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Reprodução Mashable |
por José Esmeraldo Gonçalves
A Time divulgou sua tradicional capa de "Pessoa 2017": é dedicada às mulheres que quebraram o silêncio e revelaram casos de assédios sexuais. Para representar a reação feminina aos abusos, a revista reuniu Ashley Judd, Taylor Swift, Susan Fowler, Adama Iwu e Isabel Pascual, cujo nome foi alterado para proteger sua identidade.
Mas o que está intrigando os leitores é o cotovelo aparentemente aleatório que aparece no canto direito da capa. A informação é do
Mashable.
O editor do TIME, Edward Felsenthal, diz que o detalhe simboliza mulheres e homens que ainda estão calados e no anonimato diante das violências que sofreram.
Mas nas redes sociais também há quem especule que o cotovelo fantasma pode ter sido uma falha no corte da foto.
O DIA EM QUE A REVISTA FATOS CONFUNDIU
O COTOVELO DE UM ENFERMEIRO COM
A CABEÇA DE TANCREDO NEVES
O cotovelo da Time remete a um certo cotovelo na revista
Fatos, em 1985. Como todas as redações do país, a
Fatos estava mergulhada até o pescoço na exaustiva cobertura da agonia de Tancredo Neves, que durou mais de um mês.
A cada fechamento, a revista atualizava em texto e fotos a luta dos médicos para salvar o presidente eleito, mas semana após semana corria o risco de chegar às bancas 48 horas depois - tempo gasto em preparação e impressão - desatualizada e com Tancredo Neves já morto.
Em um desses complicados fechamentos, quase no minuto final, chegam de Brasília fotos que mostrariam o presidente eleito, deitado em uma maca, a caminho da ambulância que o levaria em emergência ao aeroporto de onde seguiria para São Paulo. A foto da inesperada transferência do paciente era a mais atual e exclusiva, segundo Brasília. Apenas o fotógrafo da
Fatos havia invadido o acesso à garagem do Hospital de Base e obtido um ângulo favorável. Claro, iria para a capa.
Já era quase meia-noite quando a redação inteira, já exausta, foi para a sala de projeção participar da escolha da melhor imagem da sequência da maca. Decepção total: nenhuma foto mostrava o rosto ou sequer a cabeça de Tancredo. A cena era muito confusa, médicos, enfermeiros e policiais cercavam o paciente. Mas a projeção de slides continuava, as fotos eram vistas e revistas. Em vão. A redação já estava quase desistindo de trocar a capa paginada antes quando uma voz não identificada, em plena escuridão da cabine de projeção, quebrou o silêncio e decretou:
- Olha a cabecinha dele ali, gente!
- Que cabecinha? - alguém duvidou.
- Ali - insistiu a voz -, no canto, a carequinha dele e um travesseiro!
Deu-se então um caso típico de alucinação coletiva, quase uma hipnose. A partir do momento em que a voz viu Tancredo, todos na cabine também tiveram a mesma visão. Era aquilo mesmo, lá estava a cabecinha de Tancredo. Como a foto era confusa, alguém sugeriu que a Arte fizesse um círculo vermelho em torno da tal carequinha para que os leitores identificassem mais rapidamente o que a redação levou mais de uma hora para perceber. E assim foi feito.
Fechamento concluído, todos foram para casa.
Um dia e meio depois, a revista impressa foi colocada na mesa do diretor. A capa estava perfeita, as chamadas idem. Só tinha um problema. O círculo vermelho não destacava nada que parecesse a cabecinha de Tancredo. Até porque não havia cabecinha coisa nenhuma. O que a capa mostrava claramente era o cotovelo de um dos enfermeiros, um cara tão parrudo que de fato a popular conexão do braco com o antebraço parecia mesmo um cabeção.
J.A. Barros, diretor de Arte da
Fatos, colaborador deste blog
, é testemunha daquela noite fatídica. É justo dizer que ele foi um dos mais resistentes a acreditar que via a ilustre cabecinha do presidente eleito. Mas, como todos os demais zumbis que passaram mais de um hora naquela sala de projeção, ele também foi induzido a ver a luz: a foto exclusiva de Tancredo na maca.
A cabecinha de Tancredo que dez ou doze pessoas viram naquela noite mística no escurinho da cabine tinha sido apenas produto de uma ocasional alucinação coletiva. Mas rendeu capa!.