desconectadas também no trecho Itaipu-Ivaiporã (por quê?) e isto, ao que tudo indica, configura-se numa operação indevida, que teria resultado na “rejeição de carga” total para a metade brasileira de Itaipu, obrigando a sua completa paralisação. Este desligamento das três linhas Itaipu-Ivaiporã não pode ser explicado como uma conseqüência direta e natural dos “curtos-circuitos próximos a Itaberá”.
Por outro lado, as duas linhas de +/- 600 kV em corrente contínua também foram desligadas automaticamente na sua totalidade, ou seja, entre Itaipu e Ibiuna, provocando a “rejeição da carga” total do sistema brasileiro para a metade Paraguaia de Itaipu e, assim, acarretando também a necessidade da sua paralisação (para evitar o disparo das máquinas, como no lado brasileiro) e, em conseqüência, provocando o apagão também no Paraguai.
Se a ocorrência dos curtos-circuitos em Itaberá não é capaz de justificar a abertura do trecho Itaipu-Ivaiporâ das linhas de 750 kV, muito menos poderá justificar a abertura das linhas de corrente contínua de +/- 600 kV e, consequentemente, também não poderá justificar o apagão.
Muita coisa, portanto, resta sem a devida explicação. O ONS deve satisfação ao povo brasileiro e as autoridades têm de cobrar os esclarecimentos devidos. O sistema elétrico brasileiro é robusto e, embora não possa ser 100% imune, dispõe de estrutura para suportar as perturbações naturais sem sofrer as conseqüências que sofreu na noite do último dia 10. Algo não funcionou como devia e deve ser tecnicamente apurado em sua total profundidade.