John Hallyday e Sylvie Vartan foram resgatados de um temporal carioca pela Rural da Manchete. |
Mesmo assim, no caminho para o hotel, tiveram que se abrigar na Rodoviário Novo Rio enquanto esperavam as águas baixarem. O fotógrafo Orlando Abrunhosa registrou o casal, em primeiro plano, vivendo involuntariamente uma típica experiência de cariocas.
por José Esmeraldo Gonçalves
Como o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" descreve, o oitavo andar do prédio da Rua do Russell era uma espécie de sala de visitas para personalidades de várias áreas.
Cientistas como Albert Sabin e Christian Barnard, astronautas como John Glenn e Yuri Gagarin, escritores como Jean-Paul Sartre, astros como Kirk Douglas, Gina Lollobrígida, Claudia Cardinale e muitos outros visitaram a redação. Esse desfile de famosos era praticamente uma rotina. Distribuidoras de filmes, editoras de livros, gravadoras e embaixadas geralmente agendavam uma ida à Manchete como parte do roteiro carioca das celebridades internacionais. Se o oitavo andar era a "recepção", a frota de camionetes Rural Willys que servia a repórteres e fotógrafos vivia muitas vezes momentos de viatura vip ao transportar os convidados.
A foto acima, de março de 1967, mostra o cantor de rock francês Johnny Halliday e a mulher, a também cantora de sucesso Sylvie Vartan a bordo de uma Rural. O casal vinha de São Paulo e uma equipe de reportagem foi ao aeroporto. Mas era verão no Rio e a coisa não acabou bem. O diretor de redação da principal revista da casa, Justino Martins, escreveu:
"Johnny Hallyday desceu do avião paulista e consultou o relógio. Eram seis horas da tarde. Às nove, ele devia cantar no Maracanãzinho. Chovia a cântaros. Mas, como bom francês, ele murmurou para a sua bela Sylvie: 'Que d'eau, que d'eau! Vamos em frente. Em qualquer cidade do mundo, quando chove, a vida continua". Só mais tarde, às cinco da manhã, constatou o quanto se enganara: no Rio, quando chove, a cidade morre afogada. O casal de cantores foi apanhado pelas inundações torrenciais e , salvo por uma camionete da Manchete, abrigou-se na estação rodoviária, e o Maracanã, em vez de fãs do iê-iê, acolheu milhares de flagelados, sobreviventes de uma dessas calamidades que ultimamente vêm enlutando o Rio."
A repórter Vera Rachel e o fotógrafo Orlando Abrunhosa cobriram a inesperada aventura dos cantores no Rio.
Por algumas horas, os roqueiros franceses aguardaram em um banco da rodoviária Novo Rio a chuva diminuir. O show foi adiado e o dia já amanhecia quando o casal chegou, finalmente, ao hotel Copacabana Palace.